Comentário de John Gill: João 1:29

comentário do evangelho de joão 1:29 - No dia seguinte João o observou vindo a ele,... Não para ser batizado, porque ele tinha sido batizado antes por ele. Isto parece ter sido depois que Cristo tinha passado os quarenta dias no ermo,[1] de onde ele agora retornou, e veio observar o ministério de João; para lhe dar honra, e para que ele pudesse ser feito manifesto por ele; e este era o dia depois que João deu tal testemunho relativo a ele, para os Sacerdotes e Levitas; e o qual Cristo, o Deus onisciente, conhecia plenamente, e então veio a esta ocasião, quando as mentes das pessoas foram preparadas pelo testemunho de João, para tanto esperarem como receberem-no: uma parte do trabalho de Elias, do qual os Judeus atribuem a ele, e o tempo preciso de se fazer isto, e exatamente concorda com este relato de João Batista; eles dizem[2] que o trabalho dele é:

“Para trazer a eles (os Israelitas) as boas novas da vinda do Redentor; e esse será, יום אחד, “um dia”, antes da vinda do Messias; e isso é o que está escrito, “observai, eu enviarei Elias, o profeta, antes da vinda do grande e atemorizante dia do Senhor”.” Mal 4:5

Porque para João, o dia antes de Cristo, o Senhor, tinha significado para os sacerdotes e Levitas que o Messias já tinha vindo; e agora no dia seguinte, vendo ele, apontou-lhe com o seu dedo.

E disse, eis o Cordeiro de Deus, que tirou o pecado do mundo: ele o chama de um “cordeiro”, ou com respeito a qualquer cordeiro em comum, devido a inoficiosidade dele e inocência; para a mansidão dele e humildade; para a sua paciência; e para a sua utilidade, tanto para a comida e vestimenta, em um sentido espiritual; como também para sua manifestação como o sacrifício pelos os pecados do seu povo: ou então com respeito aos cordeiros que foram oferecidos em sacrifício, debaixo da Dispensação legal; o cordeiro da Páscoa judaica, ou, antes, para os cordeiros do sacrifício diários que eram oferecidos manhã e noite; como o relato deles melhor concorda com o que é dito deste Cordeiro de Deus, que foi morto em tipo pela manhã do mundo, ou da fundação do mundo; e, de fato, na noite do mundo, ou no fim dela; e que tem uma virtude continuada para tirar os pecados do seu povo, desde o princípio, até o fim do mundo; e os pecados deles, ambos de dia e noite, ou que são diariamente cometidos: porque como eles estão diariamente cometendo pecados, há necessidade da aplicação diária do sangue e sacrifício de Cristo, para os remover; ou de um olhar ininterrupto para ele pela fé, cujo sangue tem uma virtude ininterrupta, de limpar todos os pecados do seu povo: os doutores judeus dizem[3] que “o sacrifício diário matutino faz compensação pelas iniquidades feitas à noite; e o sacrifício da noite faz compensação pelas iniqüidades que eram feitas de dia”:

