Comentário Bíblico Online: Judas 1:9

Para nosso benefício, Judas cita um exemplo esplêndido, declarando:

“Mas, quando Miguel, o arcanjo, teve uma controvérsia com o Diabo e disputava [acerca do] corpo de Moisés, não se atreveu a lançar um julgamento contra ele em termos ultrajantes, mas disse: ‘YHWH te censure.”’ (Judas 9)

I. “Controvérsia” (Gr.: diakrinomenos TDNT ) – Essa palavra grega ocorre cerca de 19 vezes nas Escrituras Gregas Cristã: Mat. 16:3; 21:21; Marc 11:23; Atos 10:20; 11:2, 12; 15:9; Rom. 4:20; 14:23; 1Co. 4:7; 6:5; 11:29, 31; 14:29; Tg. 1:6; 2:4; Judas 1:9, 22. A forma básica deste verbo é diakrinõ. Este verbo como se encontra no texto de Judas vs. 9 tem a sua fomação verbal com forme se segue (definição ling.: verbo. Tempo: presente. Voz: meio. Modo: partincípio. Caso: nominativo. Numero: singular. Gênero: Masculino.) A definição deste verbo, conforme Thayer’s Greek-English lexicon of the New Testament, se refere a “decidir uma disputa”, “se opor”, “contender”.

II. “Disputava” (Gr.: dielegeto TDNT) – Esta palavra grega ocorre cerca de 13 vezes: Marcos 9:34; Atos 17:2, 17; 18:4, 19; 19:8, 9; 20:7, 9; 24:12, 25; Heb. 12:5; Judas 1:9. A forma básica deste verbo é dialegomai. Este verbo como se encontra no texto de Judas vs. 9 tem a sua formação verbal com forme se segue (definição ling.: verbo. Pessoa: 3º Tempo: Indicativo. Voz: meio. Modo: Indicativo. Numero: singular) A definição deste verbo, conforme Thayer’s Greek-English lexicon of the New Testament, se refere a “discutir”, “disputar”

III. “Não se atreveu” (Gr.: ouk etolmêsen TDNT) – Este verbo grego ocorre cerca de 16 vezes nas Escrituras Gregas Cristãs: Mat. 22:46; Marcos 12:34; 15:43; Lucas 20:40; João 21:12; Atos 5:13; 7:32; Rom. 5:7; 15:18; 1Co. 6:1; 2Co. 10:2, 12; 11:21; Fil. 1:14; Judas 1:9. A forma básica deste verbo é tolmaõ. Este verbo como se encontra no texto de Judas vs. 9 tem a sua formação verbal conforme se segue (definição ling.: verbo. Pessoa: 3º Tempo: Aoristo. Voz: ativa. Modo: Indicativo. Numero: singular) A definição deste verbo, conforme Thayer’s Greek-English lexicon of the New Testament, se refere a “aguentar”, “recuar através do medo”, “suportar”. Strong’s Greek-English Lexicon of the New testament diz: “[este verbo deriva-se de] tolma (destemor, denodo, vindo da ideia de extrema conduta)... ser corajoso, ser destemido, ter denodo.” Word Pictures in the New testament comenta: “Não se atreveu (primeiro aoristo ativo do indicativo de tolmaõ) a trazer contra ele” (segundo aoristo ativo do infinitivo de epipherõ)

IV. “ultrajantes” (Gr.: krisin TDNT) – Este verbo é bem usado nas Escrituras Gregas Cristãs ocorrendo cerca de 48 vezes. Mat. 5:21, 22; 10:15; 11:22, 24; 12:18, 20, 36, 41, 42; 23:23, 33; Marc 3:29; 6:11; Lucas 10:14; 11:31, 32, 42; Jo 3:19; 5:22, 24, 27, 29, 30; 7:24; 8:16; 12:31; 16:8, 11; Atos 8:33; 2Tess. 1:5; 1Ti. 5:24; Heb. 9:27; 10:27; Tg. 2:13; 2Pe. 2:4, 9, 11; 3:7; 1Jo. 4:17; Judas 1:6, 9, 15; Rev. 14:7; 16:7; 18:10; 19:2. A forma básica deste verbo é krisis. Este verbo como se encontra no texto de Judas vs. 9 tem a sua formação verbal com forme se segue (definição ling.: pronome. Caso: acusativo Numero: singular. Gênero: feminino.) A definição deste verbo, conforme Thayer’s Greek-English lexicon of the New Testament, se refere a “sentença de condenação”, “punição”. Este verbo tem implicação de justiça com respeito à lei Divina. A Commentary on the Old and New Testaments, de Robert Jamieson, A. R. Fausset and David Brown diz que a palavra tem o sentido de um debate numa controvérsia, como num caso judicial. A versão Amplified Bible diz: “Mas quando o [mesmo] arcanjo Miguel, discutindo com o Diabo, argumentou judicialmente (em jure) sobre o corpo de Moisés, não ousou [presumir] trazer um juízo de maldição contra ele, mas [apenas] disse: O Senhor te repreenda!”

