Comentário da Carta de Tiago 3:16-17

comentario da carta de tiago 3.16 Porque, onde há ciúme e briga, ali há desordem e toda coisa ruim...

Ciúme e briga são tendências destrutivas. Criam um ambiente em que florescem a desordem e toda espécie de iniqüidade. Começaram a predominar a instabilidade, a insegurança e até mesmo o caos, destruindo-se a felicidade, a segurança, a paz e a união. Falta amor. Na congregação cristã de Corinto, por exemplo, o ciúme e as brigas estavam dividindo a congregação em partidos ou facções. (1 Cor. 1:10-13; 3:3; 2 Cor. 12:20)

As ‘coisas ruins’ podem incluir rudeza, suspeitas infundadas, tagarelice prejudicial, calúnias, ultrajes, difamação, inimizades, o espírito vingativo, obstinação, rebeldia, hipocrisia, dissensões, rixas, favoritismo, opressão e atos de violência. Os que se empenham em tais coisas estão em perigo de realmente se ‘aniquilarem uns aos outros’ em sentido espiritual. (Gál. 5:15) Mas o amor “é o perfeito vínculo de união”. (Col. 3:14; 1 Cor. 13:4-7) Quanto mais feliz é a congregação quando seus membros seguem a ordem de Cristo, de se amarem uns aos outros! Assim desaparecerão o ciúme e a briga.

3.17 Mas a sabedoria de cima é primeiramente casta...

A primeira qualidade da sabedoria alistada, a castidade ou pureza, é especialmente essencial, sendo necessária antes de quaisquer das outras poderem realmente existir. O coração precisa ser puro. O cristão que tiver sabedoria celestial rejeitará o mal sem hesitação. Por exemplo, Jesus rejeitou imediatamente uma proposta bem-intencionada de Pedro. Não teve de cogitar ou avaliar a idéia. (Mat. 16:21-23) O mesmo se deu na sua reação às tentações de Satanás. (Mat. 4:1-10) José viu o perigo da proposta da esposa de Potifar. Ela o faria pecar contra Deus, e, por isso fugiu imediatamente, quando ela tentou impor-se a ele. (Gên. 39:9, 12) O instrutor precisa primariamente desta qualificação, não importa quantas outras qualidades boas tenha.

Portanto, a sabedoria celestial é exatamente o oposto da sabedoria “terrena, animalesca, demoníaca”. É pura, imaculada e não prepara o terreno para o crescimento de toda espécie de impureza e iniqüidade, tal como briga. Seu efeito primário ou inicial sobre as pessoas é torná-las limpas ou puras na mente e no coração. Um bom entendimento sobre o alcance da palavra traduzida aqui por “casta” pode ser obtido em 2 Coríntios 7:11.

Depois pacífica...

A sabedoria celestial fará com que a pessoa promova a paz. Ela não somente evitará ser agressiva ou beligerante, mas também se empenhará pela paz, fazendo tudo para estabelecer boas relações entre os outros. Não fará nem aprovará nada que interrompa a paz. Suas palavras e seu exemplo exortarão os outros a serem pacíficos. (Rom. 14:19; Heb. 12:14) “Felizes os pacíficos”, disse Jesus, “porque serão chamados ‘filhos de Deus’.” (Mat. 5:9)

Razoável...

A sabedoria de cima faz com que se seja razoável, flexível, moderado ou tolerante, não fanático no zelo. (Fil. 4:5; 1 Tim. 3:3; Tito 3:2) Saulo (Paulo), orientado pela sabedoria mundana, foi desencaminhado pelo fanatismo desarrazoado antes de se tornar cristão. (Atos 9:1, 2; Gál. 1:13, 14) Dessemelhante de Saulo, quem é razoável não insistirá em ter as coisas do seu jeito, nem na letra da lei, mas encarará o assunto com bondade, consideração, e do ângulo bíblico, no empenho de raciocinar sobre a questão assim como Cristo faria.

O instrutor razoável não é dogmático. Pensa na condição de progresso daqueles que instrui e na situação deles. Não lhes impõe mais do que podem suportar na ocasião, e pode levar muito tempo até que entendam algumas coisas. Jesus disse aos seus apóstolos, que estiveram com ele durante todo o seu ministério: “Ainda tenho muitas coisas para vos dizer, mas não sois atualmente capazes de suportá-las.” (João 16:12) O instrutor reconhece que os discípulos, desde o começo de sua carreira cristã, têm muitas idéias, hábitos e costumes que não estão inteiramente certos. Mas, mudarão de hábitos quando seu coração e sua consciência entenderem claramente a necessidade de tal mudança. É principalmente o espírito de Deus que os induz a fazer a mudança — não o instrutor. Se o aluno mudar porque seu instrutor diz que deve fazê-lo, em vez de ser motivado de coração pelas Escrituras, isto não lhe será de valor algum, porque não seguirá a Palavra e o espírito de Deus, mas o homem.

Portanto, o bom instrutor nunca estabelecerá suas próprias regras ou regulamentos. Deixará que as Escrituras sejam o guia, produzindo mudanças na personalidade e nos modos dos alunos, ao passo que obtêm um entendimento claro. (Veja 1 Coríntios 9:19-23.)

