Comentário de Jó 2:1-8

d) A tragédia intensifica-se (Jó 2.1-8)

Um segundo concílio celestial garante ao inimigo a possibilidade de ampliar o teatro de investigação. Ele recusa-se a admitir o seu erro em relação à sinceridade de Jó (3), isto é, em relação à sua integridade ou, segundo outra versão, “lealdade”. Para o Senhor, Jó acaba de ser passado pelo fogo e o seu caráter emerge, das aflições, mais puro que nunca. Mas o adversário queixa-se de que a provação não foi suficientemente forte, não foi radical. Acusa Jó de dureza, de insensibilidade. Até aqui a calamidade afetou apenas a vida dos outros. A sua pele foi poupada. Toque-se-lhe na pele e a tal integridade deixará de existir. Pele por pele (4) era, provavelmente um provérbio corriqueiro. As peles eram artigos muito usados em transações comerciais. Satanás acusava Jó de estar pronto a dar a pele dos outros - gado, servos, filhos - contanto que não tocassem na dele.

Ao adversário é concedida a oportunidade de justificar a sua acusação. Jó está nas suas mãos, à sua mercê. A identificação de doenças com nomes antigos não é tarefa fácil mas a opinião médica dos nossos dias sugere que a doença de Jó fosse um caso de furunculose estafilocócica generalizada. Nada poderia imaginar-se de mais angustiante, exasperante e deprimente. A cinza (8) é aqui uma referência ao vazadouro público que se situava fora dos muros da cidade. Aí se queimavam, a intervalos regulares, as imundícies e o lixo da terra. Era o ponto de encontro dos cães e do rapazio sem eira nem beira; aqueles, ávidos dos restos de carne que pudessem ainda encontrar agarrada às carcaças que para ali se atiravam; estes, sempre prontos a desenterrar e a aproveitar o que outros haviam lançado fora. Foi aí, nesse lugar de miséria e de refugo, que se sentou aquele que fora o maior de todos os do oriente (Jó 1.3).


Fonte: Bible Commentary de John W. Scott