Escriba — Estudos Bíblicos
Escriba
Secretário, ou copista das Escrituras; mais tarde, alguém instruído na Lei. A palavra hebraica sofér, que deriva duma raiz que significa “contar”, é traduzida “secretário”, “escriba”, “copista”; e a palavra grega grammateús é vertida por “escriba” e “instrutor público”. O termo subentende alguém que tem instrução. A tribo de Zebulão tinha alguns que possuíam “o equipamento de escrevente”, para contar e alistar tropas. (Jz 5:14; compare isso com 2Rs 25:19; 2Cr 26:11.) Havia escribas, ou secretários, relacionados com o templo. (2Rs 22:3) O secretário do Rei Jeoás cooperou com o sumo sacerdote em contar o dinheiro contribuído e depois entregou-o àqueles que pagavam os trabalhadores que consertavam o templo. (2Rs 12:10-12) Baruque escrevia o que o profeta Jeremias ditava. (Je 36:32) Secretários do Rei Assuero, da Pérsia, trabalharam sob a direção de Hamã em assentar por escrito o decreto de destruição dos judeus, e sob Mordecai, quando se emitiu o decreto contrário. — Est 3:12; 8:9.
O escriba egípcio costumava ser homem da classe inferior, mas inteligente. Era bem instruído. Levava consigo seu equipamento, que consistia numa paleta com cavidades para tintas de diferentes cores, um jarro de água e um estojo para pincéis de junco. Ele conhecia os formulários legais e comerciais em uso. Recebia remuneração por preencher tais formulários, transcrever ditados, e assim por diante.
Em Babilônia, o escriba ocupava uma posição profissional. Seus serviços eram praticamente indispensáveis, visto que a lei exigia que transações comerciais fossem assentadas por escrito, devidamente assinadas pelas partes envolvidas e atestadas por testemunhas. O secretário ficava sentado perto do portão da cidade, onde se realizava a maioria dos negócios, com o estilo e uma massa de argila, pronto para vender seus serviços a quem quisesse. Os escribas registravam transações comerciais, escreviam cartas, preparavam documentos, cuidavam dos registros dos templos e realizavam outros deveres secretariais.
Os escribas hebreus atuavam como notários, preparavam certificados de divórcio e registravam outras transações. Pelo menos em tempos posteriores, não tinham remuneração fixa, de modo que se podia combinar isso com eles de antemão. Usualmente era uma das partes da transação que pagava a remuneração, mas às vezes ambas participavam nisso. Ezequiel, na sua visão, observou um homem com tinteiro de escrevente fazer um trabalho de marcação. — Ez 9:3, 4.
Copistas das Escrituras: Foi nos dias de Esdras, o sacerdote, que os escribas (sohferím, “soferins”) começaram a ter destaque como grupo distinto. Eram copistas das Escrituras Hebraicas (AT), muito cuidadosos no seu trabalho, e que tinham horror a erros. Com o passar do tempo, tornaram-se extremamente meticulosos, chegando até a contar não só as palavras copiadas, mas também as letras. Até alguns séculos depois de Cristo estar na terra, o hebraico escrito consistia apenas em consoantes, e a omissão ou o acréscimo de uma única letra frequentemente transformaria uma palavra em outra. Quando descobriam o menor erro que fosse, o erro de escrita de uma única letra, toda aquela seção do rolo era rejeitada como imprópria para uso na sinagoga. Daí, esta seção era cortada e substituída por uma nova sem defeitos. Eles liam em voz alta cada palavra antes de escrevê-la. Escrever nem que fosse uma só palavra de memória era considerado um grave pecado. Introduziram-se absurdos de costumes. Diz-se que os escribas religiosos, com oração, limpavam a sua pena antes de escrever a palavra ’Elohím (Deus) ou ’Adhonaí (Soberano Senhor).
