Teologia do Evangelho de Mateus
Teologia do Evangelho de Mateus
Biblioteca Bíblica
Quais foram os acontecimentos mais importantes que já ocorreram na história da humanidade? Sem sombra de dúvida, foram o nascimento, o ministério, a morte, a ressurreição e a ascensão para o céu de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Em harmonia com o princípio divino de que ‘todo assunto deve ser estabelecido pela boca de duas ou três testemunhas’, Deus cuidou de que se registrassem quatro relatos sobre a vida de Jesus Cristo, para confirmar a veracidade desses acontecimentos. (Deuteronômio 17:6; 2 Coríntios 13:1) As quatro pessoas que Ele usou foram Mateus, Marcos, Lucas e João. Observou-se muito bem a respeito destes quatro escritores que cada um tem o seu próprio tema específico, seu próprio objetivo, reflete sua própria personalidade e tem em mente os leitores a que se dirige.
Sabemos pouco sobre Mateus, o primeiro desses escritores. Mas, podemos concluir que era homem modesto, porque é apenas no seu relato que ficamos sabendo que ele era um desprezado cobrador de impostos. (Mateus 9:9) E não é de admirar que os cobradores de impostos fossem desprezados! Em primeiro lugar, representavam o jugo romano lá onde ‘doía’ muito, no bolso! Além disso, eram famosos por abusarem de suas prerrogativas, tornando-se extorsores. Isto é indicado pelas palavras do cobrador de impostos Zaqueu. Depois de Jesus ter ido ao lar dele, Zaqueu mudou de atitude, dizendo: “O que for que eu extorqui de qualquer um por meio de acusação falsa, eu restituo quatro vezes mais.” (Lucas 19:8) Mas parece não haver quase nenhuma dúvida quanto a Mateus ter sido um agente honesto do fisco; senão, Jesus não o teria convidado diretamente do seu emprego para ser seguidor Dele.
Já no tempo da desobediência de Adão, no Éden, Deus predissera, em linguagem oculta, a vinda do Messias, chamando-o de “descendente” da mulher. E este, já no tempo do Rei Davi, foi chamado de “ungido” de Deus. Foi especialmente o profeta Daniel quem predisse a vinda do Messias. (Gênesis 3:15; 22:17, 18; Salmo 2:2; Daniel 9:24-27) A chegada do há muito aguardado Messias era uma notícia tão emocionante, que Mateus não perdeu tempo e a proclamou por meio de seu Evangelho. À base da melhor evidência disponível, parece que escreveu sua narrativa já em 41 E.C.
É bastante evidente que Mateus pretendia que sua narrativa evangélica fosse uma ponte entre os acontecimentos registrados nas Escrituras Hebraicas e os relacionados com a vida do Messias. Segundo o testemunho dos primitivos historiadores eclesiásticos, Mateus escreveu seu Evangelho primeiro em hebraico, e depois fez uma cópia dele em grego. Isto é apoiado pelo fato de que todas as suas citações das Escrituras anteriores não são da Versão dos Setenta grega, como se dá muitas vezes com outros escritores evangélicos, mas sim do texto hebraico. E, em harmonia com o seu tema, de que Jesus Cristo é realmente o predito Messias, Mateus, mais do que os outros, mostra como a vida e as ações de Jesus cumpriram a profecia bíblica. (Compare Mateus 8:16, 17 com Marcos 1:34 e Lucas 4:40.) Mateus, mais do que os outros escritores de Evangelhos, também enfatiza o tema do “reino dos céus”, motivo pelo qual o seu Evangelho foi chamado de “Evangelho do Reino”. — Mateus 4:17; 5:3; 11:12; 22:2.
