Ezequiel 1:1-3 (Comentário Bíblico Online)


§ 1. A Visão dos quatro querubins (Ezequiel 1:1-14)


Dois mil, quinhentos e sete anos antes de se fabricar industrialmente o automóvel a gasolina (em 1895 E. C.), viu-se no sudoeste da Ásia um carro automotor ou de propulsão própria. Não era de invenção humana. Não era apenas imaginação. Era espantoso para o espectador. Nada semelhante a ele havia sido visto na terra. Era inimitável pelo homem, embora se preservasse para nós, durante os séculos, uma descrição detalhada dele. Tratava-se do carro sem cavalos visto por um homem cujo nome tornou-se histórico, Ezequiel, filho de Buzi, o sacerdote, e ele escreveu uma descrição vívida dele para todas as gerações futuras, inclusive a nossa atual. O que ele via era o carro de Deus, e estava em movimento, vindo do norte. Aonde se dirigia — a algum lugar no espaço sideral ou a um destino terrestre? Dali, para onde ia: Existe ainda, ou existe algo similar?

O narrador, Ezequiel, registrou onde ele viu pela primeira vez este carro sobre-humano de Deus, bem como o tempo e as circunstâncias disso. Ele se encontrava junto a um dos canais da antiga Babilônia, situada junto ao rio Eufrates, canal que se chamava Quebar. Ezequiel era sacerdote, não de Marduque, deus principal da Babilônia pagã, mas do Deus cujo carro ele viu na visão. O que fazia Ezequiel ali, em vez de estar ativo nos seus deveres sacerdotais, muito mais para o oeste, no templo em Jerusalém, capital do Reino de Judá? Ezequiel encontrava-se ali em Babilônia como exilado, junto com o ex-rei de Jerusalém, a saber, Joaquim, filho do falecido Rei Jeoiaquim, junto com príncipes e poderosos, valentes e artífices. O Rei Joaquim rendera-se a Nabucodonosor, rei de Babilônia, que sitiara Jerusalém como cidade rebelde. O rei de Babilônia poupara a vida do Rei Joaquim e levara a ele e todos estes outros, inclusive Ezequiel, ao exílio em Babilônia. Isto se dera no ano 617 AEC, segundo o nosso calendário.

Portanto, o ano 613 AE.C., ano em que Ezequiel teve pela primeira vez a visão do carro de Deus, era o “quinto ano de exílio do Rei Joaquim”. O próprio Ezequiel estava no trigésimo ano de sua vida. Tudo o que aconteceu não foi imaginário ou mítico, mas realmente histórico, e por isso Ezequiel, como historiador, data a questão definitivamente nas palavras iniciais de seu livro profético, escrevendo: “Ora, sucedeu no trigésimo ano, no quarto mês [o mês lunar de tamuz], no quinto dia do mês, enquanto eu estava no meio do povo exilado junto ao rio Quebar, que se abriram os céus[1] e comecei a ver visões de Deus.[2] No quinto dia do mês [5 de tamuz], isto é, no quinto ano de exílio do Rei Joaquim, veio a haver a palavra de Yehowah especificamente para Ezequiel, filho de Buzi, o sacerdote, na terra dos caldeus, junto ao rio Quebar, e naquele lugar veio a estar sobre ele a mão de Yehowah.” (Ezequiel 1:1-3) Portanto, isto se deu perto da primavera de 613 A. E. C.

O que Ezequiel viu a seguir não era nenhuma alucinação causada pela ingestão de algum entorpecente, eram visões de Deus, o que denota a sua origem e confiabilidade, pois essas visões foram-lhe apresentadas pela “mão” ou pelo poder[3] aplicado de Yehowah, que ali começou a operar sobre ele; ou seja, em outras palavras Ezequiel disse: “Eu estava cheio com o seu poder, e com a influência do espírito profético.” (Adam Clark) “o Espírito de profecia” (Bíblia de Estudo de Genebra) “Pelo qual se refere o dom e a palavra profética, que veio com poder e eficácia, clara e evidente; assim o Targum mencionado o “espírito de profecia de diante do Senhor [que] habitava nele;” pela qual ele teve as visões posteriores, e as entregou nas seguintes profecias.” (John Gill) Evidentemente, nesta ocasião Ezequiel estava olhando para o norte, e o que via permitia uma descrição pormenorizada. O que se via indicava que se preparava uma tempestade contra alguém ou contra alguma coisa. O que surgiu então na cena veio inconfundivelmente de fonte divina, por causa de toda a glória e as manifestações ardentes das quais emergiu. Em primeiro lugar, Ezequiel traz à nossa atenção os que escoltavam o carro de Deus, ao escrever esta descrição:


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Notas:
[1]
Interessante que sempre que há visões proféticas em servos de Deus, eles registram as palavras “abriram-se os céus” (Mt. 3:16, At. 7:55, 10:11, Ap. 19:11) Isso deve ser tomado como algo produzido dentro da própria mente na pessoa envolvida na visão, visto que o termo “abrir” normalmente está relacionado com a percepção mental de alguém. (Cf. Gênesis 3:7, Lucas 24:31)
[2] “Emblemas e símbolos da Divina Majestade. Ele particularmente se refere aqueles nesse capítulo.” (Adam Clarke)
[3] Digno de nota é que “a palavra “mão” denota a autoridade divina”. (R. Mish A.)