Comentário de J.W Scott: 1 Coríntios 11:17-34

2. A OBSERVÂNCIA DA CEIA DO SENHOR (1 Coríntios 11.17-34) - Paulo agora passa ao importante assunto do modo de observar a Ceia do Senhor na Igreja. Nos tecomentario de primeira carta aos corintios, comentario biblicompos apostólicos era, com regularidade, precedida da "festa do amor" (gr. agape), a fim de, sem dúvida, estabelecerem um confronto mais estreito com a última Ceia. Como era de praxe, cada membro levava sua comida. Contrastando com as reuniões sociais costumeiras, ricos e pobres se juntavam nessas festas cristãs, de modo que tinha de haver considerável disparidade nas quantidades de alimento que uns e outros forneciam. Mas, ao invés do repartirem os alimentos com todos, cada qual conservava para si a parte que tinha levado, com o vergonhoso resultado descrito no vers. 21. E assim as tais festas, que tinham o intuito de fomentar sociabilidade, falhavam inteiramente neste objetivo, e o apóstolo a bem dizer aconselhou a suspensão delas (veja-se o vers. 22).

Por causa desses abusos, Paulo declara que não pode louvar os coríntios nesse particular (17), em contraste com o elogio que lhes fez por observarem as ordenanças (tradições) que lhes entregara (veja-se o vers. 2). Volta a referir à existência de partidos entre eles (18), acrescentando: até mesmo importa que haja partidos (heresias) entre vós para que também os aprovados se tornem conhecidos em vosso meio (19). Heresia não é somente sustentar uma opinião errônea, mas é escolhê-la definitivamente e tomar posição a seu lado. O propósito de Deus, consentindo essas facções, é tornar manifestos aqueles que são aprovados por Ele. Paulo então declara: o que eles fazem, quando se reúnem, não é absolutamente celebrar com propriedade a Ceia do Senhor (20). Permitindo excessos, deixando que, alguns saiam dali com fome, e envergonhando os membros mais pobres da congregação, com isto menosprezam a Igreja de Deus (22). Esta frase pode ser relacionada com o vers. 29, tendo-se em mente que vos reunis na Igreja (18) não se refere, naturalmente, a ajuntamento num templo, mas descreve a natureza especial e solene dessa reunião. O que se condena em toda esta passagem é deixar de discernir ou formar opinião sobre o corpo (isto é, a Igreja) quanto ao seu verdadeiro valor.

A narrativa completa que o apóstolo faz da instituição da Ceia do Senhor (note-se que ele declara tê-la recebido do Senhor) é a fórmula que a Igreja desde então tem usado na celebração desse rito (23-25). O vocábulo "eucaristia" vem da palavra grega que significa dar graças (24) e às vezes se emprega em lugar de Santa Comunhão. Isto é o meu corpo (24). Toda idéia "carnal" de participação fica excluída pelo fato de o Senhor estar vivo quando disse essas palavras, isto é, foi antes de sua morte. O corpo e o sangue de Cristo são recebidos de uma maneira espiritual. Fazei isto (24). Estas palavras não estão em Mateus e Marcos; a ordem fundamenta-se, pois, no testemunho de Paulo. Suas palavras pressupõem que a prática vigorava na Igreja e compreende-se que procederam do próprio Senhor. Em memória de mim (24-25). A repetição é impressionante e nos dá a razão escriturística para a observância da Ceia do Senhor. Sua finalidade é fazermos recordação do Salvador, em todos os eventos de sua vida, mas principalmente de sua morte por nós na cruz; e, em recordá-lo, sentirmos sua presença conosco. A santa Ceia é, pois, uma "recordação" de Cristo e uma "comunhão" com Ele. Testamento (25) é o mesmo que "concerto". Os termos "Velho Testamento" e "Novo Testamento" derivam-se deste versículo. Anunciais (26). É o mesmo verbo usado em 1Co 9.14. A celebração desta ordenança é, portanto, o "grande anúncio da morte de Cristo" e um testemunho ao mundo a respeito da devoção dos cristãos ao seu Senhor, e da confiança deles na Sua morte até que Ele venha (26). Réu do corpo... (27). Este vers. é um solene aviso contra os que participam irrefletidamente da Ceia do Senhor. Essas palavras significam que esses tais são réus de um crime cometido contra a santidade do corpo e do sangue do Senhor, colocando-se destarte do lado dos inimigos de Cristo, que o crucificaram. Este memorial nos foi dado pelo próprio Cristo; o abuso dele leva à condenação (29) ou "juízo". Deve-se notar que indignamente (27-29) é uma coisa, "indignos" é outra, e tais nunca deixaremos de ser. O sentido exato do vers. 30 é obscuro. Pode ser interpretado metaforicamente, como a descrever a incompetência espiritual deles, coríntios; ou pode relacionar-se com o "juízo" do vers. 29 e interpretar-se como descrição dos males físicos que resultam dos excessos deles, sendo sinais externos do juízo de Deus. O vers. 31 urge que estejamos atentos sobre nós mesmos - nossos motivos e pensamentos - sendo castigados (disciplinados), porém não condenados (32). O apóstolo termina exortando que dirijam aquelas reuniões da Igreja de um modo decente e ordeiro, prometendo-lhes que discutirá ainda o assunto quando da próxima visita que lhes fizer (33-34).

O fato de Paulo ter dedicado tanto espaço à doutrina concernente à Ceia do Senhor mostra sua importância na vida cristã. Ao mesmo tempo, façamos dela uma idéia justa, sem exagero. Fora dos Evangelhos e desta Epístola, há muito poucas referências a esta ordenança. Sua instituição por nosso Senhor e o mandamento para que a celebremos em sua memória leva-nos a colocá-la no centro da nossa vida cristã. Contudo, concentrar nela nossa vida devocional é subverter o equilíbrio espiritual e, como sabemos da história da Igreja, isso conduz a erro grave e superstição.