Comentário Teológico do Evangelho de Lucas
COMENTÁRIO TEOLÓGICO DO EVANGELHO DE LUCAS
O tema central do terceiro evangelho é “Jesus, o Senhor” (cf. Lc 2.10s). O ministério de Jesus é visto a partir dessa perspectiva no evangelho de Lucas. O autor dá expressão acentuada ao amor que Jesus tem pelos grupos desprezados e marginalizados da sociedade. A esses grupos pertencem pecadores assumidos e outros que são assim rotulados pela sociedade (Lc 5.1ss; 7.36ss; 15.1ss; 18.9ss; 19.1ss; 12.39ss). Mas também os samaritanos, tão desprezados pelos judeus, pertencem a esse grupo (Lc 10.30ss; 17.11ss). Esse evangelista também dá mais atenção às mulheres no grupo de seguidores de Jesus do que os outros sinópticos (Lc 7.12,15; 8.2s; 10.38ss; 23.27ss).
O autor desse evangelho destaca a atitude crítica de Jesus em relação às riquezas. Por isso ele registra bem-aventuranças que divergem significativamente das encontradas em Mateus (Lc 6.20s). É por isso também que Lucas registra “ais” que não encontramos em nenhum outro evangelho (Lc 6.24s). Essa também é a razão para ele transmitir a nós as parábolas do agricultor rico (Lc 12.15ss), do administrador infiel (Lc 16.1-9) e do rico e de Lázaro (Lc 16.19ss). O que é criticado nessas passagens não é a exploração e opressão por meio das posses, mas as posses em si, porque se tornam a pedra de tropeço para os que as possuem, pois procuram a realização das suas vidas nas riquezas. Dessa e de outras constatações, surgiu a dissertação do arcebispo de Paderborn, J. Degenhardt, com o título sugestivo “Lucas — evangelista dos pobres”.2 O tema desse evangelho não é a piedade judaica pelos pobres, mas o amor de Deus que vale para todos os marginalizados, portanto, também para os pobres.
Esse evangelista estabelece uma relação entre a história de Jesus e a história do mundo. Isso se torna evidente na indicação da data de seu nascimento (Lc 2.1s). O aparecimento de João Batista também é colocado no seu contexto político (Lc 3.1s). É somente esse evangelista que nos revela os nomes dos imperadores romanos (por exemplo At 11.28; 18.2). A sua grande preocupação é esclarecer a relação entre os cristãos e o estado romano. Por isso ele destaca a inocência de Jesus aos olhos das autoridades romanas (Lc 23.4,14,20,22,47). A comparação com os outros sinópticos demonstra a evidência que Lucas deu ao fato de que as autoridades romanas não concordavam com a crucificação de Jesus (Lc 23.25; cf. Mc 15.15; Mt 27.26). Segundo Lucas, os líderes judeus são responsáveis pela morte de Jesus na cruz (Lc 20.20,26; 23.2,5,18s,23,25).
A ênfase especial desse evangelho é a parte central, o chamado relato de viagem. Quem lê os capítulos 10-19, percebe logo que não se trata aqui de um relato detalhado de viagem. Não dá nem para reconhecer a rota exata da viagem, o que provavelmente não é o objetivo do autor. O tema é outro, é teológico. Jerusalém é a cidade das disputas e do sofrimento. A parte central do evangelho mostra como Jesus prepara os discípulos para esse sofrimento. Os evangelhos sinópticos têm sido chamados de histórias de sofrimento com uma longa introdução. Isso certamente é verdade em relação a Lucas, principalmente se considerarmos a parte central. Por causa desse trecho, o evangelho tem uma divisão em três partes aproximadamente iguais.
