João 21:18 — Comentário de John Gill

Comentário de João 21:18


Em verdade, em verdade, eu te digo,… Uma forma de falar muito usada por Cristo, quando estava para falar alguma coisa importante; em parte para chamar a atenção, e em parte para maior afirmação do que é falado; e pode ter referência tanto ao que houve antes, confirmando a declaração de amor de Pedro, que seria demonstrado por morrer por ele, e o testemunho de sua onisciência, por predizer sua morte, e de que tipo seria; e para o que segue depois, que contém um relato de Pedro em sua infância, e uma profecia que lhe aconteceria em sua velhice:

Quando eras jovem;... Não que ele fosse velho agora, ou que ele não era mais capaz de fazer o que se segue, pois ele fazia assim como fez pouco tempo no relato; mas apenas descreve os eventos de sua infância:

Te cingias a ti mesmo, e andavas para onde querias;… Ou seja, ele podia colocar as suas próprias roupas, e cingir-se como era costume das nações do leste, que geralmente usavam roupas longas; e assim como ele, pouco tempo antes, tinha se cingido com a vestimenta de pescador sobre si, e andava aonde quer que lhe agradasse; denotando a sua liberdade em coisas naturais e civis, que todos os homens têm em posse, embora não em coisas espirituais, sem a graça de Deus; e também seu poder de fazer o que lhe mais agradava, sem ser impedido, ou obrigado a pedir permissão a outros:

Mas quando já fores velho;… Dando a entender que ele iria viver ainda bem na velhice, e continuaria a ser útil na causa de Cristo, em pregar o seu Evangelho, e alimentar as suas ovelhinhas e cordeiros, assim como ele fez; pois ele viveu nos tempos de Nero (c), debaixo do qual ele sofreu, cerca de quarenta anos depois disso:

Estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá,... Isso não se refere tanto à incapacidade devido à idade avançada para se vestir, e, portanto, deveria estender os seus braços, para que outro pudesse fazer isso, e que seria o contrário da primeira e presente causa; pois a palavra “cingir” é usada em outro sentido do que a anterior, e significa amarrar um pessoa, um prisioneiro em laços, ou cadeias; assim “cingir-se”, para os Judeus, é o mesmo que הקשירה והאסירה, “amarrar e ligar” (b): ou ao esticar de seus braços na cruz, quando ele deveria ser cingido ou amarrado a ela; pois às vezes as pessoas eram presas com cordas, e nem sempre com pregos (e): ou, como alguns pensam, ao carregar da cruz em seus ombros, com as suas mãos amarradas a um pedaço de madeira que atravessava; embora ser ele cingido ou amarrado possa também se referir a primeira, assim como essa: de fato, o que é acrescentado se encaixa bem com a última.

E te levará para onde tu não queiras;… Para uma morte penosa, cruel, vergonhosa e maldita, a morte na cruz; não que Pedro, em espírito, fosse indisposto a morrer por Cristo; mas significa que ele deveria ter uma morte desagradável a carne.

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Notas
(c) Euseb. Eccl. Hist. l. 2. c. 25.
(d) R. David Kimchi, Sepher Shorash. rad. חגר
(e) Lipsius de Cruce, l. 2. c. 8. Bartholinus de Cruce, p. 57. 112.