Comentário de João 15:14-15
15:14 - Vós sois meus amigos,... Esta é uma aplicação da passagem precedente, e mais, claramente a explica. O caráter de "amigos" é aplicado aos discípulos de Cristo; e pertence, não só aos seus apóstolos, mas para todos os que o amam, acreditam e obedecem-no; a quem tem ele se mostrado amigável, colocando a sua vida por eles: pois isso claramente mostra que Cristo se referia nas palavras anteriores a sua própria vida sendo dada pelo seu povo, por causa do seu grande amor por eles; por meio de que ele lhes fez os seus amigos, e que são feitos assim pela obediência alegre a ele:
Se fizerdes o que quer que eu vos mande;… Não que a obediência aos mandamentos de Cristo os interesse no seu favor; ou os faça seus amigos; ou era a razão e motivo dele entregar a sua vida por eles, e mostrar a si mesmo de tal maneira amigável a eles: mas o sentido é que pela observância de seus mandamentos de um princípio de amor, eles mostrariam ser seus amigos, sendo influenciados pela sua graça, e impelidos por um senso de seu amor por eles, para agirem assim.
15:15 - Assim, eu não vos chamo de servos,… Como eles e o restante do povo de Deus têm sido, debaixo da Dispensação Legal; pois embora eles fossem filhos, ainda assim não diferiam em nada de servos:[1] e era muito mais influenciado e impelidos pelo espírito servil, um espírito de escravidão ao medo, sendo guardados debaixo de tutores e governadores pela severa disciplina; mas agora, tendo Cristo vindo na carne, e estando prestes a dar a sua alma, e fazer reconciliação por eles, assim, ele não mais usaria, trataria ou os consideraria como servos:
Pois o servo não sabe o que seu Senhor faz;… Planeja fazer, ou está para fazer; ele não esconde os seus conselhos e propósitos; esses estão apenas abertos a ele como a necessidade requer; que era bem o caso da igreja do Antigo Testamento, que, comparativamente falando, eram como escravos; e não tinham nenhum conhecimento dos mistérios da graça, e dos conselhos de Deus, assim como estão agora abertos debaixo da Dispensação do Evangelho:
Mas eu vos tenho chamado de amigos;… Ou seja, considerado, reconhecido eles como seus amigos e familiares; para quem ele expôs toda a sua mente, e continuaria a tratá-los assim; por conduzi-los mais e mais, assim como eles pudessem suportar, nos desígnios da graça, e as doutrinas do seu Evangelho: assim como Abraão foi chamado amigo de Deus,[2] e provou ser assim, por não esconder-lhe o que estava para fazer:[3]
Pois todas as coisas que eu ouvi de meu Pai, eu vos tenho deixado saber;... Não tudo aquilo que ele sabia como Deus onisciente, pois não há nenhuma necessidade de que todas estas coisas deveriam ser feitas conhecidas a eles; mas todas as coisas que ele tinha entregue a eles como homem e Mediador, pelo seu Pai, com respeito à salvação dos homens; todas as coisas que ele devia fazer e sofrer para obter redenção eterna; e todo o Evangelho, sobre as partes essenciais e significativas dele, que eles deviam pregar; pois, por outro lado, havia algumas coisas com as quais eles não puderam aguentar ainda,[4] e foi reservado a outro tempo, para ser feito conhecido a eles pelo seu Espírito.
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Notas
[1] Cf. Gálatas 4:1. N do T.
[2] Cf. Isaías 41:8; Tiago 2:23. N do T.
[3] Cf. Gen. 18:17. N do T.
[4] Cf. João 16:12. N do T.