Visão Geral do Livro de Deuteronômio
Livro de Deuteronômio —
Tema: Os amorosos discursos de despedida de Moisés
Quando tinha quarenta anos de idade, tentou em vão ser o libertador de seu povo. A idade de oitenta anos, foi convocado pelo próprio Deus para libertar realmente o povo de Deus, Israel, da escravidão egípcia. Então, à idade de 120 anos, ele e seu povo estavam reunidos nas planícies de Moabe, na fronteira da Terra da Promessa. Sabendo que seu fim estava próximo, este homem Moisés extravasou seu coração para o seu povo, numa série de discursos, no que veio a ser conhecido como o livro de Deuteronômio. — Deu. 31:2; Atos 7:23-30, 35, 36.
Este quinto livro do Pentateuco recebeu seu nome da Versão dos Setenta grega, ou Septuaginta, sendo que se baseia em duas raízes gregas que significam “segunda” e “lei”. Entre os nomes que lhe foram dados pelos rabinos está Mishneh, significando repetição. Em algumas línguas, é simplesmente conhecido como o “Quinto Livro de Moisés”
O que confirma a autenticidade de Deuteronômio é o fato de que Jesus o citou repetidas vezes como Escritura inspirada. (Mat. 4:4, 7, 10, de Deu. 8:3; 6:16, 13; Mar. 10:3-5, de Deu. 24:1-3; Mar. 12:30, de Deu. 6:5) De fato, Deuteronômio é citado mais de oitenta vezes no Novo Testamento, e é um dos quatro livros mais citados, os outros sendo Gênesis, Salmos e Isaías.
O livro de Deuteronômio, porém, não é o que seu nome popular parece indicar, mera reformulação ou repetição da lei de Deus para Israel. Antes, sabendo que seu fim estava próximo, Moisés quis dar admoestações, conselhos, exortações e instruções de despedida ao povo de Yehowah, conjugados com advertências, dizendo tudo o que podia e repetindo certas coisas. Era como se escrevesse uma carta de despedida a eles, por causa de seu grande amor que lhes tinha e de seu desejo de fazer todo o possível para ajudar seu povo a continuar em obediência fiel ao seu Deus Yehowah. Conforme o expressou muito bem o erudito bíblico Hengstenberg, do século dezenove:
“Ele fala como um pai moribundo aos seus filhos. As palavras são sérias, inspiradas, impressionantes. Ele recorda todos os quarenta anos de sua migração no deserto, lembrando ao povo todas as bênções que havia recebido, a ingratidão com que tantas vezes as havia retribuído e os julgamentos de Deus, e o amor que continuamente se manifestava em apoio deles; explica as leis vez após vez, e acrescenta o necessário para completá-las, e nunca se cansa de exortá-los à obediência nas palavras mais cordiais e mais enfáticas, porque a própria vida da nação estava ligada a isso; ele examina todas as tormentas e conflitos que haviam atravessado, e, contemplando o futuro pelo passado, ele examina também a história futura da nação e vê, com uma mistura de tristeza e alegria, como três grandes aspectos do passado — a saber, apostasia, punição e perdão — continuam a repetir-se no futuro.” — The Pentateuch, Vol. 3, p. 276, Keil e Delitzsch.
I. OS ROGOS DE MOISÉS FEITOS DE CORAÇÃO
Típica do forte sentimento de Moisés sobre os israelitas guardarem as leis de Deus, declaradas já anteriormente, é a maneira em que ele fraseia, em Deuteronômio, a proibição de comer sangue: “Apenas toma a firme resolução de não comer o sangue, porque o sangue é a alma e não deves comer a alma junto com a carne. Não o deves comer . . . Não o deves comer.” Quatro vezes ele declara esta proibição. — Deu. 12:23-25.