A ocupação anterior de Mateus, como cobrador de impostos, revela-se nos seus escritos. Em primeiro lugar, ele apreciava vivamente a grande benignidade imerecida concedida a ele, como cobrador de impostos, de tornar-se apóstolo do Messias. Verificamos assim que ele é ímpar em registrar que Jesus salientou que se requer misericórdia, e não apenas sacrifícios. É interessante que só Mateus nos dá as seguintes palavras consoladoras de Jesus, que começam com o convite: “Vinde a mim, todos os que estais labutando e que estais sobrecarregados, e eu vos reanimarei.” — Mateus 9:9-13; 11:28-30; 12:7; 18:21-35.
Ter sido Mateus cobrador de impostos revela-se também na sua atenção a cifras. Só ele conta que Judas traiu Jesus por 30 moedas de prata. (Mateus 26:15) Além disso, onde outros mencionam apenas um ou colocam as coisas no singular, Mateus torna-se mais específico e menciona dois ou coloca as coisas no plural. (Compare Mateus 4:3; 8:28; 20:29, 30, com Marcos 5:2; 10:46, 47; Lucas 4:3; 8:27; 18:35-38.) De fato, parece que Mateus gostava de números. Assim, no capítulo seis, verificamos que ele alista sete petições na Oração modelo (em comparação com cinco por Lucas), sete parábolas no capítulo 13, e sete ais proferidos por Jesus contra os clérigos judaicos dos seus dias, no capítulo 23. E Mateus divide a genealogia de Jesus em três grupos de 14. — Mateus 1:1-17.
Os aspectos distintivos do Evangelho de Mateus também se tornam evidentes quando notamos que seu relato complementa o de Lucas. Isto é de esperar, quando consideramos quão diferente é o raciocínio dum cobrador de impostos em comparação com o de um médico. Tampouco podemos desconsiderar o papel desempenhado pelo espírito santo neste assunto. Por outro lado, também, Mateus escreveu para persuadir judeus fiéis de que Jesus era o há muito aguardado Messias, ao passo que Lucas apresenta Jesus como o Salvador de toda a humanidade. Assim, Mateus estabelece a genealogia de Jesus apenas até Abraão, através de Davi, ao passo que Lucas a faz recuar até “Adão, filho de Deus”. (Mateus 1:1-16; Lucas 3:23-38) Evidentemente, Mateus estabelece a linhagem jurídica de Jesus por meio de Seu pai adotivo, José, ao passo que Lucas a estabelece por meio da linhagem natural de Sua mãe, Maria. Mateus registra que um anjo apareceu a José, pai adotivo de Jesus. Lucas fala sobre o anjo Gabriel aparecer a Maria, mãe de Jesus. De maneira similar, Mateus fala sobre astrólogos virem para visitar o menino Jesus, o ‘rei dos judeus’, com presentes caros, ao passo que Lucas conta que pastores humildes foram convidados para ver o recém-nascido Salvador.
Ao registrar a vida de Jesus, Mateus não perdeu nenhuma oportunidade para provar que Jesus era de fato o predito Messias. Como fez isso? Por citar as Escrituras Hebraicas umas 100 vezes em apoio de seu tema. Por exemplo, ao prover os pormenores do nascimento de Jesus, ele destaca que Jesus nasceu da virgem judia Maria em cumprimento de profecia. (Isaías 7:14; Mateus 1:21-23) Ao registrar a fuga de José e sua família para escaparem do edito assassino do Rei Herodes, Mateus observa que isso se deu para que se cumprisse o texto: “Do Egito chamei o meu filho.” (Oseias 11:1; Mateus 2:14, 15) Conforme Mateus mostra, o pesar causado por Herodes mandar matar todos os meninos de dois anos ou menos de idade, em Belém e seus distritos, também fora predito. — Jeremias 31:15; Mateus 2:16-18.
Nos capítulos três e quatro, Mateus apresenta o precursor de Jesus, João, o Batizador, relata que este batizou Jesus e que o próprio Deus confirmou que Jesus era Seu Filho. Segue-se então a tentação tripla de Jesus, no ermo, e iniciar Jesus seu ministério para pregar: “O reino dos céus se tem aproximado”, realizando também muitos milagres de cura. Mostra-se que a pregação de Jesus era outro cumprimento de profecia. — Isaías 9:1, 2; Mateus 4:13-17.