Mas, apesar deste extremo cuidado para evitar erros não intencionais, no decorrer do tempo, os soferins começaram a tomar liberdades, fazendo mudanças no texto. Em 134 passagens, os soferins mudaram o texto hebraico primitivo para rezar ’Adhonaí em vez de YHWH [JHVH; IHVH]. Em outras passagens usaram a palavra ’Elohím como substituto. Muitas das mudanças foram feitas pelos soferins por superstição relacionada com o nome divino e para evitar antropomorfismos, quer dizer, atribuir a Deus atributos humanos. Os massoretas, nome pelo qual os copistas vieram a ser conhecidos séculos depois dos dias de Jesus na terra, notaram as alterações feitas pelos anteriores soferins, registrando-as nas margens ou no fim do texto hebraico.
Estas notas marginais passaram a ser conhecidas como a Massorá. Em 15 passagens do texto hebraico, certas letras ou palavras foram marcadas pelos soferins com pontos extraordinários. O significado destes pontos extraordinários é controvertido.
Nos manuscritos hebraicos padrãos, a Massorá, quer dizer, a escrita miúda nas margens da página ou no fim do texto, traz ao lado de diversas passagens hebraicas uma nota que reza: “Esta é uma das dezoito emendas dos soferins”, ou palavras similares. Estas emendas foram evidentemente feitas porque as passagens originais do texto hebraico pareciam mostrar irreverência a Deus ou desrespeito para com os Seus representantes terrestres. Não importava quão bem intencionadas fossem, tratava-se duma alteração injustificada da Palavra de Deus.
Escribas Como Instrutores da Lei: No começo, os sacerdotes serviam como escribas. (Esd 7:1-6) Mas, dava-se muita ênfase na necessidade de todo judeu ter conhecimento da Lei. Portanto, aqueles que estudavam e obtinham muito conhecimento eram prestigiados, e esses eruditos, por fim, formaram um grupo independente, sendo que muitos deles não eram sacerdotes. No tempo em que Jesus veio à terra, a palavra “escriba”, portanto, designava uma classe de homens versados na Lei. Eles faziam do estudo sistemático da Lei e da explanação dela sua profissão.
Evidentemente, faziam parte dos instrutores da Lei, os versados na Lei. (Lu 5:17; 11:45) Associavam-se geralmente com a seita religiosa dos fariseus, porque este grupo reconhecia as interpretações ou “tradições” dos escribas, as quais com o tempo se haviam desenvolvido num espantoso emaranhado de regulamentos minuciosos e técnicos. A expressão ‘escribas dos fariseus’ aparece diversas vezes nas Escrituras. (Mr 2:16; Lu 5:30; At 23:9) Isto talvez indique que alguns escribas eram saduceus, os quais criam apenas na Lei escrita. Os escribas dos fariseus zelosamente defendiam a Lei, mas adicionalmente sustentavam as tradições que se haviam desenvolvido, e eles dominavam o pensamento do povo em grau ainda maior do que os sacerdotes. Primariamente, os escribas estavam em Jerusalém, mas podiam também ser encontrados em toda a Palestina e em outras terras, entre os judeus da Dispersão. — Mt 15:1; Mr 3:22; veja Lu 5:17.
Os escribas eram prestigiados pelo povo e eram chamados “Rabi” (gr.: rhabbeí, “Meu Grande; Meu Excelente”; do hebr.: rav, que significa “muito”, “grande”; título de respeito que se usava para dirigir-se a instrutores). Este termo é aplicado diversas vezes a Cristo nas Escrituras. Em João 1:38, é interpretado como significando “Instrutor”. Jesus, de fato, era o instrutor dos seus discípulos, mas proibiu-lhes, em Mateus 23:8, cobiçarem esta designação ou a aplicarem a si mesmos qual título, como faziam os escribas. (Mt 23:2, 6, 7) Os escribas dos judeus, junto com os fariseus, foram fortemente condenados por Jesus por terem feito acréscimos à Lei e provido subterfúgios com que se esquivar da Lei, de modo que lhes disse: “Invalidastes a palavra de Deus por causa da vossa tradição.” Citou um caso disso: Eles permitiam que alguém que deveria ajudar seu pai ou sua mãe evitasse isso — por alegar que os bens ou propriedades que tinha, com os quais poderia ajudar os pais, eram uma dádiva dedicada a Deus. — Mt 15:1-9; Mr 7:10-13.