Visto que Moisés tinha sentimentos tão fortes sobre os assuntos, encontramo-lo frequentemente repetindo-se, assim como o apóstolo João fez na sua primeira carta, em 1 João 4:8, 16. Por exemplo, Moisés insta com os pais para ensinarem a lei de Deus aos seus filhos, quando sentados, andando, deitando-se e levantando-se (Deu. 6:7; 11:19), lembra-lhes que Deus lhes dera o maná para humilhá-los (Deu. 8:2, 3, 16), e ele põe diante do seu povo a vida e a morte. — Deu. 30:15, 19.
Pode-se dizer que os discursos, no livro de Deuteronômio, são o “Sermão do Monte” de Moisés. Sim, o livro de Deuteronômio, de fato, é “motivado pelo desejo de instruir, assim como não encontramos em nenhum outro livro das” Escrituras Hebraicas. E ao notarmos a cordialidade, a seriedade, a solicitude de coração, a profunda preocupação de Moisés com o seu povo, com o bem-estar espiritual e mundano deste, bem como suas duas referências ao seu pesar, por não ter permissão de entrar na Terra da Promessa, que conclusão podemos tirar? Que absolutamente ninguém mais senão Moisés podia ter escrito um documento tão comovente, que simplesmente ninguém podia ter forjado todos esses sentimentos. Sim, a acusação de muitos teólogos da cristandade, de que Deuteronômio é uma piedosa fraude, não somente não tem base nenhuma, mas é absurda!
II. O PRIMEIRO DISCURSO DE MOISÉS
Em geral se considera que Deuteronômio compõe-se principalmente de quatro discursos. O primeiro inclui os capítulos um a quatro. Neste discurso, Moisés relata a sua designação de juízes, para lhe ajudarem a julgar o povo, e as instruções que lhes deu para julgarem imparcialmente. Ele fala também sobre o mau relato dos espias e a rebelião que isto causou.
A seguir, relata as viagens de Israel, desde o monte Sinai até as planícies de Moabe, e lembra-lhes as vitórias que haviam obtido em caminho. No capítulo quatro, ele admoesta seu povo a não se esquecer das leis de Deus, que a guarda delas os faria famosos pela sua sabedoria Adverte-os também contra fazerem ídolos, pois, não haviam visto nenhuma representação, no dia em que Yehowah falou com eles no monte Sinai. Ele destaca a sua advertência com as palavras: “Yehowah, teu Deus, é um fogo consumidor, um Deus que exige devoção exclusiva.” — Deu. 4:24.
III. O SEGUNDO DISCURSO DE MOISÉS
O segundo discurso de Moisés abrange os capítulos cinco a vinte e seis. Nele exorta à obediência a uma vasta série de leis de Deus, algumas delas já dadas anteriormente, tais como as relacionadas com as três festividades anuais e as cidades de refúgio, e outras que são declaradas aqui pela primeira vez. Ele começa com a repetição dos Dez Mandamentos. Continuando, enfatiza a importância de se conhecer a Deus e suas leis, porque o homem não vive só de pão. Os israelitas deviam colocar extratos da lei nas ombreiras de suas portas; deviam inculcar a lei de Deus a seus filhos todo o tempo, andando, sentando-se ou deitando-se. Os sacerdotes deviam ensinar a lei de Deus ao povo, e o próprio Rei devia fazer para si uma cópia da lei de Deus, lendo-a todos os dias de sua vida, para que continuasse humilde e prosseguisse a fazer o que era direito. — Deu. 6:7-9; 17:14-20.
Oito vezes, neste segundo discurso, Moisés exorta seu povo à fidelidade e obediência, para que lhes fosse bem. Moisés enfatiza ainda mais vezes a necessidade de seu povo amar seu Deus: “Escuta, ó Israel: Yehowah, nosso Deus, é um só Yehowah. E tens de amar a Yehowah, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de toda a tua força vital.” E, vez após vez, ele lembra a seu povo o amor que Yehowah lhes tinha; uma bela expressão disso é encontrada em Deuteronômio 5:29: “Se somente desenvolvessem este coração seu para me temerem e para guardarem sempre todos os meus mandamentos, para que lhes fosse bem a eles e a seus filhos, por tempo indefinido!”
