Livros Apócrifos — Parte II
Livros Apócrifos — Parte II
I. Adições ao Livro de Ester.
Estas constituem seis passagens adicionais. A primeira parte, de 17 versículos, em alguns antigos textos gregos e latinos (mas Est 11:2-12:6 na So) precede ao primeiro capítulo, apresentando um sonho de Mordecai (Mardoqueu) e a sua exposição duma conspiração contra o rei. Depois de 3:13 (mas 13:1-7 na So), a segunda adição apresenta o texto do edito do rei contra os judeus. No fim do capítulo 4 (mas 13:8-14:19 na So) relatam-se orações de Mordecai e de Ester como terceira adição. A quarta ocorre depois de 5:2 (mas 15:1-19 na So) e conta a audiência de Ester com o rei. A quinta ocorre depois de 8:12 (mas 16:1-24 na So) e consiste no edito do rei que permitiu aos judeus defender-se. No fim do livro (mas 10:4-11:1 na So), interpreta-se o sonho apresentado na introdução apócrifa.
A colocação destas adições varia em diversas traduções, algumas colocando todas no fim do livro (como Jerônimo fez na sua tradução) e outras intercalando-as no texto canônico.
Na primeira destas seções apócrifas, Mordecai é apresentado como tendo estado entre os cativos tomados por Nabucodonosor, em 617 AEC, e como homem importante na corte do rei, no segundo ano de Assuero (o gr. diz Artaxerxes) mais de um século depois. Esta declaração, que Mordecai ocupou tal cargo importante tão cedo no reinado do rei contradiz a parte canônica de Ester. Crê-se que as adições apócrifas sejam a obra dum judeu egípcio e que tenham sido escritas durante o segundo século AEC.
II. Sabedoria (de Salomão).
Este é um tratado que exalta os benefícios para os que procuram a sabedoria divina. A sabedoria é personificada como mulher celestial, e a oração de Salomão, pedindo sabedoria, está incluída no texto. A última parte recapitula a história desde Adão até a conquista de Canaã, citando dela exemplos de bênçãos pela sabedoria e de calamidades pela falta dela. Considera-se a tolice da adoração de imagens.
Embora Salomão não seja mencionado especificamente por nome, em certos textos, o livro o apresenta como seu autor. (Sabedoria 9:7, 8, 12) Mas o livro cita passagens de livros bíblicos escritos séculos depois da morte de Salomão (c. 998 AEC) e faz isso da Septuaginta grega, que começou a ser traduzida por volta de 280 AEC. Crê-se que o escritor tenha sido um judeu de Alexandria, no Egito, que escreveu por volta de meados do primeiro século AEC.
O escritor manifesta estribar-se fortemente na filosofia grega. Ele usa terminologia platônica na promoção da doutrina da imortalidade da alma humana. (Sabedoria 2:23; 3:2, 4) Outros conceitos pagãos apresentados são a pré-existência das almas humanas e o conceito de que o corpo é um impedimento ou estorvo para a alma. (8:19, 20; 9:15) A apresentação dos eventos históricos desde Adão até Moisés é floreada com muitos pormenores fantasiosos, frequentemente em contradição com o registro canônico.
Embora algumas obras de referências se esforcem a mostrar certa correspondência entre passagens desse escrito apócrifo e as posteriores obras das Escrituras Gregas Cristãs, a similaridade freqüentemente é pouca, e, mesmo onde é um pouco maior, não indicaria que os escritores cristãos recorreram a esta obra apócrifa, mas, antes, que recorreram às Escrituras Hebraicas canônicas, que o escritor apócrifo também usou.
II. Eclesiástico.
Este livro, também chamado Sabedoria de Jesus, Filho de Sirac, tem a distinção de ser o mais longo dos livros apócrifos e o único cujo autor é conhecido, Jesus ben-Sirac de Jerusalém. O escritor explica a natureza da sabedoria e sua aplicação para uma vida bem-sucedida. A observância da Lei é fortemente enfatizada. Dá-se conselho sobre muitos campos de conduta social e da vida diária, inclusive comentários sobre modos à mesa, sonhos e viagens. A parte concludente contém um retrospecto sobre importantes personagens de Israel, terminando com o sumo sacerdote Simão II.
