Comentário de J.W Scott: Gálatas 2:1-13

comentario biblico da carta aos galatasI. Apostolado de Paulo reconhecido em Jerusalém (Gl 2.1-10)

A próxima vez que Paulo foi a Jerusalém, foi catorze anos depois de sua conversão. Ele foi até ali, não convocado por Pedro e pelos demais apóstolos, como se eles possuíssem autoridade superior à sua, mas em obediência a um mandamento direto recebido da parte do Senhor; e, ao ali chegar, agiu como alguém que estivesse em termos de igual autoridade com os discípulos originais. Após uma conferência perfeitamente amigável, concordaram sobre uma divisão de campos de serviço, e as mãos foram cordialmente estendidas em ratificação do acordo estabelecido. O mesmo Evangelho deveria ser pregado tanto aos judeus como aos gentios, baseado nas mesmas condições, ainda que houvesse diferentes esferas de serviço-esse foi o cerne do acordo.

Catorze anos depois (1); isto é, quase certamente, após a sua conversão. Catorze anos de vida e serviço cristãos jaziam atrás dessa visita, a qual, com toda a probabilidade, pode ser identificada com a visita ligada ao envio do auxílio aos santos pobres, referido em At 11.28-30, sendo que a data da mesma provavelmente foi cerca de 46 D. C. Em obediência a uma revelação (2); "em consequência de uma revelação" (Moff.), isto é, impulsionado pela luz sobre natural da parte de Deus. Em particular (2). Uma discussão completa, feita publicamente, talvez fornecesse a alguns dos "falsos irmãos" a oportunidade de fazer discursos extremados, com resultados indesejáveis. Aos que pareciam de maior influência (2); "as autoridades" (Moff.); "os líderes reconhecidos" (Ramsay). Correr... em vão (2). "O que preocupava a Paulo era se sua obra missionária inteira, passada e presente, viesse a ser declarada "inútil", caso ela fosse considerada "vã" - o que seria realidade se a Igreja de Jerusalém insistisse que os crentes gentios eram obrigados a aceitar a circuncisão" (Comentário de Moffatt). A ilustração da corrida era favorita de Paulo (cf., especialmente, 1Co 9.24; Fp 3.13-14; 2Tm 4.7).

Os vers. 3-5 encontram-se entre os mais difíceis de ser interpretados no Novo Testamento. Conforme diz Lightfoot: "O fio da sentença está partido, reunido, e novamente partido". Farrar e outros têm pensado que Tito foi realmente circuncidado. F. C. Burkitt (Christian Beginnings, pág. 118), diz: "Quem pode duvidar que foi a faca que realmente circuncidou a Tito que também cortou a sintaxe de Gl 2.3-5 em pedaços?". Aqueles que assim compreendem, pensam que Paulo queria dizer que, embora tenha cedido nesse ponto não o fez por compulsão: Tito não foi constrangido a ser circuncidado. Porém, isso parece uma construção muito forçada da linguagem de Paulo. É muito mais natural compreender que ele queria dizer que Tito mui definidamente não foi circuncidado. "Mas nem mesmo meu companheiro Tito, embora fosse grego, foi obrigado a ser circuncidado" (Moff.). Ver o artigo "Was Titus Circumcised?" ("Foi Tito Circuncidado?"), por A. B. Bruce, The Expositor, Primeira Série, vol. XI, 1887. E isto por causa dos... (4). A exigência que Tito fosse circuncidado foi resistida "por causa dos falsos irmãos", a fim de impedir as desastrosas conseqüências que daí se originariam, tivesse o apóstolo cedido a tal demanda. A metáfora usada por Paulo é a de espias ou traidores que se introduzem em um acampamento sem ser notados. O verbo espreitar (4) ocorre em Js 2.2; 2Sm 10.3, na LXX.

Àqueles que pareciam ("que eram reputados") ser de maior influência (6). O verbo, que é a mesma palavra que aparece em Gl 2.2, em realidade está no tempo presente; isto é, "aqueles que são considerados como autoridades" (Lightfoot). Aparência (6); lit., "face". Não é por causa de qualquer privilégio externo, em seu contacto com o Senhor, que aquelas "autoridades" eram o que eram. Acrescentaram (6); certas versões traduzem "proporcionaram". Os de maior influência nada proporcionaram de novo conhecimento a Paulo, nem viram defeito algum em seu Evangelho. Me fora confiado (7). A mesma palavra e pensamento se encontram em 1Ts 2.4; 1Tm 1.11; Tt 1.3. O tempo verbal perfeito é usado aqui a fim de indicar que tal encargo fora entregue permanentemente nas mãos de Paulo. Em Pedro... em mim (8). Melhor, conforme certas versões, "a favor de Pedro... a favor de mim". Que eram reputados colunas (9; "reputados", a mesma palavra outra vez; cf. Gl 2.2,6). Qualquer que tenha sido o sentido das palavras de nosso Senhor a Pedro, em Cesaréia de Filipe (Mt 16.18), elas não lhe deram qualquer pre-eminência ou liderança superior. Tiago e João compartilhavam com Pedro da responsabilidade e do privilégio de serem "colunas" da Igreja.

II. Paulo repreende a Pedro (Gl 2.11-14)

Paulo estava tão longe de ser inferior a Pedro que, em Antioquia, Pedro foi severamente repreendido pelo apóstolo aos gentios por motivo de comportamento incoerente. Não há menção desse incidente no livro de Atos. "A omissão é instrutiva, pois dá a impressão, deixada pela própria epístola, que a colisão foi um incidente transitório, sem qualquer efeito duradouro sobre a história da Igreja" (Expositor’s Greek Testament). No que tange à época em que ocorreu esse incidente, somos deixados no terreno das conjeturas. Provavelmente foi no tempo entre os acontecimentos dos versículos anteriores e o concílio referido em At 15; e os "alguns da parte de Tiago" (12) são idênticos com os "alguns indivíduos que desceram da Judéia" (At 15.1), os quais, pelo próprio Tiago, são descritos como "alguns de entre nós, sem nenhuma autorização" (At 15.24), cuja posição foi repudiada por Tiago.

Cefas (11), que aparece novamente no vers. 14. O "homem de pedra" negou tristemente o sentido de seu nome nessa ocasião. Se tonara repreensível (11); melhor, "aparecia condenado", isto é, por causa de sua conduta incoerente. Notar os tempos verbais imperfeitos no vers. 12, "começou a recusar e a manter-se afastado" (Moff.).

O próprio Barnabé (13), o de coração grande. Um importante argumento a favor da teoria sobre o sul da Galácia (ver Introdução) pode ser encontrado aqui. Barnabé esteve com Paulo somente durante a primeira viagem missionária do apóstolo.