Moisés tinha também fortes sentimentos a respeito da justiça, a ponto de amiúde exortar os juízes do povo de Deus a agirem com justiça e imparcialidade, nunca aceitando subornos. — Deu. 1:16, 17 (primeiro discurso); 16:18; 24:17; 25:1.
Além disso, Moisés ordena repetidas vezes ao seu povo que aprecie todas as bênçãos que tem e mostre isso por se alegrar perante Yehowah. Devia “ficar de todo alegre”. Sim, num discurso subsequente, ele até mesmo adverte que lhe sobreviria uma calamidade por tempo indefinido “devido ao fato de que não serviste a Yehowah, teu Deus, com alegria e contentamento”. — Deu. 16:11, 14, 15; 28:47.
Notando a sua tendência de adorar outros deuses, Moisés nunca se cansa de adverti-los contra a apostasia e os falsos profetas. A punição devia ser a pena capital. Não se devia poupar nem os membros da própria família, e até mesmo cidades inteiras deviam ser exterminadas, se fossem culpadas de se desviar para falsos deuses. — Deu. 5:7; 6:14; 7:4; 8:19; 11:16; 13:1-18; 17:1-7; 18:20-22.
Apesar de tais fortes advertências contra a apostasia, a amorosa consideração manifestada na legislação registrada em Deuteronômio é extraordinária nos anais da jurisprudência. Quando convocados para a guerra, o homem que era noivo, o homem recém-casado ou o homem que havia plantado um vinhedo ou construído uma casa, e que ainda não havia tido a oportunidade de usufruir os frutos dos seus labores, estava isento de serviço militar por algum tempo. Em certos sentidos, pode-se dizer que grande parte de Deuteronômio previa as injustiças que podiam acontecer, e dava ordens para impedir sua ocorrência. — Deu. 20:5-7; 24:5.
Nem mesmo as aves e os animais eram desconsiderados. O israelita que encontrasse uma ave no ninho, tinha de deixar escapar a mãe, embora pudesse ficar com os filhotes. O lavrador não devia açaimar o touro que debulhava cereais. Ao arar, não devia pôr sob o mesmo jugo um jumento e um touro, porque a desigualdade de forças causaria dificuldades ao jumento, mais fraco. — Deu. 22:6-10; 25:4.
Neste discurso, Moisés adverte também os israelitas contra se tornarem materialistas por causa da prosperidade e contra o pecado da autojustiça. Para evitar o pecado da apostasia, não deviam casar-se com pagãos. (Deu. 7:3, 4) Moisés apresenta incisivamente a Israel as bênçãos e as maldições, dependentes do proceder que adotariam. Ele prediz também a vinda dum profeta semelhante a ele mesmo, a quem o povo teria de escutar, sob pena de morte. O apóstolo Pedro aplicou esta profecia a Jesus Cristo. — Deu. 18:15-19; Atos 3:22, 23.
IV. O TERCEIRO E O QUARTO DISCURSO
No seu terceiro discurso, Moisés dá instruções a respeito das bênçãos e das maldições que os levitas deviam proferir publicamente ao entrarem na Terra da Promessa. Seis tribos deviam postar-se diante do monte Gerizim e dizer “Amém!” à declaração das bênçãos de Yehowah, pelos levitas, por terem servido a ele fielmente e por terem obedecido às Suas leis. E as outras seis tribos deviam ficar em pé diante do monte Ebal e dizer “Amém!” à declaração das maldições, pelos levitas, sobre os que violavam as leis de Deus com respeito à adoração e à moral. Não se contentando com esta enumeração, Moisés amplia o tema das bênçãos por se fazer o que é direito e as maldições pela desobediência. Essas bênçãos e maldições mostraram ser proféticas. — Deu. 27:1 a 28:68.
