Exposição da Carta aos Efésios 3:14-21
5. A SEGUNDA ORAÇÃO DE PAULO — 3.14-21
3:14 τουτου χαριν καμπτω τα γονατα μου προς τον πατερα του κυριου ημων ιησου χριστου 3:15 εξ ου πασα πατρια εν ουρανοις και επι γης ονομαζεται 3:16 ινα δωη υμιν κατα τον πλουτον της δοξης αυτου δυναμει κραταιωθηναι δια του πνευματος αυτου εις τον εσω ανθρωπον 3:17 κατοικησαι τον χριστον δια της πιστεως εν ταις καρδιαις υμων 3:18 εν αγαπη ερριζωμενοι και τεθεμελιωμενοι ινα εξισχυσητε καταλαβεσθαι συν πασιν τοις αγιοις τι το πλατος και μηκος και βαθος και υψος 3:19 γνωναι τε την υπερβαλλουσαν της γνωσεως αγαπην του χριστου ινα πληρωθητε εις παν το πληρωμα του θεου 3:20 τω δε δυναμενω υπερ παντα ποιησαι υπερ εκ περισσου ων αιτουμεθα η νοουμεν κατα την δυναμιν την ενεργουμενην εν ημιν 3:21 αυτω η δοξα εν τη εκκλησια εν χριστω ιησου εις πασας τας γενεας του αιωνος των αιωνων αμην
Temos aqui uma expressão repetida pelo apóstolo, que lembra a razão de sua oração. No início do capítulo 3, ele usa as mesmas palavras; mais uma vez enfatiza e renova a expressão para tornar vivo o fato que o levou a orar outra vez. Nessa segunda oração, Paulo dá a impressão de ter descoberto (preso em algemas) a força moral e espiritual para estar na presença de Deus em oração e meditação. A grandeza do amor de Cristo, a consolação do Espírito Santo, fortalecendo-o e revelando-lhe “mistérios espirituais” guardados na eternidade, e só revelados agora, eram, para o apóstolo dos gentios, a vitória maior. Seus sofrimentos físicos se tornam, a partir de então, uma fonte de bênçãos para si próprio e para a igreja em Éfeso.
A posição de orar com os “joelhos dobrados” não implica regra. Não há uma postura determinada na Bíblia para orar, mas dentre as várias posições, o dobrar os joelhos tem o sentido de reverência a Deus. Entretanto, a posição do corpo não nos é essencial à oração, mas sim a postura do nosso espírito, pois é mais importante a postura interior. Por outro lado, não devemos vulgarizar posturas para a oração nem anular a importância de uma postura exterior, que pode representar nossa Própria atitude interior.
H. A. Alexander escreveu em A Epístola aos Efésios, páginas. 77 e 78: “Em sua cela de prisioneiro, apesar dos tornozelos acorrentados, Paulo se ajoelha; mas não se trata apenas de uma atitude física: todo o seu ser se dobra, curva-se com o ardente desejo de que aquilo que lhe foi revelado nos seja comunicado e se torne experiência nossa. Verga-se sob o fardo espiritual, que depõe diante do Trono da Graça”.
A designação “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” é peculiar no Novo Testamento e expressa a relação existente entre Deus Pai e os crentes em Cristo Jesus. As palavras “Pai” e “família” estão intimamente ligadas e se destacam nos versículos 14 e 15. Nesse texto, a palavra “Pai”, relativa a Deus, é mais que uma simples metáfora; alcança um sentido mais amplo. Alguns teólogos apresentam-na com o sentido daquele que é o originador de todas as coisas. Todo começo parte dEle, e Ele é antes de todos os começos.
No verso 14, a palavra “Pai” especifica o tipo de paternidade divina. Em primeiro lugar, Ele é “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”, o que indica, numa linguagem tipicamente humana, a revelação do amor de Deus na pessoa de Jesus Cristo, seu Filho. Essa filiação divina, manifestada em carne, possibilitou uma nova filiação, formando uma nova família para com Deus, pelos méritos de Cristo (Jo 1.12-14).
A palavra “família”, como está no verso 15, aparece no texto assim: “do qual toda a família”. No original grego, as palavras “pai” e “família” correspondem apater (pai) e pátria (família ou paternidade). A tradução mais fiel de pátria é paternidade, mas algumas traduções atualizadas preferem a palavra família. Parte da frase diz: “toda a família”, mas a idéia correta distingue cada família (“toda família”). A continuação da frase apresenta: “... família nos céus e na terra”, e indica dois tipos de famílias ou paternidades filiadas a Deus Pai — a família nos céus e a família na terra.
