Comentário de Marcos 1:4-6

João, o mensageiro de Deus surge, pregando no deserto, exatamente como fora prometido. O deserto lembra a experiência de Israel quando, livres da escravidão do Egito, os israelitas foram disciplinados por Deus na preparação para a entrada na terra prometida. Agora Deus está começando um novo Êxodo. Separando-se da vida religiosa fácil e institu¬cionalizada, multidões vão ao deserto para ouvir a João.

Embora nenhuma voz profética tivesse sido ouvida por séculos, os fiéis continuam esperando que Deus cumpra suas promessas. Eles crêem que um profeta surgirá nos últimos dias, preparando o dia do Senhor. Ele será um fiel emissário de Deus na mesma linha, e com a mesma mensagem, dos verdadeiros profetas da história de Israel. Essa esperança é alimentada pelas palavras de Deus por Malaquias (4.5s), "Eu lhes enviarei o profeta Elias antes que venha o grande e terrível dia do Senhor", um dia de julgamento e de salvação. Esse profeta anunciaria o cumprimento das antigas profecias.

Marcos não descreve a aparência de Jesus em nenhum lugar, embora ele seja a figura central do Evangelho. No entanto, descreve propositadamente a comida que João comia e as roupas que vestia (v. 6), em termos que nos remetem à roupa de pelos e o cinto de couro de Elias (2 Rs 1.8; Zc 13.4). Desse modo, Marcos apresenta a primeira evidência do elo entre João Batista e Elias. João é o precursor prometido, um profeta de grande importância escatológica que cumpriu sua missão proclamando: "Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas."

Essa mensagem é dirigida à toda a nação como preparação necessária para a vinda do Senhor. Há um mover em massa daqueles que moram na Judéia e em Jerusalém.(1.5, cf. 3.8), embora tivessem que percorrer o difícil caminho para ouvi-lo no deserto. A mensagem, recebida por muitos, apesar das dificuldades, vincula três aspectos inseparáveis: arrependimento (uma nova atitude de coração e mente), acompanhado da confissão (uma demonstração audível do arrependimento), e batismo (uma representação visível do arrependimento). João não facilita as coisas para ninguém; ele exige muito de seus ouvintes (do mesmo modo como, mais tarde, Jesus chama homens e mulheres ao discipulado radical).

O chamado de João ao arrependimento pressupõe que a reconciliação com Deus é indispensável a fim de superar a separação causada pelo pecado. Arrependimento (Gr.: metanoia) significa uma mudança deliberada de atitudes, que resultam numa mudança de comportamento. Pessoas arrependidas não fogem da realidade de sua condição de pecadores, nem procuram desculpas para seus pecados. Elas confessam abertamente seu pecado a Deus (cf. Lc 18.13) e afirmam que desejam viver de acordo com a vontade de Deus. A genuína tristeza pelo pecado leva à conversão, a qual envolve uma completa mudança de rumo. Embora a jornada comece com a tristeza de um espírito quebrantado, esta leva à alegria das boas novas de perdão, pois Deus não despreza o coração contrito (Sl 51.17).

Chamando os judeus, como indivíduos e como nação, para voltarem-se a Deus, João prega imersão (Gr.: baptizon) como uma expressão do arrependimento. Como acontecia aos gentios, que eram batizados ao converterem-se ao Judaísmo, os judeus que confessam estar alienados de Deus são batizados por João. Assim como a mensagem de João prepara o caminho para a salvação prometida, o perdão que ele prega prepara o caminho para o perdão completo, disponível exclusivamente por meio de Jesus Cristo. Ainda assim, não é o ritual do batismo que traz o perdão. O batismo é, na realidade, a expressão do arrependimento que resulta no perdão de pecados.




Fonte: The Cornerstone Bible Commentary