Com exceção dos seus últimos 10 capítulos, Mateus faz pouco empenho de apresentar os assuntos em ordem cronológica. Visto que o Sermão do Monte, de Jesus, é um ensino bem destacado, Mateus o apresenta logo depois de falar sobre o início do ministério de Jesus, embora Jesus realmente o proferisse cerca de um ano mais tarde. Não há dúvida de que foi o mais grandioso sermão já pregado, e Mateus fornece o relato mais completo dele. Começa com as nove ‘felicidades’, que deveras consolam todos os que amam a verdade e a justiça. Note-se de passagem que se trata de “felicidades”, não de “beatitudes”, motivo pelo qual traduções modernas, tais como A Bíblia de Jerusalém (em inglês) e A Bíblia na Linguagem de Hoje usam “felizes”, em vez de “bem-aventurados”.
Sobre o Sermão do Monte, relata-se que Maatma Gandi disse a um antigo vice-rei da Índia, o Lorde Irwin: “Quando seu país e o meu se reunirem baseados nos ensinos de Cristo neste Sermão do Monte, teremos solucionado os problemas, não só de nossos países, mas do mundo inteiro.” Este Sermão contém também a Regra Áurea. Em harmonia com o tema de Mateus, ele diz que Jesus não viera para destruir a lei de Moisés, mas para cumpri-la, e que a Regra Áurea era realmente o assunto de que tratavam a Lei e os profetas. — Mateus 5:17; 7:12.
Parece que Mateus ficou especialmente impressionado com o ensino de Jesus. Em comparação com outros Evangelhos, seu relato sobre o Sermão do Monte não somente é mais extenso, mas o mesmo se dá sobre o seu relato a respeito de Jesus enviar Seus 12 apóstolos (capítulo 10), seu relato sobre as sete parábolas do Reino (capítulo 13) e seu registro do conselho de Jesus sobre a necessidade de se ter misericórdia, de estar disposto a perdoar “setenta e sete vezes”. — Capítulo 18.
Nos capítulos 8, 9, 11, 12 e 14 a 17, Mateus relata principalmente os muitos milagres de Jesus, tais como alimentar ele em certa ocasião 5.000, e em outra ocasião “quatro mil homens, além de mulheres e criancinhas”. Esses capítulos também contêm as denúncias, por Jesus, dos líderes religiosos judaicos, deliberadamente iníquos e hipócritas, que haviam cometido o pecado imperdoável. Além disso, nesses capítulos encontramos a confissão de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente”, e uma descrição da transfiguração, na qual Yehowah confirmou novamente que Jesus Cristo era de fato Seu Filho. — Mateus 16:16; 17:1-9.
Chegando agora aos últimos acontecimentos do ministério de Jesus, verificamos que Mateus escreveu as coisas na ordem em que ocorreram. A maior parte do que Mateus registrou antes ocorrera na Galileia, mas ele toca agora no posterior ministério de Jesus na Pereia. Os opositores religiosos desafiaram Jesus sobre a questão do divórcio, esperando embaraçá-lo. Mas, em vez disso, foram frustrados por causa da sabedoria e do conhecimento superior das Escrituras, que Jesus tinha: A única base para o divórcio é a “fornicação”. Um jovem governador rico, convencido, chegou-se a Jesus, perguntando sobre o que tinha de fazer para obter a vida eterna, mas afastou-se com uma avaliação muito diminuída sobre a sua própria bondade, porque a sua riqueza lhe era mais importante do que a vida eterna. O espírito de rivalidade dividiu os apóstolos induzindo Jesus a lembrar-lhes que ele ‘não veio para que se lhe ministrasse, mas para ministrar e dar a sua vida como resgate em troca de muitos’. — Mateus 19:1 a 20:34.