Jesus declarou que os escribas, assim como os fariseus, haviam acrescentado muitas coisas, tornando a Lei penosa para o povo cumprir, sobrecarregando as pessoas. Além disso, como classe, eles não tinham genuíno amor às pessoas, nem desejavam ajudá-las, não estando dispostos nem mesmo a mover um dedo para aliviar as cargas sobre o povo. Gostavam das aclamações do povo e dos títulos altissonantes. Sua religião era uma fachada, um rito, e eles eram hipócritas. Jesus mostrou quão difícil sua atitude e suas práticas tinham tornado eles obterem o favor de Deus, dizendo-lhes: “Serpentes, descendência de víboras, como haveis de fugir do julgamento da Geena?” (Mt 23:1-33) Os escribas tinham grande responsabilidade, porque conheciam a Lei. Mas, tiravam a chave do conhecimento. Não se contentavam de negar-se a reconhecer Jesus, de quem as cópias das Escrituras que usavam davam testemunho, mas aumentavam sua condição repreensível por lutar implacavelmente para impedir que outros o reconhecessem, sim, que escutassem Jesus. — Lu 11:52; Mt 23:13; Jo 5:39; 1Te 2:14-16.
Os escribas, como “rabis”, no seu cargo, não somente eram responsáveis pelo desenvolvimento teorético da Lei e pelo ensino dela, mas tinham também autoridade jurídica, proferindo sentenças nos tribunais de justiça. Havia escribas na alta corte judaica, o Sinédrio. (Mt 26:57; Mr 15:1) Não deviam receber nenhuma remuneração pelos julgamentos, porque a Lei proibia presentes ou subornos. Alguns rabinos talvez tivessem herdado sua riqueza; quase todos tinham um ofício, do qual se orgulhavam, por serem capazes de se sustentar à parte do seu cargo rabínico. Embora não pudessem corretamente receber nada por trabalharem como juízes, eles talvez esperassem receber e recebessem remuneração por ensinar a Lei. Isto talvez possa ser inferido das palavras de Jesus, quando advertiu as multidões sobre a ganância dos escribas, também quando falou sobre o empregado que não se importava com as ovelhas. (Mr 12:37-40; Jo 10:12, 13) Pedro advertiu os pastores cristãos contra tirarem lucro do seu cargo. — 1Pe 5:2, 3.
Copistas das Escrituras Gregas Cristãs: Na carta do apóstolo Paulo aos colossenses, ele ordena que esta carta seja também lida na congregação dos laodicenses, em troca da enviada a Laodicéia. (Col 4:16) Sem dúvida, todas as congregações desejavam ler todas as cartas congregacionais dos apóstolos e de seus co-membros no Corpo Eclesiástico Cristão Governante, de modo que se faziam cópias para posterior consulta e para dar-lhes maior divulgação. As antigas coleções das cartas de Paulo (cópias dos originais) são evidência de que se faziam muitas cópias delas e de que eram muito divulgadas.
Jerônimo, tradutor da Bíblia, do quarto século, e Orígenes, do terceiro século EC, dizem que Mateus escreveu seu Evangelho em hebraico. Dirigia-se primariamente aos judeus. Mas, havia muitos judeus helenizados entre os da Dispersão; portanto, é possível que o próprio Mateus traduzisse mais tarde seu Evangelho para o grego. Marcos escreveu seu Evangelho visando primariamente leitores gentios, conforme indicam suas explicações de costumes e ensinos judaicos, sua tradução de certas expressões que não seriam entendidas por leitores romanos, e por outras explanações. Tanto o Evangelho de Mateus como o de Marcos destinavam-se a ter ampla circulação, e, necessariamente, seriam feitas e distribuídas muitas cópias.