Contradizendo a declaração de Paulo em Romanos 5:12-19, que lança a responsabilidade pelo pecado sobre Adão, Eclesiástico diz: “Foi pela mulher que começou o pecado, e é por causa dela que todos morremos.” (25:33, CBC) O escritor prefere também “toda malícia, não, porém, a malícia da mulher”. — 25:19, CBC.
O livro foi originalmente escrito em hebraico, no começo do segundo século AEC. Citações dele são encontrados no Talmude judaico.
III. Baruc (Incluindo a Epístola de Jeremias).
Faz-se parecer como se os primeiros cinco capítulos tivessem sido escritos pelo amigo e escriba de Jeremias, Baruque (Baruc); o sexto capítulo é apresentado como carta escrita pelo próprio Jeremias. O livro relata as expressões de arrependimento e as orações por alívio por parte dos judeus exilados em Babilônia, exortações para seguir a sabedoria, incentivo para esperar na promessa de libertação e a denúncia da idolatria babilônica.
Baruque é apresentado como estando em Babilônia (Baruc 1:1, 2), ao passo que o registro bíblico mostra que ele foi para o Egito, assim como Jeremias, e não há nenhuma evidência de que Baruque estivesse alguma vez em Babilônia. (Je 43:5-7) Contrário à profecia de Jeremias, de que a desolação de Judá durante o exílio babilônico duraria 70 anos (Je 25:11, 12; 29:10), Baruc 6:2 diz aos judeus que ficariam em Babilônia por sete gerações e então seriam libertos.
Jerônimo, no seu prefácio ao livro de Jeremias, declara: “Não achei valer a pena traduzir o livro de Baruque.” A introdução ao livro em The Jerusalem Bible (A Bíblia de Jerusalém; ed. 1966, p. 1128), sugere que partes da composição talvez tenham sido escritas só no segundo ou no primeiro século AEC; portanto, por outro autor (ou autores), e não Baruque. A língua original provavelmente foi a hebraica.
IV. Cântico dos Três Jovens.
Esta adição a Daniel segue a Daniel 3:23. Consiste em 67 versículos que apresentam uma oração supostamente proferida por Azarias dentro da fornalha ardente, seguida por um relato sobre um anjo que apagou as chamas, e finalmente um cântico entoado pelos três hebreus dentro da fornalha. O cântico é bastante similar ao Salmo 148. Suas referências ao templo, a sacerdotes e querubins, porém, não se enquadram no tempo a que se alega que se aplica. Talvez tenha sido originalmente escrito em hebraico, e é considerado como do primeiro século AEC.
V. Susana e os Anciãos.
Este conto relata um incidente na vida da bela esposa de Joaquim, um judeu rico em Babilônia. Enquanto Susana se banhava, chegaram-se a ela dois anciãos judeus, que instaram com ela que cometesse adultério com eles, e, quando ela recusou, forjaram uma falsa acusação contra ela. No julgamento, ela foi condenada à morte, mas o jovem Daniel habilmente expôs os dois anciãos, e Susana foi exonerada da acusação. Não há certeza sobre a língua original. Pensa-se que tenha sido escrito durante o primeiro século AEC. Na Septuaginta grega o trecho foi colocado antes do livro canônico de Daniel, e na Vulgata latina foi colocado depois dele. Algumas versões o incluem como capítulo 13 de Daniel.
VI. A Destruição de Bel e do Dragão.
Esta é uma terceira adição a Daniel, sendo que algumas versões a colocam como capítulo 14. No relato, o Rei Ciro exige que Daniel adore um ídolo do deus Bel. Por aspergir cinzas no pavimento do templo e assim descobrir pegadas, Daniel prova que o alimento supostamente consumido pelo ídolo na realidade é consumido pelos sacerdotes pagãos e suas famílias. Os sacerdotes são mortos e Daniel destroça o ídolo. O rei requer de Daniel adorar um dragão vivo.
