Comentário Bíblico Online: Atos 1:9

E, depois de dizer estas coisas,... Depois de falar da necessidade de não se preocuparem com os tempos e as épocas que cabiam apenas ao Deus Soberano, Yehowah, e de falar que eles deveriam esperar pelo prometido Espírito Santo, que os daria força a fim de serem testemunhas de Cristo até a parte mais distante da terra. Enquanto olhavam;... “Olhavam” (Gr.: blepo) Um verbo primário; olhar para (literal ou figurativamente): contemplar, perceber, considerar, ver, dar atenção. Compare com NT 3700. (Strong's Greek Lexicon) “ver, discernir, perceber pelo uso dos olhos, perceber pelos sentidos, sentir metaforicamente, ver com os olhos da mente, ter o poder de entender, discernir mentalmente, observar, voltar os pensamentos e a mente para algo. Pensar cuidadosamente, examinar.” (Thayer) Era de importância atestar essa circunstância, e atestá-la distintamente. Nunca é afirmado nas Escrituras Gregas que eles viram Cristo sendo ressuscitado, sendo levantado dentre os mortos, porque a evidencia deste fato não poderia ter maior prova do que verem com seus próprios olhos o Cristo ressurreto sendo levado para os Céus. Portanto, não seria necessário que eles vissem o pleno ato de Cristo sendo ressuscitado; a sua ascensão seria prova também de sua ressurreição. No entanto, era necessário que Cristo fosse levado aos céus diante dos seus discípulos em plena luz do dia, enquanto eles pudessem “olhar”, e não de noite ou durante uma hora que ninguém estivesse vendo. Também a ascensão se deu “depois de dizer essas coisas” - mencionadas no versículo 8 – “enquanto olhavam”. É bem conhecido que quando Jesus Cristo ‘terminava com suas palavras, o efeito era que as multidões ficavam assombradas com o seu modo de ensinar; pois ele as ensinava como quem tinha autoridade’ (Mat 7:28, 29; 28:18); desta vez não foi diferente. Depois que ele acabou de dar as instruções que eram necessárias para os seus discípulos, o resultado foi que eles ficaram parados olhando atentamente para ele, principalmente pelo fato de que eles estavam contemplando com seus próprios olhos o Cristo ressuscitado, e “enquanto olhavam” atentamente para eles, enquanto seus olhos estavam fixos nele, ele começou a ser levado para os Céus. Se Jesus tivesse apenas desaparecido após a sua ressurreição, sem ser visto, mas apenas por ter seu corpo desaparecido, ou se ele tivesse saído deste mundo para o Pai sem mais nem menos, os apóstolos e discípulos poderia pensar que foram enganados, ou que seu corpo tivera apenas sido roubado. (João 20:15) Isso teria sido trágico uma vez que eles já se encontravam desanimados por causa da morte do seu líder messiânico. Vendo Cristo ser levado desta forma implantou definitivamente nos seus corações a certeza de que Este era o Cristo, o Filho do Deus vivente. Isso era importante por que:

(1) Era uma confirmação da verdade da fé cristã.

(2) Habilitou os apóstolos a afirmar plenamente Quem era o Senhor Jesus, e de uma vez para sempre direcionar suas afeições, pensamentos e caminhos para longe da Terra e sim para onde Cristo foi levado e se assentou na direita da Majestade das Alturas. (Col. 5:1, 2; He 1:3) Também de uma vez para sempre ficou claro qual era a natureza do Reino Messiânico. Ficou claro que não era um reino típico, como era os reinados da nação de Israel. Uma das razões para Cristo ser levado para os Céus, ao invés de ficar na terra era porque:

2.a. Depois que ele terminou a obra que o Pai lhe dera para fazer na terra (Jo 17:4; 19:30) era necessário que ele fosse recebido de volta no lugar onde estava junto ao Pai, mesmo antes de existir mundo. João 17:4-5; Filipenses 2:6, 9-10.

2.b. Era próprio que Ele acendesse para que o Espírito Santo pudesse descer, ou ser derramado, assim como foi na noite de Pentecostes. (João 16:17) Era necessário que ele fosse levado aos céus aonde poderia interceder junto ao Pai a favor dos humanos fiéis.