Os copistas cristãos, frequentemente, não eram profissionais, mas por terem respeito e muito apreço pelo valor dos inspirados escritos cristãos, copiavam-nos com cuidado. Exemplo típico da obra destes primitivos copistas cristãos é o fragmento mais antigo existente de qualquer parte das Escrituras Gregas Cristãs, o Papiro Rylands N.° 457. Escrito em ambos os lados, consiste em apenas 100 caracteres gregos e tem sido datado como já da primeira metade do segundo século EC. Embora aparente certa informalidade e não tenha pretensões de ser escrita sofisticada, é uma obra cuidadosa. É interessante que este fragmento é dum códice que provavelmente continha todo o Evangelho de João, ou umas 66 folhas, ao todo cerca de 132 páginas.
Um testemunho mais extenso, mas de data posterior, é dado pelos papiros bíblicos Chester Beatty. Estes consistem em partes de 11 códices gregos, produzidos entre o segundo e o quarto século EC. Contêm partes de 9 livros bíblicos hebraicos e 15 cristãos. São bastante representativos por se encontrar neles uma variedade de estilos de escrita. Diz-se de um códice que ele é “a obra de um bom escriba profissional”. De outro se diz: “A escrita é bem correta, e embora não tenha pretensões caligráficas, é a obra de um escriba competente.” E de mais outro: “A mão é rude, mas em geral correta.” — The Chester Beatty Biblical Papyri: Descriptions and Texts of Twelve Manuscripts on Papyrus of the Greek Bible, de Frederic Kenyon, Londres, 1933, Fascículo I, Introdução Geral, p. 14; 1933, Fascículo II, Os Evangelhos e Atos, Texto, p. ix; 1936, Fascículo III, Revelação, Prefácio.
Mais importante do que estas características, porém, é sua matéria. De modo geral, corroboram aqueles manuscritos de velino, do quarto século, chamados de “Neutros”, que são altamente conceituados pelos eruditos textuais Westcott e Hort; entre estes se encontram o Vaticano N.° 1209 e o Sinaítico. Além disso, eles não contêm nenhuma das notáveis interpolações encontradas em certos manuscritos de velino classificados, talvez erroneamente, de “Ocidentais”.
Existem hoje milhares de manuscritos que datam especialmente do quarto século EC em diante. Que os copistas usavam de extremo cuidado pode ser visto pelos peritos que examinaram e compararam detidamente esses manuscritos. Alguns desses peritos fizeram recensões ou cotejos baseados nessas comparações. Essas recensões constituem os textos básicos para nossas traduções modernas. Os peritos Westcott e Hort declararam que “a quantidade daquilo que, em algum sentido, possa ser chamado de variação substancial é apenas uma pequena fração de toda a variação residuária, e dificilmente pode constituir mais do que uma milésima parte do texto inteiro”. (New Testament in the Original Greek, Graz, 1974, Vol. II, p. 2) Sir Frederic Kenyon declarou a respeito dos papiros Chester Beatty: “A primeira e mais importante conclusão a que se chega do exame deles é a satisfatória, no sentido de que eles confirmam a essencial correção dos textos existentes. Não se revela nenhuma variação notável ou fundamental quer no Velho quer no Novo Testamento. Não existem importantes omissões ou acréscimos de passagens, e nem variações que afetem fatos ou doutrinas vitais. As variações do texto afetam assuntos menores, tais como a ordem de palavras ou as palavras exatas usadas.” — Fascículo I, Introdução Geral, p. 15.
Por diversas razões, resta pouco da obra dos mais antigos copistas. Muitas das suas cópias das Escrituras foram destruídas durante o tempo em que Roma perseguia os cristãos. O desgaste pelo uso também foi responsável por isso. Igualmente, o clima quente e úmido de algumas regiões causou a rápida deterioração. Além disso, ao passo que os escribas profissionais do quarto século EC substituíam manuscritos de papiro por cópias de velino, não parecia haver necessidade de preservar as antigas cópias de papiro.
A tinta usada pelos copistas para a escrita era uma mistura de fuligem e goma, feita na forma duma massa e misturada com água para seu uso. A pena consistia num junco. A ponta, quando amolecida com água, parecia um pincel. Escrevia-se em couro e papiro, em forma de rolos; mais tarde, em forma de códice, em folhas, as quais, quando encadernadas, frequentemente tinham capa de madeira.