V. “censure” (Gr.: επιτιμησαι TDNT) O verbo vertido aqui por “censurar” é derivado do termo epitimaō. O verbo epitimaõ tem a sua formação textual no aoristo na terceira pessoa do singular da voz ativa, sendo usado cerca de 29 vezes nas Escrituras gregas Cristãs. – Mat. 8:26; 12:16; 16:22; 17:18; 19:13; 20:31; Marcos 1:25; 3:12; 4:39; 8:30, 32, 33; 9:25; 10:13, 48; Lucas 4:35, 39, 41; 8:24; 9:21, 42, 55; 17:3; 18:15, 39; 19:39; 23:40; 2Ti. 4:2; Judas 1:9. Este verbo expressa “um desejo de algo no futuro” (Archibald Thomas Robertson, Word Pictures in the New testament)

Outras traduções trazem:

(BBE) “Quando Miguel, um dos principais anjos, estava lutando contra o diabo pelo corpo de Moisés, temeu fazer uso de palavras violentas contra ele, ele apenas disse: “Que o Senhor seja seu Juiz!”

(CEV) “Até mesmo Miguel, o principal anjo, não ousou insultar o diabo, quando eles dois estavam discutindo sobre o corpo de Moisés. Tudo que Miguel disse foi: “O Senhor irá te punir!”

(ESV) “Mas quando o arcanjo Miguel, contendendo com o diabo, estava disputando o corpo de Moisés, ele não supôs a pronunciar um julgamento blasfemo, mas disse: “O Senhor te repreenda”

(GNB) “Nem mesmo o arcanjo Miguel fez isso. Na sua briga com o Diabo, quando eles discutiam a cerca do corpo de Moisés, Miguel não se atreveu a condenar o Diabo com palavras insultantes, mas disse: “O senhor te repreenda!”

(ALA) “Mas quando o arcanjo Miguel, discutindo com o Diabo, disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar contra ele juízo de maldição, mas disse: “O Senhor te repreenda!””

(NLT) “Mas mesmo Miguel, um dos anjos mais poderosos, não se atreveu a acusar Satanás de blasfêmia, mas simplesmente disse: “O Senhor te repreenda!” (isso aconteceu quando Miguel estava discutindo com Satanás sobre o corpo de Moisés)”

(NLV) “Miguel é um dos anjos de destaques. Ele discutiu com o Diabo a cerca do corpo de Moisés. Mas Miguel não disse palavras duras ao Diabo, dizendo que ele era culpado. Ele disse: “O Senhor diga palavras duras a você!”

(WE) “Certa vez Miguel, o anjo principal, teve uma discussão com o Diabo sobre quem deveria ficar com o corpo de Moisés. Mas ele não se atreveu a julgar o diabo e dizer coisas erradas sobre ele. Ele disse: “O Senhor que te diga para parar”.

(NTLH) “Nem mesmo o arcanjo Miguel fez isso. Na discussão que teve com o Diabo, para decidir quem ia ficar com o corpo de Moisés, Miguel não se atreveu a condenar o Diabo com insultos, mas apenas disse: “Que o Senhor repreenda você!””

VI. Judas, depois de mostrar qual era a natureza do erro daqueles homens – o desrespeito pelos que tomavam a dianteira da congregação – passa a mostrar o exemplo do Arcanjo Miguel. Que contraste havia entre os desrespeitosos ‘sonhadores’ e Miguel, o arcanjo! (Cf. Provérbios 8:22-31; João 6:62; Filipenses 2:5-11; 1 Tessalonicenses 4:15, 16.) Ao falar de modo ultrajante dos servos de Deus os ‘sonhadores’ ímpios tomaram liberdades que nem mesmo o Filho de Yehowah tomou ao disputar com Satanás acerca do corpo do profeta hebreu Moisés. Não existe registro bíblico anterior dessa disputa. Mas, de alguma maneira não revelada, Judas recebeu essa informação e a registrou para nosso benefício.[1]

VII. Possivelmente, o Diabo queria o corpo morto de Moisés para iniciar um culto religioso em torno do mesmo, e assim corromper o povo de Yehowah.[2] Miguel, contudo, não recorreu a lançar um julgamento contra o Diabo em termos ultrajantes. Miguel “não se atreveu” a fazer isso porque tinha o correto temor de Deus. Nem se antecipou ao tempo designado por Ele para lidar com Satanás. (Apocalipse 12:7-9; 20:1-3, 7-10) Em vez disso, o Filho amado de Deus mostrou respeito para com o Juiz Supremo e reconheceu-lhe o direito de censurar o Diabo. Assim, Miguel disse a Satanás: “YHWH te censure.” Embora as declarações de Miguel não fossem ríspidas, ele mostrou poder por manter o controle sobre o corpo de Moisés, e Deus enterrou o profeta numa sepultura não identificada. (Deuteronômio 34:1-6) Certamente, em tudo isso, o Filho de Deus deu ao povo de Yehowah um exemplo esplêndido de respeito para com a autoridade divina.[3]

