Comentário de John Gill: João 2:4

comentário do evangelho de joão 2:4 - Jesus disse a ela: mulher,... Chamando-a de “mulher”, não era contrário ao fato dela ser virgem, Gal 4:4, então não foi nenhuma nota de desrespeito; isso sendo uma forma muito comum que se falava entre os Judeus, quando eles mostravam grandioso respeito para com uma pessoa com quem ele estava falando; e usado pelo nosso Senhor quando ele falou com a sua mãe com grande respeito e ternura, com profunda afeição, João 19:26. Os Judeus frequentemente objetam usando contra nós, cristão: um dos seus escritores fala dessa forma:[1]

“Eles (os cristãos) dizem que a mãe de Jesus nunca é chamada de mulher na lei deles; mas aqui seu próprio filho a chama uma mulher.”

Um outro coloca assim:[2]

“É a crença deles (dos cristãos) que Maria, mesmo depois de dar a luz Jesus, continuou virgem; mas se ela era, como eles dizem, porque seu filho não a chamou pelo nome de virgem? Mas ele a chamou de mulher, que significa uma mulher conhecida[3] por um homem, como aparece em João 2:4.”

Pela qual pode ser respondido, que a mãe de Jesus nunca é chamada uma mulher no Novo Testamento, não é dito por nós, os cristãos: é certo que ela é chamada assim, tanto aqui, e em outro lugar; embora esta não seja nenhuma contradição ao ser ele uma virgem; e a mesma pessoa, pode ser uma virgem, e uma mulher: o servo do Abraão foi enviado para levar uma esposa para o seu filho, Isaque, que é chamada uma mulher, embora uma virgem, que nunca tinha conhecido qualquer homem, Gên. 24:5. Além disso, nós não pensamos que nós mesmos obrigamos a manter a virgindade perpétua de Maria, a mãe de nosso Senhor; é, antes, que ela era uma virgem quando ela o concebeu, e quando ela produziu o seu primogênito: e ao passo que os Judeus se esforçam ao usar isso para tirar vantagem do caráter de Maria, os Papistas são muito solícitos sobre a maneira na qual estas palavras são ditas, para que não devesse ser pensado que elas contêm uma reprovação que eles não podem suportar, de que ela deveria ser julgada merecedora; ou sugestiona qualquer coisa à desonra dela de quem eles aumentam como igual ao seu filho:

O que eu tenho haver contigo? Mostra ressentimento e reprovação. Alguns leem assim as palavras, “o que é isso entre mim e ti?” e dão disso como o sentido; Que preocupação é essa entre nós? Que negócio temos com isso? Vamos ver isso, que é o principal da festa. Os Judeus[4] objetam nesse sentido as palavras, mas dão um argumento muito fraco:

“Mas eu digo, (disse ele), quem devia estar preocupado a não ser o mestre da festa? E ele era o mestre da festa:”

Considerando que é um caso claro que ele era um dos convidados, alguém que foi convidado João 2:2, e que havia um governador do banquete, que poderia ser chamado o mestre dela mais corretamente do que Jesus, João 2:8. Porém, visto que Cristo depois mostrou interesse nisso, parece como se não fosse o significado dele. Outros vertem isso como o sentido que nós fazemos, “o que tenho eu contigo?” como a versão de Etíope; ou “que negócio há tu comigo?” como a versão Persa; e é o mesmo que מה לי ולך, “o que tem eu que ver contigo?” como usado em 1 Reis 17:18, onde a Septuaginta usa a mesma frase como aqui; e tal modo de falar é comum com escritores judeus:[5] significando por este meio que, embora como homem, e um filho seu, ele tivesse estado sujeito à ela na qual ele tinha fixado um exemplo de obediência aos pais; ainda assim, como Deus, ele tinha um Pai no céu, cuja atividade ele veio realizar; e no seu ofício, como Mediador, ela não teve nada que ver com ele; nem ele tem sido dirigido por ela naquele trabalho; ou ser ordenado, ou ao menos a sugestão dada quando um milagre deveria ser realizado por ele em confirmação da sua missão e doutrina. Além disso, ele acrescenta:

Minha hora ainda não chegou: Não significando a hora dos sofrimentos dele e morte em cujo sentido ele às vezes usa esta frase; como se a sugestão fosse, que não era próprio para ele operar milagres ainda, para que não provocasse os seus inimigos a buscarem a sua vida antes do seu tempo; mas, ao invés disso, o tempo do ministério público dele e milagres que seriam juntos uma prova um do outro; embora pareça ter uma consideração particular ao milagre seguinte, o tempo de fazer isso ainda não tinha vindo; a própria conjuntura, quando todas as circunstâncias apropriadas aparecessem juntas, seria tanto mais útil como mais ilustre: ou o significado dele é que o tempo dele de fazer milagres em público não era esse ainda; e então, embora ele estivesse disposto a fazer este milagre, contudo, ele escolheu fazer isto da maneira mais privada; de forma que só alguns, e não as pessoas principais no banquete deveriam saber disso: portanto, a reprovação não era tanto devido a noção de ser fazer isso, como a falta de razão; e assim a sua mãe levou-lhe o assunto.


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Notas
[1] Vet. Nizzachon, p. 222.
[2] R. Isaac Chizzuk Emuna, par. 2. c. 42. p. 433.
[3] Termo arcaico em inglês. Uma mulher conhecida por um homem, nesse sentido, significa uma mulher que já teve relações sexuais com um homem. N do T.
[4] Vet. Nizzachon, p. 223.
[5] Vid. Kimchi em Sal. ii. 12. Bechinat Olam, p. 70.