Comentário da Carta de Tiago 2:10-13

comentario da carta de tiago 2.10 Pois, quem observar toda a Lei, mas der um passo em falso num só ponto...


Ninguém podia realmente observar todos os mandamentos da Lei sem cometer um erro, nem podia alguém guardar todos os pontos exceto um dos mais ou menos 600 da Lei. (Tia. 3:2) Mas, Tiago está repreendendo aquele que afirma guardar praticamente toda a Lei, e, portanto, ser justo. É a tendência dos homens de escolherem as partes das Escrituras que querem seguir, mas minimizarem a importância das outras partes.

Tem-se tornado ofensor contra todos eles...

A Lei, composta de muitos decretos, constitui um conjunto indiviso, e não deve ser fracionada. (Col. 2:13, 14, 16; Gál. 5:14) Por conseguinte, quando alguém viola um dos mandamentos da Lei, ele macula o código inteiro e assim é “ofensor contra todos eles”. Ninguém pode afirmar ser realmente obediente a Deus e mostrar-lhe amor, quando ao mesmo tempo viola alguma parte da Sua lei. Nos tribunais seculares, a pessoa é julgada pela violação duma lei específica. Por exemplo, alguém desfalcou uma soma de dinheiro. Pode ser verdade que sempre cumpriu todas as outras leis; esta é a sua primeira violação. Contudo, seus antecedentes não o desculpam perante o tribunal pela violação da lei referente a desfalques. Ele é tratado como réu por este delito, como violador da lei, não importa quão reto tenha sido em outros assuntos (embora sua sentença possa ser mais leve do que a dum violador habitual da lei). O juiz não diz: ‘Ele acatou um milhar de outras leis; só violou aquela referente ao furto, por isso vamos eximi-lo da violação desta lei.’

De acordo com tais fatos, a lei mosaica mostrava que todos eram pecadores, porque ninguém podia guardá-la perfeitamente. O apóstolo Paulo explicou: “Ora, a Lei não adere à fé, mas ‘quem os cumprir, viverá por meio deles [pela própria obediência a cada mandamento]’.” (Gál. 3:12) Não é pela tentativa de cumprir essa lei que alguém pode ser justificado perante Deus — antes, ele é realmente condenado como transgressor por não cumprir de fato a lei. “Maldito é todo aquele que não continuar em todas as coisas escritas no rolo da Lei, a fim de as fazer”, dizem as Escrituras. (Gál. 3:10) O perdão do pecado e o verdadeiro alívio só podem vir pela fé no sacrifício expiatório de Cristo. Cristo foi o único homem que cumpriu a Lei em todas as suas partes, de maneira perfeita. Cumpriu a Lei inteira e, por isso, foi usado na abolição dela. (Efé. 2:15) Ninguém pode ser eximido da condenação exceto por exercer fé nele. Paulo escreveu: “Ora, nós sabemos que todas as coisas ditas pela Lei ela dirige aos que estão debaixo da Lei, a fim de que se tape cada boca e todo o mundo fique sujeito a Deus para punição. Portanto, por obras de lei, nenhuma carne será declarada justa diante dele, pois pela lei vem o conhecimento exato do pecado.” (Rom. 3:19, 20)

2.11 Pois, aquele que disse: “Não deves cometer adultério”, disse também: “Não deves assassinar”...

A lei que ordena que o homem ame seu próximo é parte integrante da lei mosaica, junto com os Dez Mandamentos. Isto se dá também com todos os outros mandamentos. Entretanto, pelo visto, Tiago decidiu citar estes dois mandamentos como exemplos pelo motivo de pretender mostrar, mais adiante, que a amizade com o mundo constitui ‘adultério’, e que uma atitude odiosa, desamorosa, para com um irmão seria ‘assassinato’. (Tia. 4:2, 4)

Ora, se não cometeres adultério, mas assassinares, tens-te tornado transgressor da lei...

O único Deus, que lida com todos de maneira resoluta, indivisa e imparcial, foi Quem deu a Lei inteira, inclusive a lei sobre o amor ao próximo. (Deu. 6:4) A Lei era um conjunto. Portanto, a violação de um ponto da Lei eqüivalia a ofender o único e mesmo Dador de todas as leis. A violação de uma parte da lei de Deus era, portanto a violação da Lei inteira, de todo o código de lei.