VIII. Alguns comentaristas dão a entender que o fato do arcanjo não ser ríspido com o Diabo, significava que, de alguma forma, ele estava demonstrando respeito para com o inimigo de Deus. Como dá a entender o que diz A Commentary on the Old and New Testaments de Robert Jamieson, A. R. Fausset e David Brown, quando diz que Miguel não lançou acusações contra o Diabo devido a “reverência a dignidade original de Satanás.” Isso é tanto estranho, como blasfemo, porque é inconcebível que o Senhor Jesus, que é quem toma a dianteira em defender a Soberania de Divina, tivesse qualquer respeito pelo anjo rebelde. Mas, conforme já foi explicado, Ele estava demonstrando respeito e submissão para com o Deus, por deixar em Suas mãos o direito de julgar Satanás. O Erudito bíblico Bauckham comenta neste respeito:

“O ponto de contraste entre os falsos instrutores e Miguel não é que Miguel tenha tratado o diabo com respeito, e a moral não é que devemos ser educados até com o diabo. O ponto em contraste é que Miguel não poderia rejeitar as acusações do diabo na sua própria autoridade... ele não era o Juiz. Tudo que ele podia fazer era pedir que o Senhor, que é único Juiz, condenasse Satanás por sua calúnia. A moral, portanto, é que ninguém é uma lei para si mesmo, uma autoridade moral autônoma.”

Também com respeito ao princípio subentendido neste versículo, é que os cristãos também não usar de linguagem insultante. Com respeito aos espíritos iníquos o Dr. Thomas L. Constable diz apropriadamente neste contexto:

“É também perigoso para nós confrontar Satanás diretamente... visto que ele é muito mais forte do que nós.”

O erudito bíblico Adam Clark, em seu comentário na carta de Judas, diz:

“Era um princípio Judaico, como pode ser visto em Synopsis Sohar, pg 92, nota 6: “Não é permitido para um homem proferir palavras ignominiosas até mesmo contra espíritos iníquos.” – Veja Schoettgen.

IX. Devemos seguir este exemplo mostrado pelo arcanjo Miguel, de respeitar o direito legítimo de Yehowah de trazer a vingança e o julgamento sobre os maus, quer sejam espíritos ou homens. Como também foi mostrado à cima, não seria prudente de um servo de Deus pronunciar palavras injuriosas contra os espíritos iníquos. Comentando sobre esse exemplo de humildade e submissão a Jeová, A Christian B. Wells diz:

“Encontramos [um] caso de submissão humilde relacionado com o sepultamento de Moisés. Houve um confronto entre o Diabo e o arcanjo Miguel, que reivindicou o corpo de Moisés como propriedade de Jeová. Como lidou Miguel com este assunto? Deu vazão à repulsa com desprezo deste opositor, responsável pelos males da humanidade? (Gên. 3:1-5) Não, “não se atreveu a lançar um julgamento contra ele [o Diabo] em termos ultrajantes, mas disse: ‘Jeová te censure.’” (Judas 9) O arcanjo respeitou o arranjo de julgamento de Jeová, evitando a presunção. — João 5:19, 30.

Seguindo o exemplo de Miguel, os maridos e os pais cristãos devem evitar os tratos duros e exigentes na solução de questões familiares, e os presbíteros congregacionais devem ter cuidado de não abusarem de sua autoridade por tratar asperamente os errantes. (1 Ped. 3:7; 5:1-3) Os que divulgam as verdades vitalizadoras da Palavra de Deus certamente não querem falar de modo ultrajante das pessoas indiferentes, mas deixam o julgamento para o Criador, que “vê o que o coração é”. — 1 Ped. 3:8-12; 1 Sam. 16:7.



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Notas
[1] O texto de referencia deste texto é Zacarias 3:2, onde ocorre uma sentença bem similar a esta.
[2] Josefo [Antiquities,4.8], atesta que Deus escondeu o corpo de Moises, porque se fosse exposto poderia ser usado com um ídolo.
[3] Isso também nos mostra que, se o glorioso Arcanjo Miguel não foi ríspido com Satanás, que merece toda rispidez do mundo, como poderia aqueles homens maus na congregação falar de modo “ultrajante dos gloriosos”, a quem Deus tão amorosamente confiou-lhes o rebanho? (At. 20:28) Portanto, Cristo demonstrou um grande exemplo de humildade, e respeito para com o Criador, confiando a Yehowah o direito de julgar a Satanás.