Comentário de J.W Scott: 1 Coríntios 4:1-13

Ministros... e despenseiros (4.1). O pensamento do apóstolo passa de um aspecto do caso para outro. Depois de dizer que os ministros em si nada são, e que é tolice alguém se proclamar adepto de um mestre humano, passa a considerar que ele e Apolo são ministros de Cristo - o nome de Jesus dá-lhes uma posição que não deve ser subestimada. Emprega a metáfora da mordomia. O mordomo (ou despenseiro), tendo irrestrito acesso aos haveres de seu patrão, precisa ser honesto tanto quanto leal ao mesmo patrão (1). A única pessoa cuja apreciação o mordomo valoriza (ou teme) é o seu senhor - a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós... pois quem me julga é o Senhor (3-4). O mordomo nem sequer pode confiar no juízo que faz de si mesmo; pode não estar cônscio de suas próprias falhas (4). O conselho do apóstolo, portanto, aos cristãos é no sentido de desistirem de emitir juízo uns sobre os outros, deixando o exercício desse julgamento para Cristo, quando vier, e então cada um receberá o seu louvor da parte de Deus (5). É parte significativa do evangelho apresentado por Paulo o fato de o Senhor vir para julgar. Uma cláusula do Credo Niceno conserva-nos de sobreaviso com relação a esta verdade - "Creio... que Ele virá em glória, para julgar os vivos e os mortos".

Deste modo o apóstolo enfatiza seu ensino concernente aos ministros cristãos. Todo o seu conceito repousa em Cristo, de quem eles são ministros. Todos os crentes pertencem a Cristo; os ministros foram instrumentos por meio dos quais creram (1Coríntios 3.5).

O EXEMPLO DOS APÓSTOLOS (1Co 4.6-13) - Apliquei a mim e a Apolo (6). Desde a primeira referência às várias divisões em 1Co 1.12, Paulo omitiu qualquer alusão a líderes, exceto ele mesmo e Apolo. De 1Co 16.12 podemos inferir que o assunto fora discutido com Apolo, e este, sem dúvida, concordou com a decisão de Paulo de usar os dois como ilustração de fragilidade humana, a fim de mostrar aos coríntios que não deviam ultrapassar o que estava escrito (6). Aí provavelmente se refere às Escrituras e significa que a opinião que fazemos do homem deve ser bíblica. Podíamos ainda entender daí que "na apreciação que fazemos dos homens não devemos ir além do que se acha escrito (isto é, manifesto) no caráter deles". Exaltando um (digamos Paulo) em detrimento de outro (como Apolo) incentivavam o orgulho deles, coríntios. A tolice de tal orgulho é evidenciada nos versos seguintes. Que tens tu que não tenhas recebido? (7). Este pensamento corta pela raiz toda vanglória.

Já estais fartos... (8). Paulo fala ironicamente. Tal vanglória de si mesmos como crentes não é compatível com a verdadeira espiritualidade. Oxalá reinásseis (8). E uma súplica fervorosa pelo advento do reino de Deus, que torna ainda mais vívida a descrição que adiante faz dos seus sofrimentos presentes. Espetáculo (9); é referência às disputas dos gladiadores na arena. Ele figura o mundo inteiro e até os anjos como espectadores, ao passo que os apóstolos, um grupinho fraco, são por fim introduzidos em cena para combaterem até à morte. Com certa ironia ele contrasta ainda mais as pretensões dos coríntios com a experiência atual dos apóstolos, que são desprezados e tratados como escravos. E nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos (12). Veja-se At 18.2-3 e cf. 1Ts 2.9 e 2Ts 3.8. Cf. também 1Cr 9.18. (12). O apóstolo põe em prática o ensinamento de nosso Senhor no Sermão do Monte. Veja-se Mt 5.44. A atitude dos coríntios, na aparência, era muito diferente. Veja-se 1Co 6.7. Os termos lixo e escória, no vers. 13, trazem a idéia de sacrifício. Tamanha degradação Paulo pode querer dizer que é em favor dos outros. Toda esta passagem revela a profunda simpatia do apóstolo e seu grande interesse pelos cristãos coríntios.