Secretário, ou copista das Escrituras; mais tarde, alguém instruído na Lei. A palavra hebraica sofér, que deriva duma raiz que significa “contar”, é traduzida “secretário”, “escriba”, “copista”; e a palavra grega grammateús é vertida por “escriba” e “instrutor público”. O termo subentende alguém que tem instrução. A tribo de Zebulão tinha alguns que possuíam “o equipamento de escrevente”, para contar e alistar tropas. (Jz 5:14; compare isso com 2Rs 25:19; 2Cr 26:11.) Havia escribas, ou secretários, relacionados com o templo. (2Rs 22:3) O secretário do Rei Jeoás cooperou com o sumo sacerdote em contar o dinheiro contribuído e depois entregou-o àqueles que pagavam os trabalhadores que consertavam o templo. (2Rs 12:10-12) Baruque escrevia o que o profeta Jeremias ditava. (Je 36:32) Secretários do Rei Assuero, da Pérsia, trabalharam sob a direção de Hamã em assentar por escrito o decreto de destruição dos judeus, e sob Mordecai, quando se emitiu o decreto contrário. — Est 3:12; 8:9.
O escriba egípcio costumava ser homem da classe inferior, mas inteligente. Era bem instruído. Levava consigo seu equipamento, que consistia numa paleta com cavidades para tintas de diferentes cores, um jarro de água e um estojo para pincéis de junco. Ele conhecia os formulários legais e comerciais em uso. Recebia remuneração por preencher tais formulários, transcrever ditados, e assim por diante.
Em Babilônia, o escriba ocupava uma posição profissional. Seus serviços eram praticamente indispensáveis, visto que a lei exigia que transações comerciais fossem assentadas por escrito, devidamente assinadas pelas partes envolvidas e atestadas por testemunhas. O secretário ficava sentado perto do portão da cidade, onde se realizava a maioria dos negócios, com o estilo e uma massa de argila, pronto para vender seus serviços a quem quisesse. Os escribas registravam transações comerciais, escreviam cartas, preparavam documentos, cuidavam dos registros dos templos e realizavam outros deveres secretariais.
Os escribas hebreus atuavam como notários, preparavam certificados de divórcio e registravam outras transações. Pelo menos em tempos posteriores, não tinham remuneração fixa, de modo que se podia combinar isso com eles de antemão. Usualmente era uma das partes da transação que pagava a remuneração, mas às vezes ambas participavam nisso. Ezequiel, na sua visão, observou um homem com tinteiro de escrevente fazer um trabalho de marcação. — Ez 9:3, 4.
Copistas das Escrituras: Foi nos dias de Esdras, o sacerdote, que os escribas (sohferím, “soferins”) começaram a ter destaque como grupo distinto. Eram copistas das Escrituras Hebraicas (AT), muito cuidadosos no seu trabalho, e que tinham horror a erros. Com o passar do tempo, tornaram-se extremamente meticulosos, chegando até a contar não só as palavras copiadas, mas também as letras. Até alguns séculos depois de Cristo estar na terra, o hebraico escrito consistia apenas em consoantes, e a omissão ou o acréscimo de uma única letra frequentemente transformaria uma palavra em outra. Quando descobriam o menor erro que fosse, o erro de escrita de uma única letra, toda aquela seção do rolo era rejeitada como imprópria para uso na sinagoga. Daí, esta seção era cortada e substituída por uma nova sem defeitos. Eles liam em voz alta cada palavra antes de escrevê-la. Escrever nem que fosse uma só palavra de memória era considerado um grave pecado. Introduziram-se absurdos de costumes. Diz-se que os escribas religiosos, com oração, limpavam a sua pena antes de escrever a palavra ’Elohím (Deus) ou ’Adhonaí (Soberano Senhor).