O quarto discurso de exortação no ermo, por Moisés (capítulos 29 e 30), começa por ele relembrar os milagres que Deus realizara a favor deles, inclusive aquele em que “vossos mantos não se gastaram sobre vós, e tua sandália não se gastou no teu pé”. (Deu. 29:5) Moisés celebra então ali um pacto entre Deus e o povo dele e adverte novamente contra as sérias consequências da desobediência. No entanto, ele fala também que, pelo arrependimento deles, Yehowah novamente os restabeleceria no seu favor, e assim, à base desta profecia, ele lhes oferece a escolha: “Tomo hoje os céus e a terra por testemunhas contra vós de que pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a invocação do mal; e tens de escolher a vida para ficar vivo, tu e tua descendência, amando a Yehowah, teu Deus, escutando a sua voz e apegando-te a ele; pois ele é a tua vida e a longura dos teus dias.” — Deu. 30:19, 20.
V. AS PALAVRAS FINAIS DE MOISÉS
Moisés, então já com 120 anos de idade, anima seu povo na travessia do Jordão para tomar posse da Terra da Promessa. “Sede corajosos e fortes. Não tenhais medo nem vos assusteis diante deles, porque Yehowah, teu Deus, é quem marcha contigo.” Ele exorta Josué com palavras similares e depois ordena que cada sete anos houvesse uma assembléia, em que se recapitularia a lei de Deus aos ouvidos de homens, mulheres e pequeninos. Segue-se então uma profecia que prediz a rebeldia de Israel, em vista do modo em que se rebelaram no ermo: “Pois eu — eu conheço bem a tua rebeldia e a tua dura cerviz. Se vos mostrastes rebeldes em comportamento para com Yehowah enquanto hoje ainda estou vivo convosco, então quanto mais após a minha morte!” Em vista desta profecia, devia qualquer judeu admirar-se de que seu povo, em geral, deixou de aceitar o Moisés maior, Jesus Cristo, seu Messias? — Deu. 31:1-30.
A seguir, Moisés, por meio dum cântico superlativo, atribui grandeza a Yehowah: “A Rocha, perfeita é a sua atuação, pois todos os seus caminhos são justiça. Deus de fidelidade e sem injustiça; justo e reto é ele.” Ele comenta extensivamente o proceder errante do seu povo, lembrando-lhe que a vingança pertence a Yehowah e exclamando então: “Alegrai-vos, ó nações, com o seu povo.” Moisés conclui por proferir uma bênção sobre todas as tribos, exceto Simeão. — Deu. 32:1 a 33:29.
Tema: Os amorosos discursos de despedida de Moisés
Quando tinha quarenta anos de idade, tentou em vão ser o libertador de seu povo. A idade de oitenta anos, foi convocado pelo próprio Deus para libertar realmente o povo de Deus, Israel, da escravidão egípcia. Então, à idade de 120 anos, ele e seu povo estavam reunidos nas planícies de Moabe, na fronteira da Terra da Promessa. Sabendo que seu fim estava próximo, este homem Moisés extravasou seu coração para o seu povo, numa série de discursos, no que veio a ser conhecido como o livro de Deuteronômio. — Deu. 31:2; Atos 7:23-30, 35, 36.
Este quinto livro do Pentateuco recebeu seu nome da Versão dos Setenta grega, ou Septuaginta, sendo que se baseia em duas raízes gregas que significam “segunda” e “lei”. Entre os nomes que lhe foram dados pelos rabinos está Mishneh, significando repetição. Em algumas línguas, é simplesmente conhecido como o “Quinto Livro de Moisés”
O que confirma a autenticidade de Deuteronômio é o fato de que Jesus o citou repetidas vezes como Escritura inspirada. (Mat. 4:4, 7, 10, de Deu. 8:3; 6:16, 13; Mar. 10:3-5, de Deu. 24:1-3; Mar. 12:30, de Deu. 6:5) De fato, Deuteronômio é citado mais de oitenta vezes no Novo Testamento, e é um dos quatro livros mais citados, os outros sendo Gênesis, Salmos e Isaías.
