Erasmo (Part. 3)

Ao lecionar grego na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, durante algum tempo, Erasmo prosseguiu no seu trabalho de corrigir o texto das Escrituras Gregas Cristãs. Um amigo, Martin Dorpius, tentou convencê-lo de que a tradução latina não necessitava de nenhuma correção do grego. Seria provável, argumentou Dorpius, “que a inteira Igreja Católica tivesse errado durante tantos séculos, visto ter sempre usado e autorizado essa tradução”? Tomás More juntou-se a Erasmo em replicar a tais críticas, enfatizando a necessidade de haver um texto exato da Bíblia nas línguas originais.

Em Basiléia, Suíça, Johannes Froben, tipógrafo, instou para que Erasmo apressasse a conclusão de sua obra. Ouvira falar que o cardeal Ximenes de Toledo, na Espanha, estivera trabalhando num Testamento grego e latino em 1514, mas havia adiado a publicação até que a Bíblia inteira fosse completada. Foi editado finalmente como a Bíblia Poliglota Complutensiana, em 1522. A edição de Erasmo foi publicada em 1516, a primeira vez que um texto do “Novo Testamento” no grego original foi editado.

A pressa com que foi completada resultou em muitos erros.[1] Mais do que qualquer outra pessoa, Erasmo compreendia isso, e ele corrigiu tantos deles quanto possível em edições posteriores. Tanto Lutero como William Tyndale usaram estas para suas traduções da Bíblia para o alemão e o inglês. Essa era a esperança e o desejo de Erasmo, e foi no prefácio desse volume do texto grego que ele escreveu: “Eu gostaria de que essas palavras fossem traduzidas para todas as línguas. . . . Anseio que o moço do arado as cante para si mesmo enquanto segue seu arado.” Imperfeito como fosse o texto de Erasmo, este deu início ao importante trabalho da crítica textual, o que levou a traduções exatas da Bíblia em nossos dias.

Nem todos, porém, receberam bem essa publicação. Algumas das notas de Erasmo criticavam fortemente o clero. Por exemplo, tome o texto de Mateus 16:18, que diz: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.” (Soares) Erasmo expressa sua surpresa de que tais palavras devam ser aplicadas exclusivamente ao papa e rejeita completamente a primazia de Pedro. Essa era uma declaração destemida num volume que era dedicado ao papa. Não admira que muitos dos escritos de Erasmo fossem proibidos até mesmo nas universidades.

O que mostra que Erasmo estava interessado no entendimento da Palavra de Deus é uma obra escrita por ele em 1519 intitulada Princípios da Verdadeira Teologia (abreviado: A Razão). Esta esboça seu método para estudar a Bíblia, com um conjunto de regras para interpretá-la. Estas incluem nunca isolar uma citação do seu contexto, nem da linha de pensamento do autor. Ele percebeu a unidade das Escrituras como um todo. A interpretação, portanto, vem de dentro, argumentou ele, não é imposta por algo externo, de fora de suas páginas. — Veja Gênesis 40:8.


NOTAS
[1] De fato, estando sua cópia de Revelação (Apocalipse) incompleta, Erasmo simplesmente retraduziu os versículos faltantes, da Vulgata latina, novamente para o grego.