O Sermão da Montanha — Parte II
O Sermão da Montanha — Parte I
Os líderes religiosos vêem em Jesus um violador da Lei de Deus e recentemente até mesmo conspiraram matá-lo. Assim, prosseguindo seu Sermão do Monte, Jesus explica: “Não penseis que vim destruir a Lei ou os Profetas. Não vim destruir, mas cumprir.”
Jesus tem o mais elevado respeito pela Lei de Deus e incentiva outros a também o terem. De fato, ele diz: “Quem, portanto, violar um destes mínimos mandamentos e ensinar a humanidade neste sentido, será chamado ‘mínimo’ com relação ao reino dos céus”, querendo dizer com isso que tal pessoa definitivamente não entraria no Reino.
Longe de desrespeitar a Lei de Deus, Jesus condena até mesmo as atitudes que podem levar alguém a violá-la. Depois de mencionar que a Lei diz: “Não deves assassinar”, Jesus acrescenta: “No entanto, digo-vos que todo aquele que continuar furioso com seu irmão terá de prestar contas ao tribunal de justiça.”
Visto que continuar furioso com um semelhante é assim tão sério, talvez levando até mesmo ao assassinato, Jesus ilustra a que ponto se deve ir para conseguir a paz. Ele diz: “Se tu, pois, trouxeres a tua dádiva [sacrificial] ao altar e ali te lembrares de que o teu irmão tem algo contra ti, deixa a tua dádiva ali na frente do altar e vai; faze primeiro as pazes com o teu irmão, e então, tendo voltado, oferece a tua dádiva.”
Trazendo à atenção o sétimo dos Dez Mandamentos, Jesus prossegue: “Ouvistes que se disse: ‘Não deves cometer adultério.’” Contudo, Jesus condena até mesmo a atitude persistentemente inclinada para o adultério. “Eu vos digo que todo aquele que persiste em olhar para uma mulher, a ponto de ter paixão por ela, já cometeu no coração adultério com ela.”
Jesus não se refere a um pensamento imoral momentâneo, mas a ‘persistir em olhar’. Tal olhar persistente suscita desejo apaixonado que, caso surja a oportunidade, pode resultar em adultério. Como se pode evitar que isso aconteça? Jesus ilustra que medidas extremas talvez sejam necessárias, dizendo: “Se, pois, aquele olho direito teu te faz tropeçar, arranca-o e lança-o para longe de ti. . . . Também, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a para longe de ti.”
Para salvar a vida, não raro a pessoa se dispõe a sacrificar um membro doente do corpo. Mas, segundo Jesus, é ainda mais importante ‘lançar para longe’ qualquer coisa, mesmo algo tão precioso como um olho ou uma mão, para evitar pensamentos e ações imorais. De outro modo, explica Jesus, tal pessoa será lançada na Geena (monturo incinerante perto de Jerusalém), que simboliza a destruição eterna.
Jesus também fala sobre como lidar com pessoas que causam males e agravos. “Não resistais àquele que é iníquo”, aconselha. “Mas, a quem te esbofetear a face direita, oferece-lhe também a outra.” Jesus não quer dizer que a pessoa não deva defender a si mesma ou a sua família, caso sejam atacados. Um tapa não visa ferir fisicamente, só insultar. Assim, o que Jesus está dizendo é que é errado retaliar se alguém tenta provocar uma briga ou uma discussão, quer literalmente dando um tapa, quer lançando insultos.
Depois de trazer à atenção a lei de Deus de amar o próximo, Jesus diz: “No entanto, eu vos digo: Continuai a amar os vossos inimigos e a orar pelos que vos perseguem.” Dando uma forte razão para isso, ele adiciona: “Para que mostreis ser filhos de vosso Pai, que está nos céus, visto que ele faz o seu sol levantar-se sobre iníquos e sobre bons.”
Jesus conclui esta parte de seu sermão admoestando: “Concordemente, tendes de ser perfeitos, assim como o vosso Pai celestial é perfeito.” Jesus não quer dizer que as pessoas podem ser perfeitas em sentido absoluto. Mas, imitando a Deus, elas podem expandir seu amor para incluir até mesmo seus inimigos. O relato paralelo de Lucas registra as seguintes palavras de Jesus: “Continuai a tornar-vos misericordiosos, assim como vosso Pai é misericordioso.”