Na última semana de Jesus na terra como homem, o cenário muda para Betânia e Jerusalém, e lemos sobre a sua entrada triunfal nesta cidade. Depois disso, Jesus entrou no templo e limpou-o por expulsar todos os vigaristas religiosos. A seguir, ele contou uma parábola sobre os lavradores que assassinaram o herdeiro do vinhedo, deixando seus adversários saber que sabia o que eles cogitavam. — Mateus 21:1-46.
Embora fossem repetidas vezes derrotados nos seus anteriores debates com Jesus, seus opositores religiosos tentaram novamente embaraçá-lo por lhe fazerem perguntas capciosas sobre o pagamento do impopular imposto romano, sobre a ressurreição e sobre qual era o maior mandamento. As respostas sábias e bíblicas dele os silenciaram. Jesus aconselhou então seus discípulos sobre a necessidade de serem humildes. Censurou fortemente seus opositores religiosos, hipócritas, proferindo sete ais. Por causa da oposição deles, sua casa havia de ser abandonada. — Mateus 22:1 a 23:39.
Os comentários de certos de seus apóstolos, sobre a grandiosidade do templo de Herodes, ofereceram a Jesus a oportunidade de proferir a sua maior profecia sobre o fim do sistema judaico de coisas e sobre a sua volta, sua parusia, palavras que têm tido notável cumprimento, em especial nos últimos dias em que vivemos. A seguir, proferiu três parábolas, que tiveram cumprimento nos nossos dias, a parábola das virgens sábias e das tolas, e a dos talentos, e a das ovelhas e dos cabritos. — Mateus 24:1 a 25:46.
Mateus fornece então o único relato de testemunha ocular que temos sobre a instituição da Refeição Noturna do Senhor por Jesus, em comemoração de sua morte. Continuando, Mateus relata a experiência de Jesus em Getsêmani, sua prisão, a negação de Pedro, o julgamento de Cristo, a vacilação de Pilatos e sua lavagem das mãos, e ser Jesus então pendurado numa estaca entre dois criminosos, como Rei dos judeus, na colina chamada Calvário. — Mateus 26:1-75.
Quando Jesus foi preso, todos os seus apóstolos fugiram, e o ânimo deles certamente ficou abatido com estes acontecimentos. Mas não por muito tempo. No terceiro dia, ficaram sabendo da ressurreição de Jesus dentre os mortos. Mais tarde, encontraram-se com Jesus na Galileia, onde, sem dúvida pouco antes da ascensão dele ao céu, ele proferiu na despedida a seguinte comissão: “Ide, portanto, e fazei discípulos de pessoas de todas as nações, batizando-as . . . E eis que estou convosco todos os dias, até à terminação do sistema de coisas.” — Mateus 28:19, 20.
Sem dúvida, Mateus prova o seu tema, de que Jesus de Nazaré é deveras o Messias, o Filho de Deus. Mateus faz isso por salientar as muitas profecias que Jesus cumpriu, os milagres que Jesus realizou e as verdades que Jesus ensinou. Mateus, sem dúvida, tinha uma mente sagaz e apreciativa, avivada pelo espírito santo de Deus. Visto que o espírito de Deus o dirigia e lhe fazia lembrar as coisas que Deus queria que fossem registradas, ele pôde escrever um relato abrangente e vigoroso sobre a vida de Jesus.
Quão gratos podemos ser a Deus, de que Ele inspirou um tão humilde, honesto e altruísta servo seu e seguidor de seu Filho para registrar um relato tão fortalecedor da fé sobre o ministério terrestre de Jesus! Familiarizemo-nos realmente com este relato, para que tanto possamos viver segundo os princípios apresentados por Jesus como falar a outros, em cada oportunidade, sobre as “boas novas” de que o há muito prometido Messias veio no tempo designado de Deus em cumprimento de muitas profecias registradas nas Escrituras Hebraicas. — Mateus 24:14.
