Apóstolo Pedro (Part. 2)

PEDRO, APÓSTOLO, ESTUDO BÍBLICO, TEOLOGIA
Pedro não era apenas homem de palavras, mas também de ação, demonstrando tanto iniciativa como coragem, bem como um forte apego ao seu Senhor. Quando Jesus procurou um lugar solitário para orar, antes do alvorecer, Simão logo liderou um grupo “à sua procura”. (Mr 1:35-37) Novamente, foi Pedro quem pediu que Jesus lhe ordenasse andar ao seu encontro sobre as águas agitadas pelo temporal, andando ele até mesmo certa distância antes de ficar com dúvidas e começar a afundar. — Mt 14:25-32.

No jardim de Getsêmani, na última noite da vida terrestre de Jesus, Pedro, junto com Tiago e João, teve o privilégio de acompanhar Jesus ao lugar onde este se entregou a uma fervorosa oração. Pedro, assim como os outros apóstolos, passou a dormir, por cansaço e pesar. Foi sem dúvida porque Pedro expressara tão profusamente sua determinação de apegar-se a Jesus que foi a ele que Jesus se dirigiu especificamente ao dizer: “Não pudestes vigiar comigo nem mesmo por uma hora?” (Mt 26:36-45; Lu 22:39-46) Pedro deixara de ‘fazer orações’ e sofreu as consequências.

Quando os discípulos viram a turba prestes a se apoderar de Jesus, perguntaram se deviam lutar; mas Pedro agiu sem aguardar a resposta, decepando a orelha de um homem com um golpe de espada (embora esse pescador provavelmente intencionasse infligir maior dano) e foi então repreendido por Jesus. (Mt 26:51, 52; Lu 22:49-51; Jo 18:10, 11) Embora Pedro abandonasse Jesus, assim como fizeram os outros discípulos, ele depois seguiu “duma boa distância” a turba que prendera Jesus, aparentemente dividido entre o temor pela sua própria vida e a profunda preocupação com o que iria acontecer com Jesus. — Mt 26:57, 58.

Ajudado por outro discípulo, que evidentemente o seguiu ou acompanhou até a residência do sumo sacerdote, Pedro entrou diretamente no pátio. (Jo 18:15, 16) Não ficou discretamente quieto num canto escuro, mas foi aquecer-se junto ao fogo. A luz do fogo possibilitou que outros o reconhecessem como um companheiro de Jesus, e seu sotaque galileu aumentou as suspeitas deles. Quando foi acusado, Pedro negou três vezes que sequer conhecesse Jesus, passando finalmente a praguejar na veemência da sua negação. Em alguma parte da cidade, um galo cantou pela segunda vez, e Jesus “voltou-se e olhou para Pedro”. Pedro saiu então, quebrantado, e chorou amargamente. (Mt 26:69-75; Mr 14:66-72; Lu 22:54-62; Jo 18:17, 18) No entanto, atendeu-se a súplica anterior de Jesus a favor de Pedro, e a fé de Pedro não fraquejou completamente. — Lu 22:31, 32.

Após a morte e a ressurreição de Jesus, as mulheres que foram ao túmulo foram mandadas por um anjo levar uma mensagem “aos discípulos dele e a Pedro”. (Mr 16:1-7; Mt 28:1-10) Maria Madalena levou a mensagem a Pedro e João, e estes começaram a correr até o túmulo, sendo Pedro ultrapassado por João. Ao passo que João parou diante do túmulo e só olhou para dentro, Pedro logo entrou, seguido depois por João. (Jo 20:1-8) Algum tempo antes de Jesus aparecer aos discípulos em grupo, ele apareceu a Pedro. Isto, além de Pedro ter sido especificamente mencionado pelo anjo, deve ter assegurado ao arrependido Pedro que sua tripla negação não o cortara para sempre da associação com o Senhor. — Lu 24:34; 1Co 15:5.

Antes de Jesus manifestar-se aos discípulos junto ao mar da Galiléia (Tiberíades), o dinâmico Pedro anunciara que ia pescar, e os outros se juntaram a ele. Mais tarde, quando João reconheceu Jesus na praia, Pedro impulsivamente nadou até lá, deixando para os outros trazer o barco, e quando Jesus depois pediu peixe, Pedro o atendeu puxando a rede para a praia. (Jo 21:1-13) Foi nessa ocasião que Jesus perguntou três vezes a Pedro (que negara três vezes seu Senhor) se o amava, dando a Pedro a comissão de ‘pastorear as suas ovelhas’. Jesus predisse também a maneira da morte de Pedro, o que induziu Pedro a perguntar, quando viu o apóstolo João: “Senhor, este homem fará o quê?” Mais uma vez Jesus corrigiu o conceito de Pedro, enfatizando a necessidade de ‘ser seu seguidor’ sem se preocupar com o que outros pudessem fazer. — Jo 21:15-22.

Ministério Posterior. Depois de ter “voltado” da sua queda no laço do medo, causada na maior parte pelo excesso de confiança (veja Pr 29:25), Pedro devia ‘fortalecer os seus irmãos’, em cumprimento da exortação de Cristo (Lu 22:32), e fazer pastoreio entre as ovelhas Dele. (Jo 21:15-17) Em acordo com isso, encontramos Pedro tendo uma parte destacada na atividade dos discípulos depois da ascensão de Jesus ao céu. Antes de Pentecostes de 33 EC, Pedro levantou a questão da substituição do infiel Judas, apresentando evidência bíblica a favor de tal ação. A assembléia agiu segundo a sua recomendação. (At 1:15-26) Novamente, em Pentecostes, sob a orientação do Espírito Santo, Pedro agiu como porta-voz dos apóstolos e fez uso da primeira das “chaves” que recebeu de Jesus, abrindo assim o caminho para judeus se tornarem membros do Reino. — At 2:1-41.

