Comentário de João 4:20

Nossos pais adoravam nesse monte;... O monte Gerizin, que estava próximo, e à vista; de forma que a mulher podia apontar; era tão próximo a Sequem, ou Sicar, que a voz de Jotã foi ouvida do seu topo, Juízes 9:6. Pelos “pais”, que essa mulher afirma ser deles, quer dizer, não os ancestrais imediatos dos Samaritanos, ou aqueles apenas de algumas gerações passadas; mas os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, cujos descendentes eles achavam que eram; e eles aprimoraram cada assunto da adoração nessas partes, no favor dessa montanha, sendo um lugar sagrado. E Abraão, de fato, construiu um altar ao Senhor, na planície de More, Gên. 12:6, que para os próprios Judeus[1] é o mesmo que Siquém; mas a tradição deles que Teofilacto relata, diz que Isaque foi oferecido no Monte Gerizim, o que é inteiramente falso: Jacó, de verdade, veio a Salém, uma cidade de Sequem; e nesse mesmo lugar, ele comprou um pedaço de terra dos filhos de Hammor, e deu ao seu filho José, onde ele construiu um altar e o chamou de Elelohe-Israel, Gên. 33:18. E também nesse mesmo Monte, a tribo de José ficou com outros, quando eles vieram ao Jordão, e abençoaram o povo; todos os argumentos que os Samaritanos usaram em fazer do uso na vindicação deles mesmos falharam, para a adoração nesse monte; e que essa mulher poder estar familiarizada, e ao que ela pôde se referir: mas, quanto ao templo, ou qualquer lugar de adoração nesse monte, não havia nenhum até os últimos anos, depois que o segundo templo foi construído. A ocasião disso, como Josefo[2] relata, foi assim: Manasses, irmão de Jadua, o Sumo Sacerdote, tendo se casado com Nicasso, Filha de Sambalá, governador da Samaria, que foi por este motivo afastado de seu sacerdócio, fugiu para seu sogro, e relatou o caso a ele, expressando grande amor a sua filha, e ainda assim uma consideração a seu ofício; sobre a qual Sambalá propõem construir a ele um Templo em Gerizim; pela qual ele não duvidou obter permissão de Dario, o monarca Persa, e de fazê-lo um alto sacerdote. Dario sendo vencido por Alexandre o Grande, Sambalá fez sua corte a ele, e peticionou-o que se construísse o templo, que concedesse a ele seu pedido; e, concordemente, ele construiu um, e Manasses se tornou o sumo sacerdote; e muitos dos Judeus devassos, que tinham se casado com mulheres estrangeiras, ou violado o Sábado, ou tinham ingerido comida proibida, vieram e se juntaram a ele. Esse templo, somos informados,[3] foi construído quarenta anos depois do segundo templo em Jerusalém: e permaneceu de pé duzentos anos, e então foi destruído por Jochanan, o filho de Simeão, o filho de Matatias, que era Hircano, e assim diz Josefo;[4] e podia agora ser reconstruído: no entanto, isso não colocou um freio para a adoração nesse lugar, sobre o qual havia muita briga, entre os Judeus e Samaritanos; do qual nós temos alguns exemplos nos escritos do primeiro: é dito[5] que...

“R. Jonatã foi orar em Jerusalém, e passou por esse Monte (a glosa diz Monte Gerizim), e um certo Samaritano o viu e disse-lhe, aonde estás indo? Ele respondeu que estava indo orar em Jerusalém; ele disse-lhe, não é melhor para ti orar nesse Monte abençoado e não nessa casa de estrumeira? Ele respondeu: porque abençoado? Ele respondeu: porque não foi inundado pelas águas do dilúvio; a coisa estava escondida aos olhos de R. Jonatã, e ele não pôde dá uma resposta.”

Essa história é contada em outro lugar,
[6] com pouca variação, assim:

“Aconteceu com R. Jonatã, que ele foi a Neápole, dos Cuthites, ou Samaritanos, (i.e a Siquém, porque Siquém é agora chamada Neplous) e ele estava montando um asno, e um boiadeiro com ele; um certo Samaritano se juntou a eles: quando eles chegaram ao Monte Gerizim, o Samaritano disse a R. Jonatã: como veio a ser que nós chegamos a esse santo Monte? R. Jonatã replicou: de onde veio a ser santo? O Samaritano respondeu a ele: Porque não foi atingida pelas águas do Dilúvio.”

Muito da mesma história é contada de R. Ismael bar R. José.
[7] Deve ser observado nesse relato que os Samaritanos chamam esse Monte de Monte Sagrado; eles imaginavam que havia alguma coisa sagrada nele; e o monte bendito, ou monte da benção; sem dúvida, por causa das bênçãos que foram pronunciados sobre ele; embora uma razão muito fraca seja dada por eles nas passagens acima citadas. Eles não apenas discutem os casos citados acima da adoração ou dos patriarcas, ou sobre esse lugar, a que essa mulher se refere; mas mesmo uma passagem falsificada no Pentateuco, como é geralmente acreditada, em favor desse monte; em Deut. 27:4.

E vós dizeis que em Jerusalém é o lugar onde os homens devem adorar;... Ou seja, no templo; que afirmavam, e muito corretamente, que Deus tinha escolhido aquele lugar para colocar o seu nome e fixar sua adoração ali; e tinha ordenado a eles para ir a esse lugar, e a trazer suas ofertas e sacrifícios, e para guardar sua páscoa e outras festividades; veja Deut. 12:5. Esse foi construído por Salomão, de acordo com a ordem e a direção de Deus, algumas centenas de anos antes do Monte Gerizim ter sido usado para adoração religiosa; e eles não tinham apenas essas coisas para mencionar, mas também a adoração que foi aqui dada a Deus nesse lugar antes do templo ser construído nele, que eles não falharam em fazer assim. Assim o Targumista em 2 Crôn. 3:1 aumenta o título;

“E Salomão começou a construir o santuário do Senhor em Jerusalém, no Monte Moriá, no lugar onde Abraão adorava e orava no nome do Senhor: הוא אתר ארע פולחנא, “esse lugar é a terra de adoração”; porque ali todas as gerações adorarão diante do Senhor; e ali Abraão ofereceu seu filho Isaque como oferta queimada, e a Palavra do Senhor o livrou, e um carneiro foi designado em seu lugar; ali Jacó orou quando ele fugiu de Esaú seu irmão; ali o anjo do Senhor apareceu a Davi, quando ele fez preparativos para o sacrifício no lugar em que comprou de Ornam, na terra de Ornan o Jebusita.”

E visto que agora havia tantas coisas para serem ditas em cada lado da questão, essa mulher deseja que, ao ver Cristo, o profeta, ele se agradará de dar a ela sua opinião sobre o assunto e informá-la do qual era o correto lugar de adoração.




Fonte: John Gill's Exposition of the Entire Bible




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Notas:
[1] Misna Sota, c. 7. seç. 5. T. Bab. Sota, fol. 33. 2.
[2] Antiqu. l. 12. c. 1. Vid. Juchasin, fol. 14. 2.
[3] Juchasin, fol. 14. 2. & 15. 1.
[4] Antiqu. l. 13. c. 17.
[5] Bereshit Rabba, seç. 32. fol. 27. 4. & Shirhashirim Rabba, fol. 16. 3.
[6] Debarim Rabba, seç. 3. fol. 238. 2.
[7] Bereshit Rabba, seç. 81. fol. 71. 1.