Duas interpretações são possíveis. A primeira prefere traduzir a expressão “toda a família”, com a idéia de que o conceito de família ou paternidade vem de Deus e não se restringe a um tipo de família ou paternidade. Então, pode haver a família dos astros luminosos nos céus, e a família de todas as coisas criadas por Deus nos céus e na terra. A segunda interpretação, gramaticalmente, é mais correta, porque traduz “toda família” dentro do contexto geral da Bíblia.
Note-se, também, a distinção “nos céus” e “na terra”, que pode ser interpretada de duas maneiras. Primeira, “toda a família nos céus” reúne todos os redimidos que já morreram; e “toda a família na terra” reúne todos os redimidos em Cristo que formam a igreja na face da Terra. Segunda, “toda a família nos céus” reúne os seres celestiais (anjos) que servem a Deus todo o tempo nos céus; e “toda a família na terra” reúne todos os salvos que formam a Igreja de Cristo.
Na tradução de Figueiredo, o verso 15 aparece assim: “Do qual toda a paternidade toma o nome nos céus e na terra”. A colocação da frase nessa tradução sugere outra idéia: a palavra “paternidade” no lugar de “família” indica autoridade, ou aquele que exerce autoridade sobre outros. Entretanto, entendemos que toda autoridade (paternidade) exercida na terra é recebida do Pai Celestial, emerge dEle e não de nós. Ele é antes de nós! Da paternidade perfeita e plena flui a fonte de toda a autoridade nos céus e na terra (Ef 1.17). A força que Paulo dá à paternidade de Deus fortalece sua oração.
No início do verso 16, a expressão “riquezas da glória” revela a fonte e indica o depósito de tesouros espirituais, os quais ele chama de “riquezas de glória”, e pede ao Pai Celestial que essas riquezas sejam dadas aos efésios. Quais são as riquezas desse tesouro espiritual? Paulo pediu tanto quanto tinha conhecimento em sua revelação. Ele não foi mesquinho na petição, mas sua fé alcançava uma visão maior: pediu o melhor, pediu as “riquezas da sua glória”.
Que significa “corroborar com poder”? A palavra “corroborar” significa dar mais força ao que se afirmou; implica em comprovar. No aspecto espiritual, essa palavra tem um sentido mais profundo. A petição é “para que sejais corroborados no homem interior”. E vestir o homem interior com uma vestidura de poder e força espiritual. O espírito do homem, por si só, não tem poder de vencer os ataques malignos (Ef 6.10-12), mas transformado e corroborado (vestido) com o poder do Espírito Santo, ele pode vencer todo o mal.
Esse “poder do Espírito” significa força e energia para lutar contra os ataques satânicos e para servir melhor ao Senhor. Isso é o fortalecimento espiritual do “homem interior”, da nova natureza recebida através do novo nascimento (2 Co 5.17). O poder da carne só poderá ser detido pelo poder do Espírito (Gl 5.16,17). O homem natural não tem poder para combater o pecado, porque o pecado reside no seu interior. Somente pela sua transformação através da obra regeneradora do Espírito Santo é que ele se torna “homem espiritual”. O espírito interior do homem se torna acessível ao Espírito Santo e recebe dEle o fortalecimento espiritual necessário (Rm 7.14,15; 1 Co 2.14,15; Gl 5.17,26).
A oração do apóstolo mostra a maneira como Deus pode operar no crente, isto é, no seu interior. Os discípulos viveram fisicamente com Jesus e aprenderam a amá-lo. Comiam, dormiam, bebiam e andavam com Ele por todas as partes da terra santa, sentindo a sua presença física. Entretanto, quando Jesus morreu, e no espaço entre a sua morte e a ressurreição, sentiram muito a ausência física dEle. Depois de ressurreto, Jesus apareceu-lhes algumas vezes e confirmou a promessa de estar sempre com eles, não mais fisicamente, mas invisível, no interior deles. Os discípulos tiveram dificuldades em entender essa distinção. Jesus cumpriu essa promessa quando enviou o Espírito Santo, que passou a habitar em seus corações, tornando bem real a sua presença espiritual dentro deles.
No original grego, a palavra “habite” dá a idéia de alguém que entra para tomar conta da casa, o nosso coração. Ele deve ser o Senhor da casa e Ele a arruma como quer, porque sabe o que é melhor para essa casa.