Em harmonia com o princípio divino de que ‘todo assunto deve ser estabelecido pela boca de duas ou três testemunhas’, Deus cuidou de que se registrassem quatro relatos sobre a vida de Jesus Cristo, para confirmar a veracidade desses acontecimentos. (Deuteronômio 17:6; 2 Coríntios 13:1) As quatro pessoas que Ele usou foram Mateus, Marcos, Lucas e João. Observou-se muito bem a respeito destes quatro escritores que cada um tem o seu próprio tema específico, seu próprio objetivo, reflete sua própria personalidade e tem em mente os leitores a que se dirige.
Sabemos pouco sobre Mateus, o primeiro desses escritores. Mas, podemos concluir que era homem modesto, porque é apenas no seu relato que ficamos sabendo que ele era um desprezado cobrador de impostos. (Mateus 9:9) E não é de admirar que os cobradores de impostos fossem desprezados! Em primeiro lugar, representavam o jugo romano lá onde ‘doía’ muito, no bolso! Além disso, eram famosos por abusarem de suas prerrogativas, tornando-se extorsores. Isto é indicado pelas palavras do cobrador de impostos Zaqueu. Depois de Jesus ter ido ao lar dele, Zaqueu mudou de atitude, dizendo: “O que for que eu extorqui de qualquer um por meio de acusação falsa, eu restituo quatro vezes mais.” (Lucas 19:8) Mas parece não haver quase nenhuma dúvida quanto a Mateus ter sido um agente honesto do fisco; senão, Jesus não o teria convidado diretamente do seu emprego para ser seguidor Dele.
Já no tempo da desobediência de Adão, no Éden, Deus predissera, em linguagem oculta, a vinda do Messias, chamando-o de “descendente” da mulher. E este, já no tempo do Rei Davi, foi chamado de “ungido” de Deus. Foi especialmente o profeta Daniel quem predisse a vinda do Messias. (Gênesis 3:15; 22:17, 18; Salmo 2:2; Daniel 9:24-27) A chegada do há muito aguardado Messias era uma notícia tão emocionante, que Mateus não perdeu tempo e a proclamou por meio de seu Evangelho. À base da melhor evidência disponível, parece que escreveu sua narrativa já em 41 E.C.
I. Aspectos Distintivos
É bastante evidente que Mateus pretendia que sua narrativa evangélica fosse uma ponte entre os acontecimentos registrados nas Escrituras Hebraicas e os relacionados com a vida do Messias. Segundo o testemunho dos primitivos historiadores eclesiásticos, Mateus escreveu seu Evangelho primeiro em hebraico, e depois fez uma cópia dele em grego. Isto é apoiado pelo fato de que todas as suas citações das Escrituras anteriores não são da Versão dos Setenta grega, como se dá muitas vezes com outros escritores evangélicos, mas sim do texto hebraico. E, em harmonia com o seu tema, de que Jesus Cristo é realmente o predito Messias, Mateus, mais do que os outros, mostra como a vida e as ações de Jesus cumpriram a profecia bíblica. (Compare Mateus 8:16, 17 com Marcos 1:34 e Lucas 4:40.) Mateus, mais do que os outros escritores de Evangelhos, também enfatiza o tema do “reino dos céus”, motivo pelo qual o seu Evangelho foi chamado de “Evangelho do Reino”. — Mateus 4:17; 5:3; 11:12; 22:2.
A ocupação anterior de Mateus, como cobrador de impostos, revela-se nos seus escritos. Em primeiro lugar, ele apreciava vivamente a grande benignidade imerecida concedida a ele, como cobrador de impostos, de tornar-se apóstolo do Messias. Verificamos assim que ele é ímpar em registrar que Jesus salientou que se requer misericórdia, e não apenas sacrifícios. É interessante que só Mateus nos dá as seguintes palavras consoladoras de Jesus, que começam com o convite: “Vinde a mim, todos os que estais labutando e que estais sobrecarregados, e eu vos reanimarei.” — Mateus 9:9-13; 11:28-30; 12:7; 18:21-35.