Daniel destrói o dragão, mas é lançado na cova dos leões pela população enfurecida. Durante os sete dias do seu confinamento, um anjo pega Habacuque (Habacuc) pelos cabelos e leva tanto a ele como uma tigela de caldo da Judéia a Babilônia, a fim de prover Daniel de alimento. Habacuque é então devolvido à Judéia, Daniel é solto da cova, e seus oponentes são lançados nela e devorados. Considera-se ser esta adição também do primeiro século AEC. Estas adições a Daniel são chamadas em O Novo Dicionário da Bíblia (1966, Vol. 1, p. 93) de “pio exagero lendário”.
VII. Primeiro Macabeus.
Um relato histórico da luta de independência dos judeus durante o segundo século AEC, desde o começo do reinado de Antíoco Epifânio (175 AEC) até a morte de Simão Macabeu (c. 134 AEC). Trata especialmente das façanhas do sacerdote Matatias e de seus filhos, Judas, Jônatas e Simão, nas suas lutas com os sírios.
Esta é a mais valiosa das obras apócrifas, por causa das informações históricas que fornece sobre este período. Entretanto, conforme comenta The Jewish Encyclopedia (A Enciclopédia Judaica, 1976, Vol. VIII, p. 243), nela “a história é escrita do ponto de vista humano”. Igual às outras obras apócrifas, não faz parte do inspirado cânon hebraico. Foi evidentemente escrita em hebraico por volta da última parte do segundo século AEC.
VIII. Segundo Macabeus.
Embora colocado após Primeiro Macabeus, este relato refere-se a parte do mesmo período (de c. 180 AEC a 160 AEC), mas não foi escrito pelo autor de Primeiro Macabeus. O escritor apresenta o livro como resumo das obras anteriores de certo Jasão de Cirene. Descreve as perseguições sofridas pelos judeus sob Antíoco Epifânio, o saque do templo e sua subseqüente rededicação deste.
O relato apresenta Jeremias, por ocasião da destruição de Jerusalém, como levando o tabernáculo e a arca do pacto a uma caverna no monte do qual Moisés viu a terra de Canaã. (2 Macabeus 2:1-16) Naturalmente, o tabernáculo havia sido substituído pelo templo uns 420 anos antes.
No dogma católico usam-se diversos textos em apoio de doutrinas tais como a punição após a morte (2 Macabeus 6:26), a intercessão de santos (15:12-16), e ser próprio orar pelos mortos (12:41-46, So).
A Bíblia de Jerusalém, na sua Introdução aos livros de Macabeus, diz a respeito de Segundo Macabeus: “O estilo, que é o dos escritores helenísticos, mas não dos melhores, é às vezes empolado.” O escritor de Segundo Macabeus não tem pretensões de escrever sob inspiração divina e devota parte do segundo capítulo para justificar sua escolha do método específico usado em tratar a matéria. (2 Macabeus 2:24-32, BJ) Ele conclui sua obra por dizer: “Porei aqui fim à minha narração. Se está bem e como convém à história, isso é o que eu desejo; mas se, pelo contrário, é vulgar e medíocre, não pude fazer melhor.” — 2 Macabeus 15:38, 39, So.
O livro foi evidentemente escrito em grego, no período entre 134 AEC e a queda de Jerusalém em 70 EC.
IX. Obras Apócrifas Posteriores.
Especialmente a partir do segundo século EC, desenvolveu-se um imenso conjunto de escritos que afirmam ter inspiração divina e canonicidade, e que pretendem estar relacionados com a fé cristã. Freqüentemente chamados de “Apócrifos do Novo Testamento”, esses escritos representam esforços de imitar os Evangelhos, Atos, cartas, e as revelações contidas nos livros canônicos das Escrituras Gregas Cristãs. Um grande número deles são conhecidos apenas através de fragmentos existentes ou por citações deles ou alusões a eles por outros escritores.
