A Poliglota Complutense (Part. 2)

I. A composição da obra

Cada página da Poliglota oferecia uma abundância de informações. Nos quatro volumes das Escrituras Hebraicas, o texto da Vulgata estava na coluna central de cada página; o texto hebraico estava na coluna da extremidade; e o texto grego, junto com uma tradução interlinear em latim, na coluna interna. Nas margens aparecia a raiz de muitos termos hebraicos. E na parte inferior de cada página do Pentateuco, os editores incluíram também o Targum de Onkelos (uma paráfrase em aramaico dos primeiros cinco livros da Bíblia) junto com uma tradução em latim.

O quinto volume da Poliglota continha as Escrituras Gregas em duas colunas. Uma tinha o texto grego; e a outra, o texto equivalente em latim, da Vulgata. As palavras correspondentes nos dois textos eram indicadas por meio de letras pequenas, que levavam o leitor para a palavra equivalente em cada coluna. O texto grego da Poliglota foi o primeiro livro completo das Escrituras Gregas, ou do “Novo Testamento”, que foi impresso, seguido pouco depois pela edição preparada por Erasmo.

Os eruditos tiveram tanto cuidado ao revisar o texto do quinto volume, que houve apenas cinqüenta erros de impressão. Por causa de tal cuidado escrupuloso, os críticos modernos consideraram o quinto volume superior ao famoso texto grego de Erasmo. O grande estilo dos caracteres gregos combinou com a beleza simples dos manuscritos unciais mais antigos. R. Proctor declara no seu livro The Printing of Greek in the Fifteenth Century (A Impressão em Grego no Século Quinze): “Cabe à Espanha a honra de ter produzido os tipos na língua grega que são, sem dúvida, os melhores já encontrados.”

O sexto volume da Poliglota continha diversas ajudas para o estudo da Bíblia: um dicionário hebraico e aramaico, a interpretação de nomes gregos, hebraicos e aramaicos, uma gramática hebraica, e um índice em latim para o dicionário. Não é de admirar que a Poliglota Complutense tenha sido considerada um “monumento de arte tipográfica e da ciência das Escrituras”.

Cisneros pretendia que essa obra ‘incentivasse o estudo das Escrituras que até então havia estado adormecido’, mas não queria tornar a Bíblia disponível ao público em geral. Achava que “a Palavra de Deus tinha de estar envolta em mistérios discretos, longe do alcance do homem comum”. Acreditava também que “as Escrituras deviam ficar restritas às três línguas antigas, nas quais Deus permitiu que fossem escritas as palavras que apareciam acima da cabeça do seu Filho crucificado”. Por esse motivo, a Poliglota Complutense não incluía nenhuma tradução em espanhol.