Como Cristo poderá vir a habitar em nossos corações? O verso 17 diz que é “pela fé”, não pelos sentimentos, por admiração ou por outro meio qualquer. A fé é o caminho, a via de acesso, a porta para o Senhor entrar e fazer morada. O significado dessa morada de Cristo dentro do crente é a união mística entre Cristo e o crente em particular. Ele é convidado a habitar, no sentido de tomar posse, de dirigir nossas vidas. Não é estar perto ou ao lado, mas dentro de nós. Não é habitar temporariamente, como alguém que aluga um quarto da casa e desconhece o restante, mas é habitar no sentido pleno. E tomar posse da casa e dirigi-la como bem lhe convier (Rm 8.9,10).
A palavra “coração” aparece com dois sentidos na Bíblia. Primeiro, como os sentimentos à parte do entendimento. Segundo, como toda a alma, incluindo o intelecto e os sentimentos. Neste último sentido, a Bíblia fala de “coração entendido” (1 Rs 3.9,12; Pv 8.5), e também como “pensamentos, planos e conselhos do coração” (Jz 5.15; Pv 19.21; 20.5). A palavra “coração” tem significado figurativo na Bíblia e deve ser entendida assim. O coração é tratado como o centro da vida espiritual do crente. Caráter, personalidade, mente e vontade são termos modernos que refletem uma pessoa, e na Bíblia estes termos são conhecidos como “coração”.
As palavras “arraigados” e “fundados” sugerem duas ilustrações. Elas ilustram uma árvore e um edifício. O termo “arraigados” pode figurar como a Plantação de uma árvore; é a representação que melhor ilustra a Igreja e foi usada por Jesus — a videira (Jo 15.5). Já a palavra “fundados” tem a ver com fundamento e sugere a figura de um edifício, a Igreja (Ef 2.20,21; Cl 1.23; 2.7). Conforme o texto nos dá a entender, nossas raízes e fundamentos são firmados no amor. O amor é a base do crescimento e do fortalecimento de nossas raízes em Cristo; a firmeza e a solidez do fundamento de nossa fé estão no amor de Cristo. Tanto uma árvore bem arraigada quanto o nosso fundamento, feito unicamente sobre a Palavra de Deus, indicam que a vida cristã não deve ser superficial nem basear-se em fundamentos rotos (Mt 7.24-27).
Essa expressão dá continuidade ao versículo 17 e passa a idéia de que jamais alguém poderá entender a grandeza do amor de Cristo sem estar “arraigado e fundado” nesse amor divino. Outra versão aclara um pouco mais o sentido exato da expressão: “para que sejais plenamente capazes de compreender”. Essa capacitação é recebida do Espírito Santo; não por méritos pessoais, mas por graça e misericórdia do Senhor.
Além disso, essa capacitação não é concedida de qualquer maneira nem a privilegiados especiais entre os santos, mas a todos os salvos em Cristo. O texto indica a participação individual “com todos os santos”.
O conhecimento dessas dimensões é dado a “todos os santos”. Não é dado apenas aos que morreram em Cristo e gozam desse amor no além, mas a todos os santos que atuam na vida cristã, os crentes em Cristo Jesus. O texto refere-se “a todos os santos” e não a elementos isoladamente. Envolve todo o corpo de Cristo na terra, a sua Igreja. O crescimento espiritual da Igreja acontece com todos os crentes que se esforçam em aprender e a buscar esse conhecimento. A palavra “poderdes” implica no esforço para conhecer esse amor. Não se trata de esforço intelectual, mas espiritual.
Como penetrar nas dimensões do amor de Cristo? A palavra “compreender” não tem significado absoluto porque essas dimensões são infinitas. Penetrar nessa dimensão é como empreender uma viagem no espaço sem fim, viajar por toda a eternidade e nunca encontrar o seu limite. A Igreja está nessa viagem, e um dia aquilo que é em parte será completo (1 Co 13.10).
Assim como o mundo contém toda a humanidade e os demais seres vivos, tal qual é o amor de Cristo. Sua amplitude abrange a todas as criaturas da Terra.
O comprimento e a largura do amor de Cristo não se limitam no tempo e no espaço. Nem tiveram seu início no Calvário, mas compreendem todas as eras, todas as idades, como diz o versículo 21: “todas as gerações, para todo o sempre”.
