Introdução Bíblica: Livro de Números

NÚMEROS, LIVRO, INTRODUÇÃO, ESBOÇO, TEOLOGIAEscritor: Moisés
Lugar da Escrita: Ermo e planícies de Moabe
Escrita Completada: 1473 AEC
Tempo Abrangido: 1512-1473 AEC

O livro de Números é o de número 4 no canôn das Escrituras. Os eventos da jornada dos israelitas pelo ermo foram registrados na Bíblia para o nosso proveito hoje. Como disse o apóstolo Paulo: “Ora, estas coisas tornaram-se exemplos para nós, para que não fôssemos pessoas desejosas de coisas prejudiciais.” (1 Cor. 10:6) O vívido registro de Números inculca em nós que a sobrevivência depende de santificar o nome de Yehowah, de lhe obedecer em todas as circunstâncias e de mostrar respeito pelos seus representantes. Seu favor não resulta de bondade ou de mérito de seu povo, mas de Sua grande misericórdia e benignidade imerecida.

O nome Números se refere à numeração das pessoas, efetuada primeiro junto ao monte Sinai e, mais tarde, nas planícies de Moabe, segundo registrada nos capítulos 1-4 e 26 . Este nome vem do título Numeri, na Vulgata latina, e se deriva de A·rith·moí na Septuaginta grega. Contudo, os judeus chamam esse livro mais apropriadamente de Bemidh·bár, que significa “No Ermo”. A palavra hebraica midh·bár indica um lugar descampado, desprovido de cidades e povoados. Foi no ermo, ao sul e ao leste de Canaã, que ocorreram os eventos de Números.

Números evidentemente fazia parte do volume quíntuplo original, que incluía os livros de Gênesis a Deuteronômio. O primeiro versículo começa com a conjunção “e”, ligando-o com o que precede. Assim, deve ter sido escrito por Moisés, o escritor dos registros precedentes. Isto também fica claro da declaração no livro de que “Moisés registrava” e do colofão: “Estes são os mandamentos e as decisões judiciais que Yehowah ordenou aos filhos de Israel por meio de Moisés.” — Núm. 33:2; 36:13.

Os israelitas haviam saído do Egito um pouco mais de um ano antes. Iniciando o relato no segundo mês do segundo ano depois do Êxodo, Números abrange os próximos 38 anos e nove meses, de 1512 a 1473 AEC. (Núm. 1:1; Deut. 1:3) Embora não se enquadrem nesse período, os eventos relatados em Números 7:1-88 e 9:1-15 são incluídos como informações de fundo. As partes iniciais do livro foram, sem dúvida, escritas à medida que os eventos se desenrolavam, mas é evidente que Moisés não poderia ter completado Números senão perto do fim do 40.° ano no ermo, em princípios do ano calendar de 1473 AEC.

Não pode haver dúvida quanto à autenticidade do relato. A respeito da terra geralmente árida pela qual viajavam, Moisés disse que se tratava dum “grande e atemorizante ermo”, e, mesmo em nossos dias, os dispersos habitantes se locomovem constantemente em busca de pastos e água. (Deut. 1:19) Ademais, as instruções detalhadas a respeito do acampamento da nação, da ordem de marcha e dos sinais de trombeta para governar os assuntos do acampamento atestam que o relato foi realmente escrito “no ermo”. — Núm. 1:1.

Até mesmo o temeroso relatório dos espias, quando retornaram de sua expedição a Canaã, no sentido de que “as cidades fortificadas são muito grandes”, é confirmado pela arqueologia. (13:28) As descobertas atuais têm revelado que os habitantes de Canaã daquele tempo haviam consolidado seu domínio mediante uma série de fortificações que se estendiam pelo país em diversos lugares, desde a baixada de Jezreel, no Norte, até Gerar, no Sul. Não só eram as cidades fortificadas, mas eram em geral construídas no cume de colinas, com torres que se elevavam acima de suas muralhas, tornando-as muitíssimo impressionantes para pessoas como os israelitas, que haviam residido por gerações na terra plana do Egito.

As nações do mundo tendem a encobrir os seus fracassos e a magnificar as suas conquistas, mas, o relato de Números narra, com honestidade que denota verdade histórica, que Israel foi totalmente derrotada pelos amalequitas e pelos cananeus. (14:45) Admite francamente que o povo mostrou ser sem fé e tratou a Deus sem respeito. (14:11) Com notável candura, Moisés, profeta de Deus, expõe os pecados da nação, de seus sobrinhos e de seu próprio irmão e irmã. Tampouco poupa a si mesmo, pois fala da ocasião em que deixou de santificar a Yehowah, quando se supriu água em Meribá, de modo que perdeu o privilégio de entrar na Terra Prometida. — 3:4; 12:1-15; 20:7-13.

Que o relato é parte genuína das Escrituras, que são inspiradas por Deus e proveitosas, se evidencia de que quase todos os seus principais eventos, bem como muitos pormenores, são diretamente citados por outros escritores da Bíblia, muitos dos quais destacam a importância deles. Por exemplo, Josué (Jos. 4:12; 14:2), Jeremias (2 Reis 18:4), Neemias (Nee. 9:19-22), Asafe (Sal. 78:14-41), Davi (Sal. 95:7-11), Isaías (Isa. 48:21), Ezequiel (Eze. 20:13-24), Oséias (Osé. 9:10), Amós (Amós 5:25), Miquéias (Miq. 6:5), Lucas, no seu registro sobre o discurso de Estêvão (Atos 7:36), Paulo (1 Cor. 10:1-11), Pedro (2 Ped. 2:15, 16), Judas (Jud. 11) e João, ao registrar as palavras de Jesus à congregação de Pérgamo (Rev. 2:14), citam do registro de Números, como fez o próprio Jesus Cristo. — João 3:14.

A que objetivo, então, serve Números? Na verdade, o seu relato é mais do que de valor histórico. Números salienta que Yehowah é o Deus de ordem, que requer de suas criaturas devoção exclusiva. Isto é vividamente inculcado na mente do leitor, ao passo que observa o recenseamento, a provação e a peneiração de Israel, e vê como o proceder desobediente e rebelde dessa nação é usado para frisar a necessidade vital de se obedecer a Yehowah.

O registro foi preservado para o proveito das gerações futuras, segundo Asafe explicou, “para que pusessem a sua confiança no próprio Deus e não se esquecessem das práticas de Deus, mas observassem os próprios mandamentos dele” e que “não se deviam tornar como seus antepassados, uma geração obstinada e rebelde, uma geração que não preparara seu coração e cujo espírito não era fidedigno para com Deus”. (Sal. 78:7, 8) Vez após vez, os eventos de Números foram mencionados nos salmos, que eram cânticos sagrados entre os judeus, de modo que eram repetidos com freqüência como sendo de proveito para a nação. — Salmos 78, 95, 105, 106, 135, 136.