João 1:9 — Comentário de John Gill

João 1:9

1:9 Essa era a verdadeira luz,... Cristo é essa luz, aquela luz famosa e excelente, a fonte de toda a luz para todas as criaturas; que deu, no princípio, a luz em separação da escuridão na criação da terra,[1] e falou luz das trevas; essa luz de todos os homens na terra, e de todos os anjos nos céus, e de todos os santos abaixo, e de todos os glorificados acima: ele é a verdadeira luz, em distinção das luzes típicas; o “Urim” da primeira Dispensação; o candelabro com as suas lâmpadas; o pilar de fogo que dirigia os Israelitas de noite pelo deserto;[2] e de toda a luz típica que havia nas instituições e sacrifícios da lei; e em oposição à própria lei, que os Judeus[3] se gabavam e clamavam com voz alta como sendo a luz, dizendo que não havia nenhuma luz como a lei; e em oposição à todas as luzes falsas,[4] os sacerdotes, os adivinhos, os prognosticadores de eventos entre os gentios, Escribas, e os Fariseus, e os Rabinos eruditos entre os Judeus, que se gabavam de ser a luz do mundo; e para todos os falsos Cristos e profetas que têm se levantado, ou se levantará no mundo.

Que ilumina cada homem que vem ao mundo: O sentido é, ou que cada homem que é iluminado de uma forma espiritual é iluminado por ele, o que é verdade de Cristo, como Filho de Deus, existindo desde o início; mas não no sentido Sociano, como se eles fossem iluminados pela pregação de João Batista; e multidões depois, através da pregação dos apóstolos; pois muitos poucos, comparativamente, foram iluminados debaixo do ministério de Cristo;[5] e de nenhum homem lemos, nesse sentido, que foi iluminado por ele assim que entrou no mundo: ou, o significado é que ele é aquela Luz que ilumina toda sorte de homens; que é a verdadeira em um sentido espiritual: alguns conectam a frase, “que vem ao mundo”, não com “todo homem”, mas com “a verdadeira luz”; e a versão Árabe lê assim junta com o versículo seguinte; mas tal leitura não é tão natural e a ordem das palavras requer uma leitura comum; nem é a dificuldade removida então; porque ainda assim todo homem é iluminado: é melhor, portanto, entender essas palavras se referindo à luz da natureza, e a razão, que Cristo, como a Palavra, e Criador e a Luz dos homens, dá a todo homem que é nascido no mundo; e que serve para detectar o pensamento de Quaker sobre a luz, que todo homem tem, e que é nenhuma outra a não ser a luz da natureza da consciência; e mostra como muitos homens, até mesmo homens naturais, são favorecidos por Cristo, e quão grande ele é, e quão digno de elogio, honra, e glória. A frase, “todo homem que entra no mundo”, é uma frase judaica, e frequentemente achada nos escritos rabínicos, e significa todos os homens que são nascidos no mundo; os exemplos são quase inumeráveis; tome como exemplo apenas dois ou três: sobre essas palavras em Jó 25:3, sobre quem a sua luz não se levanta? É respondido,[6] aquele que vem, מכל באי עולם, “de todos os que entram no mundo”; e dizem, o sol não me tem iluminado de dia, nem tem a lua me iluminado de noite! Tu iluminas aqueles acima e aqueles de baixo, e “todos os que entram no mundo”.

De novo, Deus é apresentado assim dizendo:[7]

“Eu sou o Deus, לכל באי עולם, “de todos os que entram no mundo”, e eu não tenho unido meu nome, a não ser ao povo de Israel.

Mais uma vez:[8]

“Moisés, nosso mestre, da boca do Poder (i.e Deus; veja Mat 26:64.) exorta a mandar que, את כל באי העולם, “todos que entram no mundo”, recebam os mandamentos que foram dados aos filhos de Noé.”

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Notas
[1] Cf. Gênesis 1:3, 4. N do T.
[2] Cf. Êxodo 13:21, 22. N do T.
[3] T. Bava Bathra, fol. 4. 1.
[4] Cf. 2 Coríntios 11:14. N do T.
[5] Cf. João 14:12. N do T.
[6] Vajikra Rabba, sect. 31. fol. 171. 4.
[7] Midrash Ruth, c. l. v. 1. fol. 27. 3.
[8] Maimon. Hilch. Melakim. c. 8. sect. 10. Vid. Misn. Roshhashana, c. l. sect. 2. T. Hieros. Sanhedrin, fol. 25. 4. & 26. 3. Sepher Bahir apud Zohar em Gen. fol. 30. 3. Tzeror Hammor, fol. 21. 2. & 22. 3. & 24. 3. & 27. 2. Caphter, fol. 56. 1. Jarchi em Exod. 15. 2.