Esses escritos manifestam uma tentativa de prover informações que os escritos inspirados deliberadamente omitem, tais como as atividades e os eventos relacionados com a vida de Jesus, desde a sua infância até o tempo do seu batismo, ou um esforço de fabricar apoio para doutrinas ou tradições que não encontram base na Bíblia ou que estão em contradição a ela. Assim, o chamado Evangelho de Tomé e o Protoevangelho de Tiago estão cheios de relatos fantasiosos de milagres supostamente realizados por Jesus na sua infância. Mas o efeito global do retrato que apresentam dele é fazer Jesus parecer uma criança caprichosa e petulante, dotada de poderes impressionantes. (Compare isso com o relato genuíno em Lu 2:51, 52.) Os “Atos” apócrifos, tais como os “Atos de Paulo” e os “Atos de Pedro”, dão muita ênfase à completa abstinência de relações sexuais, e até mesmo apresentam os apóstolos como instando com as mulheres a se separarem do marido, contradizendo assim o conselho autêntico de Paulo em 1 Coríntios 7.
Comentando esses escritos apócrifos pós-apostólicos, The Interpreter’s Dictionary of the Bible (Dicionário Bíblico do Intérprete, Vol. 1, p. 166) declara: “Muitos deles são triviais, alguns são altamente teatrais, alguns são desagradáveis, até mesmo repulsivos.” (Editado por G. A. Buttrick, 1962) Funk and Wagnalls New Standard Bible Dictionary (Novo Dicionário Bíblico Padrão de Funk e Wagnalls, 1936, p. 56) comenta: “Eles têm sido a fonte frutífera de lendas sagradas e de tradições eclesiásticas. É para esses livros que temos de nos voltar para obter a origem de alguns dos dogmas da Igreja Católica Romana.”
Assim como os anteriores escritos apócrifos foram excluídos das Escrituras Hebraicas pré-cristãs aceitas, assim também esses posteriores escritos apócrifos não foram aceitos como inspirados, nem foram incluídos como canônicos nas primeiras coleções ou catálogos das Escrituras Gregas Cristãs. — Veja CÂNON.
Estas constituem seis passagens adicionais. A primeira parte, de 17 versículos, em alguns antigos textos gregos e latinos (mas Est 11:2-12:6 na So) precede ao primeiro capítulo, apresentando um sonho de Mordecai (Mardoqueu) e a sua exposição duma conspiração contra o rei. Depois de 3:13 (mas 13:1-7 na So), a segunda adição apresenta o texto do edito do rei contra os judeus. No fim do capítulo 4 (mas 13:8-14:19 na So) relatam-se orações de Mordecai e de Ester como terceira adição. A quarta ocorre depois de 5:2 (mas 15:1-19 na So) e conta a audiência de Ester com o rei. A quinta ocorre depois de 8:12 (mas 16:1-24 na So) e consiste no edito do rei que permitiu aos judeus defender-se. No fim do livro (mas 10:4-11:1 na So), interpreta-se o sonho apresentado na introdução apócrifa.
A colocação destas adições varia em diversas traduções, algumas colocando todas no fim do livro (como Jerônimo fez na sua tradução) e outras intercalando-as no texto canônico.
Na primeira destas seções apócrifas, Mordecai é apresentado como tendo estado entre os cativos tomados por Nabucodonosor, em 617 AEC, e como homem importante na corte do rei, no segundo ano de Assuero (o gr. diz Artaxerxes) mais de um século depois. Esta declaração, que Mordecai ocupou tal cargo importante tão cedo no reinado do rei contradiz a parte canônica de Ester. Crê-se que as adições apócrifas sejam a obra dum judeu egípcio e que tenham sido escritas durante o segundo século AEC.
II. Sabedoria (de Salomão).
Este é um tratado que exalta os benefícios para os que procuram a sabedoria divina. A sabedoria é personificada como mulher celestial, e a oração de Salomão, pedindo sabedoria, está incluída no texto. A última parte recapitula a história desde Adão até a conquista de Canaã, citando dela exemplos de bênçãos pela sabedoria e de calamidades pela falta dela. Considera-se a tolice da adoração de imagens.