Seu destaque na primitiva congregação cristã não terminou em Pentecostes. No livro de Atos, ele e João são os únicos apóstolos originais mencionados, exceto pela breve menção da execução de “Tiago, irmão de João”, o outro do grupo dos três apóstolos que haviam usufruído uma associação mais íntima com Jesus. (At 12:2) Pedro parece ter sido especialmente notável pela realização de milagres. (At 3:1-26; 5:12-16; compare isso com Gál 2:8.) Com a ajuda do Espírito Santo, ele dirigiu-se destemidamente aos governantes judeus que mandaram prender a ele e a João (At 4:1-21), e numa segunda ocasião agiu como porta-voz de todos os apóstolos perante o Sinédrio, declarando firmemente a determinação deles de “obedecer a Deus como governante” antes que aos homens que se opunham à vontade de Deus. (At 5:17-31) Pedro deve ter tido satisfação especialmente grande de poder mostrar como mudou de atitude desde aquela noite em que negou Jesus, também de poder suportar as chibatadas ordenadas pelos governantes. (At 5:40-42) Antes de ser preso pela segunda vez, Pedro fora inspirado a expor a hipocrisia de Ananias e Safira, e de proferir o julgamento de Deus contra eles. — At 5:1-11.

Pouco depois do martírio de Estêvão, após Filipe (o evangelizador) ter ajudado e batizado diversos crentes em Samaria, Pedro e João foram para lá a fim de habilitar esses crentes a receber o Espírito Santo. Pedro usou ali a segunda ‘chave do reino’. Daí, no caminho de retorno a Jerusalém, os dois apóstolos ‘declararam as boas novas’ a muitas aldeias dos samaritanos. (At 8:5-25) Evidentemente, Pedro saiu numa nova missão, durante a qual, em Lida, curou Enéias, que estivera oito anos paralítico, e ressuscitou a mulher Dorcas, de Jope. (At 9:32-43) Em Jope, Pedro foi orientado para usar a terceira ‘chave do reino’, viajando para Cesaréia a fim de pregar a Cornélio, e a seus parentes e amigos, o que resultou em eles se tornarem os primeiros crentes gentios, incircuncisos, a receber o Espírito Santo como herdeiros do Reino. Ao retornar a Jerusalém, Pedro teve de enfrentar os que se opunham a esta ação, mas estes assentiram, depois de ele apresentar a evidência de que agira sob a direção do céu. — At 10:1–11:18; compare isso com Mt 16:19.

Talvez tenha sido por volta do mesmo ano (36 EC) que Paulo fez a sua primeira visita a Jerusalém como converso cristão e apóstolo. Ele foi “visitar a Cefas [Pedro]” e passou 15 dias com ele, vendo também Tiago (meio-irmão de Jesus), mas nenhum dos outros apóstolos originais. — Gál 1:18, 19.

Segundo a evidência disponível, foi em 44 EC que Herodes Agripa I executou o apóstolo Tiago, e, ao ver que isso agradava aos líderes judeus, prendeu Pedro a seguir. (At 12:1-4) A congregação fez ‘orações intensas’ a favor de Pedro, e o anjo de Yehowah libertou-o da prisão (e provavelmente da morte). Depois de relatar sua soltura milagrosa aos que estavam na casa de João Marcos, Pedro pediu que se relatasse isso “a Tiago e aos irmãos”, e então Pedro “viajou para outro lugar”. — At 12:5-17; compare isso com Jo 7:1; 11:53, 54.

A próxima vez que ele consta no relato de Atos é na assembléia de “apóstolos e anciãos” realizada em Jerusalém para considerar a questão da circuncisão dos gentios convertidos, provavelmente no ano 49 EC. Depois de considerável disputa, Pedro levantou-se e deu testemunho a respeito dos tratos de Deus com crentes gentios. Que “a multidão inteira ficou calada” atesta o vigor do argumento, e, provavelmente, também o respeito que tinham por ele. Pedro, igual a Paulo e Barnabé, cujo testemunho se seguiu, a bem dizer estava no banco das testemunhas perante a assembléia. (At 15:1-29) É evidentemente com referência a esta ocasião que Paulo fala de Pedro, junto com Tiago e João, como “homens de destaque”, “que pareciam ser colunas” na congregação. — Gál 2:1, 2, 6-9.

À base do registro como um todo, é evidente que Pedro, embora certamente tivesse algum destaque e fosse respeitado, não tinha primazia sobre os apóstolos no sentido, ou à base, de gozar duma posição ou cargo designado. Assim, quando a obra de Filipe em Samaria mostrou ser frutífera, o relato diz que os apóstolos, evidentemente atuando como corpo, ‘mandaram Pedro e João’ em missão para Samaria. (At 8:14) Pedro não continuou permanentemente em Jerusalém, como se sua presença fosse essencial para o devido governo da congregação cristã. (At 8:25; 9:32; 12:17.) Ele atuou em Antioquia, na Síria, na mesma época em que Paulo estava ali, e Paulo achou certa vez necessário repreender Pedro (Cefas) “face a face . . . na frente de todos”, porque Pedro se envergonhara de comer e de similarmente se associar com cristãos gentios, por causa da presença de certos cristãos judeus que vieram da parte de Tiago, de Jerusalém. — Gál 2:11-14.