Estudo das palavras do Novo Testamento: Marcos 1:3

A voz; nenhum artigo definido no texto grego. O Batista não foi o único porta-voz de Deus que foi enviado para Israel. João só pretendia dizer “uma voz”, não “a voz” (João 1:23). O Escolhido para quem ele aprontou a estrada, era o Filho de Deus, o Filho único, Ele mesmo, o próprio Deus.

De alguém clamando. (Gr.: boao) “clamar em voz alta, aos berros, para falar com um nível elevado, voz forte.” Kaleō no grego clássico significava “gritar” para uma finalidade, Boao “um grito”, como uma manifestação do sentimento. A pregação do Batista foi cheia de emoções, de sentimentos. Ela veio do fundo do coração, e foi dirigida para o coração do povo. João disse: “Eu sou a voz de Alguém clamando no deserto” (João 1:23). Aquele clamando era Deus. João era Seu porta-voz. Voltando a pregação de João para Israel, e através dele, foi manifestado o desejo infinito do Deus de Israel para com o Seu povo eleito. O coração de Deus estava nessa mensagem, cheia de amor e de súplica. No deserto, (Gr.: erēmos); a palavra significa “algo solitário, desolado, lugar desabitado”. Aqui ele se refere às regiões impróprias para pastagens na Judéia.

Preparar, (Gr.: hetoimazō) “pronto para fazer, preparar.” Thayer diz que quando ela é usada como aqui, para preparar o caminho (Gr.: hodos, estrada) do Senhor, ela é utilizada como uma figura “oriental traçada a partir do costume de enviar na frente de reis em suas viagens pessoas para nivelar as estradas e torná-las próprias para a passagem,” Assim, a ideia é “preparar as mentes dos homens para receber o Messias e Suas bênçãos.” O verbo está no plural, assim, é dirigida a Israel. Está no tempo aoristo e no modo imperativo, portanto, transmite a ideia de emitir uma ordem resumida militar, de forma concisa, a fim de obter obediência imediata. Esse foi o caráter da pregação do Batista. Sua pregação não foi com arrodeios, com palavras mansas, palavras dengosas para agradar os ouvintes. O Batista era um homem entre os homens, e sua pregação foi direta com profunda autoridade.

O caminho do Senhor, “caminho” é novamente hodos, uma estrada. “Senhor” é kurios, usado de uma pessoa que é o possuidor de uma coisa, o mestre. É a palavra usada na LXX para traduzir o título de Deus que nós conhecemos como Jeová. O Ancião de Dias devia encarnar-se na humanidade, crescer como uma pequena criança, e oferecer-se a Israel como seu Messias, o seu rei. Sua estrada precisava ser preparada, ou seja, o coração do Seu povo eleito devia estar pronto. O ministério de João era fazer com que Israel estivesse pronto para receber o seu Messias. A palavra “Senhor” está sem o artigo, a ênfase está sobre a natureza ou qualidade. A estrada é um caminho do Senhor, de tal qualidade que poderia pertencer a Jeová.

Fazei retos os Seus caminhos. O verbo “fazer” está no imperativo, como emitindo uma ordem a ser obedecida continuamente. Deve ser um hábito com Israel, uma atitude constante, e não um compromisso formal, abrupta e que signifique apenas dar boas-vindas, mas um bem que deverá estender-se, um habitual comportamento que seria a expressão natural do coração. “Reto” é euthus, que significa “puro, nivelado”. Robertson fala das estradas maravilhosa dos Persas que eram feitas para os correios do rei e, em seguida, para o próprio rei, e do Império Romano, algumas das quais ainda existem hoje. Essa palavra não é utilizada apenas da retidão e nível das estradas, mas também de um certo modo de vida, como em 2 Pedro 2:15, onde a palavra é usada com hodos (estrada). “Caminhos” é tribolos, “um caminho gasto, um caminho.” A expressão não se refere a um caminho ou estrada literal estabelecida para que o Senhor pudesse viajar, mas para o coração do povo de Israel, e sua entrada no meio deles.

Tradução: Uma voz de Alguém clamando no lugar desabitado: “Prepare o caminho do Senhor. Esteja constantemente endireitado e nivelado os seus caminhos.”


Fonte: Wuest's Words Studies, Vol. II