Talmude e Suas Origens (Part. 2)

TALMUDE, JUDAISMO, ESTUDOS BIBLICOS, TEOLOGIA O desenvolvimento de dois Talmudes: Com o tempo, o principal centro rabínico na Palestina mudou-se para Tiberíades. Outras academias importantes encontravam-se em Sepphoris, em Cesaréia e em Lida. Mas a deterioração da situação econômica, a constante instabilidade política e por fim a pressão e a perseguição por parte do cristianismo apóstata levaram à emigração em grande escala para outro grande centro de população judaica ao leste — Babilônia.

Durante séculos, muitos estudantes tinham vindo de Babilônia à Palestina para estudar sob os grandes rabinos nas academias. Um desses estudantes foi Abba ben Ibo, também chamado Abba Arika — Abba, o alto — mas depois conhecido apenas por Rav. Ele voltou à Babilônia, por volta de 219 EC, depois de ter estudado sob Judá Ha-Nasi, e isso marcou um ponto de virada na importância espiritual para a comunidade judaica, babilônica. Rav estabeleceu uma academia em Sura, uma região de muitos judeus, mas poucos eruditos. Sua reputação atraiu 1.200 estudantes regulares à sua academia, com outros milhares presentes durante os meses judaicos de adar e elul. Samuel, um destacado contemporâneo de Rav, estabeleceu uma academia em Nehardea. Outras academias importantes surgiram em Pumbeditha e Mehoza.

Não havia mais nenhuma necessidade de viajar à Palestina, porque se podia estudar sob os grandes eruditos em Babilônia. A formulação da Míxena como texto separado preparou o caminho para a total independência das academias babilônicas. Embora se desenvolvessem daí em diante estilos e métodos diferentes de estudo na Palestina e em Babilônia, freqüentes comunicações e intercâmbio de instrutores preservaram a união das academias.

Perto do fim do quarto século EC e no começo do quinto, a situação tornou-se bastante difícil para os judeus na Palestina. Ondas de restrições e de perseguição sob a crescente autoridade da cristandade apóstata resultaram no golpe final da abolição do Sinédrio e da posição de nase (patriarca), por volta de 425 EC. De modo que os amoraim palestinos passaram a consolidar numa única obra coerente os resumos dos debates nas academias, para garantir sua preservação. Esta obra, compilada às pressas na parte final do quarto século EC, passou a ser conhecida como Talmude Palestino.
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Ao passo que as academias na Palestina estavam em declínio, os amoraim babilônicos atingiam o auge das suas habilidades. Abaye e Raba levaram o nível de debate ao ponto de argumentação intricada e sutil, que mais tarde se tornou o modelo da análise talmúdica. A seguir, Ashi, o chefe da academia em Sura (371-427 EC), começou a compilar e a editar resumos dos debates. Segundo Steinsaltz, fez isso porque “temia que, da forma em que estava desorganizada, a maior parte da matéria oral estava em perigo de ser esquecida”.

Esta grande quantidade de matéria era mais do que um só homem ou mesmo uma geração podia organizar. O período dos amoraim terminou em Babilônia no quinto século EC, mas a obra da edição final do Talmude de Babilônia foi continuada no sexto século EC por um grupo chamado de saboraim, termo aramaico que significa “os expositores”, ou “os opinantes”. Estes editores finais juntaram os milhares de pontos desconexos e os séculos de debates rabínicos, dando estilo e estrutura ao Talmude de Babilônia, que o distinguia de todos os escritos judaicos anteriores.

Que realizou o Talmude? Os rabinos do Talmude empreenderam provar que a Míxena era da mesma fonte que as Escrituras Hebraicas. Mas por quê? Jacob Neusner comenta: “A questão em pauta era a reputação da Míxena. Mas o âmago da questão mostra ter sido a autoridade do próprio sábio.” Para reforçar esta autoridade, cada linha da Míxena, às vezes cada palavra, era examinada, questionada, explicada e harmonizada de certo modo. Neusner observa que, deste modo, os rabinos “mudaram a direção da Míxena de um caminho para outro”. Embora a Míxena tivesse sido criada como obra completa em si mesma, ela fora então dissecada. Durante este processo, ela tinha sido recriada, redefinida.

Esta nova obra — o Talmude — serviu à finalidade dos rabinos. Eles especificaram as regras de análise, e por isso o Talmude ensinou as pessoas a pensar assim como os rabinos. Estes acreditavam que seu método de estudo e análise refletia o modo de pensar de Deus. O próprio estudo talmúdico tornou-se o objetivo, uma forma de adoração — o uso da mente supostamente imitando assim a Deus. Nas gerações posteriores, o próprio Talmude seria analisado pelo mesmo método. Com que resultado? O historiador Cecil Roth escreve: “O Talmude . . . deu [aos judeus] a característica que os distinguiu de outros, bem como seu notável poder de resistência e de coesão. A dialética dele aguçou sua faculdade mental e concedeu-lhes . . . sagacidade . . . O Talmude deu ao judeu perseguido da Idade Média um outro mundo para o qual podia escapar . . . Deu-lhe uma pátria, que podia levar consigo quando perdia a sua própria terra.”

Por ensinar outros a pensar como os rabinos, o Talmude certamente tem exercido poder. Mas a pergunta que todos devem fazer-se — tanto judeus como não-judeus — é a seguinte: será que o Talmude reflete realmente o modo de pensar de Deus? — 1 Coríntios 2:11-16.





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Notas:

[1] O Talmude Palestino é comumente conhecido como Talmude de Jerusalém. Entretanto, este termo é um nome impróprio, visto que os judeus estavam excluídos de Jerusalém durante a maior parte do período dos amoraim.