Erasmo (Part. 4)


Em 1518, Erasmo escreveu um tratado chamado Colóquios, que novamente atacou as corrupções da Igreja e dos conventos. Exatamente no ano anterior, Martinho Lutero afixara destemidamente suas noventa e cinco teses na porta da igreja de Wittenberg, protestando contra as indulgências, que se tornaram escândalo em muitos países. Por algum tempo, parecia que Erasmo e Lutero se uniriam para efetuar as necessárias reformas, mas suas idéias sobre como efetuá-las eram diametralmente opostas. Não demorou muito até que Lutero começasse a condenar Erasmo, pois este era moderado e queria operar por meios pacíficos, de dentro da Igreja. Pode-se dizer que Erasmo pensava e escrevia, ao passo que Lutero agia.

O rompimento finalmente ocorreu em 1524, quando Erasmo escreveu a Diatribe Sobre o Livre-Arbítrio. Lutero rejeitava a idéia de que o homem tivesse livre-arbítrio, mas Erasmo raciocinava que isso tornaria Deus injusto, visto que indicaria que o homem não seria capaz de agir dum modo que resultasse na sua salvação.

Quando a Reforma ganhou ímpeto na Europa, as circunstâncias forçaram muitos de seus líderes a se separar da Igreja Católica. Embora não tivessem previsto suas conseqüências, seguiram em frente no caminho que haviam escolhido, acabando muitas vezes na morte. Mas Erasmo retraia-se de controvérsia e até mesmo recusou o cargo de cardeal, admitindo certa ocasião que, se fosse colocado à prova, poderia falhar assim como Pedro. (Mateus 26:69-75) Procurou manter uma posição intermediária.

Portanto, ao passo que Roma considerava seus escritos como heréticos e colocou-os no Índex de livros proibidos, muitos dos reformadores o denunciavam como estando pronto para transigir a fim de se salvar. Sensível a qualquer crítica, porém ansioso para receber encômio, Erasmo foi muitas vezes cauteloso demais, temendo as conseqüências de qualquer rompimento de relações com Roma.

As ligações de Erasmo com a Reforma têm sido resumidas da seguinte forma: “Ele foi reformador até que a Reforma se tornou uma realidade temível; caçoador dos baluartes do papado até que este começou a ceder; divulgador das Escrituras até que os homens se empenharam no estudo e na aplicação delas; depreciando as meras formas exteriores de religião até que passaram a ser avaliadas segundo seu real valor; em suma, um homem erudito, engenhoso, benévolo, amável, tímido e irresoluto, que, assumindo a responsabilidade, renunciou a outros a glória de salvar a mente humana da escravidão de mil anos. Portanto, a distância entre a sua carreira e a de Lutero foi alargando-se continuamente, até que por fim se moviam em direções opostas e se confrontavam com hostilidade mútua.” — Edinburgh Review, lxviii, 302.

Os reformadores não conseguiam concordar entre si quanto a doutrina e prática, de modo que as mudanças feitas no século dezesseis fracassaram em erradicar algumas das tradições básicas que ocultaram a verdade da Palavra de Deus no decorrer dos séculos. Mas, o progresso feito no sentido de levar a Bíblia ao povo comum continuou desde então até o dia de hoje. De tais esforços, nos quais Erasmo desempenhou um papel, surgiram traduções da Bíblia acuradas e de confiança.

Portanto, hoje o ‘moço do arado’ pode pegar a Bíblia, ou pelo menos parte dela, em quase qualquer língua e deleitar-se em aprender sobre o grande propósito de Deus para a humanidade. As Escrituras nos incentivam cordialmente a fazer exatamente isso. Como diz a Bíblia, no Salmo 1:2, 3, com respeito ao homem justo: “Seu deleite é na lei de Jeová, e na sua lei ele lê dia e noite em voz baixa. E ele há de tornar-se qual árvore plantada junto a correntes de água, que dá seu fruto na sua estação e cuja folhagem não murcha, e tudo o que ele fizer será bem sucedido.” (Darby) Nunca deixemos passar sequer um dia sem nos deleitarmos na Palavra de Deus.