O Significado de Gênesis 1
Gênesis 1
O primeiro capítulo da Bíblia fornece alguns detalhes a respeito de medidas vitais tomadas por Deus na preparação da Terra para o usufruto do homem. O capítulo não dá todos os detalhes; ao lê-lo, não devemos nos abalar caso ele omita certas particularidades que os leitores antigos nem poderiam ter entendido. Por exemplo, ao escrever esse capítulo, Moisés não falou das funções de algas e bactérias microscópicas. Essas formas de vida só chegaram ao campo da visão humana depois da invenção do microscópio, no século 16. Moisés tampouco falou especificamente dos dinossauros, cuja existência foi deduzida à base de fósseis, no século 19. Em vez disso, Moisés foi inspirado a usar palavras que pudessem ser entendidas por pessoas de seus dias — mas palavras exatas em tudo que dizia respeito à criação da Terra.
Ao ler Gênesis, capítulo 1, do versículo 3 em diante, você verá que ele está dividido em seis “dias” criativos. Há quem diga que estes eram dias literais de 24 horas, significando que o Universo inteiro e a vida na Terra foram criados em menos de uma semana! Mas é fácil descobrir que a Bíblia não ensina isso. O livro de Gênesis foi escrito em hebraico. Nesse idioma, “dia” refere-se a um espaço de tempo. Pode ser um período longo, bem como um dia de 24 horas. Mesmo em Gênesis, os seis “dias” são englobados num só período longo — ‘o dia em que Jeová fez a terra e o céu’. (Gênesis 2:4; note 2 Pedro 3:8.) Na verdade, a Bíblia revela que os “dias” (ou eras) criativos representam milhares de anos.
Pode-se ver isso pelo que a Bíblia diz sobre o sétimo “dia”. O registro de cada um dos primeiros seis “dias” termina dizendo ‘e veio a ser noitinha e veio a ser manhã, primeiro dia’, e assim por diante. No entanto, essa expressão não ocorre depois do registro do sétimo “dia”. E, no primeiro século EC, uns 4.000 anos mais adiante na corrente do tempo, a Bíblia diz que o sétimo “dia”, de descanso, ainda continuava. (Hebreus 4:4-6) Portanto, o sétimo “dia” era um período que se estenderia por milhares de anos, e podemos concluir logicamente o mesmo a respeito dos primeiros seis “dias”.
I. O primeiro e o quarto “dia”
Pelo visto, a Terra já estava em órbita em torno do Sol e já era um globo coberto de água quando começaram os seis “dias”, ou períodos, de obras criativas especiais. “Havia escuridão sobre a superfície [do abismo aquoso].” (Gênesis 1:2) Naquele estágio primordial, alguma coisa — talvez uma mistura de vapor de água, outros gases e cinzas vulcânicas — deve ter impedido que a luz do Sol atingisse a superfície da Terra. A Bíblia descreve assim o primeiro período criativo: “Deus passou a dizer: ‘Haja luz’; e gradualmente veio à existência a luz”, ou a luz alcançou a superfície da Terra. — Gênesis 1:3, tradução de J. W. Watts.
A expressão “gradualmente veio” exprime com exatidão a forma do verbo hebraico em questão, denotando uma ação progressiva que leva tempo para se consumar. Quem lê em hebraico encontra essa forma verbal umas 40 vezes em Gênesis, capítulo 1, e isso é uma chave para entender o capítulo. O que Deus começou a fazer na figurativa noitinha de um período (ou era) criativo tornava-se progressivamente claro, ou evidente, depois da manhã daquele “dia”. Também, o que foi iniciado num período não precisava estar plenamente acabado quando começava o período seguinte. Para ilustrar, a luz surgiu gradualmente no primeiro “dia”, mas foi só no quarto período criativo que o Sol, a Lua e as estrelas puderam ser vistos. — Gênesis 1:14-19.
II. O segundo e o terceiro “dia”
Antes de fazer surgir o solo seco, no terceiro “dia” criativo, o Criador suspendeu parte das águas. Com isso, a Terra ficou envolta num manto de vapor de água. Esse registro antigo não descreve — nem precisava descrever — os mecanismos usados. Em vez disso, a Bíblia enfoca a expansão entre as águas de cima e as de superfície. Ela chama isso de “céus”. Mesmo hoje as pessoas usam esse termo para a atmosfera, onde as aves e os aviões voam. No tempo oportuno, Deus encheu esses céus atmosféricos com uma mistura de gases essenciais para a vida.