I. Oração, e Confiança em Deus
Prosseguindo Jesus com o seu sermão, ele condena a hipocrisia das pessoas que fazem questão de exibir sua suposta piedade. “Quando fizeres dádivas”, diz ele, “não toques a trombeta diante de ti, assim como fazem os hipócritas”.
“Também”, prossegue Jesus, “quando orardes, não deveis ser como os hipócritas; porque eles gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas largas, para serem vistos pelos homens”. Em vez disso, ele instrui: “Quando orares, entra no teu quarto particular, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto.” O próprio Jesus proferiu orações em público, de modo que não as está condenando. O que ele está denunciando são as orações proferidas para impressionar os ouvintes e provocar elogios de admiração.
Jesus aconselha adicionalmente: “Ao orares, não digas as mesmas coisas vez após vez, assim como fazem os das nações.” Jesus não quer dizer que a própria repetição é errada. Certa vez ele mesmo usou “a mesma palavra” repetidas vezes ao orar. O que ele desaprovava era dizer “vez após vez” frases decoradas, assim como fazem os que passam contas pelos dedos ao repetirem de cor suas orações.
Para ajudar seus ouvintes a orar, Jesus profere uma oração-modelo que inclui sete petições. As primeiras três reconhecem corretamente a soberania de Deus e seus propósitos. Pedem que o nome de Deus seja santificado, que venha seu Reino e que se faça a sua vontade. As quatro restantes são pedidos pessoais, a saber, pelo alimento diário, pelo perdão de pecados, para não ser tentado além do que se pode suportar e de ser livrado do iníquo.
Prosseguindo, Jesus trata da armadilha de se dar indevida ênfase aos bens materiais. Ele exorta: “Parai de armazenar para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem consomem, e onde ladrões arrombam e furtam.” Tais tesouros não somente são perecíveis, mas não granjeiam nenhum mérito perante Deus.
Por isso, Jesus diz: “Antes, armazenai para vós tesouros no céu.” Faz-se isso colocando-se o serviço de Deus em primeiro lugar na vida. Ninguém pode privar alguém do mérito acumulado assim perante Deus, nem de sua grandiosa recompensa. Daí, Jesus acrescenta: “Onde estiver o teu tesouro, ali estará também o teu coração.”
Tratando adicionalmente da armadilha do materialismo, Jesus apresenta a seguinte ilustração: “A lâmpada do corpo é o olho. Se, pois, o teu olho for singelo, todo o teu corpo será luminoso; mas, se o teu olho for iníquo, todo o teu corpo será escuro.” O olho que funciona corretamente é para o corpo como uma lâmpada acesa num lugar escuro. Mas, para enxergar corretamente, o olho precisa ser singelo, quer dizer, precisa enfocar apenas uma coisa. Um olho fora de foco resulta numa avaliação errada das coisas, passando-se a colocar os empenhos materiais à frente do serviço prestado a Deus, o que resulta em ‘todo o corpo’ ficar escuro.
Jesus culmina este assunto com a seguinte forte ilustração: “Ninguém pode trabalhar como escravo para dois amos; pois, ou há de odiar um e amar o outro, ou há de apegar-se a um e desprezar o outro. Não podeis trabalhar como escravos para Deus e para as Riquezas.”
Depois de dar este conselho, Jesus assegura aos seus ouvintes que eles não precisam estar ansiosos de suas necessidades materiais, se derem ao serviço de Deus o primeiro lugar. “Observai atentamente as aves do céu”, diz ele, “porque elas não semeiam nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celestial as alimenta”. Então pergunta: “Não valeis vós mais do que elas?”
A seguir, Jesus aponta para os lírios do campo e observa que “nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestia como um destes. Se Deus, pois”, prossegue ele, “veste assim a vegetação do campo, . . . não vestirá ele tanto mais a vós, ó vós os de pouca fé?”. Portanto, Jesus conclui: “Nunca estejais ansiosos, dizendo: ‘Que havemos de comer?’ ou: ‘Que havemos de beber?’ ou: ‘Que havemos de vestir?’ . . . Pois o vosso Pai celestial sabe que necessitais de todas essas coisas. Persisti, pois, em buscar primeiro o reino e a Sua justiça, e todas estas outras coisas vos serão acrescentadas.”
