Comentário Bíblico Online: Judas 1:11

Concernente aos “homens ímpios”, que desafiavam a Deus, Judas escreveu:

“Ai deles, porque foram pela vereda de Caim e se arremeteram no proceder errôneo de Balaão, para uma recompensa, e pereceram na conversa rebelde de Corá!” (Judas 11)

I. Mais uma vez o discípulo Judas recorre as Escrituras Hebraico-Aramaicas a fim de extrair lições para advertir os seus irmãos, como também denunciar aqueles falsos instrutores hipócritas. Estes maus exemplos de apostasia são:

Caim. – Gênesis 4:5-12.

Balaão. – Números cap. 31.

Corá. – Números 16:1-30.

II. Ao dizer “ai deles” (Gr.: ouai autois TDNT), Judas indicou que sobreviria a calamidade sobre os “homens ímpios” que se introduziram furtivamente na congregação do povo de Deus. (Veja Lucas 11:42-47, 52.) Seguir este proceder imoral, rebelde e apostata, de forma alguma conduziria a regozijos ou benefícios, mas sim em muitos “ais”. Nos versículos 5-7, Judas considerou os três exemplos negativos de imoralidade (vs 5) Israelitas, (vs 6) Anjos pré-diluvianos (vs 7) Os Sodomitas (vs 8). Agora o discípulo Judas nos chama a atenção de mais três exemplos que, desta veze, envolve a apostasia, ou desvio da adoração verdadeira. Iremos considerar brevemente cada exemplo deste nas Escrituras

III. O primeiro exemplo alistado é o de Caim. O relato que lhe envolve está em Gênesis 4:5-12. Lá nos mostra que depois do ser humano ter decaído da perfeição, ele sentia o desejo inato de ganhar de novo a aprovação de Deus. Daí, este relato nos mostra que tanto Caim, como Abel, seu irmão, trouxeram diante de Yehowah suas ofertas para granjear Seu favor. Por causa da motivação errada no coração de Caim, Yehowah não aceitou sua oferta, mas sim a de seu irmão, Abel, que demonstrou fé na promessa de resgate de Deus, fornecida em Gênesis 3:15. Por ciúme e inveja, Caim matou seu irmão. Não se explica mais detalhadamente o porquê Judas aplicou este exemplo aos falsos instrutores da congregação, mas pelas características de Caim, podemos deduzir que aqueles falsos instrutores eram homens que tinha inveja dos que tomavam a dianteira (os “gloriosos” vs. 8) e desejavam assim ter o destaque dentro da congregação cristã. Faltava fé a Caim e ele não respeitou a glória ou a dignidade que Deus conferira a Abel. Movido por inveja e ódio, Caim até mesmo desconsiderou um aviso divino e assassinou seu irmão. — Gênesis 4:2-8; Hebreus 11:4; 1 João 3:12.

IV. O próximo exemplo envolve Balaão. Ele era filho de Beor, do 15.° século AEC. Ele morava na cidade araméia de Petor, no vale do alto Eufrates, e próximo do rio Sajur. Embora não fosse israelita, Balaão tinha certo conhecimento e reconhecimento de Yehowah como o verdadeiro Deus, falando dele em certa ocasião como “Yehowah, meu Deus”. (Núm 22:5, 18) Isto talvez se tenha dado porque devotados adoradores de Deus (Abraão, Ló e Jacó) anteriormente moravam na vizinhança de Harã, não muito longe de Petor. — Gên 12:4, 5; 24:10; 28:5; 31:18, 38.

Balaão rejeitou a oferta da primeira delegação do rei moabita, Balaque, a qual trouxe consigo “honorários pela adivinhação”, dizendo: “Yehowah se negou a deixar-me ir convosco.” (Núm 22:5-14) Quando vieram “outros príncipes em maior número e mais honrados” (Núm 22:15), e Balaão novamente buscou a permissão de Deus para ir com eles, Deus disse: “Levanta-te, vai com eles. Mas, somente a palavra que eu te falar é que podes falar.” — Núm 22:16-21; Miq 6:5.

