Comentário de Marcos 1:29-39

JESUS CURA A SOGRA DE SIMÃO 1.29-31


Devido à simplicidade do estilo do autor, podemos perder algo do significado deste trecho. Ele acontece no mesmo dia, na mesma cidade, e na presença dos mesmos discípulos. Mas as similaridades terminam aí.

Após a tumultuada cena na sinagoga, Simão e André levam Jesus, juntamente com Tiago e João, para casa em Cafarnaum. Ao ouvir que a sogra de Pedro estava com febre, Jesus a procura (do mesmo modo que procurara os pescadores). Ele a levanta, tomando-a pela mão. Sua cura é instantânea, capacitando-a a servi-lo.

Jesus demonstra sua compaixão e seu poder por meio de suas palavras e ações. Na sinagoga, a reação ao seu poder foi a de maravilharem-se; aqui é de servir. Tendo sido servida, "ela os servia".

Seu serviço mostra sua gratidão, mas também mostra que ela se tornara discípula de Jesus, pois o serviço é uma característica essencial do discípulo (9.35; 10.43-45). Tanto aqui, no princípio, como no final do Evangelho, Marcos fala de uma mulher servindo a Jesus. (15.41).

Jesus não ministra apenas nos lugares de adoração. Ele vai com seus discípulos até suas casas. Envolve-se em suas vidas familiares. Preocupa-se com indivíduos, não só com multidões, com as mulheres e não apenas com os homens. Seus discípulos têm liberdade para falar com ele sobre suas preocupações com a família e Jesus supre suas necessidades. Ele ministra sempre, e onde quer que esteja, sem alarde. Aceita a hospitalidade e é servido juntamente com os outros. Enquanto faz discípulos, Jesus está formando uma nova família (3.31-35) dada para servir uns aos outros (9.35) assim como Jesus o faz (10.45).

JESUS CURA A MUITOS DEPOIS QUE
O SÁBADO TERMINA 1.32-34


As pessoas espalham as novas sobre o poder de cura de Jesus por toda a Cafarnaum (v.28). Sendo judeus piedosos, eles temem quebrar a lei do sábado. Então, esperam até depois do pôr-do-sol, quando oficialmente o sábado termina, antes de trazer a Jesus todos os doentes e endemoninhados. Parecia que toda a cidade estava apinhada ao redor da porta da casa de Pedro, enquanto Jesus cura a muitos que sofrem de várias doenças.

Jesus também expulsa muitos demônios, mas não permite que eles falem. Anteriormente (v. 25), ordenara a um demônio que se calasse. Os gritos na sinagoga, sem dúvida, atrapalharam a reunião. Mas, agora, Marcos afirma especificamente que esta ordem de silêncio tem a ver com a identidade de Jesus. Os demônios sabem quem ele é e tentam usar essa informação para destruí-lo. Então, ele ordena que se calem. Ele deseja que a sua verdadeira identidade permaneça oculta, até o momento apropriado. Gradativamente, esse assunto importante se torna mais claro, mas por ora, Marcos não nos dá outras explicações.

JESUS ORA EM UM LUGAR SOLITÁRIO 1.35-39


Aquele sábado fora um dia cheio para Jesus. No primeiro "domingo" de seu ministério, Jesus levanta-se muito cedo e vai orar sozinho. Enquanto Lucas mostra Jesus frequentemente em oração, Marcos chama nossa atenção para três ocasiões nas quais Jesus orou sozinho, e à noite, durante algumas ocasiões especiais em seu ministério — aqui, em 6.46 e 14.32-39.

Vendo as multidões, os discípulos provavelmente pensaram que Jesus estava fazendo um sucesso tremendo. Mas, foi para isso que Deus o ungira? Jesus encara a hipótese de que este bom ministério poderia ser um inimigo ainda maior. Muitas pessoas são destruídas pelo "sucesso". Jesus toma cuidados especial diante do clamor popular. Ele não cede à pressão, não deixa que as pessoas determinem o seu caminho. Então, ele sai cedo pela manhã, buscando um período de oração sem interrupção. Jesus define suas prioridades na presença do Pai, porque se alegra em fazer sua vontade. Ele é um homem inteiramente dependente do Pai. Ele rejeita a contínua tentação de Satanás.

Simão (mais tarde apelidado de Pedro) e seus companheiros procuram Jesus. Eles não podem deixá-lo perder a oportunidade especial de curar a muitos. Quando o encontram censuram-no com as palavras: "Todos o procuram!" Esses homens têm suas mentes nas "coisas dos homens" (8.33), um ponto de vista que irá criar cada vez mais dificuldades. Seu entendimento a respeito de Jesus é ainda muito limitado.

A resposta de Jesus choca seus discípulos: "Vamos" a outros lugares. Isso dará a outros a oportunidade de ouvir as boas novas, enquanto as pessoas de Cafarnaum têm tempo para reavaliar seus motivos para seguir a Jesus. Ele não deseja "admiração", mas arrependimento e fé (1.15) em resposta a seu ministério. Já que o reino requer urgência, Jesus vai a todo lugar, dando o exemplo de pregar o evangelho às cidades vizinhas, em todo Israel, e a todas as nações (13.10; 14.9).

Jesus reafirma a natureza de sua missão: Ele veio para proclamar (kerysso: a proclamação pública por um arauto autorizado, que é o mensageiro de Deus, como em 1.4 e 1.14). A resposta a seu ministério de cura em Cafarnaum é contraproducente; não está levando ao arrependimento e fé. Sem isso, o reino não cresce; este é melhor servido priorizando-se a proclamação das boas novas.

Assim, Marcos nos dá uma visão pormenorizada das primeiras vinte e quatro horas do ministério de Jesus. Os discípulos ganham uma amostra valiosa do que está envolvido no "pescar homens", à medida em que observam Jesus em diversas situações.