O livro de Deuteronômio, porém, não é o que seu nome popular parece indicar, mera reformulação ou repetição da lei de Deus para Israel. Antes, sabendo que seu fim estava próximo, Moisés quis dar admoestações, conselhos, exortações e instruções de despedida ao povo de Yehowah, conjugados com advertências, dizendo tudo o que podia e repetindo certas coisas. Era como se escrevesse uma carta de despedida a eles, por causa de seu grande amor que lhes tinha e de seu desejo de fazer todo o possível para ajudar seu povo a continuar em obediência fiel ao seu Deus Yehowah. Conforme o expressou muito bem o erudito bíblico Hengstenberg, do século dezenove:
“Ele fala como um pai moribundo aos seus filhos. As palavras são sérias, inspiradas, impressionantes. Ele recorda todos os quarenta anos de sua migração no deserto, lembrando ao povo todas as bênções que havia recebido, a ingratidão com que tantas vezes as havia retribuído e os julgamentos de Deus, e o amor que continuamente se manifestava em apoio deles; explica as leis vez após vez, e acrescenta o necessário para completá-las, e nunca se cansa de exortá-los à obediência nas palavras mais cordiais e mais enfáticas, porque a própria vida da nação estava ligada a isso; ele examina todas as tormentas e conflitos que haviam atravessado, e, contemplando o futuro pelo passado, ele examina também a história futura da nação e vê, com uma mistura de tristeza e alegria, como três grandes aspectos do passado — a saber, apostasia, punição e perdão — continuam a repetir-se no futuro.” — The Pentateuch, Vol. 3, p. 276, Keil e Delitzsch.
I. OS ROGOS DE MOISÉS FEITOS DE CORAÇÃO
Típica do forte sentimento de Moisés sobre os israelitas guardarem as leis de Deus, declaradas já anteriormente, é a maneira em que ele fraseia, em Deuteronômio, a proibição de comer sangue: “Apenas toma a firme resolução de não comer o sangue, porque o sangue é a alma e não deves comer a alma junto com a carne. Não o deves comer . . . Não o deves comer.” Quatro vezes ele declara esta proibição. — Deu. 12:23-25.
Visto que Moisés tinha sentimentos tão fortes sobre os assuntos, encontramo-lo frequentemente repetindo-se, assim como o apóstolo João fez na sua primeira carta, em 1 João 4:8, 16. Por exemplo, Moisés insta com os pais para ensinarem a lei de Deus aos seus filhos, quando sentados, andando, deitando-se e levantando-se (Deu. 6:7; 11:19), lembra-lhes que Deus lhes dera o maná para humilhá-los (Deu. 8:2, 3, 16), e ele põe diante do seu povo a vida e a morte. — Deu. 30:15, 19.
Pode-se dizer que os discursos, no livro de Deuteronômio, são o “Sermão do Monte” de Moisés. Sim, o livro de Deuteronômio, de fato, é “motivado pelo desejo de instruir, assim como não encontramos em nenhum outro livro das” Escrituras Hebraicas. E ao notarmos a cordialidade, a seriedade, a solicitude de coração, a profunda preocupação de Moisés com o seu povo, com o bem-estar espiritual e mundano deste, bem como suas duas referências ao seu pesar, por não ter permissão de entrar na Terra da Promessa, que conclusão podemos tirar? Que absolutamente ninguém mais senão Moisés podia ter escrito um documento tão comovente, que simplesmente ninguém podia ter forjado todos esses sentimentos. Sim, a acusação de muitos teólogos da cristandade, de que Deuteronômio é uma piedosa fraude, não somente não tem base nenhuma, mas é absurda!
