Comentário Bíblico Online: Judas 1:10

Por contraste, Judas disse a seguir:

“Contudo, estes homens estão falando de modo ultrajante de todas as coisas que realmente não conhecem; mas, em todas as coisas que eles entendem naturalmente, como os animais irracionais, nestas coisas prosseguem em corromper-se.” (Judas 10)

I. “Não conhecem”. (ouk oidasin TDNT) O verbo de destaque inicial da fora simples eidō significa “ver, perceber com os olhos, discernir, compreender” e por implicação, “conhecer, saber”.

II. “Entendem naturalmente”. No original não se encontra nessa ordem. O termo “naturalmente” aqui é a tradução de phusikos que só ocorre aqui em Judas. Tem o sentido de “instinto” selvagem, como animais, que fazem e sabem apenas aquilo que poderia saber como animais. O termo “entender” que fica junto ao termo “naturalmente” na tradução é epistantai que significa “colocar a atenção de alguém em algo, fixar os pensamentos de alguém em algo, estar familiarizado com algo, conhecer, saber. Ocorre cerca de 14 vezes nas E.G (Marcos 14:68; Atos 10:28; 15:7; 18:25; 19:15, 25; 20:18; 22:19; 24:10; 26:26; 1Ti. 6:4; Heb. 11:8; Tg. 4:14; Judas 1:10)

III. “Irracionais”. (Gr.: aloga TDNT) Esse termo ocorre 3 vezes nas E.G (Acts 25:27 “dessarrazoado”; 2Pe. 2:12 “irracionais”; Judas 1:10) Na LXX ela ocorre 2 vezes (Ex. 6:12 e Nm 6:12)

IV. “Corromper-se”. (Gr.: phtheirontai TDNT) Ocorre 7 vezes nas E.G (1Co. 3:17; 15:33; 2Co. 7:2; 11:3; Ef. 4:22; Judas 1:10) Tem esse significado básico de corroper-se. Ocorre 12 vezes na LXX. – Gen. 6:11; Exo. 10:15; Lev. 19:27; Deu. 34:7; 1Cro. 20:1; Jó 15:32; Isa. 24:3, 4; 54:16; Jer. 13:9; Eze. 16:52; Os. 9:9.

V. Embora os prospectivos aviltadores da carne fossem muito inferiores a Miguel, que não lançaria um julgamento contra Satanás em termos ultrajantes, eles falavam de modo ultrajante não somente dos “gloriosos”, mas também “de todas as coisas [espirituais] que realmente não [conheciam]”, ou não entendiam[1]. “Sem espiritualidade” (Judas 19), eram inaptos para assimilar assuntos espirituais. (1 Coríntios 2:6-16) Os pensamentos, os modos, os tratos e as atividades de Deus eram desconhecidos a tais “homens ímpios”.

VI. Por respeito para com Deus, nem o arcanjo Miguel nem os outros anjos justos falam de modo ultrajante dos a quem Deus conferiu certa glória. Esses “homens ímpios”, porém, agiram dessa maneira porque haviam sucumbido totalmente às paixões animalescas. Não entendiam de assuntos espirituais, mas apenas do que atraia às suas paixões carnais. Assim, como animais que se preocupam apenas com a carne, eles procuravam a gratificação da carne decaída. O Dr. Albert Barnes diz que “a referência é aos instintos naturais, impulsos de apetite, e paixão, e prazer sensual”. Tais homens, decididos a satisfazer desejos sensuais básicos, ‘corromperam-se’ (Gr.: phtheirontai TDNT 5351) em pecados carnais. Este termo grego, segundo Thayer’s Greek-English Lexicon of the New testament, significa “destruir” “desviar a congregação do estado de conhecimento e santidade que devia apegar-se[2].” Assim, mostraram-se ser nada melhores do que “animais irracionais, nascidos naturalmente para serem apanhados e destruídos” sem nenhuma esperança de ressurreição. — 2 Pedro 2:9-13.

VII. Até esta terceira parte de nossa consideração da carta de Judas, nós observamos muitos pontos positivos, que nos ajudaram a entender melhor os princípios cristãos. Considerando os versículos 8 ao 10, nós iremos alistar alguns dos princípios aprendidos nestes textos considerados, e ver como podermos aplicá-los na nossa vida pessoal, dentro e fora da congregação de Deus. Alguns destas lições são:

VIII. a. Devemos fazer com que nossos pensamento e desejos sejam agradáveis a Yehowah. (Sl. 19:14) Visto que devemos ser um sacrifício santo e aceitável a Deus (Rm. 12:1), precisamos nos abster de fantasias imorais que poderia levar-nos a ‘aviltar nossa carne’, assim como foi com aqueles falso instrutores.

VIII. b. Assim como Miguel, devemos ser submissos a Jeová, humildemente reconhecendo-lhe o direito supremo a replicar, julgar e condenar. (cf. Tiago 4:11) Deus decidiu que é dEle o direito a julgar a todos, homens e anjos, de acordo com Sua perfeita e inabalável Justiça Suprema. Não podemos “roubar” de Yehowah este direito que Lhe cabe, assim como Adão e Eva tentaram usurpar o direito de Yehowah como Soberano Universal para decidir o que era certo e errado. (Gn. 3:5) Estes assuntos pertence a Deus, assim como está escrito: “A vingança é minha; eu pagarei de volta, diz Yehowah.” – Romanos 12:19.

VIII. c. Quando não tivermos conhecimento cabal dos assuntos, seria sábio não nos adiantarmos com julgamentos, visto que muitas vezes ‘podemos falar de modo ultrajante de coisas que nós nem conhecemos’. – vs. 10

IX. Quão vital é que as cristãos hoje resistam completamente a falsos instrutores, a prospectivos aviltadores da carne e aos que desrespeitam a autoridade divinamente constituída! Não obstante, se o conselho da carta de Judas considerado até aqui revelar algum grau de erro em nossas atitudes ou modos pessoais, apressemo-nos a mudar o nosso proceder, buscando, de modo piedoso, a ajuda de nosso Pai celestial. E que sempre nos beneficiemos espiritualmente em decorrência de acatarmos os ‘avisos postos diante de nós’.


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Notas
[1] No texto grego a primeira palavra, traduzida “conhecer” (Gr.: oidasin) tem o sentido de profundo conhecimento, a última palavra traduzida por “entender” (Gr.: epistantai) é a mero percepção dos sensos animais e facultais. Vincent’s Words Studies mostra a diferença destes dois verbos e comenta que é apropriado traduzir o segundo verbo por “entender” para mostrar a diferença destes dois verbos. Isso é digno de nota porque é justamente isso que faz a nossa tradução.
[2] Esta palavra grega ocorre cerca de 7 vezes dentro do texto grego (1Co. 3:17; 15:33; 2Co. 7:2; 11:3; Ef. 4:22; Judas 1:10; Rev. 19:2)