Embora Salomão não seja mencionado especificamente por nome, em certos textos, o livro o apresenta como seu autor. (Sabedoria 9:7, 8, 12) Mas o livro cita passagens de livros bíblicos escritos séculos depois da morte de Salomão (c. 998 AEC) e faz isso da Septuaginta grega, que começou a ser traduzida por volta de 280 AEC. Crê-se que o escritor tenha sido um judeu de Alexandria, no Egito, que escreveu por volta de meados do primeiro século AEC.
O escritor manifesta estribar-se fortemente na filosofia grega. Ele usa terminologia platônica na promoção da doutrina da imortalidade da alma humana. (Sabedoria 2:23; 3:2, 4) Outros conceitos pagãos apresentados são a pré-existência das almas humanas e o conceito de que o corpo é um impedimento ou estorvo para a alma. (8:19, 20; 9:15) A apresentação dos eventos históricos desde Adão até Moisés é floreada com muitos pormenores fantasiosos, frequentemente em contradição com o registro canônico.
Embora algumas obras de referências se esforcem a mostrar certa correspondência entre passagens desse escrito apócrifo e as posteriores obras das Escrituras Gregas Cristãs, a similaridade freqüentemente é pouca, e, mesmo onde é um pouco maior, não indicaria que os escritores cristãos recorreram a esta obra apócrifa, mas, antes, que recorreram às Escrituras Hebraicas canônicas, que o escritor apócrifo também usou.
II. Eclesiástico.
Este livro, também chamado Sabedoria de Jesus, Filho de Sirac, tem a distinção de ser o mais longo dos livros apócrifos e o único cujo autor é conhecido, Jesus ben-Sirac de Jerusalém. O escritor explica a natureza da sabedoria e sua aplicação para uma vida bem-sucedida. A observância da Lei é fortemente enfatizada. Dá-se conselho sobre muitos campos de conduta social e da vida diária, inclusive comentários sobre modos à mesa, sonhos e viagens. A parte concludente contém um retrospecto sobre importantes personagens de Israel, terminando com o sumo sacerdote Simão II.
Contradizendo a declaração de Paulo em Romanos 5:12-19, que lança a responsabilidade pelo pecado sobre Adão, Eclesiástico diz: “Foi pela mulher que começou o pecado, e é por causa dela que todos morremos.” (25:33, CBC) O escritor prefere também “toda malícia, não, porém, a malícia da mulher”. — 25:19, CBC.
O livro foi originalmente escrito em hebraico, no começo do segundo século AEC. Citações dele são encontrados no Talmude judaico.
III. Baruc (Incluindo a Epístola de Jeremias).
Faz-se parecer como se os primeiros cinco capítulos tivessem sido escritos pelo amigo e escriba de Jeremias, Baruque (Baruc); o sexto capítulo é apresentado como carta escrita pelo próprio Jeremias. O livro relata as expressões de arrependimento e as orações por alívio por parte dos judeus exilados em Babilônia, exortações para seguir a sabedoria, incentivo para esperar na promessa de libertação e a denúncia da idolatria babilônica.
Baruque é apresentado como estando em Babilônia (Baruc 1:1, 2), ao passo que o registro bíblico mostra que ele foi para o Egito, assim como Jeremias, e não há nenhuma evidência de que Baruque estivesse alguma vez em Babilônia. (Je 43:5-7) Contrário à profecia de Jeremias, de que a desolação de Judá durante o exílio babilônico duraria 70 anos (Je 25:11, 12; 29:10), Baruc 6:2 diz aos judeus que ficariam em Babilônia por sete gerações e então seriam libertos.
Jerônimo, no seu prefácio ao livro de Jeremias, declara: “Não achei valer a pena traduzir o livro de Baruque.” A introdução ao livro em The Jerusalem Bible (A Bíblia de Jerusalém; ed. 1966, p. 1128), sugere que partes da composição talvez tenham sido escritas só no segundo ou no primeiro século AEC; portanto, por outro autor (ou autores), e não Baruque. A língua original provavelmente foi a hebraica.