II. O PRIMEIRO DISCURSO DE MOISÉS
Em geral se considera que Deuteronômio compõe-se principalmente de quatro discursos. O primeiro inclui os capítulos um a quatro. Neste discurso, Moisés relata a sua designação de juízes, para lhe ajudarem a julgar o povo, e as instruções que lhes deu para julgarem imparcialmente. Ele fala também sobre o mau relato dos espias e a rebelião que isto causou.
A seguir, relata as viagens de Israel, desde o monte Sinai até as planícies de Moabe, e lembra-lhes as vitórias que haviam obtido em caminho. No capítulo quatro, ele admoesta seu povo a não se esquecer das leis de Deus, que a guarda delas os faria famosos pela sua sabedoria Adverte-os também contra fazerem ídolos, pois, não haviam visto nenhuma representação, no dia em que Yehowah falou com eles no monte Sinai. Ele destaca a sua advertência com as palavras: “Yehowah, teu Deus, é um fogo consumidor, um Deus que exige devoção exclusiva.” — Deu. 4:24.
III. O SEGUNDO DISCURSO DE MOISÉS
O segundo discurso de Moisés abrange os capítulos cinco a vinte e seis. Nele exorta à obediência a uma vasta série de leis de Deus, algumas delas já dadas anteriormente, tais como as relacionadas com as três festividades anuais e as cidades de refúgio, e outras que são declaradas aqui pela primeira vez. Ele começa com a repetição dos Dez Mandamentos. Continuando, enfatiza a importância de se conhecer a Deus e suas leis, porque o homem não vive só de pão. Os israelitas deviam colocar extratos da lei nas ombreiras de suas portas; deviam inculcar a lei de Deus a seus filhos todo o tempo, andando, sentando-se ou deitando-se. Os sacerdotes deviam ensinar a lei de Deus ao povo, e o próprio Rei devia fazer para si uma cópia da lei de Deus, lendo-a todos os dias de sua vida, para que continuasse humilde e prosseguisse a fazer o que era direito. — Deu. 6:7-9; 17:14-20.
Oito vezes, neste segundo discurso, Moisés exorta seu povo à fidelidade e obediência, para que lhes fosse bem. Moisés enfatiza ainda mais vezes a necessidade de seu povo amar seu Deus: “Escuta, ó Israel: Yehowah, nosso Deus, é um só Yehowah. E tens de amar a Yehowah, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de toda a tua força vital.” E, vez após vez, ele lembra a seu povo o amor que Yehowah lhes tinha; uma bela expressão disso é encontrada em Deuteronômio 5:29: “Se somente desenvolvessem este coração seu para me temerem e para guardarem sempre todos os meus mandamentos, para que lhes fosse bem a eles e a seus filhos, por tempo indefinido!”
Moisés tinha também fortes sentimentos a respeito da justiça, a ponto de amiúde exortar os juízes do povo de Deus a agirem com justiça e imparcialidade, nunca aceitando subornos. — Deu. 1:16, 17 (primeiro discurso); 16:18; 24:17; 25:1.
Além disso, Moisés ordena repetidas vezes ao seu povo que aprecie todas as bênçãos que tem e mostre isso por se alegrar perante Yehowah. Devia “ficar de todo alegre”. Sim, num discurso subsequente, ele até mesmo adverte que lhe sobreviria uma calamidade por tempo indefinido “devido ao fato de que não serviste a Yehowah, teu Deus, com alegria e contentamento”. — Deu. 16:11, 14, 15; 28:47.
Notando a sua tendência de adorar outros deuses, Moisés nunca se cansa de adverti-los contra a apostasia e os falsos profetas. A punição devia ser a pena capital. Não se devia poupar nem os membros da própria família, e até mesmo cidades inteiras deviam ser exterminadas, se fossem culpadas de se desviar para falsos deuses. — Deu. 5:7; 6:14; 7:4; 8:19; 11:16; 13:1-18; 17:1-7; 18:20-22.