No caminho, o anjo de Yehowah por três vezes se colocou de pé na estrada, fazendo com que a jumenta de Balaão primeiro se desviasse para um campo, em seguida apertasse o pé de Balaão contra um muro, e, por fim, se deitasse. Por três vezes Balaão espancou o animal, que então, miraculosamente, proferiu um protesto verbal. (Núm 22:22-30) Por fim, o próprio Balaão viu o anjo de Yehowah, que anunciou: “Eu é que saí para fazer oposição, porque teu caminho tem sido temerariamente contrário à minha vontade.” Todavia, Yehowah mais uma vez permitiu que Balaão continuasse em seu proceder escolhido. — Núm 22:31-35.

Desde o começo até o fim, Deus desaprovou inalteravelmente qualquer maldição contra Israel, insistindo em que, se Balaão fosse, teria de abençoar, não de amaldiçoar. (Jos 24:9, 10) Todavia, Deus lhe permitiu ir. Foi como no caso de Caim, quando Yehowah expressou sua desaprovação, mas, ao mesmo tempo, lhe permitiu que fizesse a sua escolha pessoal, quer de abandonar seu mau caminho, quer de mergulhar no seu proceder iníquo. (Gên 4:6-8) Balaão, então, como Caim, foi teimoso em desconsiderar a vontade de Deus nessa questão, e estava determinado a alcançar seu próprio objetivo egoísta. No caso de Balaão, foi a cobiça da recompensa que o cegou quanto ao erro de seu modo de agir. O apóstolo Pedro comenta: “Balaão, filho de Beor, . . . amava a recompensa de fazer injustiça, mas ele recebeu uma repreensão pela sua própria violação daquilo que era direito. Um animal de carga, sem voz, fazendo pronunciação com voz de homem, impediu o proceder louco do profeta.” — Ju 11; 2Pe 2:15, 16.

Ao alcançar o território moabita e encontrar o rei Balaque na margem do Árnon, Balaão não perdeu tempo em passar a trabalhar para esses opositores do povo de Deus, no dia seguinte. Balaão, junto com Balaque, ofereceu sacrifícios, e então Balaão retirou-se, esperando “encontrar quaisquer presságios de azar” (Núm 23:3; 24:1), mas a única mensagem recebida foi uma bênção para Israel, da parte de Yehowah. O mesmo proceder sacrificial foi novamente seguido no cume do Pisga, e novamente ‘contra Jacó não houve feitiço de azar’, apenas bênçãos. Por fim, essa atuação foi repetida no cume do Peor, e, de novo, pela terceira vez, “Deus transformou a invocação do mal numa bênção”. — Núm 22:41–24:9; Ne 13:2.

Balaão ainda entretinha esperanças de obter aquela rica recompensa, pela qual tinha vindo de tão longe e trabalhado tão arduamente. Se não podia amaldiçoar Israel, raciocinava ele, talvez Deus mesmo amaldiçoasse seu próprio povo, se este tão-somente pudesse ser seduzido a praticar a adoração do sexo do Baal de Peor. Assim, “Balaão . . . foi ensinar a Balaque a pôr uma pedra de tropeço diante dos filhos de Israel, para que comessem de coisas sacrificadas a ídolos e cometessem fornicação”. (Re 2:14) “Pela palavra de Balaão”, as filhas de Moabe e de Midiã “serviram para induzir os filhos de Israel a cometerem infidelidade para com Yehowah na questão de Peor, de modo que veio o flagelo sobre a assembléia de Yehowah”. (Núm 31:16) O resultado: 24.000 homens de Israel morreram por seu pecado. (Núm 25:1-9) Nem Midiã nem Balaão escaparam da punição divina. Deus ordenou que todos os homens, as mulheres e os meninos de Midiã fossem executados; apenas as virgens foram poupadas. “E mataram Balaão, filho de Beor, com a espada.” (Núm 25:16-18; 31:1-18) Quanto aos moabitas, foram barrados da congregação de Yehowah “até a décima geração”. — De 23:3-6.

