João 1:4 — Comentário de John Gill

E nele estava a vida,... A versão Persa lê no plural, “vidas”. Havia vida na Palavra com respeito a si mesmo; uma vida divina, o mesmo com a vida do Pai e do Espírito; e está nele, não por dádiva, não por derivar ou pela comunhão; mas original e independentemente, e de toda a eternidade: de fato, ele viveu antes de sua encarnação como Mediador, e Redentor. Jó o conhecia nesse tempo, como seu Redentor vivente;[1] mas isso diz respeito a ele como a palavra e o Deus vivente, e distingue ele da Palavra escrita,[2] e que mostra que ele não é apenas uma mera ideia na mente divina, mas verdadeiramente uma pessoa divina: e havia vida em Cristo, a Palavra, com respeito aos outros; a fonte de vida natural está nele, ele é a Causa Eficiente, e o Preservador dela; quer seja vegetal, animal, ou racional; e prova ele como sendo o verdadeiro Deus, e que ele existiu antes de sua encarnação; visto que criaturas, que têm recebido tal vida dele, podem existir: e a vida espiritual também estava nele; e todos os eleitos estão mortos em suas falhas e pecados,[3] e não podem levantar a si mesmos. Cristo buscou a vida para eles, e a deu a eles, e implantou-a neles; uma vida de santificação vem dele; e uma vida de justificação está sobre ele, e da fé que é por ele; todos os confortos de uma vida espiritual, e todas as coisas pertencentes disso vêm dele, e ele mantém e preserva a vida. A vida eterna está nele, e com ele; não apenas o propósito dela, nem apenas a promessa dela; que é concedida em consequência de seu pedir, e que ele tinha por estipulação; e, portanto, tem direito a ela e poder para concedê-la: agora, isso sendo ele, prova ele ser o verdadeiro Deus, e nos mostra aonde há vida, segura e certa:

E a vida era a luz dos homens;... A vida que estava na e pela Palavra, era com respeito aos homens, uma vida de luz, ou um vida assistida com luz: pela qual é entendida, não meramente a faculdade visível, recebida pela luz do sol, mas o conhecimento racional e entendimento; porque quando Cristo, a Palavra, soprou no homem a sopro da vida, e se tornou uma alma viva,[4] ele o encheu com luz racional e conhecimento. Adão tinha um conhecimento de Deus; de seu Ser, e perfeições; das pessoas da Trindade; de sua relação com Deus, dependência Dele, e a obrigação para com ele; de sua mente e vontade; e conhecia a comunhão com ele. Ele sabia muito de si mesmo, e de todas as criaturas; esse conhecimento era natural e perfeito em seu tipo, mas perecível; e diferente do que os santos agora têm de Deus, através de Cristo, o Mediador; e visto que sua luz natural era de Cristo, a Palavra, como um Criador, ele deve ser o Deus eterno. Os Socianos não estão dispostos a permitir esse sentido, mas diz que Cristo é a luz dos homens por pregar a doutrina celestial, e pelo exemplo de sua vida santa; mas, no entanto, ele não ilumina todo homem que entra no mundo; e a maior parte dos homens, antes da pregação, e o exemplo de Cristo, sentaram na escuridão;[5] e a maior parte dos Judeus permaneciam na escuridão, apesar de sua pregação, e exemplo; e os patriarcas que foram iluminados debaixo da primeira Dispensação, não foram iluminados dessa forma: será admitido que toda luz espiritual e natural, que qualquer um dos homens têm tido, desde a que queda de Cristo[6] que era sua luz espiritual; até mesmo toda luz espiritual na conduta; através dele, eles desfrutavam a luz da face de Deus, e tinham a luz da alegria e felicidade, e o regozijo do por vir.







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Notas:
[1] Cf. Jó 19:25. N do T.
[2] Principalmente em referência a Hebreus 4:12. N do T.
[3] Cf. Efésios 2:1. N do T.
[4] Cf. Gênesis 2:7. N do T.
[5] Cf. Mateus 4:16. N do T.
[6] No sentido que os humanos se afastaram de Cristo e não que Cristo tenha falhado. N do T