A “altura” do amor de Cristo pode ser entendida em dois sentidos. Primeiro, esse amor de tão alto está fora do alcance do inimigo, que procura privar o crente do seu gozo inefável. Segundo, esse amor tem direção vertical em sua relação com o crente. Assim como Jacó viu em seu sonho “uma escada... posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela” (Gn 28.12), assim também a altura do amor de Cristo pode indicar, não a distância que esse amor se encontra de nós, mas a sua canalização do Alto para os nossos corações (Jo 1.51; 14.19,20).
Esse amor é ilimitável e insondável, como o é a sabedoria de Deus. O amor de Cristo não tem fim. Nunca poderá terminar. E fonte que nunca seca. Nenhuma criatura poderá penetrar a profundidade da sabedoria divina, expressa em amor (Rm 11.33).
Não é um amor impossível ou incognoscível. E um amor possível através da experiência obtida no desejo (esforço) de conhecê-lo. É claro que não é um tipo de amor que possa ser discernido por conceitos meramente humanos ou filosóficos, porque o amor de Cristo é divino e incomparável. Somente aqueles que são nascidos de novo (2 Co 5.17) podem provar e experimentar esse amor. Entretanto, esse fato não significa que possam explicá-lo — ele continua a ser um amor que “excede a todo o entendimento”.
No Antigo Testamento, a palavra “plenitude” não aparecia com tanta ênfase e frequência como no Novo Testamento. Essa plenitude diz respeito ao crente individualmente e à Igreja como corpo de Cristo. Os crentes em Cristo são a plenitude do seu corpo místico na face da Terra (1 Co 12.12,27; Ef 4.10).
Conhecer o amor de Cristo significa conhecer a medida de perfeição que Deus tem colocado diante de nós em Cristo Jesus. Convém notar que essa plenitude é progressiva no sentido de que, assim como Cristo é, nós seremos, à medida que conhecermos o seu amor (Rm 8.29; Ef 4.13).
O ideal divino para o alcance dessa plenitude está em que o homem remido pelo sangue de Cristo chegue à estatura perfeita de Cristo através do conhecimento do seu grande amor (Ef 4.13).
Paulo, ao final de sua segunda oração, faz uma doxologia ao Deus Todo-Poderoso, que ouve e responde às orações. A oração do apóstolo parece ter alcançado um grau tão alto e sublime que nada poderia impedir a sua resposta.
Para Paulo, Deus responde não somente ao que nós pedimos, mas Ele pode fazer muito mais do que pedimos ou pensamos (v. 20). A total confiança no ilimitável amor divino move o coração de Deus, e a resposta divina chega com bênçãos excedentes, isto é, sempre acima do que pedimos ou pensamos. Para que isso aconteça, é necessário que nossos desejos, aspirações e vontades sejam canalizadas para o centro da vontade de Deus, e Ele, como lhe convier, responderá às nossas petições.
Ele é poderoso não só para fazer tudo o que pedimos ou pensamos, mas para fazer tudo além do que pedimos ou pensamos, para fazer tudo muito mais abundantemente além do que pedimos ou pensamos.
O final do verso 20 mostra ainda como recebemos a resposta de nossas petições, conforme as palavras ali indicam: “segundo o poder que em nós opera”. Que poder é esse? Não é poder intelectual ou físico, nem poder moral. É o poder do Espírito Santo que opera a partir da obra de regeneração. É o poder que nos coloca acima dos poderes de Satanás, do mundo e do pecado. É o poder para testemunhar de Cristo (At 1.8). E o poder que nos torna capazes de alcançar a plenitude de Deus.
No verso 21 está escrito: “... a esse glória na igreja, por Jesus Cristo”. Numa outra versão do original, o texto fica assim: “... a ele seja a glória na igreja”. Que glória? A glória de Cristo refletida na sua Igreja. Em todas as gerações, essa glória sempre lhe pertencerá, e na atual dispensação Ele é o motivo da manifestação da graça de Deus.
As expressões “para todo o sempre” (v. 21) ou, em outra versão, “por todos os séculos” equivalem a dizer que todos os séculos formam a eternidade. A glória de Cristo na Igreja brilhará por toda a eternidade.
A glória de Cristo na igreja refere-se, também, ao testemunho da Igreja a respeito de Cristo, bem como o caráter genuíno do Cristianismo mantido contra todas as intempéries dos séculos. A Igreja é sempre uma instituição divina, e nunca uma instituição meramente humana. A glória de Cristo reflete-se na Igreja, isto é, nos crentes que vivem com inteireza os seus ensinos. Nada deve empanar essa glória.