V. Primariamente, Caim mostrou desrespeito para com Deus, e seu comportamento desrespeitoso foi chamado de a “vereda de Caim”. Assim como sua ação desafiadora e seus motivos iníquos eram completamente errados, o mesmo se dá hoje no caso de qualquer pessoa que professe ser cristão, mas que transforme a graça imerecida de Deus numa desculpa para conduta desenfreada. Qualquer pessoa assim segue a “vereda” de Caim. Como Caim, que odiou e matou a seu irmão, tais indivíduos são ‘homicidas’, porque odeiam cristãos fiéis a quem Deus tem dignificado, encarregando-os de Seu serviço. (1 João 3:15) Deus amaldiçoou a Caim, e, no Dilúvio, sua descendência foi exterminada. Similarmente, “ai” dos que seguem a “vereda de Caim”, pois isso desagrada a Deus e leva à destruição.

VI. Os ímpios aviltadores da carne também se ‘haviam arremetido no proceder errôneo de Balaão, para uma recompensa’. Cedendo às repetidas ofertas de recompensas, feitas pelo rei moabita Balaque, Balaão três vezes tentou amaldiçoar os israelitas, mas Deus sempre transformava a maldição numa bênção. Portanto, o ganancioso Balaão sugeriu a Balaque que, se Israel pudesse ser seduzido a praticar a religião falsa e a se entregar a paixões animalescas, Deus amaldiçoaria mesmo a Seu próprio povo. Esse conselho perverso foi seguido e, em decorrência da conduta desenfreada dos israelitas, 24.000 deles foram mortos por um flagelo enviado por Deus e por execução direta. (Números 22:1 a 25:9; Apocalipse 2:14) Mais tarde, o próprio Balaão morreu às mãos dos que tentara amaldiçoar. (Números 31:8) Similarmente, o desastre acometerá a cada um que afirmar ser cristão, mas que for ganancioso e procurar corromper o povo de Deus por meio de ensinos falsos e por satisfazer as paixões animalescas. Tem havido exemplos disso nos tempos modernos e os cristãos devem acautelar-se!

VI. Outro exemplo alertador citado por Judas foi o do levita Corá, que recorreu a “conversa rebelde”. Levado por ambição, falsamente acusou Moisés de ter manobrado os assuntos egoistamente de modo que seu próprio irmão, Arão, se tornasse sumo sacerdote, e acusou Arão de ter-se apoderado da honra do sacerdócio para si mesmo e para sua família. Corá não respeitou a glória ou a dignidade que Deus conferira a Arão e a seus filhos, mas rebelou-se contra as designações feitas por Deus. Embora Corá e certos rubenitas que tomaram o seu lado tivessem sido salvos do Egito, eles jamais entraram na Terra Prometida. Em vez disso, a terra abriu-se e alguns deles foram enterrados vivos, ao passo que outros morreram queimados por fogo enviado por Deus. Em seguida, 14.700 israelitas que murmuraram contra esse julgamento da parte de Deus morreram em consequência dum flagelo causado por Yehowah. (Números, capítulo 16) A execução do julgamento de Deus contra os rebeldes “homens ímpios” era tão certa que Judas disse que eles “pereceram”. Era como se isso já tivesse acontecido! Como tudo isso nos deve induzir a evitar a “conversa rebelde” para com os que tomam a dianteira!

VII. Sim, a calamidade com certeza acometerá a todo aquele que seguir um proceder de rebelião contra o Senhor. Judas disse “ai” dos que não tinham amor e fé (como Caim não teve), dos que (como Balaão) estavam ansiosos de serem pagos por ensinos que promoviam a conduta desenfreada e dos que, (como Corá), desrespeitavam a autoridade divinamente outorgada. E as palavras de Judas, certamente, proveram um forte alerta concernente a qualquer um que professe ser cristão e que, ainda assim, tenha uma atitude crítica ou desrespeitosa para com a teocracia de Deus para os nossos dias.