II. O Caminho Para a Vida
O caminho para a vida é o de acatar os ensinos de Jesus. Mas isto não é fácil. Por exemplo, os fariseus tendem a julgar os outros com severidade, e é provável que muitos os imitem. De modo que dando continuidade ao Sermão do Monte, Jesus dá a seguinte admoestação: “Parai de julgar, para que não sejais julgados; pois, com o julgamento com que julgais, vós sereis julgados.”
É perigoso seguir a liderança dos excessivamente críticos fariseus. Segundo o relato de Lucas, Jesus ilustra este perigo dizendo: “Será que um cego pode guiar um cego? Não cairão ambos numa cova?”
Ser crítico demais dos outros, exagerando suas faltas e julgando-os severamente, é um grave delito. Por isso, Jesus pergunta: “Como podes dizer a teu irmão: ‘Permite-me tirar o argueiro do teu olho’, quando, eis que há uma trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu próprio olho, e depois verás claramente como tirar o argueiro do olho do teu irmão.”
Isto não significa que os discípulos de Jesus não devem usar de discernimento com respeito a outras pessoas, porque ele diz: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis as vossas pérolas diante dos porcos.” As verdades da Palavra de Deus são santas. São como pérolas figurativas. Mas, se alguns, que são como cães ou porcos, não mostram nenhum apreço por essas preciosas verdades, os discípulos de Jesus devem deixá-los e procurar ouvidos mais receptivos.
Embora Jesus já tenha considerado a oração no seu Sermão do Monte, ele enfatiza agora a necessidade de se persistir nela. “Persisti em pedir”, exorta ele, “e dar-se-vos-á”. Para ilustrar a prontidão de Deus, em responder às orações, Jesus pergunta: “Qual é o homem entre vós, cujo filho lhe peça pão — será que lhe entregará uma pedra? . . . Portanto, se vós, embora iníquos, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais o vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem!”
A seguir, Jesus apresenta o que se tornou uma famosa regra de conduta, comumente chamada de Regra Áurea. Ele diz: “Todas as coisas, portanto, que quereis que os homens vos façam, vós também tendes de fazer do mesmo modo a eles.” Viver segundo esta regra envolve ação positiva em fazer o bem aos outros, tratando-os assim como você quer ser tratado.
A ilustração que Jesus conta a seguir revela que o caminho para a vida não é fácil: “Entrai pelo portão estreito; porque larga e espaçosa é a estrada que conduz à destruição, e muitos são os que entram por ela; ao passo que estreito é o portão e apertada a estrada que conduz à vida, e poucos são os que o acham.”
O perigo de ser desencaminhado é grande; por isso Jesus adverte: “Vigiai-vos dos falsos profetas que se chegam a vós em pele de ovelha, mas que por dentro são lobos vorazes.” Assim como se pode reconhecer árvores boas e árvores más pelos frutos que produzem, comenta Jesus, da mesma forma se pode reconhecer os falsos profetas por sua conduta e seus ensinos.
Prosseguindo, Jesus explica que a pessoa se torna seu discípulo não meramente pelo que diz, mas pelo que faz. Alguns afirmam que Jesus é seu Senhor, mas caso não estejam fazendo a vontade do Pai, Jesus diz: “Eu lhes confessarei então: Nunca vos conheci! Afastai-vos de mim, vós obreiros do que é contra a lei.”
Por fim, Jesus profere a memorável conclusão do seu sermão. Ele diz: “Todo aquele que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem discreto, que construiu a sua casa sobre a rocha. E caiu a chuva, e vieram as inundações, e sopraram os ventos e açoitaram a casa, mas ela não se desmoronou, pois tinha sido fundada na rocha.”
Por outro lado, Jesus declara: “Todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem tolo, que construiu a sua casa sobre a areia. E caiu a chuva, e vieram as inundações, e sopraram os ventos e bateram contra aquela casa, e ela se desmoronou, e foi grande a sua queda.”
Quando Jesus termina seu sermão, as multidões ficam assombradas com o seu modo de ensinar, porque ele as ensina como quem tem autoridade, e não como seus líderes religiosos. Lucas 6:12-23; Mateus 5:1-12; Lucas 6:24-26; Mateus 5:13-48; 6:1-34; 26:36-45; 7:1-29; Lucas 6:27-49.