3:14 τουτου χαριν καμπτω τα γονατα μου προς τον πατερα του κυριου ημων ιησου χριστου 3:15 εξ ου πασα πατρια εν ουρανοις και επι γης ονομαζεται 3:16 ινα δωη υμιν κατα τον πλουτον της δοξης αυτου δυναμει κραταιωθηναι δια του πνευματος αυτου εις τον εσω ανθρωπον 3:17 κατοικησαι τον χριστον δια της πιστεως εν ταις καρδιαις υμων 3:18 εν αγαπη ερριζωμενοι και τεθεμελιωμενοι ινα εξισχυσητε καταλαβεσθαι συν πασιν τοις αγιοις τι το πλατος και μηκος και βαθος και υψος 3:19 γνωναι τε την υπερβαλλουσαν της γνωσεως αγαπην του χριστου ινα πληρωθητε εις παν το πληρωμα του θεου 3:20 τω δε δυναμενω υπερ παντα ποιησαι υπερ εκ περισσου ων αιτουμεθα η νοουμεν κατα την δυναμιν την ενεργουμενην εν ημιν 3:21 αυτω η δοξα εν τη εκκλησια εν χριστω ιησου εις πασας τας γενεας του αιωνος των αιωνων αμην
“Por esta causa” ou “por causa disto”.
Temos aqui uma expressão repetida pelo apóstolo, que lembra a razão de sua oração. No início do capítulo 3, ele usa as mesmas palavras; mais uma vez enfatiza e renova a expressão para tornar vivo o fato que o levou a orar outra vez. Nessa segunda oração, Paulo dá a impressão de ter descoberto (preso em algemas) a força moral e espiritual para estar na presença de Deus em oração e meditação. A grandeza do amor de Cristo, a consolação do Espírito Santo, fortalecendo-o e revelando-lhe “mistérios espirituais” guardados na eternidade, e só revelados agora, eram, para o apóstolo dos gentios, a vitória maior. Seus sofrimentos físicos se tornam, a partir de então, uma fonte de bênçãos para si próprio e para a igreja em Éfeso.
“... dobro os joelhos”.
A posição de orar com os “joelhos dobrados” não implica regra. Não há uma postura determinada na Bíblia para orar, mas dentre as várias posições, o dobrar os joelhos tem o sentido de reverência a Deus. Entretanto, a posição do corpo não nos é essencial à oração, mas sim a postura do nosso espírito, pois é mais importante a postura interior. Por outro lado, não devemos vulgarizar posturas para a oração nem anular a importância de uma postura exterior, que pode representar nossa Própria atitude interior.
H. A. Alexander escreveu em A Epístola aos Efésios, páginas. 77 e 78: “Em sua cela de prisioneiro, apesar dos tornozelos acorrentados, Paulo se ajoelha; mas não se trata apenas de uma atitude física: todo o seu ser se dobra, curva-se com o ardente desejo de que aquilo que lhe foi revelado nos seja comunicado e se torne experiência nossa. Verga-se sob o fardo espiritual, que depõe diante do Trono da Graça”.
A designação “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” é peculiar no Novo Testamento e expressa a relação existente entre Deus Pai e os crentes em Cristo Jesus. As palavras “Pai” e “família” estão intimamente ligadas e se destacam nos versículos 14 e 15. Nesse texto, a palavra “Pai”, relativa a Deus, é mais que uma simples metáfora; alcança um sentido mais amplo. Alguns teólogos apresentam-na com o sentido daquele que é o originador de todas as coisas. Todo começo parte dEle, e Ele é antes de todos os começos.
No verso 14, a palavra “Pai” especifica o tipo de paternidade divina. Em primeiro lugar, Ele é “Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”, o que indica, numa linguagem tipicamente humana, a revelação do amor de Deus na pessoa de Jesus Cristo, seu Filho. Essa filiação divina, manifestada em carne, possibilitou uma nova filiação, formando uma nova família para com Deus, pelos méritos de Cristo (Jo 1.12-14).
A palavra “família”, como está no verso 15, aparece no texto assim: “do qual toda a família”. No original grego, as palavras “pai” e “família” correspondem apater (pai) e pátria (família ou paternidade). A tradução mais fiel de pátria é paternidade, mas algumas traduções atualizadas preferem a palavra família. Parte da frase diz: “toda a família”, mas a idéia correta distingue cada família (“toda família”). A continuação da frase apresenta: “... família nos céus e na terra”, e indica dois tipos de famílias ou paternidades filiadas a Deus Pai — a família nos céus e a família na terra.
