Comentário de J.W Scott: 1 Timóteo 1:1-11
I. SAUDAÇÃO PESSOAL 1Timóteo 1.1-2
Paulo escreve na qualidade de apóstolo (1), como alguém consciente de uma missão que lhe foi dada por determinação divina. Escreve como servo de Jesus, reconhecendo este como Messias ou o Senhor ungido; podia-se quase dizer que ele escreve como embaixador do "Rei Jesus". A fórmula "Cristo Jesus" é característica desta epístola veja-se a ARA aqui e confira-se com 1Tm 1.12,14,15. Esta comissão de Paulo expressa a atividade divina na salvação dos homens, e tem a finalidade de ajudá-los a alcançar esperança certa desta salvação em Cristo. Tal linguagem indica logo que esta carta é mais do que uma epístola particular e pessoal. É escrita a Timóteo como a um genuíno cristão da segunda geração, um dos verdadeiros filhos na fé em Cristo, de quem Paulo pode esperar que prossiga na obra e no testemunho do evangelho. A carta diz respeito à atividade de Timóteo como ministro na igreja, casa ou família de Deus; ver 1Tm 3.14-15. O modo espontâneo como Cristo é duas vezes mencionado em união com Deus, nestes versículos, implica um significativo reconhecimento de Seu lugar na Divindade.
II. UMA INCUMBÊNCIA RENOVADA 1Tm 1.3-20
I.a Apelo para combate a falsas doutrinas (1Tm 1.3-11)
Paulo lembra a Timóteo uma tarefa particular que lhe fora confiada, quando instou com ele que permanecesse em Éfeso; devia admoestar os que iam-se desviando para doutrinas falsas e sem proveito, e fazê-los voltar à vida cristã sincera e devotada. É digno de nota como as igrejas tão depressa foram perturbadas, em seu próprio selo, por falsos mestres, e como Paulo encarava a estes com soleníssima gravidade, tomando precaução, deliberada e constantemente, contra a influência deles, por ser potencialmente fatal. Cf. 1Tm 6.3-5; At 20.28-30; Gl 1.6-9. Os vários erros são todos compreendidos sob a designação de outra ("diferente") doutrina (3). Note-se que isto implica uma reconhecida "forma de doutrina", ou "modelo de ensino" (Rm 6.17), já aceito geralmente. O perigo aqui é dar indevida atenção a fábulas e genealogias (provavelmente judaicas) (4), possivelmente acréscimos fantasiosos ao Velho Testamento, e excêntricas interpretações dele. Procurar achar esperança em descendência humana é coisa que nunca termina e não satisfaz, isto é, não tem fim (4). Tais inquirições só servem para dar lugar a disputa; não aproveitam para firmar confiança. Serviço de Deus (4). O sentido ou é que não promovem a dispensação de Deus no evangelho que oferece aos homens salvação pela fé, ou não incentivam aquele desempenho eficaz da mordomia da vida, a que como crentes somos chamados.
Em contraste com essas atividades errôneas de alguns, o ensino prático do evangelho requer uma correspondência que se expressa em íntima sinceridade e ativa boa vontade. As quatro características do vers. 5 se adquirem pela ordem inversa. Fé, que não é mera simulação, é o fundamento. Dela procede o íntimo contentamento de um coração puro, e o interesse por conservar uma consciência boa, e a prática exterior do amor (caridade) para com Deus e os homens. Tal amor é o fim em vista, o alvo ou consumação da fé salvadora. Cf. At 15.9-24.16; Gl 5.6.
As "certas pessoas", antes referidas, não só falhavam em perseguir e atingir esse fim, como também se voltavam a vãs altercações, em lugar de se entregarem à ação, e se davam a uma atividade destituída de valor, ao invés de ser frutífera (6). São pessoas dominadas pelo desejo de serem autoridades ou mestres da lei (7), como os rabinos judeus. De fato, não têm compreensão exata daquilo a respeito do que não somente falam, mas até fazem asseverações autoconfiantes. São, pois, um perigo sério para a comunidade cristã, capazes de enganar e desencaminhar a muitos.
Para que não se compreenda mal sua referência depreciativa aos pretensos mestres da lei, Paulo introduz uma declaração (vers. 8-11) de que a lei é boa, que apóia e suplementa o evangelho por proibir tudo quanto se opõe ao seu salutar ensino. A falta está do lado dos falsos mestres, que não usam a lei como Deus quis que fosse usada, isto é, para reprimir e condenar os malfeitores. Não foi destinada para ser objeto de interpretações fantasiosas e especulações inúteis da parte dos justos ou justificados. Os malfeitores são aqui apresentados como falhos de padrões morais, sem reverência a Deus, destituídos do senso do que é santo, sem consideração a relações de família, à vida humana, à pureza sexual e à boa fé na vida social. Em conseqüência disto eles são desregrados, pecadores, profanos, sem misericórdia. Nos vers. 9 e 10 Paulo obviamente segue a ordem dos Dez Mandamentos e de súbito especifica violações deles em sua forma mais grosseira. A sã doutrina (10), ou ensino sadio é uma frase característica e peculiar das Epístolas Pastorais. Contrariamente, a falsa doutrina é qual câncer (2Tm 2.17); e devotamento a ela é sinal de doença espiritual (1Tm 6.3-4). O evangelho da glória (11). A glória de Deus revela-se aos homens no evangelho que lhes fala de Cristo; "glória", aí, refere-se virtualmente ao próprio Cristo. Cf. Jo 1.14-18; 2Co 4.4-6.