Ter sido Mateus cobrador de impostos revela-se também na sua atenção a cifras. Só ele conta que Judas traiu Jesus por 30 moedas de prata. (Mateus 26:15) Além disso, onde outros mencionam apenas um ou colocam as coisas no singular, Mateus torna-se mais específico e menciona dois ou coloca as coisas no plural. (Compare Mateus 4:3; 8:28; 20:29, 30, com Marcos 5:2; 10:46, 47; Lucas 4:3; 8:27; 18:35-38.) De fato, parece que Mateus gostava de números. Assim, no capítulo seis, verificamos que ele alista sete petições na Oração modelo (em comparação com cinco por Lucas), sete parábolas no capítulo 13, e sete ais proferidos por Jesus contra os clérigos judaicos dos seus dias, no capítulo 23. E Mateus divide a genealogia de Jesus em três grupos de 14. — Mateus 1:1-17.
Os aspectos distintivos do Evangelho de Mateus também se tornam evidentes quando notamos que seu relato complementa o de Lucas. Isto é de esperar, quando consideramos quão diferente é o raciocínio dum cobrador de impostos em comparação com o de um médico. Tampouco podemos desconsiderar o papel desempenhado pelo espírito santo neste assunto. Por outro lado, também, Mateus escreveu para persuadir judeus fiéis de que Jesus era o há muito aguardado Messias, ao passo que Lucas apresenta Jesus como o Salvador de toda a humanidade. Assim, Mateus estabelece a genealogia de Jesus apenas até Abraão, através de Davi, ao passo que Lucas a faz recuar até “Adão, filho de Deus”. (Mateus 1:1-16; Lucas 3:23-38) Evidentemente, Mateus estabelece a linhagem jurídica de Jesus por meio de Seu pai adotivo, José, ao passo que Lucas a estabelece por meio da linhagem natural de Sua mãe, Maria. Mateus registra que um anjo apareceu a José, pai adotivo de Jesus. Lucas fala sobre o anjo Gabriel aparecer a Maria, mãe de Jesus. De maneira similar, Mateus fala sobre astrólogos virem para visitar o menino Jesus, o ‘rei dos judeus’, com presentes caros, ao passo que Lucas conta que pastores humildes foram convidados para ver o recém-nascido Salvador.
II. A Apresentação do Messias por Mateus
Ao registrar a vida de Jesus, Mateus não perdeu nenhuma oportunidade para provar que Jesus era de fato o predito Messias. Como fez isso? Por citar as Escrituras Hebraicas umas 100 vezes em apoio de seu tema. Por exemplo, ao prover os pormenores do nascimento de Jesus, ele destaca que Jesus nasceu da virgem judia Maria em cumprimento de profecia. (Isaías 7:14; Mateus 1:21-23) Ao registrar a fuga de José e sua família para escaparem do edito assassino do Rei Herodes, Mateus observa que isso se deu para que se cumprisse o texto: “Do Egito chamei o meu filho.” (Oseias 11:1; Mateus 2:14, 15) Conforme Mateus mostra, o pesar causado por Herodes mandar matar todos os meninos de dois anos ou menos de idade, em Belém e seus distritos, também fora predito. — Jeremias 31:15; Mateus 2:16-18.
Nos capítulos três e quatro, Mateus apresenta o precursor de Jesus, João, o Batizador, relata que este batizou Jesus e que o próprio Deus confirmou que Jesus era Seu Filho. Segue-se então a tentação tripla de Jesus, no ermo, e iniciar Jesus seu ministério para pregar: “O reino dos céus se tem aproximado”, realizando também muitos milagres de cura. Mostra-se que a pregação de Jesus era outro cumprimento de profecia. — Isaías 9:1, 2; Mateus 4:13-17.
