Evangelho de Marcos (Part. 2)

Referências às Escrituras Hebraicas. Embora Marcos pareça ter escrito primariamente para os romanos, este registro contém assim mesmo referências às Escrituras Hebraicas e citações delas. Mostra que a obra de João, o Batizador, era cumprimento de Isaías 40:3 e Malaquias 3:1. (Mr 1:2-4) Neste relato encontram-se também casos de Jesus aplicar e citar as Escrituras Hebraicas, ou aludir a elas. Estes incluem: Honrar a Deus apenas com os lábios (Mr 7:6, 7; Is 29:13); honrar os pais (Mr 7:10; Êx 20:12; 21:17); a criação do homem e da mulher, e a instituição do matrimônio (Mr 10:6-9; Gên 1:27; 2:24); diversos mandamentos (Mr 10:19; Êx 20:12-16; Le 19:13); os comentários de Jesus a respeito do templo (Mr 11:17; Is 56:7; Je 7:11); sua declaração a respeito de ser rejeitado (Mr 12:10, 11; Sal 118:22, 23); as palavras de Yehowah a Moisés junto ao espinheiro ardente (Mr 12:26; Êx 3:2, 6); os dois grandes mandamentos sobre o amor (Mr 12:29-31; De 6:4, 5; Le 19:18); as palavras proféticas de Yehowah ao Senhor de Davi, sobre a subjugação dos adversários (Mr 12:36; Sal 110:1); a dispersão dos discípulos de Jesus (Mr 14:27; Za 13:7); a declaração de Jesus de ser abandonado por Deus (Mr 15:34; Sal 22:1); suas instruções a um leproso curado (Mr 1:44; Le 14:10, 11); e sua declaração profética a respeito da coisa repugnante que causa desolação (Mr 13:14; Da 9:27).

As referências às Escrituras Hebraicas, no relato de Marcos, ilustram amplamente que Jesus Cristo tinha confiança nelas e usava estas Escrituras no seu ministério. Este Evangelho fornece também a base para se conhecer melhor o Filho do homem, que “veio, não para que se lhe ministrasse, mas para ministrar e dar a sua alma como resgate em troca de muitos”. — Mr 10:45.

Conclusões Longa e Curta. Alguns têm achado que Marcos 16:8, que conclui com as palavras “e não disseram nada a ninguém, pois estavam tomadas de temor”, é abrupto demais para ter sido a conclusão original deste Evangelho. Todavia, não se precisa chegar a tal conclusão, em vista do estilo geral de Marcos. Também, os eruditos Jerônimo e Eusébio, do quarto século, concordam que o registro autêntico conclui com as palavras “pois estavam tomadas de temor”. — Jerônimo, carta 120, pergunta 3, conforme publicada em Corpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum (Substância das Escrituras Eclesiásticas Latinas), Viena e Leipzig, 1912, Vol. LV, p. 481; Eusébio, “Ad Marinum”, I, conforme publicado em Patrologia Græca (Patrologia Grega), Paris, 1857, Vol. XXII, col. 937.

Existem diversos manuscritos e versões que acrescentam uma conclusão longa ou uma curta após estas palavras. A conclusão longa (que consiste em 12 versículos) se encontra no Manuscrito Alexandrino, no Codex Ephraemi Syri rescriptus e no Codex Bezae Cantabrigiensis. Ocorre também na Vulgata latina, no Siríaco curetoniano e na Pesito siríaca. Mas é omitido no Manuscrito Sinaítico, no Manuscrito Vaticano N.° 1209, no códice Siríaco sinaítico e na Versão Armênia. Certos manuscritos e versões posteriores contêm a conclusão curta. O Códice Regius, do oitavo século EC, tem ambas as conclusões, apresentando primeiro a conclusão curta. Prefacia cada conclusão com uma nota, dizendo que estas passagens eram correntes em algumas partes, embora evidentemente não reconheça nenhuma delas como de autoridade.

Edgar J. Goodspeed, tradutor da Bíblia, comentando as conclusões longa e curta, observou: “A Conclusão Curta se liga muito melhor com Marcos 16:8 do que a Longa, mas nenhuma delas pode ser considerada como parte original do Evangelho de Marcos.” — The Goodspeed Parallel New Testament (O Novo Testamento Paralelo, de Goodspeed), 1944, p. 127.