Duas interpretações são possíveis. A primeira prefere traduzir a expressão “toda a família”, com a idéia de que o conceito de família ou paternidade vem de Deus e não se restringe a um tipo de família ou paternidade. Então, pode haver a família dos astros luminosos nos céus, e a família de todas as coisas criadas por Deus nos céus e na terra. A segunda interpretação, gramaticalmente, é mais correta, porque traduz “toda família” dentro do contexto geral da Bíblia.
Note-se, também, a distinção “nos céus” e “na terra”, que pode ser interpretada de duas maneiras. Primeira, “toda a família nos céus” reúne todos os redimidos que já morreram; e “toda a família na terra” reúne todos os redimidos em Cristo que formam a igreja na face da Terra. Segunda, “toda a família nos céus” reúne os seres celestiais (anjos) que servem a Deus todo o tempo nos céus; e “toda a família na terra” reúne todos os salvos que formam a Igreja de Cristo.
Na tradução de Figueiredo, o verso 15 aparece assim: “Do qual toda a paternidade toma o nome nos céus e na terra”. A colocação da frase nessa tradução sugere outra idéia: a palavra “paternidade” no lugar de “família” indica autoridade, ou aquele que exerce autoridade sobre outros. Entretanto, entendemos que toda autoridade (paternidade) exercida na terra é recebida do Pai Celestial, emerge dEle e não de nós. Ele é antes de nós! Da paternidade perfeita e plena flui a fonte de toda a autoridade nos céus e na terra (Ef 1.17). A força que Paulo dá à paternidade de Deus fortalece sua oração.
No início do verso 16, a expressão “riquezas da glória” revela a fonte e indica o depósito de tesouros espirituais, os quais ele chama de “riquezas de glória”, e pede ao Pai Celestial que essas riquezas sejam dadas aos efésios. Quais são as riquezas desse tesouro espiritual? Paulo pediu tanto quanto tinha conhecimento em sua revelação. Ele não foi mesquinho na petição, mas sua fé alcançava uma visão maior: pediu o melhor, pediu as “riquezas da sua glória”.
“... que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior”.
Que significa “corroborar com poder”? A palavra “corroborar” significa dar mais força ao que se afirmou; implica em comprovar. No aspecto espiritual, essa palavra tem um sentido mais profundo. A petição é “para que sejais corroborados no homem interior”. E vestir o homem interior com uma vestidura de poder e força espiritual. O espírito do homem, por si só, não tem poder de vencer os ataques malignos (Ef 6.10-12), mas transformado e corroborado (vestido) com o poder do Espírito Santo, ele pode vencer todo o mal.
Esse “poder do Espírito” significa força e energia para lutar contra os ataques satânicos e para servir melhor ao Senhor. Isso é o fortalecimento espiritual do “homem interior”, da nova natureza recebida através do novo nascimento (2 Co 5.17). O poder da carne só poderá ser detido pelo poder do Espírito (Gl 5.16,17). O homem natural não tem poder para combater o pecado, porque o pecado reside no seu interior. Somente pela sua transformação através da obra regeneradora do Espírito Santo é que ele se torna “homem espiritual”. O espírito interior do homem se torna acessível ao Espírito Santo e recebe dEle o fortalecimento espiritual necessário (Rm 7.14,15; 1 Co 2.14,15; Gl 5.17,26).
“Para que Cristo habite pela fé nos vossos corações”.
A oração do apóstolo mostra a maneira como Deus pode operar no crente, isto é, no seu interior. Os discípulos viveram fisicamente com Jesus e aprenderam a amá-lo. Comiam, dormiam, bebiam e andavam com Ele por todas as partes da terra santa, sentindo a sua presença física. Entretanto, quando Jesus morreu, e no espaço entre a sua morte e a ressurreição, sentiram muito a ausência física dEle. Depois de ressurreto, Jesus apareceu-lhes algumas vezes e confirmou a promessa de estar sempre com eles, não mais fisicamente, mas invisível, no interior deles. Os discípulos tiveram dificuldades em entender essa distinção. Jesus cumpriu essa promessa quando enviou o Espírito Santo, que passou a habitar em seus corações, tornando bem real a sua presença espiritual dentro deles.
No original grego, a palavra “habite” dá a idéia de alguém que entra para tomar conta da casa, o nosso coração. Ele deve ser o Senhor da casa e Ele a arruma como quer, porque sabe o que é melhor para essa casa.