Com exceção dos seus últimos 10 capítulos, Mateus faz pouco empenho de apresentar os assuntos em ordem cronológica. Visto que o Sermão do Monte, de Jesus, é um ensino bem destacado, Mateus o apresenta logo depois de falar sobre o início do ministério de Jesus, embora Jesus realmente o proferisse cerca de um ano mais tarde. Não há dúvida de que foi o mais grandioso sermão já pregado, e Mateus fornece o relato mais completo dele. Começa com as nove ‘felicidades’, que deveras consolam todos os que amam a verdade e a justiça. Note-se de passagem que se trata de “felicidades”, não de “beatitudes”, motivo pelo qual traduções modernas, tais como A Bíblia de Jerusalém (em inglês) e A Bíblia na Linguagem de Hoje usam “felizes”, em vez de “bem-aventurados”.
Sobre o Sermão do Monte, relata-se que Maatma Gandi disse a um antigo vice-rei da Índia, o Lorde Irwin: “Quando seu país e o meu se reunirem baseados nos ensinos de Cristo neste Sermão do Monte, teremos solucionado os problemas, não só de nossos países, mas do mundo inteiro.” Este Sermão contém também a Regra Áurea. Em harmonia com o tema de Mateus, ele diz que Jesus não viera para destruir a lei de Moisés, mas para cumpri-la, e que a Regra Áurea era realmente o assunto de que tratavam a Lei e os profetas. — Mateus 5:17; 7:12.
Parece que Mateus ficou especialmente impressionado com o ensino de Jesus. Em comparação com outros Evangelhos, seu relato sobre o Sermão do Monte não somente é mais extenso, mas o mesmo se dá sobre o seu relato a respeito de Jesus enviar Seus 12 apóstolos (capítulo 10), seu relato sobre as sete parábolas do Reino (capítulo 13) e seu registro do conselho de Jesus sobre a necessidade de se ter misericórdia, de estar disposto a perdoar “setenta e sete vezes”. — Capítulo 18.
Nos capítulos 8, 9, 11, 12 e 14 a 17, Mateus relata principalmente os muitos milagres de Jesus, tais como alimentar ele em certa ocasião 5.000, e em outra ocasião “quatro mil homens, além de mulheres e criancinhas”. Esses capítulos também contêm as denúncias, por Jesus, dos líderes religiosos judaicos, deliberadamente iníquos e hipócritas, que haviam cometido o pecado imperdoável. Além disso, nesses capítulos encontramos a confissão de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente”, e uma descrição da transfiguração, na qual Yehowah confirmou novamente que Jesus Cristo era de fato Seu Filho. — Mateus 16:16; 17:1-9.
III. Os Últimos Dias do Ministério De Jesus
Chegando agora aos últimos acontecimentos do ministério de Jesus, verificamos que Mateus escreveu as coisas na ordem em que ocorreram. A maior parte do que Mateus registrou antes ocorrera na Galileia, mas ele toca agora no posterior ministério de Jesus na Pereia. Os opositores religiosos desafiaram Jesus sobre a questão do divórcio, esperando embaraçá-lo. Mas, em vez disso, foram frustrados por causa da sabedoria e do conhecimento superior das Escrituras, que Jesus tinha: A única base para o divórcio é a “fornicação”. Um jovem governador rico, convencido, chegou-se a Jesus, perguntando sobre o que tinha de fazer para obter a vida eterna, mas afastou-se com uma avaliação muito diminuída sobre a sua própria bondade, porque a sua riqueza lhe era mais importante do que a vida eterna. O espírito de rivalidade dividiu os apóstolos induzindo Jesus a lembrar-lhes que ele ‘não veio para que se lhe ministrasse, mas para ministrar e dar a sua vida como resgate em troca de muitos’. — Mateus 19:1 a 20:34.
