Comentário de João 19:35-36
19:35 - E aquele que viu isso, testificou,… Se referindo a ele mesmo, o evangelista João, o escritor deste Evangelho, que, na sua grande humildade, muitas vezes esconde-se, sob um ou outro termo; ele foi uma testemunha ocular deste fato, não só do transpassar do seu lado com uma lança, mas do sangue e água fluindo para fora dele, que ele viu com seus olhos, e registrou para os outros, e por isto foi escrito; e estava pronto para atestar, sob qualquer forma que se desejasse:
E seu relato é verdadeiro;… Embora isso não seja mencionado por nenhum dos outros evangelistas, nenhum deles, exceto ele mesmo estando presente neste momento:
E ele sabe que o que ele diz é verdade,... Se referindo quer a Deus ou Cristo, que conhecia todas as coisas; e por isso é uma espécie de apelo a Deus ou a Cristo, para a verdade daquilo que ele afirmou, como alguns pensam, ou melhor, para ele mesmo, que estava totalmente certo de que ele não estava falando nenhum engano, e estava longe de dizer uma mentira, tendo visto a coisa feita com os seus próprios olhos, e sendo levado para o mistério disso pelo Divino Espírito; ver 1João 5:6, ao passo que ele podia e declarou com a maior firmeza:
Para que possais crer;… Da verdade do fato, e em Cristo, tanto para a expiação da culpa do pecado, e a limpeza da imundice; ambos para a santificação e justificação pela graça, que a água e o sangue são emblemas.
19:36 - Pois essas coisas foram feitas,… O fato de não terem quebrado os seus ossos e terem lhe transpassado o seu lado, e isso não por acaso, e sem desígnio; mas...
Para que a Escritura fosse cumprida: nenhum osso seu será quebrado;... Referindo-se ao Sal. 34:20, guarda-lhe todos os ossos, nem um deles está quebrado; o que deve ser entendido dos justos, em geral, e foi muito especial e notável na realização em Cristo, embora uma certa e única pessoa parece ser concebido no salmo; pois nem é verdade, de fato, que cada homem justo seriam assim guardado,[1] visto que alguns dos quais tiveram seus ossos quebrados, e tal sentido levaria alguns ao desespero, em caso de ossos quebrados; pois se essa calamidade recaisse em um deles, bem como aos homens ímpios, sob uma aflição tal, eles poderiam ser muito angustiados, e a partir daí estar prontos para concluir que eles não são pessoas justas, e que não estão sob o cuidado e proteção de Deus: nem as palavras têm qualquer relação com a ressurreição dos mortos, como se o sentido dela fosse que nenhum dos ossos dos justos será finalmente quebrado, e que eles podem ser quebrados pelos homens, e na sua visão, ainda que o Senhor levante-os novamente, e restaure-os em perfeito estado em toda a ressurreição geral, pois isso será verdade para os ímpios, assim como para os justos, e muito menos é o significado das palavras, que um de seus ossos não deve ser quebrado, ou seja, o osso “Luz”, como dizem os Judeus, que, dizem eles (i), é incorruptível permanece na sepultura, e é tão forte que não pode ser suavizado pela água , nem queimado no fogo, nem quebrado com um martelo, a partir do qual Deus levantará todo o corpo, no último dia, mas as palavras devem ser entendidas de Cristo, ele é o pobre homem que é particularmente referido no Sal. 34:6, que, foi pobre em seu estado de humilhação,[2] e que clamou ao Senhor, e ele o ouviu, e o salvou, e ele é um dos virtuosos, cujas aflições foram muitas, e dos quais o Senhor lhe salvou de todas, Sal. 34:19, cuja cuidado providencial dele foi muito especial e notável, ele continuou com seus ossos sem serem quebrados, quando os outros foram, e esta passagem por este incidente teve seu cumprimento literal nele: ou pode se referir ao cordeiro pascoal, um tipo de Cristo, 1Cor. 5:7, visto que nenhum osso dele era para ser quebrado, Exo. 12:46. A primeira destas passagens é uma ordem, na segunda pessoa, para os israelitas, relativo ao cordeiro pascal, “não deveis vós quebrar um osso dele”, e este último é entregue na terceira pessoa, “nem devem eles quebrar nenhum osso dele”, que podem ser vertidos impessoalmente, “nenhum osso, ou dele, será quebrado; ou nenhum osso será quebrado nele”, e por isso as versões Siríaca e Persa leem as palavras aqui, e em alguns exemplares, está, “não será um osso quebrado dele”, e assim leem as versões da Vulgata Latina e Etíope, e aquele que violasse esse preceito, de acordo com as tradições dos Judeus, devia ser espancado. Maimonides (k) afirma:
