A Míxena e a Lei de Deus dada a Moisés (Part. 2)

A Míxena e a Lei de Deus dada a Moisés (Part. 2) A preparação da Míxena: Judá ha-Nasi era descendente de Hilel e Gamaliel. Nasceu durante o período da revolta de Bar Kokhba, e tornou-se líder da comunidade judaica em Israel por volta do fim do segundo e o início do terceiro século EC. O título ha-Nasi significa “o príncipe”, o que indica o prestígio dele entre os judeus. Ele é muitas vezes chamado apenas de Rabino. Judá ha-Nasi liderava tanto sua própria academia quanto o Sinédrio, primeiro em Bet Shearim e depois em Sepphoris, na Galiléia.

Percebendo que futuros conflitos com Roma poderiam até pôr em perigo a transmissão da lei oral, Judá ha-Nasi decidiu dar-lhe uma estrutura que garantisse sua preservação. Reuniu em sua academia os mais destacados eruditos de seus dias. Cada ponto e tradição da lei oral foi discutido. Os resumos dessas discussões foram transformados em frases incrivelmente sucintas, segundo um padrão rígido de prosa poética hebraica.

Os resumos foram organizados em seis divisões principais, ou Ordens, de acordo com tópicos principais. Judá os subdividiu em 63 seções, ou tratados. A estrutura espiritual estava completa. Até então, as tradições sempre haviam sido transmitidas oralmente. Mas como proteção adicional, tomou-se uma última medida revolucionária: tudo isso foi posto por escrito. Essa nova e impressionante estrutura escrita que guardava a lei oral foi chamada de Míxena. Esse nome vem da raiz hebraica shanáh, que significa “repetir”, “estudar” ou “ensinar”. É equivalente ao aramaico tená’, do qual vem tanna’ím, termo aplicado aos instrutores da Míxena.

O propósito da Míxena não é estabelecer um código definitivo. Ela trata mais das exceções, presumindo que o leitor saiba os princípios básicos. Na verdade, ela resume o que era discutido e ensinado nas academias rabínicas durante o período de Judá ha-Nasi. A Míxena deveria ser um esboço da lei oral que permitiria debates adicionais, um esqueleto ou estrutura básica sobre o qual edificar as crenças judaicas.

Em vez de revelar algo dado a Moisés no monte Sinai, a Míxena esclarece o desenvolvimento da lei oral, conceito que começou com os fariseus. As informações na Míxena ajudam a entender algumas declarações do Novo Testamento e certos debates entre Jesus Cristo e os fariseus. Porém, é preciso cautela, porque idéias encontradas na Míxena refletem o ponto de vista judaico do segundo século EC. A Míxena é a ponte entre o período do segundo templo e o Talmude.

AS DIVISÕES DA MÍXENA
A Míxena divide-se em seis Ordens. Essas consistem em 63 livros menores, ou tratados, divididos em capítulos e mishnaiot, ou parágrafos (não versículos).

1. ZERAIM (Leis agrícolas)
Esses tratados incluem considerações sobre orações abençoando refeições e referentes a assuntos agrícolas. Incluem também regras sobre dízimo, porções dos sacerdotes, respigas e anos sabáticos.

2. MOED (Ocasiões sagradas, festividades)
Os tratados nessa Ordem discorrem sobre leis relativas ao sábado, o Dia da Expiação e outras festividades.

3. NASHIM (Mulheres, leis matrimoniais)
Esses tratados consideram o casamento e o divórcio, votos, os nazireus e casos de suspeita de adultério.

4. NEZIKIN (Danos e leis civis)
Os tratados nessa Ordem abrangem assuntos relacionados com lei civil e de propriedades, tribunais e punições, a função do Sinédrio, idolatria, juramentos e Ética dos Pais (Avot).

5. KODASHIM (Sacrifícios)
Esses tratados abrangem regulamentos sobre ofertas de animais e de cereais, bem como as dimensões do templo.

6. TOHOROT (Rituais de purificação)
Essa Ordem consiste em tratados que discutem pureza ritual, banhos, lavar as mãos, doenças de pele e impureza de diferentes objetos.

A MÍXENA E O NOVO TESTAMENTO


Mateus 12:1, 2: “Naquela época, Jesus passou pelas searas, no sábado. Seus discípulos ficaram com fome e principiaram a arrancar espigas e a comer. Vendo isso, os fariseus disseram-lhe: ‘Eis que teus discípulos estão fazendo o que não é lícito fazer no sábado.’” As Escrituras Hebraicas não proíbem o que os discípulos de Jesus fizeram. Mas na Míxena há uma lista de 39 atividades que os rabinos proíbem praticar no sábado. — Shabbat 7:2.

Mateus 15:3: “Em resposta, [Jesus] disse-lhes: ‘Por que é também que vós infringis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?’” A Míxena confirma esta atitude. (Sanhedrin 11:3) Lemos: “Maior rigor é aplicado à [observância] das palavras dos escribas do que à [observância] das palavras da Lei [escrita]. Se um homem disser: ‘Ninguém é obrigado a usar filactérios’, transgredindo assim as palavras da Lei, ele não é censurável; [mas se disser:] ‘Eles [os filactérios] deveriam ter cinco divisões’, acrescentando assim algo às palavras dos escribas, é censurável.” — The Mishnah, de Herbert Danby, página 400.

Efésios 2:14: “Ele [Jesus] é a nossa paz, aquele que das duas partes fez uma só e que destruiu o muro no meio, que os separava.” A Míxena diz: “Dentro do Templo havia uma mureta de treliça (o Soregue), com altura de dez larguras da mão.” (Middot 2:3) Os gentios eram proibidos de passar desse ponto e entrar nos pátios internos. O apóstolo Paulo talvez se referisse a essa mureta em sentido figurativo ao escrever aos efésios em 60 ou 61 EC, quando ela ainda existia. O muro simbólico era o pacto da Lei, que por muito tempo havia separado os judeus dos gentios. Todavia, com base na morte de Cristo em 33 EC, aquele muro foi abolido.