Na última semana de Jesus na terra como homem, o cenário muda para Betânia e Jerusalém, e lemos sobre a sua entrada triunfal nesta cidade. Depois disso, Jesus entrou no templo e limpou-o por expulsar todos os vigaristas religiosos. A seguir, ele contou uma parábola sobre os lavradores que assassinaram o herdeiro do vinhedo, deixando seus adversários saber que sabia o que eles cogitavam. — Mateus 21:1-46.
Embora fossem repetidas vezes derrotados nos seus anteriores debates com Jesus, seus opositores religiosos tentaram novamente embaraçá-lo por lhe fazerem perguntas capciosas sobre o pagamento do impopular imposto romano, sobre a ressurreição e sobre qual era o maior mandamento. As respostas sábias e bíblicas dele os silenciaram. Jesus aconselhou então seus discípulos sobre a necessidade de serem humildes. Censurou fortemente seus opositores religiosos, hipócritas, proferindo sete ais. Por causa da oposição deles, sua casa havia de ser abandonada. — Mateus 22:1 a 23:39.
Os comentários de certos de seus apóstolos, sobre a grandiosidade do templo de Herodes, ofereceram a Jesus a oportunidade de proferir a sua maior profecia sobre o fim do sistema judaico de coisas e sobre a sua volta, sua parusia, palavras que têm tido notável cumprimento, em especial nos últimos dias em que vivemos. A seguir, proferiu três parábolas, que tiveram cumprimento nos nossos dias, a parábola das virgens sábias e das tolas, e a dos talentos, e a das ovelhas e dos cabritos. — Mateus 24:1 a 25:46.
Mateus fornece então o único relato de testemunha ocular que temos sobre a instituição da Refeição Noturna do Senhor por Jesus, em comemoração de sua morte. Continuando, Mateus relata a experiência de Jesus em Getsêmani, sua prisão, a negação de Pedro, o julgamento de Cristo, a vacilação de Pilatos e sua lavagem das mãos, e ser Jesus então pendurado numa estaca entre dois criminosos, como Rei dos judeus, na colina chamada Calvário. — Mateus 26:1-75.
Quando Jesus foi preso, todos os seus apóstolos fugiram, e o ânimo deles certamente ficou abatido com estes acontecimentos. Mas não por muito tempo. No terceiro dia, ficaram sabendo da ressurreição de Jesus dentre os mortos. Mais tarde, encontraram-se com Jesus na Galileia, onde, sem dúvida pouco antes da ascensão dele ao céu, ele proferiu na despedida a seguinte comissão: “Ide, portanto, e fazei discípulos de pessoas de todas as nações, batizando-as . . . E eis que estou convosco todos os dias, até à terminação do sistema de coisas.” — Mateus 28:19, 20.
Sem dúvida, Mateus prova o seu tema, de que Jesus de Nazaré é deveras o Messias, o Filho de Deus. Mateus faz isso por salientar as muitas profecias que Jesus cumpriu, os milagres que Jesus realizou e as verdades que Jesus ensinou. Mateus, sem dúvida, tinha uma mente sagaz e apreciativa, avivada pelo espírito santo de Deus. Visto que o espírito de Deus o dirigia e lhe fazia lembrar as coisas que Deus queria que fossem registradas, ele pôde escrever um relato abrangente e vigoroso sobre a vida de Jesus.
Quão gratos podemos ser a Deus, de que Ele inspirou um tão humilde, honesto e altruísta servo seu e seguidor de seu Filho para registrar um relato tão fortalecedor da fé sobre o ministério terrestre de Jesus! Familiarizemo-nos realmente com este relato, para que tanto possamos viver segundo os princípios apresentados por Jesus como falar a outros, em cada oportunidade, sobre as “boas novas” de que o há muito prometido Messias veio no tempo designado de Deus em cumprimento de muitas profecias registradas nas Escrituras Hebraicas. — Mateus 24:14.