E em várias coisas eles eram típicos de Cristo, com isso eles eram cordeiros do primeiro ano que pode denotar a fraqueza da natureza humana de Cristo, que teve todas as fraquezas, no entanto, sem pecado; eles, também estavam sem mancha, enquanto significando a pureza da natureza da humanidade de Cristo, que era santa e inofensiva no cordeiro sem mancha e mácula; estes foram oferecidos como um sacrifício, para os filhos de Israel apenas, como Cristo se deu em um oferecimento e um sacrifício para Deus, ambos em alma e corpo, para os pecados do Israel místico de Deus, o Israel a quem Deus escolheu para ele, quer Judeus ou Gentios; porque Cristo, a propiciação, é para os pecados de ambos: e estes foram oferecidos de forma diária, manhã e noite; e Cristo foi apenas uma vez oferecido, caso contrário, ele devia ter sofrido muitas vezes; ainda como ele tem, por só um oferecimento, removido o pecado para sempre, assim há uma virtude perpétua no seu sacrifício de levar embora o pecado sobre si, e há uma aplicação constante disso para esse propósito; para a qual pode ser somado, que estes cordeiros foram oferecidos com farinha excelente, óleo e vinho, como um doce sabor para Deus; denotando aceitação do sacrifício de Cristo ao seu Pai, a quem é um doce cheiro, Ef. 5:2. E Cristo é nomeado o Cordeiro “de Deus”, em alusão ao mesmo, a quem os judeus Cabalísticos[4] chamam o segredo do mistério, כבשי רחמנא, “os Cordeiros de Deus”; porque Deus tem uma propriedade especial nele; ele é o seu próprio Filho; e porque ele provê e designa, como um sacrifício pelos pecados, e é aceitável a ele como tal; e o distingue de todos os outros cordeiros; e lhe dar a preferência, visto que ele faz com que aqueles não puderam fazer, que é “tirar o pecado do mundo”:[5] pelo “pecado do mundo”, não é significado o pecado, ou pecados de toda pessoa individualmente falando, no mundo; porque alguns morrem em seus pecados,[6] e os seus pecados vão juntos com eles para o julgamento, e eles entram em castigo perpétuo devido a eles; o que não aconteceria se Cristo os levasse levado embora: antes, o pecado que é comum ao mundo inteiro, isto é: pecado original; embora deva ser observado que este não é o único pecado que Cristo levou embora; porque ele também toma os pecados atuais; e as versões Árabe e Etíope lêem no plural: “os pecados do mundo”; e também que isto que ele leva embora, só diz respeito aos eleitos; portanto, elas são as pessoas pretendidas pelo mundo aqui, como em João 6:33, cujo pecado ou pecados, Cristo tirou completamente: e uma consideração peculiar parece ser tida aos eleitos de Deus entre os Gentios, que é chamado o mundo em distinção dos Judeus, como em João 3:16, e antes, como os cordeiros do sacrifício diário, para o qual é a alusão aqui, só foram oferecidos pelos pecados dos judeus: mas, João quer dizer aqui, que o Cordeiro de Deus, ao que ele apontou, e que era o antitípico destes cordeiros, não só tirou os pecados do povo de Deus entre os judeus, mas os pecados de tais deles que também estava entre o Gentios;[7] e isto me parece ser, pessoalmente, o verdadeiro sentido da passagem. A frase que “tirado pecado”, significa uma tomada de algo completamente, como fez Cristo; ele levou isto voluntariamente nele, e ficou responsável diante da justiça divina por eles; por levar eles sobre si, ele aceitou o seu próprio corpo ser colocado na árvore maldita,[8] e tirou por completo o pecado, como a bode expiatório fazia debaixo da lei;[9] e tão igualmente ele fez uma tomada de pecados para longe, de maneira mais excelente: Cristo removeu o pecado do mundo tão longe quanto o leste é do oeste,[10] para longe da vista, para nunca ser visto por qualquer outra pessoa; ele destruiu, aboliu, e fez um fim absoluto disso: e este ato é expresso no tempo presente, “tira”: denotar a virtude continuada do sacrifício de Cristo para tirar o pecado, e a eficácia constante do sangue dele para limpar-nos do pecado, e a aplicação diária dele para as consciências do seu povo; e que é devido à dignidade da sua pessoa, como o Filho de Deus; e para a mediação ininterrupta e poderosa dele e intercessão: este deve ser um grande alívio as mentes afligidas com as ebulições contínuas do pecado que são tomadas pelo Cordeiro de Deus; e são chamadas para esse propósito, para “verem”,[11] e os que desejam saber, o amor e graça de Cristo, levando embora, suportando, e limpando para sempre de todos os seus pecados; e olhando continuamente para ele por fé, pela salvação perpétua; amando-o, e lhe dando a honra merecida, e o glorificando por causa disso.

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Notas
[1] Cf. Mateus 4:1. N do T.
[2] R. Abraham ben David em Misn. Ediot, c. 8. sect. 7.
[3] R. Menachem, fol. 115. apud Ainsworth, em Exod. xxix. 39.
[4] Raya Mehimna, em Zohar em Lev. fol. 33. 2.
[5] Cf. Hebreus 10:4. N do T.
[6] Cf. João 8:24. N do T.
[7] Cf. 1 João 2:2. N do T.
[8] Cf. Gálatas 3:13. N do T.
[9] Cf. Levítico 16:21. N do T.
[10] Cf. Salmos 103:12. N do T.
[11] Se referindo à expressão: “eis o Cordeiro...”, ou “vejam o Cordeiro...”. N do T
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