ESBOÇO DE MARCOS

O relato conciso, dinâmico, de Marcos sobre a vida de Jesus apresenta Jesus como o Filho de Deus que faz milagres.
É o Evangelho mais curto, o terceiro a ser escrito (c. 60-65 EC), evidentemente visando os não-judeus.
Jesus realiza uma vigorosa campanha de pregação do Reino.
Jesus é batizado e começa a pregar: “O reino de Deus se tem aproximado.” (1:9-11, 14, 15)
Convida Simão, André, Tiago e João a deixar seu negócio de pesca e a ser seus seguidores. (1:16-21)
Depois de pregar na sinagoga de Cafarnaum, ele passa a pregar em toda a Galiléia. (1:21, 22, 35-39)
Levi, cobrador de impostos, aceita o convite de ser seguidor de Jesus. (2:14-17)
Jesus forma um grupo de 12 apóstolos para pregarem. (3:13-19)
Usa muitas ilustrações ao ensinar sobre o Reino de Deus, para que apenas os merecedores entendam o pleno sentido do que ele diz. (4:1-34)
Jesus encontra falta de fé ao dar testemunho no seu próprio território. (6:1-6)
Ele acelera a pregação por enviar seus apóstolos. (6:7-13)
Sua atividade se estende à Fenícia e a Decápolis. (7:24, 31)
Jesus é transfigurado na glória do Reino. (9:1-8)
Fora de Jerusalém, ele profetiza a respeito da ‘vinda do Filho do homem com grande poder e glória’. (13:1-37)
Na Refeição Noturna do Senhor, Jesus promete que seus seguidores estarão com ele no Reino. (14:12-31)
O Filho de Deus, que faz milagres.
Na sinagoga de Cafarnaum, ele liberta um homem da possessão por demônios; depois, cura a sogra de Simão e sara muitos outros de diversas aflições. (1:23-34, 40-42)
Por curar um paralítico, Jesus demonstra seu poder para perdoar pecados. (2:1-12)
Sofredores de todas as partes procuram alívio. (3:1-12)
Depois de acalmar uma tempestade no mar da Galiléia, ele expulsa dum homem demônios e permite a estes entrarem numa manada de porcos. (4:35–5:17)
Cura uma mulher que padece dum fluxo de sangue, e ressuscita a filha de Jairo. (5:21-43)
Depois de alimentar 5.000 com dois peixes e cinco pães, Jesus anda sobre o mar da Galiléia açoitado pelo vento. (6:35-52)
Expulsa um demônio da filha duma mulher siro-fenícia e cura um surdo que tem um impedimento de fala. (7:24-37)
Alimenta 4.000 com sete pães; em Betsaida, restaura a vista a um cego. (8:1-9, 22-26)
Dum menino mudo e surdo, Jesus expulsa um demônio que havia resistido aos discípulos; ele restabelece a vista dum mendigo cego em Jericó. (9:14-29; 10:46-52)
Amaldiçoa uma figueira que subseqüentemente seca. (11:12-14, 20)
Opositores do Filho de Deus não são bem sucedidos.
Depois dos esforços de tentação feitos por Satanás no ermo, anjos ministram a Jesus. (1:12, 13)
Quando escribas dos fariseus criticam Jesus por comer com cobradores de impostos e pecadores, ele os refuta. (2:15-17)
Mais tarde, os fariseus objetam que os discípulos dele arranquem espigas de cereal no sábado e que Jesus cure no sábado; juntam-se aos herodianos em querer destruí-lo. (2:23–3:6)
Jesus refuta convincentemente a acusação de expulsar demônios por meio de Satanás. (3:20-30)
O precursor de Jesus, João, o Batizador, é decapitado, mas Jesus continua a ensinar. (6:14-29, 34)
Fariseus e escribas protestam que os discípulos dele desconsideram a tradição referente a lavar as mãos; Jesus expõe a hipocrisia deles e explica a verdadeira fonte de impureza. (7:1-23)
Fariseus interrogam Jesus a respeito do divórcio, a fim de testá-lo, mas sem êxito. (10:1-12)
Principais sacerdotes, escribas e anciãos questionam a autoridade de Jesus depois de ele limpar o templo, mas ele os silencia. (11:15-18, 27-33)
Ele conta a parábola do vinhedo para expor a oposição dos líderes religiosos à vontade de Deus e sua intenção de matar Jesus; esses procuram apoderar-se dele, mas temem a multidão. (12:1-12)
Fariseus e herodianos perguntam a Jesus se é direito pagar impostos a César; sacudeus levantam uma questão difícil a respeito da ressurreição. Todos fracassam em enlaçar Jesus. (12:13-27)
Judas trai Jesus; Jesus é preso e o Sinédrio o julga merecedor da morte; no entanto, ele prediz que se ‘sentará à destra de poder e virá com as nuvens do céu’. (14:1, 2, 10, 11, 32-65)
Pilatos é pressionado para condenar Jesus à morte; Jesus morre na estaca e é sepultado. (15:1-47)
Anjos anunciam a ressurreição de Jesus. (16:1-8)