Mas, apesar deste extremo cuidado para evitar erros não intencionais, no decorrer do tempo, os soferins começaram a tomar liberdades, fazendo mudanças no texto. Em 134 passagens, os soferins mudaram o texto hebraico primitivo para rezar ’Adhonaí em vez de YHWH [JHVH; IHVH]. Em outras passagens usaram a palavra ’Elohím como substituto. Muitas das mudanças foram feitas pelos soferins por superstição relacionada com o nome divino e para evitar antropomorfismos, quer dizer, atribuir a Deus atributos humanos. Os massoretas, nome pelo qual os copistas vieram a ser conhecidos séculos depois dos dias de Jesus na terra, notaram as alterações feitas pelos anteriores soferins, registrando-as nas margens ou no fim do texto hebraico.
Estas notas marginais passaram a ser conhecidas como a Massorá. Em 15 passagens do texto hebraico, certas letras ou palavras foram marcadas pelos soferins com pontos extraordinários. O significado destes pontos extraordinários é controvertido.
Nos manuscritos hebraicos padrãos, a Massorá, quer dizer, a escrita miúda nas margens da página ou no fim do texto, traz ao lado de diversas passagens hebraicas uma nota que reza: “Esta é uma das dezoito emendas dos soferins”, ou palavras similares. Estas emendas foram evidentemente feitas porque as passagens originais do texto hebraico pareciam mostrar irreverência a Deus ou desrespeito para com os Seus representantes terrestres. Não importava quão bem intencionadas fossem, tratava-se duma alteração injustificada da Palavra de Deus.
Escribas Como Instrutores da Lei: No começo, os sacerdotes serviam como escribas. (Esd 7:1-6) Mas, dava-se muita ênfase na necessidade de todo judeu ter conhecimento da Lei. Portanto, aqueles que estudavam e obtinham muito conhecimento eram prestigiados, e esses eruditos, por fim, formaram um grupo independente, sendo que muitos deles não eram sacerdotes. No tempo em que Jesus veio à terra, a palavra “escriba”, portanto, designava uma classe de homens versados na Lei. Eles faziam do estudo sistemático da Lei e da explanação dela sua profissão.
Evidentemente, faziam parte dos instrutores da Lei, os versados na Lei. (Lu 5:17; 11:45) Associavam-se geralmente com a seita religiosa dos fariseus, porque este grupo reconhecia as interpretações ou “tradições” dos escribas, as quais com o tempo se haviam desenvolvido num espantoso emaranhado de regulamentos minuciosos e técnicos. A expressão ‘escribas dos fariseus’ aparece diversas vezes nas Escrituras. (Mr 2:16; Lu 5:30; At 23:9) Isto talvez indique que alguns escribas eram saduceus, os quais criam apenas na Lei escrita. Os escribas dos fariseus zelosamente defendiam a Lei, mas adicionalmente sustentavam as tradições que se haviam desenvolvido, e eles dominavam o pensamento do povo em grau ainda maior do que os sacerdotes. Primariamente, os escribas estavam em Jerusalém, mas podiam também ser encontrados em toda a Palestina e em outras terras, entre os judeus da Dispersão. — Mt 15:1; Mr 3:22; veja Lu 5:17.
Os escribas eram prestigiados pelo povo e eram chamados “Rabi” (gr.: rhabbeí, “Meu Grande; Meu Excelente”; do hebr.: rav, que significa “muito”, “grande”; título de respeito que se usava para dirigir-se a instrutores). Este termo é aplicado diversas vezes a Cristo nas Escrituras. Em João 1:38, é interpretado como significando “Instrutor”. Jesus, de fato, era o instrutor dos seus discípulos, mas proibiu-lhes, em Mateus 23:8, cobiçarem esta designação ou a aplicarem a si mesmos qual título, como faziam os escribas. (Mt 23:2, 6, 7) Os escribas dos judeus, junto com os fariseus, foram fortemente condenados por Jesus por terem feito acréscimos à Lei e provido subterfúgios com que se esquivar da Lei, de modo que lhes disse: “Invalidastes a palavra de Deus por causa da vossa tradição.” Citou um caso disso: Eles permitiam que alguém que deveria ajudar seu pai ou sua mãe evitasse isso — por alegar que os bens ou propriedades que tinha, com os quais poderia ajudar os pais, eram uma dádiva dedicada a Deus. — Mt 15:1-9; Mr 7:10-13.
