Comentário da Carta de Tiago 4:12-14

comentario da carta de tiago 4.12 Há um que é legislador e juiz, aquele que é capaz de salvar e de destruir...

Tiago vai agora mais longe e mostra a magnitude do erro envolvido nesta incriminação injusta dum irmão. Visto que aquele que faz isso se arvora em juiz da lei de Deus, ele se coloca no mesmo nível de autoridade como a fonte desta lei, o legislador. Por julgar injustamente seu irmão, ele, na realidade, pode até mesmo presumir introduzir sua própria legislação, baseada nas suas próprias normas pessoais. Mas Tiago expressa a verdade de que há apenas um legislador e juiz. Ele não é algum homem, mas Deus, o Juiz e Legislador supremo. (Isa. 33:22) Somente ele tem o soberano direito de estabelecer normas e regras para a salvação, visto que apenas ele “é capaz de salvar e de destruir”, sendo capaz de recompensar e punir plenamente. O Filho de Deus disse: “Não fiqueis temerosos dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma; antes, temei aquele que pode destruir na Geena tanto a alma como o corpo.” (Mat. 10:28; veja o Salmo 68:20; 75:7.) Mesmo que aquele que fala contra seu irmão e o julga não se aperceba plenamente da realidade e da magnitude da posição que assume, quão perigosa é a atitude que toma ao tentar desempenhar as funções judicativas do Deus infalível!

“A lei de Yahweh é perfeita”; portanto, é completa, refinada, não sendo deficiente, inadequada ou incompetente para atingir o objetivo desejado. (Sal. 19:7) Deus disse aos israelitas: “Deveis cuidar em cumprir cada palavra que vos ordeno. Nada lhe deveis acrescentar nem lhe tirar.” (Deu. 12:32; veja Provérbios 30:5, 6; Apocalipse 22:18.) “Tua lei é verdade”, diz o Salmo 119:142, e por isso está em harmonia com a situação real das coisas e é correta para tudo o que realmente é necessário. Sendo Deus o único Legislador e Juiz, só ele pode decidir quando revogar qualquer de sua legislação como já tendo servido à sua finalidade (assim como fez com o pacto da Lei), ou introduzir novos mandamentos e legislação. (Heb. 8:10-13; veja Gálatas 1:8, 9, 11, 12.) Assim como seria o cúmulo de desrespeito se os homens se empenhassem em fazer parecer que a lei de Deus aprova o que ela condena, assim, também, seria igualmente presunçoso fazer parecer que proíbe o que ela permite. (Isa. 5:20; Pro. 17:15) Os líderes religiosos, judaicos, apesar de seu zelo pelo código da Lei, eram culpados disso. Tiago mostra que seus irmãos na congregação cristã precisavam guardar-se para não cometerem um erro similar.

Mas tu, quem és tu para julgares o teu próximo?

A pergunta de Tiago é devastadoramente vigorosa. Realmente, parece incrível que algum humano frágil, errante, imperfeito e pecaminoso consideraria ter o direito e a competência para agir no lugar do Deus infalível em julgar o próximo, quando Deus, por sua Palavra, não o faz. O Filho de Deus, perfeito e sem pecado, declarou repetidas vezes sua aderência cuidadosa e fiel ao que seu Pai dissera, e sua firme recusa de agir ou fazer julgamentos por conta própria. (João 5:30, 45; 7:16-24; 8:15, 16, 26, 28; 12:28-50) Ele diz a nós, discípulos, que, se nós, como criaturas imperfeitas e pecaminosas, não queremos ser julgados e condenados, então não devemos presumir arbitrariamente de julgar e condenar nosso próximo. (Mat. 7:1-5; Luc. 6:37; veja Romanos 2:1-3.)

A pergunta de Tiago encontra paralelo na do apóstolo Paulo, em Romanos 14:4: “Quem és tu para julgares o servo doméstico de outro? Para o seu próprio amo está em pé ou cai.” O amo tem o direito de estabelecer leis para o seu próprio servo, para lhe impor deveres e restrições, para conservá-lo ou para despedi-lo. A qualquer que presumisse de assumir esta responsabilidade, o amo do servo diria de direito: ‘Quem é que pensa que é?’ (Veja Provérbios 30:10; 1 Coríntios 4:1-5.) Sendo assim, o apóstolo prossegue: “Mas, por que julgas tu o teu irmão? Ou, por que menosprezas também o teu irmão? Porque nós todos ficaremos postados diante da cadeira de juiz de Deus.” (Rom. 14:10; veja também os versículos 11 a 13.) O reconhecimento da imparcialidade de Deus no julgamento e de nossas próprias fraquezas os ajudará a evitar sentimentos de auto-justiça e de superioridade para com o nosso próximo. (Veja Jó 31:13-15.)

4.13 Vinde agora, vós os que dizeis: “Hoje ou amanhã viajaremos para esta cidade e passaremos ali um ano, e negociaremos e teremos lucros”

Tiago dirige-se aqui àqueles que fazem tais planos sem considerar a Deus e a vida que deviam levar de devoção a ele. Isto é paralelo à sua advertência nos versículos 1-10, a respeito de se desconsiderar a Deus para ter amizade com o mundo, e nos versículos 11 e 12, sobre não se fazer caso de Deus como juiz e legislador. Tais pessoas falam como se tivessem conhecimento profético do futuro, girando seu objetivo exclusivo em torno de seus planos comerciais. Até mesmo já calcularam tudo sobre o tempo que passariam naquela cidade distante e sobre os lucros que ganhariam. Essa desassossegada mudança de lugares dificulta ao cristão fazer um bom serviço em ensinar a Bíblia às pessoas e em ajudá-las espiritualmente.

No entanto, Tiago não condena que se viaje, mas, antes, o espírito de tais, ao fazerem afirmações presunçosas, cheios de confiança em si mesmos. Não tomam em consideração a parábola de Jesus a respeito do rico tolo que, planejando uma grande expansão de seus empreendimentos financeiros, nem mesmo viveu até o dia seguinte. Este homem ‘acumulou para si tesouro, mas não era rico para com Deus’. (Luc. 12:16-21)

4.14 ao passo que nem sabeis qual será a vossa vida amanhã...


O provérbio aconselha: “Não te jactes do dia seguinte, pois não sabes o que o dia dará à luz.” (Pro. 27:1) Ninguém sabe o que o dia seguinte trará, nem mesmo o que trará o minuto seguinte. Realmente, talvez nem mesmo esteja vivo no próximo minuto. Apenas Deus sabe o futuro. Nem aqueles a quem Tiago se dirigiu, nem alguém hoje em dia, tem o dom de previsão profética. Antes, “o tempo e o imprevisto sobrevêm a todos”. (Ecl. 9:11, 12)

Por que sois uma bruma que aparece por um pouco de tempo e depois desaparece...

A vida é igual ao nevoeiro, igual à bruma matutina que se desvanece e se dissolve enquanto observamos. Portanto, somos tolos se encaramos a vida neste sistema de coisas como substancial, algo sobre que possamos edificar com confiança. (Ecl. 1:2; 2:17, 18) Não é lógico desconsiderar assim a verdadeira situação, especialmente negligenciar a Deus e o que ele diz. O patriarca Jó expressou-se de maneira similar: “Lembra-te de que a minha vida é vento.” E Davi admitiu a Deus: “Nossos dias sobre a terra são como uma sombra.” (Jó 7:7; 1 Crô. 29:15; veja Salmo 90:9, 10.)