(3) Uma parte da obra de Cristo ainda estava para ser realizada. Era o trabalho de intercessão. O sumo sacerdote judeu apresentava o sangue dos animais sacrificados para a expiação dos erros cometidos pela casa de Israel. Isso era uma representação típica, um exemplo, um modelo, das coisas que aconteceriam nos Céus, Hebreus 9:7-8, 11-12. Este trabalho era o de intercessão, Hebreus 7:25. Este é o trabalho que um advogado exerce a fim de defender um cliente (cf. 1 João 2:1 ALA) Este trabalho requer que ele comparecesse diante da presença gloriosa de Deus por nós. Hebreus 9:24; em ele apresentar os méritos do seu sangue justo em obediência até a morte. Hebreus 9:12, 14; e continuar a usar seus méritos a fim de derramar sobre nós a sua bondade e misericórdia tão necessárias para continuarmos a fazer a vontade de Yehowah. Cristo também foi levado aos Céus para que ele pudesse sentar no trono do Rei, conforme Yehowah prometera ao seu Servo (Sl. 110:1, 2) Foi elevado... É interessante notar que ele foi “elevado” para os Céus, para que pudesse estar no lugar que era seu, junto do Pai, antes de haver mundo. (Jo 17:5) Agora note que a palavra “elevado” também nos mostra que naquela ascensão Cristo fora também “exaltado” (Gr.: epairo) acima dos Céus e que Yehowah “o assentou à Sua direita nos lugares celestiais, muito acima de todo governo, e autoridade, e poder, e senhorio, e todo nome dado, não só neste mundo, mas também no que há de vir,” e “sujeitou também todas as coisas debaixo dos pés dele”, exceto a Si mesmo. (Efésios 1:20-22; cf. 1 Coríntios 15:27). E uma nuvem... “Nuvem” νεφεìλη (Gr.: nephele) de NT 3509; propriamente “nevoeiro” (ig), ou seja, (tangivelmente) uma nuvem. (Strong's Greek Lexicon NT 3507) Para entender porque se dera desta forma a ascensão de Jesus Cristo veja notas em Atos 1:11, sobre a expressão “da mesma maneira”. Interessante que o livro de Atos registra a partida de Jesus da Terra de volta aos Céus, para junto do Pai, e seria de se esperar que capítulos ou livros posteriores falassem de sua chegada aos Céus. No entanto, a Bíblia, sendo um livro profético, registrou a chegada de Jesus aos domínios celestiais até mesmo antes do livro de Atos, ou até mesmo seu escritor, Lucas, vir à existência. Em Daniel 7:13, nós lemos: “Continuei observando nas visões da noite e eis que aconteceu que chegou com as nuvens dos céus alguém semelhante a um filho de homem;
[1] e ele obteve acesso ao Antigo de Dias, e fizeram-no chegar perto perante Este.” Profeticamente observamos a chegada do Filho do homem, título aplicado no NT ao Senhor Jesus Cristo, com o detalhe da mesma descrição de Lucas, dizendo que ele “chegou com as nuvens dos céus”. O profeta aplica as palavras “alguém semelhante” pelo fato de que a identidade do Messias, ou a encarnação do Verbo, ainda era um mistério para eles. O arrebatou para cima… “Arrebatar” (Gr.: epairo) ocorre cerca de 19 vezes no NT e não há ocorrências na LXX: Mateus 17:8; Lucas 6:20; 11:27; 16:23; 18:13; 21:28; 24:50; João 4:35; 6:5; 13:18; 17:1; Atos 1:9; 2:14; 14:11; 22:22; 27:40; 2Coríntios 10:5; 11:20; 1Timóteo 2:8. Dentro do texto ele está no aoristo, na voz passiva, do indicativo da terceira pessoa do singular. O verbo em si traz o sentido de ser levado, arrebatado, como também de ser recebido hospitaleiramente. É interessante que, devido a sua lealdade incondicional a Deus, Jesus Cristo foi recebido hospitaleiramente nas moradas do Eterno, para preparar um lugar para seus discípulos (João 14:2). O oposto aconteceu com os “filhos do verdadeiro Deus” (Gênesis 6:1). Quando eles se desmaterializaram, abandoando seus corpos carnais para não morrerem afogados no Dilúvio, tentaram voltar a sua “moradia correta” (Judas 1:6), mas não foram acolhidos pela família angélica de Deus, principalmente por Yehowah, mas foram aprisionados em “laços sempiternos”, aguardando a Destruição. Que os são gerados pelo Espírito Santo para serem reis e sacerdotes junto com Cristo possam demonstrar lealdade incondicional, a fim de serem recebidos hospitaleiramente nas moradias do Eterno Deus. Fora da vista deles. “Vista” (Gr.: ophthalmos) de onde derivamos o termo “oftalmologia”. Podendo significar olhos literais ou metafóricos, como diz Thayer: “metaforicamente os olhos da mente.” Embora seja muito importante esta definição, é bem evidente que nesta ocasião deve ser aplicada a primeira definição, ou seja, os olhos literais. Quando a nuvem o envolveu e o arrebatou para os céus espirituais, os seus discípulos não conseguiam mais vê-lo, por causa da nuvem ou da distância.







____________
Notas:
[1] “Alguém semelhante a um filho de homem.” Aram.: kevár ’enásh. Compare isso com u·ven-’a·dhám, “e o filho do homem terreno”, no Sal 8:4.