Comentário da Carta de Tiago 3:9

comentario da carta de tiago 3.9 Com ela bendizemos a Yahweh, sim, o Pai, e ainda assim amaldiçoamos com ela a homens que vieram a existir “na semelhança de Deus”

Em sentido físico, e como descendentes de Adão, todos devem sua existência a Deus, como o original Dador da vida e Criador. Neste sentido Ele é o Progenitor, o Pai, de todos; e, portanto, o apóstolo Paulo podia dizer a um grupo de atenienses: “[Deus] mesmo dá a todos vida, e fôlego, e todas as coisas. E ele fez de um só homem toda nação dos homens . . . Pois, por meio dele temos vida, e nos movemos, e existimos . . . nós também somos progênie dele.” (Atos 17:22, 25-29) Em sentido espiritual, ele é apenas o Pai dos membros da verdadeira congregação cristã.

Esforçam-se seriamente a imitar a Deus e a refletir suas qualidades, mantendo-se separados do mundo e do proceder dos mundanos, que mostram ter as qualidades do adversário de Deus e que, portanto, estão na semelhança deste adversário como sendo seu “pai”. (Veja Tiago 1:27; João 1:11-13; 8:42-44; Efésios 5:1; 1 João 3:10-12.) Por outro lado, o conselho que Tiago dá aqui deve exercer força especial sobre os da verdadeira congregação cristã, que são irmãos espirituais. Não obstante, em vista dos inspirados ensinos bíblicos, o princípio apresentado por Tiago certamente não se limita aos tratos que o cristão tem com seus irmãos espirituais, mas aplica-se aos seus tratos com todas as pessoas, seus semelhantes não importa quem sejam. — Veja Mateus 5:43-48.

O homem foi originalmente feito à semelhança de Deus. (Gên. 1:26) Esta ‘semelhança a Deus’ refere-se às suas qualidades mentais e morais, não à sua aparência ou estrutura física. Estas qualidades, incluindo o amor, a justiça e a sabedoria, distinguem os homens dos animais. Embora as pessoas do mundo possam falhar lamentavelmente em refletir a semelhança de seu Criador, ainda a refletem pelo menos em certo grau, assim como também retêm pelo menos certa medida da consciência dada por Deus. (Veja Romanos 2:13-15; Atos 28:1, 2.) Os próprios cristãos não podem refletir perfeitamente a semelhança divina, e precisam reconhecer humildemente que também “não atingem a glória de Deus”. (Rom. 3:23) Mas essa falha, quer menor, quer maior, nunca justifica que se lide com os outros de modo odioso e ultrajante, tratando-os com arrogância e desdém, como se fossem de origem totalmente diferente e inferior. Todo o teor das Escrituras Cristãs é contrário a tal conceito orgulhoso. (Veja João 3:16; Romanos 5:7, 8; Atos 10:28, 29.) Os fariseus eram culpados de tal atitude, e, por causa dela, desprezavam o povo comum de Israel, que consideravam como pecadores, chamando-o de “pessoas amaldiçoadas”. (João 7:49; Luc. 18:9-14) A língua, de fato, foi criada primariamente para dar louvor a Deus. Mas os homens pecaminosos talvez usem a língua de maneira incoerente, bendizendo o Criador e depois amaldiçoando sua criação. ‘Amaldiçoar’ os homens significa ‘exorar’ ou ‘invocar’ o mal sobre eles.
É verdade que as Escrituras registram maldições proferidas pelos servos de Deus contra outros homens, com a aprovação divina. No entanto, é evidente que tais maldições foram proferidas sob inspiração divina e o mal invocado sobreveio pelo poder divino. (Veja Gênesis 9:24, 25; 2 Reis 2:23, 24; Josué 6:26; 1 Reis 16:34.) Neste respeito, o apóstolo Pedro, sob inspiração, proferiu palavras que resultaram na morte de Ananias e Safira; e o apóstolo Paulo invocou a cegueira sobre um opositor vilão da verdade, chamado Elimas, chamando-o de “inimigo de tudo o que é justo”. (Atos 5:1-10; 13:6-11) Em ambos os casos, foi por inspiração divina que se discerniu a verdadeira motivação do coração. Os cristãos em geral, porém, não foram dotados de poderes apostólicos, especiais, que os habilitassem a fazer tais proferimentos diretos.

Sobre aqueles que talvez ensinem pretensas “boas novas” que são diferentes das proclamadas pelos apóstolos, o apóstolo Paulo disse: ‘sejam amaldiçoados.’ (Gál. 1:8, 9; veja 2 Pedro 2:14; 2 João 9-11.) Mas serem encarados assim pelos cristãos era bem diferente de estes proferirem verbalmente maldições contra eles. Os crentes foram exortados a seguir o exemplo do arcanjo Miguel, que se refreou de usar termos ultrajantes até mesmo contra o adversário de Deus, o Diabo. (Judas 9) Quanto a todos os outros, havia a injunção do próprio Cristo: “Continuai a amar os vossos inimigos, a fazer o bem aos que vos odeiam, a abençoar os que vos amaldiçoam, a orar pelos que vos insultam.” (Luc. 6:27, 28) E o apóstolo Paulo escreveu: “Persisti em abençoar os que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis. Não retribuais a ninguém mal por mal. . .. Não vos vingueis, amados, mas cedei lugar ao furor; pois está escrito: ‘A vingança é minha; eu pagarei de volta, diz Yahweh’ . . . persisti em vencer o mal com o bem.” (Rom. 12:14, 17-21)

De modo que, quando a língua, sem inspiração divina, é usada para amaldiçoar homens, quaisquer homens, ela realmente não pode bendizer a Deus. Tais palavras de bênção revelam ser hipócritas. O apóstolo João tornou isso claro quando escreveu: “Se alguém fizer a declaração: ‘Eu amo a Deus’, e ainda assim odiar o seu irmão, é mentiroso. Pois, quem não ama o seu irmão, a quem tem visto, não pode estar amando a Deus, a quem não tem visto.” (1 João 4:20) Amaldiçoar alguém (fora da inspiração divina) certamente é evidência de ódio, não de amor. Tal maldição lançada sobre homens torna vã a bênção proferida sobre Deus. O Altíssimo nunca a aceitará como genuína.

O uso sábio e correto da língua, atualmente, mesmo na maior parte do tempo, não resguarda contra posterior mau uso dela, com uma possível calamidade para nós mesmos e para outros. Requer vigilância constante e incessante. As expressões mais rápidas e prejudiciais da língua muitas vezes são provocadas pela ira. Por isso é que o texto bíblico adverte: “Ficai furiosos, mas não pequeis.” (Efé. 4:26)