“Aquele que quebra um osso em uma Páscoa pura, em verdade, ele deve ser espancado, como é dito, “e nenhum osso deveis vós quebrar”, e por isso é dito da segunda Páscoa, “e nenhum osso deveis vós quebrar nele”, mas quando vem com uma Páscoa impura, se um homem quebra um osso, ele não deve ser espancado: a partir do sentido literal, pode ser aprendido, que um osso não deve ser quebrado, quer em uma páscoa pura ou maculada: alguém que quebra um osso na noite do décimo quinto dia, ou que quebra um osso dentro do dia, ou que uma quebra depois de muitos dias, em verdade, ele deve ser espancado, por isso eles queimam os ossos da Páscoa, em geral, com o que resta da sua carne, que não poderão vir a prejudicar: nenhum é culpado; mas também se alguém quebra um osso sobre o qual existe carne na quantidade de uma oliva, ou em que há medula; um osso, mas em que não há medula, e sobre o qual não existe a quantidade de carne de uma oliva, um homem não é culpado de quebrá-lo, e se houver carne que lhe desse uma quantidade, e ele rompe o osso no lugar onde não há carne, ele é culpado, embora o lugar que ele rompe é bastante ausente de carne: aquele que quebra depois (outro) que tem quebrado, deve ser espancado.”
E com essas as regras concorda o seguinte canon (l):
“Os ossos e nervos, que está à esquerda, eles queimam no décimo sexto dia, mas se cai no sábado, eles queimam-nos sobre o décimo sétimo dia, porque estes não afastam o sábado ou uma festividade.”
E assim ele caiu neste ano em que Cristo sofreu, pois o décimo sexto dia era o dia de sábado: novamente...
“Aquele que quebra um osso em uma pura Páscoa, em verdade, ele deve ser espancado com quarenta chicotadas, mas aquele que deixa tudo em um puro, e quebra em um impuro, não deve ser espancado com quarenta chicotadas.”
Sim, eles dizem (m):
Embora “fosse um pequeno cabritinho e tenro, e cujos ossos são tenros, eles não podem comê-los; pois isso é quebrar de ossos, e se ele come ele deverá ser espancado, pois é a mesma coisa se fosse um osso duro ou um tenro quebrado.”
Agora neste, assim como em muitos outros aspectos, o cordeiro pascal era um tipo de Cristo, cujos ossos não foram nenhum deles quebrados, isso para mostrar que a sua vida não foi levada pelos homens, mas foi entregue livremente por si mesmo,[3] e, também, a imbatível força de Cristo sob o peso do pecado, a maldição da lei, e a ira de Deus, e os conflitos com Satanás, quando ele obteve eterna redenção para nós, e também isso foi evidenciado para a sua ressurreição dos mortos, que deveria ocorrer em poucos dias, que mesmo que tivessem sido seus ossos quebrados, ele poderia facilmente tê-los restaurados, mas foi a vontade de Deus que deveria ser feito da forma como ocorreu. Além disso, assim como nenhum dos ossos de seu corpo foram quebrados, de modo nenhum devem ser dos seus membros, em sentido espiritual, que são os ossos de seus ossos e carne de sua carne; destes nada se perderá.[4]
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Notas
(i) Bereshit Rabba, sect. 28. fol. 23. 3. Vajikra Rabba, sect. 18. fol. 159. 3. Zohar em Gen. fol. 51. 1. & 82. 1.
(k) Hilchot Korban Pesach. c. 10. sect. 1, 2, 3, 4.
(l) Misn. Pesachim, c. 7. sect. 10, 11.
(m) Maimon. Korban Pesach. c. 10. sect. 9.
[1] Cf. Hebreus 11:37; Gênesis 32:25. N do T.
[2] Cf. 2 Coríntios 8:9. N do T.
[3] Cf. João 10:18. N do T.
[4] Cf. João 18:9. N do T.