Pronta para obedecer...

Em vez de promover a obstinação, a sabedoria celestial promove o espírito de cooperação, a disposição de acatar pedidos corretos. Quem possuir tais qualidades acatará o que as Escrituras dizem, não adotando uma atitude e aferrando-se a ela, quer certa, quer errada. Mudará prontamente quando houver evidência clara de que adotou a atitude errada ou tirou conclusões errôneas. Toma a Palavra de Deus por guia e derradeira autoridade. (Rom. 6:17; 2 Tim. 4:2)

Cheia de misericórdia e de bons frutos...

A sabedoria de cima torna o homem misericordioso, compassivo nos seus tratos com seu próximo. Tem dó dos afligidos e angustiados, e está ansioso e disposto a fazer o que puder para ajudá-los. Caso se requeira dele julgar um assunto que envolve um passo errado por parte dum membro da congregação, terá em mente ajudar a pessoa, se for possível. (Tia. 5:19, 20; Judas 22, 23) Também, não aplica mecanicamente regras, classificando a pessoa como estando em certa “categoria”, para que seja fácil aplicar uma regra a ela. Antes, aplica a Palavra de Deus com perspicácia e misericórdia, junto com justiça, tomando em consideração todos os fatores — a formação da pessoa, sua situação, as pressões que sofre, seu desejo de mudar, e assim por diante. Dá-se conta de que ele mesmo também é de carne pecaminosa e pode cometer um erro similar. Se não tiver tal atitude, mas se sentir superior ou mais justo do que o outro, não poderá ser misericordioso, e talvez se sinta severamente tentado, podendo também cair no pecado. (Veja Lucas 18:9-14.) O apóstolo Paulo diz que devemos ajudar outros que deram um passo em falso, e então acrescenta o aviso: “Olha para [ti] mesmo, para que tu não sejas também tentado.” (Gál. 6:1)

Os “bons frutos” incluem todos os atos em harmonia com a bondade, a justiça e a verdade. (Efé. 5:9) São também expressões de preocupação ativa com os outros. (Veja 1 Timóteo 5:10.) O instrutor precisa ser justo, mas, acima de tudo, deve ter bondade. O apóstolo Paulo escreve: “Dificilmente morrerá alguém por um justo; deveras, por um homem bom, talvez, alguém ainda se atreva a morrer.” (Rom. 5:7) O homem pode ser classificado como “justo”, se cumprir com as suas devidas obrigações, se for eqüitativo, imparcial, honesto, não culpado de transgressão ou imoralidade; portanto, é conhecido pela integridade na conduta e pela retidão. A declaração de Paulo, porém, dá a entender certa superioridade do homem “bom”. Para ser “bom”, naturalmente, o homem não pode ser injusto ou injustiçoso; no entanto, outras qualidades o distinguem do homem que é conhecido principalmente pela sua justiça. Não se preocupa apenas em fazer o que a justiça requer, mas vai mais além, sendo motivado pela consideração sadia para com os outros, e pelo desejo de beneficiá-los e ajudá-los.

Sem parcialidade...

Anteriormente, na sua carta, Tiago tornou claro que mostrar favoritismo é pecado. (Tia. 2:1-9) Quem é guiado pela sabedoria celestial não dá preferência às pessoas segundo a aparência externa delas, sua posição, riqueza ou posição social na vida, nem segundo a influência que exercem na congregação. Esforça-se a ser imparcial nos tratos com seu próximo, em especial com seus irmãos e irmãs cristãos.

Sem hipocrisia...

Hipócrita é aquele que finge ser o que não é. Suas ações estão em desacordo com as suas palavras. A palavra grega significa metaforicamente fazer encenação, representar. Os atores amiúde usavam máscaras. A hipocrisia é uma das piores formas de pecado, e ela pode levar alguém a todos os outros pecados, inclusive o pecado contra o espírito santo. Os fariseus são exemplo disso. (Mat. 23:23-28) Ananias e Safira são outro. (Atos 5:1-10) Essas coisas servem como aviso para aquele que aspira ser ou já é instrutor. Ele precisa ter muito cuidado, em cada situação, para ser franco, não hipócrita. O apóstolo Paulo deu a Timóteo instruções específicas sobre o perigo da hipocrisia no ensino. (1 Tim. 1:5-7) O hipócrita muitas vezes é “manipulador”, porque costuma fazer manobras para obter alguma honra, posição social, destaque, vantagem sobre outros ou lucro material. (Veja 1 Tessalonicenses 1:5.) Pelo visto, Ananias procurava destaque e proeminência na primitiva congregação cristã, assim como hoje alguns fazem.

A pessoa arrogante, contenciosa, muitas vezes faz o papel de hipócrita. Pode fingir amizade para alcançar seus objetivos egoístas. (Veja Judas 16.) Pode ser descrito como “fazendo politicagem”, a fim de aliciar partidários, para fins egoístas. Mas, aquele que mostra ter sabedoria celestial na sua vida não usa máscara. É reto, franco e fidedigno em todas as suas relações.