Como Cristo poderá vir a habitar em nossos corações? O verso 17 diz que é “pela fé”, não pelos sentimentos, por admiração ou por outro meio qualquer. A fé é o caminho, a via de acesso, a porta para o Senhor entrar e fazer morada. O significado dessa morada de Cristo dentro do crente é a união mística entre Cristo e o crente em particular. Ele é convidado a habitar, no sentido de tomar posse, de dirigir nossas vidas. Não é estar perto ou ao lado, mas dentro de nós. Não é habitar temporariamente, como alguém que aluga um quarto da casa e desconhece o restante, mas é habitar no sentido pleno. E tomar posse da casa e dirigi-la como bem lhe convier (Rm 8.9,10).
“... nos vossos corações”.
A palavra “coração” aparece com dois sentidos na Bíblia. Primeiro, como os sentimentos à parte do entendimento. Segundo, como toda a alma, incluindo o intelecto e os sentimentos. Neste último sentido, a Bíblia fala de “coração entendido” (1 Rs 3.9,12; Pv 8.5), e também como “pensamentos, planos e conselhos do coração” (Jz 5.15; Pv 19.21; 20.5). A palavra “coração” tem significado figurativo na Bíblia e deve ser entendida assim. O coração é tratado como o centro da vida espiritual do crente. Caráter, personalidade, mente e vontade são termos modernos que refletem uma pessoa, e na Bíblia estes termos são conhecidos como “coração”.
“... a fim de, estando arraigados e fundados em amor”.
As palavras “arraigados” e “fundados” sugerem duas ilustrações. Elas ilustram uma árvore e um edifício. O termo “arraigados” pode figurar como a Plantação de uma árvore; é a representação que melhor ilustra a Igreja e foi usada por Jesus — a videira (Jo 15.5). Já a palavra “fundados” tem a ver com fundamento e sugere a figura de um edifício, a Igreja (Ef 2.20,21; Cl 1.23; 2.7). Conforme o texto nos dá a entender, nossas raízes e fundamentos são firmados no amor. O amor é a base do crescimento e do fortalecimento de nossas raízes em Cristo; a firmeza e a solidez do fundamento de nossa fé estão no amor de Cristo. Tanto uma árvore bem arraigada quanto o nosso fundamento, feito unicamente sobre a Palavra de Deus, indicam que a vida cristã não deve ser superficial nem basear-se em fundamentos rotos (Mt 7.24-27).
“... poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos”.
Essa expressão dá continuidade ao versículo 17 e passa a idéia de que jamais alguém poderá entender a grandeza do amor de Cristo sem estar “arraigado e fundado” nesse amor divino. Outra versão aclara um pouco mais o sentido exato da expressão: “para que sejais plenamente capazes de compreender”. Essa capacitação é recebida do Espírito Santo; não por méritos pessoais, mas por graça e misericórdia do Senhor.
Além disso, essa capacitação não é concedida de qualquer maneira nem a privilegiados especiais entre os santos, mas a todos os salvos em Cristo. O texto indica a participação individual “com todos os santos”.
O conhecimento dessas dimensões é dado a “todos os santos”. Não é dado apenas aos que morreram em Cristo e gozam desse amor no além, mas a todos os santos que atuam na vida cristã, os crentes em Cristo Jesus. O texto refere-se “a todos os santos” e não a elementos isoladamente. Envolve todo o corpo de Cristo na terra, a sua Igreja. O crescimento espiritual da Igreja acontece com todos os crentes que se esforçam em aprender e a buscar esse conhecimento. A palavra “poderdes” implica no esforço para conhecer esse amor. Não se trata de esforço intelectual, mas espiritual.
Como penetrar nas dimensões do amor de Cristo? A palavra “compreender” não tem significado absoluto porque essas dimensões são infinitas. Penetrar nessa dimensão é como empreender uma viagem no espaço sem fim, viajar por toda a eternidade e nunca encontrar o seu limite. A Igreja está nessa viagem, e um dia aquilo que é em parte será completo (1 Co 13.10).
“... qual seja a largura”.
Assim como o mundo contém toda a humanidade e os demais seres vivos, tal qual é o amor de Cristo. Sua amplitude abrange a todas as criaturas da Terra.
O comprimento e a largura do amor de Cristo não se limitam no tempo e no espaço. Nem tiveram seu início no Calvário, mas compreendem todas as eras, todas as idades, como diz o versículo 21: “todas as gerações, para todo o sempre”.