IV. Cântico dos Três Jovens.
Esta adição a Daniel segue a Daniel 3:23. Consiste em 67 versículos que apresentam uma oração supostamente proferida por Azarias dentro da fornalha ardente, seguida por um relato sobre um anjo que apagou as chamas, e finalmente um cântico entoado pelos três hebreus dentro da fornalha. O cântico é bastante similar ao Salmo 148. Suas referências ao templo, a sacerdotes e querubins, porém, não se enquadram no tempo a que se alega que se aplica. Talvez tenha sido originalmente escrito em hebraico, e é considerado como do primeiro século AEC.
V. Susana e os Anciãos.
Este conto relata um incidente na vida da bela esposa de Joaquim, um judeu rico em Babilônia. Enquanto Susana se banhava, chegaram-se a ela dois anciãos judeus, que instaram com ela que cometesse adultério com eles, e, quando ela recusou, forjaram uma falsa acusação contra ela. No julgamento, ela foi condenada à morte, mas o jovem Daniel habilmente expôs os dois anciãos, e Susana foi exonerada da acusação. Não há certeza sobre a língua original. Pensa-se que tenha sido escrito durante o primeiro século AEC. Na Septuaginta grega o trecho foi colocado antes do livro canônico de Daniel, e na Vulgata latina foi colocado depois dele. Algumas versões o incluem como capítulo 13 de Daniel.
VI. A Destruição de Bel e do Dragão.
Esta é uma terceira adição a Daniel, sendo que algumas versões a colocam como capítulo 14. No relato, o Rei Ciro exige que Daniel adore um ídolo do deus Bel. Por aspergir cinzas no pavimento do templo e assim descobrir pegadas, Daniel prova que o alimento supostamente consumido pelo ídolo na realidade é consumido pelos sacerdotes pagãos e suas famílias. Os sacerdotes são mortos e Daniel destroça o ídolo. O rei requer de Daniel adorar um dragão vivo.
Daniel destrói o dragão, mas é lançado na cova dos leões pela população enfurecida. Durante os sete dias do seu confinamento, um anjo pega Habacuque (Habacuc) pelos cabelos e leva tanto a ele como uma tigela de caldo da Judéia a Babilônia, a fim de prover Daniel de alimento. Habacuque é então devolvido à Judéia, Daniel é solto da cova, e seus oponentes são lançados nela e devorados. Considera-se ser esta adição também do primeiro século AEC. Estas adições a Daniel são chamadas em O Novo Dicionário da Bíblia (1966, Vol. 1, p. 93) de “pio exagero lendário”.
VII. Primeiro Macabeus.
Um relato histórico da luta de independência dos judeus durante o segundo século AEC, desde o começo do reinado de Antíoco Epifânio (175 AEC) até a morte de Simão Macabeu (c. 134 AEC). Trata especialmente das façanhas do sacerdote Matatias e de seus filhos, Judas, Jônatas e Simão, nas suas lutas com os sírios.
Esta é a mais valiosa das obras apócrifas, por causa das informações históricas que fornece sobre este período. Entretanto, conforme comenta The Jewish Encyclopedia (A Enciclopédia Judaica, 1976, Vol. VIII, p. 243), nela “a história é escrita do ponto de vista humano”. Igual às outras obras apócrifas, não faz parte do inspirado cânon hebraico. Foi evidentemente escrita em hebraico por volta da última parte do segundo século AEC.
VIII. Segundo Macabeus.
Embora colocado após Primeiro Macabeus, este relato refere-se a parte do mesmo período (de c. 180 AEC a 160 AEC), mas não foi escrito pelo autor de Primeiro Macabeus. O escritor apresenta o livro como resumo das obras anteriores de certo Jasão de Cirene. Descreve as perseguições sofridas pelos judeus sob Antíoco Epifânio, o saque do templo e sua subseqüente rededicação deste.
