Comentário de J.W Scott: Colossenses 3:1-11

comentário bíblico da carta aos colossenses
VII. A NOVA VIDA E A VELHA Colossenses 3.1-11

Sobre a figura do batismo Paulo já tem indicado (Cl 2.12) que o crente está sepultado e ressuscitado com Cristo. Ele agora procede a salientar as implicações deste sepultamento e ressurreição. O cristão pôs termo às coisas mundanas, que para os hereges são de máxima importância. Mediante a sua ressurreição com Cristo, pertence a um mundo mais elevado e os seus desejos e conduta devem corresponder a um nível mais elevado. A vossa vida está escondida... (3), isto é, a nova vida. Lightfoot parafraseia: "quando vos colocastes debaixo da água batismal, desaparecestes do mundo para sempre. Ressuscitastes, é verdade, mas subistes somente para Deus. Doravante o mundo nada sabe da vossa nova vida...". Note aqui que esta nova vida é comparável àquilo apresentado pelas religiões de mistério por estar "oculta", contudo, em vivo contraste não conta com ordenanças e intermediários. É uma vida intimamente em contato com Deus. Por causa desta relação direta e, em contraste com o desejo dos hereges para penetrarem reinos intermediários (Cl 2.18), o cristão pode fixar sua mente sem impedimento nas coisas do mais alto céu, onde Cristo se assenta entronizado. Porém, ainda que o verdadeiro caráter desta nova vida esteja escondido agora, se manifestará naquele dia quando o Senhor aparecer (4). O dia da manifestação de Cristo será também o dia da manifestação do cristão (cf. 1Jo 3.2).

Uma lista de coisas para as quais o cristão está morto é dada no vers. 5. Por que é preciso, podemos perguntar, o crente mortificar os seus membros se já está morto? Em resposta a esta questão devemos dizer alguma coisa sobre o método dialético do apóstolo nestes assuntos. Ele sempre procura fazer com que o crente veja as implicações da sua nova posição. O cristão deve aceitar esta nova posição pela fé e procurar pela graça de Deus fazê-la uma realidade experiente. "No plano ideal e puramente religioso, o cristão pela fé... já deixou a velha vida para entrar na nova. Porém, Paulo era bastante realista para reconhecer que não seguia automaticamente que o cristão cessasse de pecar... A firme intenção da mente e da vontade é necessária para aquilo que já foi dado em princípio tornar-se experiência real". (C. H. Dodd sobre Rm 6.11, Moffatt Commentary). A elaboração clássica do pensamento no vers. 6 é encontrada em Rm 1.18, onde Paulo indica a consequência temível do ateísmo. Ali ele ousa dizer que Deus "os entregou à imundícia". É bom notar que este lamentável estado que parece ser o resultado automático do pecado é realmente expressão da reação do próprio Deus vivo contra o pecado, e se chama "a ira de Deus". O vers. 7 é característico do apóstolo. Mais de uma vez ele relembra aos seus leitores aquilo de que eles têm sido salvos (cf. 1Co 6.9-11). A recordação é usualmente seguida logo por um "porém", (cf. o vers. 8) introduzindo uma descrição do seu estado presente, que enaltece a graça de Deus. O despir-se do velho homem (9) e o vestir-se do novo homem (10) implicam um rompimento com tudo quanto se associa à vida velha. Veja as notas sobre a passagem paralela em Ef 4.22-24. O novo homem é uma criação de Deus, renovada de acordo com aquele homem ideal concebido originalmente na mente do Criador. O pensamento da nova vida sugere outra mudança, especialmente na relação de raça com raça e de um estado com outro. Estas diferenças raciais, religiosas e culturais são transcendidas em Cristo. Bárbaro e Cita não estão em contraste um com o outro, como estão os outros pares de palavras neste verso. Barbaroi era o nome dado pelos gregos àqueles que falavam qualquer língua ininteligível, isto é, os estrangeiros não civilizados. (A palavra barbaroi é onomatopéica). Os romanos conheciam todas as raças estrangeiras como "citas".