Comentário de J.W Scott: Deuteronômio 1:1-5

comentário biblico do livro de deuteronomio
I. INTRODUÇÃO-Dt 1.1-5

As palavras que Moisés falou (1). O nome de Moisés aparece noventa e nove vezes no Novo Testamento, e cada referência vem trazer luz ao presente livro. É esta a primeira das várias vezes que se nota a indicação de que as palavras foram faladas (cfr. Dt 4.45; Dt 29.2; Dt 31.30; Dt 32.44). Depois serão escritas (Dt 17.18; Dt 31.9). O mesmo se verifica com os Dez Mandamentos (Dt 5.22; Dt 9.10). Todo o Israel (1). Frase característica do Deuteronômio. Chamado a conduzir um povo numa altura em que começava a formar uma nação, Moisés considera esta nação como um todo. Fala, por isso, a "todo" o Israel, que deve escutá-lo com a máxima atenção (5.1 nota). A expressão "todo o Israel" ocorre nos seguintes passos: Dt 11.6; Dt 18.6; Dt 21.21; Dt 27.9; Dt 31.11; Dt 34.12. Dalém do Jordão (1). Deparamos com esta frase dezoito vezes em Deuteronômio e Josué para indicar uma margem do Jordão, ou a outra, ou talvez "a região do Jordão". Doze vezes refere-se à margem oriental e seis à ocidental. Nalguns casos acrescentam-se algumas palavras para as distinguirem. A forma indistinta com que a frase se emprega em Nm 32.19; Js 12.1,7 e 1Sm 14.4 prova que nem sempre é tomada em relação à posição em que se encontrava a escritor. No deserto (1). A palavra hebraica midhbar significa literalmente um lugar de pastagens em campo aberto, mas pode aplicar-se a qualquer região desabitada, quer seja fértil ou não. Na planície (1). É o termo usado para designar a depressão que vai desde o Mar Vermelho ao golfo de Acaba com toda a região que abrange. Parã (1). Cf. Nm 10.12. Deve ser uma zona compreendida entre o Jordão e o Monte Sinai. Tefel (1). Esta e as outras localidades que seguem correspondem pouco mais ou menos às de Nm 33.18-20, situadas na estrada que vai de Horebe a Cades-Barnéia.

Horebe (2). Literalmente "desolação" (cfr. Jr 44.2), nome apropriado à região que circunda o Monte Sinai, onde pela primeira vez Deus apareceu a Moisés (Êx 3.1). Cades-Barnéia (2). Cfr. vers. 46. É difícil a identificação desta localidade. Cades significa "santo" e aplica-se a vários locais. Cades-Barnéia, no extremo sul da Judéia, marcou o termo da primeira etapa que Israel fizera a partir do Monte Sinai, ponto de partida e de regresso dos espiões (Nm 12.16; Nm 13.26). Ficava situada a cerca de 275 quilômetros ("onze dias de viagem") de Jebel Musa, o tradicional Monte Sinai.

Na terra de Moabe (5). Cf. Introdução a Deuteronômio. A declarar (5). À letra: "a gravar", portanto a "tornar claro" ou "expor". Neste sentido de escrever apenas aparece a palavra em Dt 27.8 e Hc 2.2. Esta lei (5). A palavra torah, geralmente traduzida por "lei" deriva duma raiz yara que significa "ensinar" (cf. 1Rs 8.36) e podia também verter-se por "instrução". Seja como for, tem o vocábulo hebraico muito maior extensão que a nossa palavra "lei", pois não só abrange "estatutos e mandamentos" (Dt 4.1-2), como ainda dum medo geral toda a revelação divina. No presente caso refere-se aos discursos que se seguem e, no Deuteronômio em geral, a toda ou parte da doutrina ensinada por Moisés. Neste livro, encontra-se apenas no singular, a provar que se trata dum todo único e não duma simples coleção. Com o decorrer dos tempos foi a palavra generalizada para indicar o Pentateuco (Ed 7.6; Mt 12.5) ou mesmo todo o Velho Testamento (Jo 10.34; Jo 15.25). Digno dum estudo especial é o Sl 119 em que o termo aparece nada menos que vinte e cinco vezes.

No Novo Testamento devemos distinguir os seguintes empregos da correspondente palavra grega nomos: o Velho Testamento (Jo 10.34); O Pentateuco (Lc 24.44); a história ou dispensação do Velho Testamento, como preparação para a vinda de Cristo (Mt 11.13); a lei moral (Lc 10.26); a lei administrativa e cerimonial das judeus ou "lei dos estatutos e cerimônias" (sem qualquer obrigação para os cristãos). Cfr. ainda 4.5 nota, 8 nota; 6.25 nota.