Jesus declarou que os escribas, assim como os fariseus, haviam acrescentado muitas coisas, tornando a Lei penosa para o povo cumprir, sobrecarregando as pessoas. Além disso, como classe, eles não tinham genuíno amor às pessoas, nem desejavam ajudá-las, não estando dispostos nem mesmo a mover um dedo para aliviar as cargas sobre o povo. Gostavam das aclamações do povo e dos títulos altissonantes. Sua religião era uma fachada, um rito, e eles eram hipócritas. Jesus mostrou quão difícil sua atitude e suas práticas tinham tornado eles obterem o favor de Deus, dizendo-lhes: “Serpentes, descendência de víboras, como haveis de fugir do julgamento da Geena?” (Mt 23:1-33) Os escribas tinham grande responsabilidade, porque conheciam a Lei. Mas, tiravam a chave do conhecimento. Não se contentavam de negar-se a reconhecer Jesus, de quem as cópias das Escrituras que usavam davam testemunho, mas aumentavam sua condição repreensível por lutar implacavelmente para impedir que outros o reconhecessem, sim, que escutassem Jesus. — Lu 11:52; Mt 23:13; Jo 5:39; 1Te 2:14-16.
Os escribas, como “rabis”, no seu cargo, não somente eram responsáveis pelo desenvolvimento teorético da Lei e pelo ensino dela, mas tinham também autoridade jurídica, proferindo sentenças nos tribunais de justiça. Havia escribas na alta corte judaica, o Sinédrio. (Mt 26:57; Mr 15:1) Não deviam receber nenhuma remuneração pelos julgamentos, porque a Lei proibia presentes ou subornos. Alguns rabinos talvez tivessem herdado sua riqueza; quase todos tinham um ofício, do qual se orgulhavam, por serem capazes de se sustentar à parte do seu cargo rabínico. Embora não pudessem corretamente receber nada por trabalharem como juízes, eles talvez esperassem receber e recebessem remuneração por ensinar a Lei. Isto talvez possa ser inferido das palavras de Jesus, quando advertiu as multidões sobre a ganância dos escribas, também quando falou sobre o empregado que não se importava com as ovelhas. (Mr 12:37-40; Jo 10:12, 13) Pedro advertiu os pastores cristãos contra tirarem lucro do seu cargo. — 1Pe 5:2, 3.
Copistas das Escrituras Gregas Cristãs: Na carta do apóstolo Paulo aos colossenses, ele ordena que esta carta seja também lida na congregação dos laodicenses, em troca da enviada a Laodicéia. (Col 4:16) Sem dúvida, todas as congregações desejavam ler todas as cartas congregacionais dos apóstolos e de seus co-membros no Corpo Eclesiástico Cristão Governante, de modo que se faziam cópias para posterior consulta e para dar-lhes maior divulgação. As antigas coleções das cartas de Paulo (cópias dos originais) são evidência de que se faziam muitas cópias delas e de que eram muito divulgadas.
Jerônimo, tradutor da Bíblia, do quarto século, e Orígenes, do terceiro século EC, dizem que Mateus escreveu seu Evangelho em hebraico. Dirigia-se primariamente aos judeus. Mas, havia muitos judeus helenizados entre os da Dispersão; portanto, é possível que o próprio Mateus traduzisse mais tarde seu Evangelho para o grego. Marcos escreveu seu Evangelho visando primariamente leitores gentios, conforme indicam suas explicações de costumes e ensinos judaicos, sua tradução de certas expressões que não seriam entendidas por leitores romanos, e por outras explanações. Tanto o Evangelho de Mateus como o de Marcos destinavam-se a ter ampla circulação, e, necessariamente, seriam feitas e distribuídas muitas cópias.