Contudo, durante os “dias” criativos a água de superfície baixou, de modo que surgiu o solo seco. Talvez usando forças geológicas que ainda hoje movem as placas da Terra, pelo visto Deus empurrou para cima as cristas oceânicas para formar continentes. Isso teria produzido o solo seco acima da superfície das águas e profundos abismos oceânicos, que os oceanógrafos agora mapeiam e estudam com grande interesse. (Note o Salmo 104:8, 9.) Depois da formação do solo seco, aconteceu outra coisa maravilhosa. Lemos: “Deus prosseguiu, dizendo: ‘Faça a terra brotar relva, vegetação que dê semente, árvores frutíferas que deem fruto segundo as suas espécies, cuja semente esteja nele, sobre a terra.’ E assim se deu.” — Gênesis 1:11.
Conforme considerado no capítulo anterior (“O que revelam as obras?”), a fotossíntese é essencial para as plantas. Na célula de uma planta verde há numerosos corpúsculos chamados cloroplastos, que obtêm energia da luz solar. “Essas fábricas microscópicas”, explica o livro Planet Earth (Planeta Terra), “manufaturam açúcares e amidos . . . Jamais um humano projetou uma fábrica mais eficiente, ou cujos produtos tivessem maior demanda, do que um cloroplasto”.
De fato, a futura vida animal dependeria dos cloroplastos para a sobrevivência. Também, sem a vegetação verde, a atmosfera da Terra seria excessivamente rica em dióxido de carbono, e nós morreríamos de calor e de falta de oxigênio. Alguns especialistas dão explicações espantosas sobre como se desenvolveu a vida dependente da fotossíntese. Por exemplo, eles dizem que quando certos organismos unicelulares na água começaram a ficar sem alimentos, “algumas células pioneiras finalmente inventaram uma solução. Elas chegaram à fotossíntese”. Mas poderia realmente ter sido assim? A fotossíntese é tão complexa que os cientistas ainda tentam desvendar os seus mistérios. Você acha que a vida fotossintética auto-reprodutora surgiu inexplicavelmente e espontaneamente? Ou acha mais razoável crer que ela resulta de criação inteligente e propositada, conforme relata Gênesis?
O aparecimento de variedades novas de vida vegetal talvez não tenha cessado no terceiro “dia” criativo. Pode ter prosseguido até mesmo no sexto “dia”, quando o Criador “plantou um jardim no Éden” e fez “brotar do solo toda árvore de aspecto desejável e boa para alimento”. (Gênesis 2:8, 9) E, como já mencionado, a atmosfera da Terra com certeza já clareara no quarto “dia”, permitindo assim que mais luz do Sol e de outros corpos celestes atingisse o planeta Terra.
III. O quinto e o sexto “dia”
No quinto “dia” criativo o Criador passou a encher os oceanos e os céus atmosféricos com uma nova forma de vida — “almas viventes” — distintas da vegetação. Curiosamente, os biólogos falam, entre outras coisas, de reino vegetal e de reino animal, e os dividem em subclassificações. A palavra hebraica traduzida por “alma” significa “quem (ou que) respira”. A Bíblia diz também que as “almas viventes” têm sangue. Por conseguinte, pode-se concluir que as criaturas que têm tanto um sistema respiratório como um sistema circulatório — os habitantes dos oceanos e dos céus, que respiram — começaram a aparecer no quinto período criativo. — Gênesis 1:20; 9:3, 4.
No sexto “dia” Deus deu mais atenção ao solo. Ele criou animais ‘domésticos’ e animais ‘selváticos’, que eram classificações significativas quando Moisés escreveu o relato. (Gênesis 1:24) Portanto, foi no sexto período criativo que foram formados os mamíferos terrestres. E os seres humanos?
Esse registro antigo nos informa que, por fim, o Criador decidiu produzir uma forma de vida realmente única na Terra. Ele disse ao seu Filho celestial: “Façamos o homem à nossa imagem, segundo a nossa semelhança, e tenham eles em sujeição os peixes do mar, e as criaturas voadoras dos céus, e os animais domésticos, e toda a terra, e todo animal movente que se move sobre a terra.” (Gênesis 1:26) De modo que o homem refletiria a imagem espiritual do Criador, exibindo as Suas qualidades. E o homem seria capaz de assimilar uma quantidade enorme de conhecimentos. Assim, os humanos poderiam agir com inteligência superior à de qualquer animal. Também, diferentemente dos animais, o homem foi feito com a capacidade de agir segundo a sua própria livre vontade, sem ser controlado basicamente por instinto.