2.12 Persisti em falar de tal modo e persisti em proceder de modo tal como os que hão de ser julgados pela lei dum povo livre...

O código da lei mosaica não era a “lei dum povo livre”, ou, literalmente, uma lei de liberdade. (Gál. 4:24-26) Esta liberdade é concretizada num povo, o Israel espiritual. Se os membros dele fossem julgados pela lei mosaica, seriam condenados como violadores da lei, não como inocentes. Por conseguinte, deviam falar e agir em pleno reconhecimento de que não seriam julgados pela lei mosaica, mas por outra lei, pela “lei dum povo livre”, ou, literalmente, pela “lei da liberdade” (Almeida; Tradução Interlinear, em inglês) — como povo não escravizado pelo pecado, o qual, na realidade, foi acentuado pela lei mosaica. (Rom. 7:8, 10) As “doze tribos” do Israel espiritual não estão sob a lei mosaica. Estão sob a “lei” do novo pacto. (Jer. 31:31-33) Suas palavras e obras serão julgadas por Deus, sob as provisões de seu novo pacto. (1 Ped. 2:16)

Esta “lei dum povo livre” não isenta os israelitas espirituais da obediência a Deus, porque ele escreve a sua lei no coração deles. Por terem fé viva em Cristo, confiam em que receberão o julgamento assim como ele prometeu. Deus contará as boas obras deles como evidência de sua fé. Jesus Cristo, seu Filho, é o mediador do novo pacto, e é sobre a base do seu sacrifício propiciatório que se funda o novo pacto e que Deus pode cumprir as palavras deste pacto, a saber: “Perdoarei seu erro e não me lembrarei mais do seu pecado.” (Jer. 31:34) Portanto, os israelitas espirituais, sob a “lei da liberdade”, não se comportam como se Deus estivesse procurando faltas neles, mas como aqueles que continuam a “andar” com ele, zelosamente guardando sua relação pactuada com ele. (Sal. 130:3, 4; Miq. 6:8)

2.13 Pois, quem não praticar misericórdia terá o seu julgamento sem misericórdia...

Tiago indica um julgamento, e ele aponta o perigo em que se colocam aqueles que mostram favoritismo. (Rom. 2:6, 16; 14:12; Mat. 12:36) Como poderiam tais esperar misericórdia de Deus, quando negavam a misericórdia a alguém apenas porque era “um pobre, em vestuário imundo”? (Tia. 2:2) Quão incoerente e contrário a toda razão isso era, visto que aqueles a quem Tiago escreveu incluíam pessoas de condição humilde, mas eles faziam discriminação contra o pobre! Como se sentiriam os membros ‘pobres’, se visitassem outra congregação de cristãos e fossem insultados assim? Provérbios 21:13 reza: “Quanto àquele que tapa seu ouvido contra o clamor queixoso do de condição humilde, ele mesmo também clamará e não se lhe responderá.” Jesus disse: “Com o julgamento com que julgais, vós sereis julgados.” (Mat. 7:1, 2) Ele ilustrou este ponto vigorosamente em Mateus 18:23-35.

A misericórdia exulta triunfantemente sobre o julgamento...

“Felizes os misericordiosos, porque serão tratados com misericórdia”, disse Jesus. (Mat. 5:7) Num tribunal, não é provável que o homem que foi misericordioso com outros fosse eximido da pena por um crime de que fora achado culpado, embora a sentença possivelmente fosse um pouco diminuída. No entanto, Tiago não está falando sobre transgressões sob a lei mosaica ou sob uma lei secular. Está falando sobre o julgamento segundo a “lei da liberdade”. O homem em cuja mente e coração o espírito de Deus produziu a misericórdia, em resultado de sua fé em Cristo, é induzido a ter misericórdia em todos os seus tratos. Em conseqüência disso, receberá misericórdia ao ser julgado. Tal pessoa misericordiosa, portanto, não precisa temer o julgamento, mas pode confiar em receber misericórdia. Não será condenada. Assim triunfa ou obtém a vitória sobre a estrita justiça ou o julgamento adverso. Uma ilustração notável da preocupação misericordiosa com os outros e de seu efeito sobre o julgamento é encontrada na parábola das ovelhas e dos cabritos, em Mateus 25:32-40. Podemos também considerar a misericórdia que Yahweh teve para com Davi, o qual se mostrara anteriormente misericordioso. (2 Sam. 12:13, 14; 22:24-27; Sal. 18:23-26)