Apesar de tais fortes advertências contra a apostasia, a amorosa consideração manifestada na legislação registrada em Deuteronômio é extraordinária nos anais da jurisprudência. Quando convocados para a guerra, o homem que era noivo, o homem recém-casado ou o homem que havia plantado um vinhedo ou construído uma casa, e que ainda não havia tido a oportunidade de usufruir os frutos dos seus labores, estava isento de serviço militar por algum tempo. Em certos sentidos, pode-se dizer que grande parte de Deuteronômio previa as injustiças que podiam acontecer, e dava ordens para impedir sua ocorrência. — Deu. 20:5-7; 24:5.
Nem mesmo as aves e os animais eram desconsiderados. O israelita que encontrasse uma ave no ninho, tinha de deixar escapar a mãe, embora pudesse ficar com os filhotes. O lavrador não devia açaimar o touro que debulhava cereais. Ao arar, não devia pôr sob o mesmo jugo um jumento e um touro, porque a desigualdade de forças causaria dificuldades ao jumento, mais fraco. — Deu. 22:6-10; 25:4.
Neste discurso, Moisés adverte também os israelitas contra se tornarem materialistas por causa da prosperidade e contra o pecado da autojustiça. Para evitar o pecado da apostasia, não deviam casar-se com pagãos. (Deu. 7:3, 4) Moisés apresenta incisivamente a Israel as bênçãos e as maldições, dependentes do proceder que adotariam. Ele prediz também a vinda dum profeta semelhante a ele mesmo, a quem o povo teria de escutar, sob pena de morte. O apóstolo Pedro aplicou esta profecia a Jesus Cristo. — Deu. 18:15-19; Atos 3:22, 23.
IV. O TERCEIRO E O QUARTO DISCURSO
No seu terceiro discurso, Moisés dá instruções a respeito das bênçãos e das maldições que os levitas deviam proferir publicamente ao entrarem na Terra da Promessa. Seis tribos deviam postar-se diante do monte Gerizim e dizer “Amém!” à declaração das bênçãos de Yehowah, pelos levitas, por terem servido a ele fielmente e por terem obedecido às Suas leis. E as outras seis tribos deviam ficar em pé diante do monte Ebal e dizer “Amém!” à declaração das maldições, pelos levitas, sobre os que violavam as leis de Deus com respeito à adoração e à moral. Não se contentando com esta enumeração, Moisés amplia o tema das bênçãos por se fazer o que é direito e as maldições pela desobediência. Essas bênçãos e maldições mostraram ser proféticas. — Deu. 27:1 a 28:68.
O quarto discurso de exortação no ermo, por Moisés (capítulos 29 e 30), começa por ele relembrar os milagres que Deus realizara a favor deles, inclusive aquele em que “vossos mantos não se gastaram sobre vós, e tua sandália não se gastou no teu pé”. (Deu. 29:5) Moisés celebra então ali um pacto entre Deus e o povo dele e adverte novamente contra as sérias consequências da desobediência. No entanto, ele fala também que, pelo arrependimento deles, Yehowah novamente os restabeleceria no seu favor, e assim, à base desta profecia, ele lhes oferece a escolha: “Tomo hoje os céus e a terra por testemunhas contra vós de que pus diante de ti a vida e a morte, a bênção e a invocação do mal; e tens de escolher a vida para ficar vivo, tu e tua descendência, amando a Yehowah, teu Deus, escutando a sua voz e apegando-te a ele; pois ele é a tua vida e a longura dos teus dias.” — Deu. 30:19, 20.