Em anos recentes, os cientistas pesquisaram a fundo os genes humanos. Comparando os padrões genéticos humanos ao redor da Terra, eles encontraram evidências claras de que todos os humanos têm um ancestral comum, uma fonte do DNA de todas as pessoas que já viveram e de cada um de nós. Em 1988, a revista Newsweek apresentou essas descobertas numa matéria intitulada “Em busca de Adão e Eva”. Esses estudos baseavam-se num tipo de DNA mitocondrial, material genético transmitido apenas pela mulher.
Informações de 1995 acerca de pesquisas em DNA masculino apontaram para a mesma conclusão: “Houve um ancestral ‘Adão’, cujo material genético no cromossomo [Y] é comum a todo homem que hoje existe na Terra”, como disse a revista Time. Sejam exatas, ou não, em todos os detalhes, essas descobertas ilustram que o relato em Gênesis é de alta credibilidade, de autoria de Alguém que esteve presente na época.
Que clímax quando Deus reuniu alguns dos componentes do solo para formar seu primeiro filho humano, a quem chamou de Adão! (Lucas 3:38) O relato histórico diz que o Criador do globo e da vida nele colocou o homem que havia feito numa área semelhante a um jardim, “para que o cultivasse e tomasse conta dele”. (Gênesis 2:15) Nessa época, o Criador talvez ainda estivesse produzindo novos tipos de animais. A Bíblia diz: “Deus estava formando do solo todo animal selvático do campo e toda criatura voadora dos céus, e ele começou a trazê-los ao homem para ver como chamaria a cada um deles; e o que o homem chamava a cada alma vivente, este era seu nome.” (Gênesis 2:19) A Bíblia de forma alguma sugere que o primeiro homem, Adão, fosse um mero personagem de ficção. Ao contrário, ele era uma pessoa real — um ser humano de raciocínio e de sentimentos — que poderia encontrar alegria trabalhando naquele lar paradísico. A cada dia ele aprendia mais a respeito de seu Criador —Suas qualidades e personalidade — e de Suas obras.
Daí, depois de um período não-especificado, Deus criou a primeira mulher, para ser a esposa de Adão. E Deus acrescentou maior objetivo à vida deles, com esta missão significativa: “Sede fecundos e tornai-vos muitos, e enchei a terra, e sujeitai-a, e tende em sujeição os peixes do mar, e as criaturas voadoras dos céus, e toda criatura vivente que se move na terra.” (Gênesis 1:27, 28) Nada pode mudar esse objetivo expresso do Criador, a saber, que a Terra inteira se transforme num paraíso habitado por humanos felizes, vivendo em paz entre si e com os animais.
O Universo material, incluindo o nosso planeta e a vida nele, atestam claramente a sabedoria de Deus. Portanto, Deus obviamente podia prever que, com o tempo, alguns humanos talvez preferissem agir de modo independente ou rebelde, mesmo sendo Ele o Criador e o Dador da Vida. Essa rebeldia poderia obstruir a grandiosa obra de fazer um paraíso global. O relato diz que Deus apresentou a Adão e Eva um teste simples, que os lembraria da necessidade de serem obedientes. A desobediência, disse Deus, resultaria na perda da vida que ele lhes dera. O Criador demonstrou interesse e preocupação ao alertar os nossos primeiros ancestrais contra um proceder errado que afetaria a felicidade de toda a raça humana. — Gênesis 2:16, 17.
No fim do sexto “dia”, o Criador havia feito tudo o que era necessário para cumprir o seu objetivo. Ele podia, com toda razão, dizer que tudo o que fizera era “muito bom”. (Gênesis 1:31) Nesse ponto, a Bíblia introduz outro período importante ao dizer que Deus “passou a repousar no sétimo dia de toda a sua obra que fizera”. (Gênesis 2:2) Visto que o Criador “não se cansa nem se fatiga”, por que se diz que ele repousou? (Isaías 40:28) Isso indica que ele cessou de realizar obras de criação material; além disso, ele ‘descansa’ sabendo que nada, nem mesmo uma rebelião no céu ou na Terra, pode frustrar a realização de seu grande objetivo. Deus confiantemente abençoou o sétimo “dia” criativo. Assim, as leais criaturas inteligentes de Deus — os humanos e as criaturas espirituais invisíveis — podem ter certeza de que, no fim do sétimo “dia”, a paz e a felicidade vão imperar em todo o Universo.