Comentário Teológico da Epístola aos Romanos
Na carta aos Romanos há um tema que é desenvolvido sistematicamente: o evangelho de Jesus Cristo. Nele Deus manifesta a sua justiça (Rm 1.17). Mas que significa isso?
Quem ouve a palavra justiça pensa via de regra em um atributo de Deus. Em outras palavras, o Deus justo se empenha para que todo pecado seja punido e todo ato de obediência seja recompensado. Independentemente de simpatia ou antipatia ele trata a todos de forma igual. Ele é o justo juiz, que vai chamar todas as pessoas a prestar contas com ele. O monge Lutero também entendia a justiça de Deus dessa forma. Movido pelo medo, tentava satisfazer a esse Deus justo com a sua vida, só que sem sucesso, como sempre novamente constatou.
A maior descoberta da sua vida aconteceu quando constatou que justiça de Deus tem um outro significado na Bíblia. Já no AT não se trata de um atributo de Deus, mas do relacionamento de Deus com o seu povo escolhido. Deus é justo com o seu povo porque nas tempestades e descaminhos da sua história ele não os abandona, mas os salva. Por isso justiça e salvação de Deus muitas vezes são mencionadas juntas.
A carta aos Romanos trata desse Deus que torna as pessoas justas para que possam viver com ele e de acordo com a sua vontade. A carta afirma que todas as pessoas — judeus e gentios — vivem em contradição com os princípios de Deus; portanto, necessitam de Jesus Cristo, que intervém de forma vicária nas suas vidas. A fé em Jesus Cristo abre o caminho para uma vida completa.
Por meio dessa confiança em Jesus Cristo o poder do pecado pode ser quebrado e a luta desesperadora para cumprir a lei de Deus (e mesmo assim não conseguir cumprir) pode ser vencida. Essa vida completa só é possível pelo poder do Espírito Santo que faz acontecer na vida das pessoas aquilo que elas não teriam condições de fazer por si.
Depois de descrever dessa forma o poder transformador da fé, parece que Paulo faz nos capítulos 9-11, como Lutero o definiu, “um pequeno e belo desvio”. Mas não é o caso. O que acontece é que Paulo direciona todos os seus argumentos para o conteúdo desses capítulos. Pois ele sabe que é um judeu chamado por Deus para pregar a salvação aos gentios. Por isso ele quer ganhar o apoio da igreja em Roma para a sua missão, inclusive da ala judaica. É necessário, portanto, explicar a esse grupo o que ele pensa sobre as expectativas de salvação dos judeus. As conclusões são inconfundíveis: Deus não abandonou o seu povo Israel. Ele será justo também com o seu povo.
Na última parte da carta, Paulo explica como a confiança em Jesus Cristo transforma a vida das pessoas. Isso tem conseqüências sobre o trabalho das pessoas na igreja, nos relacionamentos uns com os outros, no seu relacionamento com o governo, na sua postura em assuntos controvertidos. O evangelho de Jesus Cristo é o poder restaurador de que o mundo está precisando.