V. AS PALAVRAS FINAIS DE MOISÉS
Moisés, então já com 120 anos de idade, anima seu povo na travessia do Jordão para tomar posse da Terra da Promessa. “Sede corajosos e fortes. Não tenhais medo nem vos assusteis diante deles, porque Yehowah, teu Deus, é quem marcha contigo.” Ele exorta Josué com palavras similares e depois ordena que cada sete anos houvesse uma assembléia, em que se recapitularia a lei de Deus aos ouvidos de homens, mulheres e pequeninos. Segue-se então uma profecia que prediz a rebeldia de Israel, em vista do modo em que se rebelaram no ermo: “Pois eu — eu conheço bem a tua rebeldia e a tua dura cerviz. Se vos mostrastes rebeldes em comportamento para com Yehowah enquanto hoje ainda estou vivo convosco, então quanto mais após a minha morte!” Em vista desta profecia, devia qualquer judeu admirar-se de que seu povo, em geral, deixou de aceitar o Moisés maior, Jesus Cristo, seu Messias? — Deu. 31:1-30.
A seguir, Moisés, por meio dum cântico superlativo, atribui grandeza a Yehowah: “A Rocha, perfeita é a sua atuação, pois todos os seus caminhos são justiça. Deus de fidelidade e sem injustiça; justo e reto é ele.” Ele comenta extensivamente o proceder errante do seu povo, lembrando-lhe que a vingança pertence a Yehowah e exclamando então: “Alegrai-vos, ó nações, com o seu povo.” Moisés conclui por proferir uma bênção sobre todas as tribos, exceto Simeão. — Deu. 32:1 a 33:29.
O livro termina com os pormenores da morte de Moisés, mui provavelmente escritos ou por Josué, ou por Eleazar, o sumo sacerdote. O “olho [de Moisés] não se havia turvado e seu vigor vital não lhe havia fugido”. Seu povo lamentou-o muito por trinta dias, porque “nunca mais se levantou em Israel um profeta semelhante a Moisés, a quem Yehowah conhecia face a face”. — Deu. 34:1-12.
Hoje, os cristãos, como povo de Yehowah, estão numa situação similar à dos israelitas nas planícies de Moabe. Portanto, faremos bem em tomar a peito as verdades e as admoestações que Moisés deu aos israelitas. Uma coisa é certa, queremos sempre reconhecer que o homem não vive só de pão, mas de cada palavra que procede da boca de Yehowah. Sabemos muito bem que Yehowah, nosso Deus, é um só Yehowah, e que temos de amá-lo de todo o coração, alma e energia vital, porque ele é um Deus que exige devoção exclusiva. Além disso, ele é um Deus que é um fogo consumidor e a quem pertence a vingança. Queremos também consolar-nos com o fato de que toda a atividade dele é perfeita e justa. Deveras, observar seus regulamentos significa vida, ao passo que a desobediência significa morte.
Alegramo-nos de bom grado com todo nosso empreendimento, porque a bondade de Yehowah está conosco, e convidamos as pessoas de todas as nações a se alegrarem conosco. Foi observado muito bem: “Coloque-se o homem do século XXI sob a soberania de Deus, em cada aspecto de sua vida, e ele passará a compreender a importância do livro de Deuteronômio.”
Hoje, os cristãos, como povo de Yehowah, estão numa situação similar à dos israelitas nas planícies de Moabe. Portanto, faremos bem em tomar a peito as verdades e as admoestações que Moisés deu aos israelitas. Uma coisa é certa, queremos sempre reconhecer que o homem não vive só de pão, mas de cada palavra que procede da boca de Yehowah. Sabemos muito bem que Yehowah, nosso Deus, é um só Yehowah, e que temos de amá-lo de todo o coração, alma e energia vital, porque ele é um Deus que exige devoção exclusiva. Além disso, ele é um Deus que é um fogo consumidor e a quem pertence a vingança. Queremos também consolar-nos com o fato de que toda a atividade dele é perfeita e justa. Deveras, observar seus regulamentos significa vida, ao passo que a desobediência significa morte.
Alegramo-nos de bom grado com todo nosso empreendimento, porque a bondade de Yehowah está conosco, e convidamos as pessoas de todas as nações a se alegrarem conosco. Foi observado muito bem: “Coloque-se o homem do século XXI sob a soberania de Deus, em cada aspecto de sua vida, e ele passará a compreender a importância do livro de Deuteronômio.”