A “altura” do amor de Cristo pode ser entendida em dois sentidos. Primeiro, esse amor de tão alto está fora do alcance do inimigo, que procura privar o crente do seu gozo inefável. Segundo, esse amor tem direção vertical em sua relação com o crente. Assim como Jacó viu em seu sonho “uma escada... posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela” (Gn 28.12), assim também a altura do amor de Cristo pode indicar, não a distância que esse amor se encontra de nós, mas a sua canalização do Alto para os nossos corações (Jo 1.51; 14.19,20).
Esse amor é ilimitável e insondável, como o é a sabedoria de Deus. O amor de Cristo não tem fim. Nunca poderá terminar. E fonte que nunca seca. Nenhuma criatura poderá penetrar a profundidade da sabedoria divina, expressa em amor (Rm 11.33).
“... e conhecer o amor de Cristo, que excede a todo o entendimento”.
Não é um amor impossível ou incognoscível. E um amor possível através da experiência obtida no desejo (esforço) de conhecê-lo. É claro que não é um tipo de amor que possa ser discernido por conceitos meramente humanos ou filosóficos, porque o amor de Cristo é divino e incomparável. Somente aqueles que são nascidos de novo (2 Co 5.17) podem provar e experimentar esse amor. Entretanto, esse fato não significa que possam explicá-lo — ele continua a ser um amor que “excede a todo o entendimento”.
“... para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus”.
No Antigo Testamento, a palavra “plenitude” não aparecia com tanta ênfase e frequência como no Novo Testamento. Essa plenitude diz respeito ao crente individualmente e à Igreja como corpo de Cristo. Os crentes em Cristo são a plenitude do seu corpo místico na face da Terra (1 Co 12.12,27; Ef 4.10).
Conhecer o amor de Cristo significa conhecer a medida de perfeição que Deus tem colocado diante de nós em Cristo Jesus. Convém notar que essa plenitude é progressiva no sentido de que, assim como Cristo é, nós seremos, à medida que conhecermos o seu amor (Rm 8.29; Ef 4.13).
O ideal divino para o alcance dessa plenitude está em que o homem remido pelo sangue de Cristo chegue à estatura perfeita de Cristo através do conhecimento do seu grande amor (Ef 4.13).
Paulo, ao final de sua segunda oração, faz uma doxologia ao Deus Todo-Poderoso, que ouve e responde às orações. A oração do apóstolo parece ter alcançado um grau tão alto e sublime que nada poderia impedir a sua resposta.
Para Paulo, Deus responde não somente ao que nós pedimos, mas Ele pode fazer muito mais do que pedimos ou pensamos (v. 20). A total confiança no ilimitável amor divino move o coração de Deus, e a resposta divina chega com bênçãos excedentes, isto é, sempre acima do que pedimos ou pensamos. Para que isso aconteça, é necessário que nossos desejos, aspirações e vontades sejam canalizadas para o centro da vontade de Deus, e Ele, como lhe convier, responderá às nossas petições.
Ele é poderoso não só para fazer tudo o que pedimos ou pensamos, mas para fazer tudo além do que pedimos ou pensamos, para fazer tudo muito mais abundantemente além do que pedimos ou pensamos.
O final do verso 20 mostra ainda como recebemos a resposta de nossas petições, conforme as palavras ali indicam: “segundo o poder que em nós opera”. Que poder é esse? Não é poder intelectual ou físico, nem poder moral. É o poder do Espírito Santo que opera a partir da obra de regeneração. É o poder que nos coloca acima dos poderes de Satanás, do mundo e do pecado. É o poder para testemunhar de Cristo (At 1.8). E o poder que nos torna capazes de alcançar a plenitude de Deus.
No verso 21 está escrito: “... a esse glória na igreja, por Jesus Cristo”. Numa outra versão do original, o texto fica assim: “... a ele seja a glória na igreja”. Que glória? A glória de Cristo refletida na sua Igreja. Em todas as gerações, essa glória sempre lhe pertencerá, e na atual dispensação Ele é o motivo da manifestação da graça de Deus.
As expressões “para todo o sempre” (v. 21) ou, em outra versão, “por todos os séculos” equivalem a dizer que todos os séculos formam a eternidade. A glória de Cristo na Igreja brilhará por toda a eternidade.
A glória de Cristo na igreja refere-se, também, ao testemunho da Igreja a respeito de Cristo, bem como o caráter genuíno do Cristianismo mantido contra todas as intempéries dos séculos. A Igreja é sempre uma instituição divina, e nunca uma instituição meramente humana. A glória de Cristo reflete-se na Igreja, isto é, nos crentes que vivem com inteireza os seus ensinos. Nada deve empanar essa glória.