Os copistas cristãos, frequentemente, não eram profissionais, mas por terem respeito e muito apreço pelo valor dos inspirados escritos cristãos, copiavam-nos com cuidado. Exemplo típico da obra destes primitivos copistas cristãos é o fragmento mais antigo existente de qualquer parte das Escrituras Gregas Cristãs, o Papiro Rylands N.° 457. Escrito em ambos os lados, consiste em apenas 100 caracteres gregos e tem sido datado como já da primeira metade do segundo século EC. Embora aparente certa informalidade e não tenha pretensões de ser escrita sofisticada, é uma obra cuidadosa. É interessante que este fragmento é dum códice que provavelmente continha todo o Evangelho de João, ou umas 66 folhas, ao todo cerca de 132 páginas.
Um testemunho mais extenso, mas de data posterior, é dado pelos papiros bíblicos Chester Beatty. Estes consistem em partes de 11 códices gregos, produzidos entre o segundo e o quarto século EC. Contêm partes de 9 livros bíblicos hebraicos e 15 cristãos. São bastante representativos por se encontrar neles uma variedade de estilos de escrita. Diz-se de um códice que ele é “a obra de um bom escriba profissional”. De outro se diz: “A escrita é bem correta, e embora não tenha pretensões caligráficas, é a obra de um escriba competente.” E de mais outro: “A mão é rude, mas em geral correta.” — The Chester Beatty Biblical Papyri: Descriptions and Texts of Twelve Manuscripts on Papyrus of the Greek Bible, de Frederic Kenyon, Londres, 1933, Fascículo I, Introdução Geral, p. 14; 1933, Fascículo II, Os Evangelhos e Atos, Texto, p. ix; 1936, Fascículo III, Revelação, Prefácio.
Mais importante do que estas características, porém, é sua matéria. De modo geral, corroboram aqueles manuscritos de velino, do quarto século, chamados de “Neutros”, que são altamente conceituados pelos eruditos textuais Westcott e Hort; entre estes se encontram o Vaticano N.° 1209 e o Sinaítico. Além disso, eles não contêm nenhuma das notáveis interpolações encontradas em certos manuscritos de velino classificados, talvez erroneamente, de “Ocidentais”.
Existem hoje milhares de manuscritos que datam especialmente do quarto século EC em diante. Que os copistas usavam de extremo cuidado pode ser visto pelos peritos que examinaram e compararam detidamente esses manuscritos. Alguns desses peritos fizeram recensões ou cotejos baseados nessas comparações. Essas recensões constituem os textos básicos para nossas traduções modernas. Os peritos Westcott e Hort declararam que “a quantidade daquilo que, em algum sentido, possa ser chamado de variação substancial é apenas uma pequena fração de toda a variação residuária, e dificilmente pode constituir mais do que uma milésima parte do texto inteiro”. (New Testament in the Original Greek, Graz, 1974, Vol. II, p. 2) Sir Frederic Kenyon declarou a respeito dos papiros Chester Beatty: “A primeira e mais importante conclusão a que se chega do exame deles é a satisfatória, no sentido de que eles confirmam a essencial correção dos textos existentes. Não se revela nenhuma variação notável ou fundamental quer no Velho quer no Novo Testamento. Não existem importantes omissões ou acréscimos de passagens, e nem variações que afetem fatos ou doutrinas vitais. As variações do texto afetam assuntos menores, tais como a ordem de palavras ou as palavras exatas usadas.” — Fascículo I, Introdução Geral, p. 15.
Por diversas razões, resta pouco da obra dos mais antigos copistas. Muitas das suas cópias das Escrituras foram destruídas durante o tempo em que Roma perseguia os cristãos. O desgaste pelo uso também foi responsável por isso. Igualmente, o clima quente e úmido de algumas regiões causou a rápida deterioração. Além disso, ao passo que os escribas profissionais do quarto século EC substituíam manuscritos de papiro por cópias de velino, não parecia haver necessidade de preservar as antigas cópias de papiro.
A tinta usada pelos copistas para a escrita era uma mistura de fuligem e goma, feita na forma duma massa e misturada com água para seu uso. A pena consistia num junco. A ponta, quando amolecida com água, parecia um pincel. Escrevia-se em couro e papiro, em forma de rolos; mais tarde, em forma de códice, em folhas, as quais, quando encadernadas, frequentemente tinham capa de madeira.