O relato apresenta Jeremias, por ocasião da destruição de Jerusalém, como levando o tabernáculo e a arca do pacto a uma caverna no monte do qual Moisés viu a terra de Canaã. (2 Macabeus 2:1-16) Naturalmente, o tabernáculo havia sido substituído pelo templo uns 420 anos antes.
No dogma católico usam-se diversos textos em apoio de doutrinas tais como a punição após a morte (2 Macabeus 6:26), a intercessão de santos (15:12-16), e ser próprio orar pelos mortos (12:41-46, So).
A Bíblia de Jerusalém, na sua Introdução aos livros de Macabeus, diz a respeito de Segundo Macabeus: “O estilo, que é o dos escritores helenísticos, mas não dos melhores, é às vezes empolado.” O escritor de Segundo Macabeus não tem pretensões de escrever sob inspiração divina e devota parte do segundo capítulo para justificar sua escolha do método específico usado em tratar a matéria. (2 Macabeus 2:24-32, BJ) Ele conclui sua obra por dizer: “Porei aqui fim à minha narração. Se está bem e como convém à história, isso é o que eu desejo; mas se, pelo contrário, é vulgar e medíocre, não pude fazer melhor.” — 2 Macabeus 15:38, 39, So.
O livro foi evidentemente escrito em grego, no período entre 134 AEC e a queda de Jerusalém em 70 EC.
IX. Obras Apócrifas Posteriores.
Especialmente a partir do segundo século EC, desenvolveu-se um imenso conjunto de escritos que afirmam ter inspiração divina e canonicidade, e que pretendem estar relacionados com a fé cristã. Freqüentemente chamados de “Apócrifos do Novo Testamento”, esses escritos representam esforços de imitar os Evangelhos, Atos, cartas, e as revelações contidas nos livros canônicos das Escrituras Gregas Cristãs. Um grande número deles são conhecidos apenas através de fragmentos existentes ou por citações deles ou alusões a eles por outros escritores.
Esses escritos manifestam uma tentativa de prover informações que os escritos inspirados deliberadamente omitem, tais como as atividades e os eventos relacionados com a vida de Jesus, desde a sua infância até o tempo do seu batismo, ou um esforço de fabricar apoio para doutrinas ou tradições que não encontram base na Bíblia ou que estão em contradição a ela. Assim, o chamado Evangelho de Tomé e o Protoevangelho de Tiago estão cheios de relatos fantasiosos de milagres supostamente realizados por Jesus na sua infância. Mas o efeito global do retrato que apresentam dele é fazer Jesus parecer uma criança caprichosa e petulante, dotada de poderes impressionantes. (Compare isso com o relato genuíno em Lu 2:51, 52.) Os “Atos” apócrifos, tais como os “Atos de Paulo” e os “Atos de Pedro”, dão muita ênfase à completa abstinência de relações sexuais, e até mesmo apresentam os apóstolos como instando com as mulheres a se separarem do marido, contradizendo assim o conselho autêntico de Paulo em 1 Coríntios 7.
Comentando esses escritos apócrifos pós-apostólicos, The Interpreter’s Dictionary of the Bible (Dicionário Bíblico do Intérprete, Vol. 1, p. 166) declara: “Muitos deles são triviais, alguns são altamente teatrais, alguns são desagradáveis, até mesmo repulsivos.” (Editado por G. A. Buttrick, 1962) Funk and Wagnalls New Standard Bible Dictionary (Novo Dicionário Bíblico Padrão de Funk e Wagnalls, 1936, p. 56) comenta: “Eles têm sido a fonte frutífera de lendas sagradas e de tradições eclesiásticas. É para esses livros que temos de nos voltar para obter a origem de alguns dos dogmas da Igreja Católica Romana.”
Assim como os anteriores escritos apócrifos foram excluídos das Escrituras Hebraicas pré-cristãs aceitas, assim também esses posteriores escritos apócrifos não foram aceitos como inspirados, nem foram incluídos como canônicos nas primeiras coleções ou catálogos das Escrituras Gregas Cristãs. — Veja CÂNON.