Essa divisão em três partes também pode ser notada em outros trechos. Segundo a visão do autor, a história de Deus com a humanidade também é dividida em três grandes épocas: a época do AT, que também pode ser denominada a época da lei e dos profetas; a época do ministério de Jesus (Lc 16.16 cf Mc 11.12) e a terceira grande época, a época da igreja de Jesus, como a descreve Atos dos Apóstolos. O aparecimento de Jesus Cristo é, pois, o centro da história da salvação. É possível dar mais um passo: visto que o autor associa os acontecimentos da vida de Jesus com a história do mundo, a época do ministério de Jesus é, na visão dele, o centro da história do mundo.
Certamente esse autor não introduziu o pensamento de acordo com categorias de história da salvação. Ele achou essa linguagem nos profetas do AT, sobretudo também em Paulo que considerava Jesus o ponto central da história da humanidade, o momento em que houve a guinada total. Lucas retomou esse tema e colocou o seu relato sobre Jesus nesse contexto. H. Conzelmann crê que pode acrescentar mais um argumento a isso: Por causa da demora da volta de Jesus, teria sido necessário tratar a história da igreja da perspectiva de temas diferentes. Por isso a expectativa pela vinda próxima de Jesus teria sido abafada no evangelho de Lucas (Lc 19.11ss; 21.8; cf. Mc 13.6; 17.20s; Mt 25.14ss).3 E H. Conzelmann não está sozinho nessa posição, mas no grupo dos que defendem a escola histórico-comparativa. A. Schweizer foi o que mais difundiu a teoria do choque inicial (“Urschock”) por causa da demora da volta de Jesus.
No entanto, a expectativa pela volta de Jesus não é, de forma alguma, ignorada em Lucas (cf. Lc 3.9,17; 10.9,11; 18.7s; 21.32). Em comparação com os outros sinópticos, aqui o tempo presente é mais caracterizado como tempo de salvação, enquanto a história de Jesus vai ficando no passado e a volta de Jesus é colocada no futuro.
O autor desse evangelho destaca a atitude crítica de Jesus em relação às riquezas. Por isso ele registra bem-aventuranças que divergem significativamente das encontradas em Mateus (Lc 6.20s). É por isso também que Lucas registra “ais” que não encontramos em nenhum outro evangelho (Lc 6.24s). Essa também é a razão para ele transmitir a nós as parábolas do agricultor rico (Lc 12.15ss), do administrador infiel (Lc 16.1-9) e do rico e de Lázaro (Lc 16.19ss). O que é criticado nessas passagens não é a exploração e opressão por meio das posses, mas as posses em si, porque se tornam a pedra de tropeço para os que as possuem, pois procuram a realização das suas vidas nas riquezas. Dessa e de outras constatações, surgiu a dissertação do arcebispo de Paderborn, J. Degenhardt, com o título sugestivo “Lucas — evangelista dos pobres”.2 O tema desse evangelho não é a piedade judaica pelos pobres, mas o amor de Deus que vale para todos os marginalizados, portanto, também para os pobres.
Esse evangelista estabelece uma relação entre a história de Jesus e a história do mundo. Isso se torna evidente na indicação da data de seu nascimento (Lc 2.1s). O aparecimento de João Batista também é colocado no seu contexto político (Lc 3.1s). É somente esse evangelista que nos revela os nomes dos imperadores romanos (por exemplo At 11.28; 18.2). A sua grande preocupação é esclarecer a relação entre os cristãos e o estado romano. Por isso ele destaca a inocência de Jesus aos olhos das autoridades romanas (Lc 23.4,14,20,22,47). A comparação com os outros sinópticos demonstra a evidência que Lucas deu ao fato de que as autoridades romanas não concordavam com a crucificação de Jesus (Lc 23.25; cf. Mc 15.15; Mt 27.26). Segundo Lucas, os líderes judeus são responsáveis pela morte de Jesus na cruz (Lc 20.20,26; 23.2,5,18s,23,25).
A ênfase especial desse evangelho é a parte central, o chamado relato de viagem. Quem lê os capítulos 10-19, percebe logo que não se trata aqui de um relato detalhado de viagem. Não dá nem para reconhecer a rota exata da viagem, o que provavelmente não é o objetivo do autor. O tema é outro, é teológico. Jerusalém é a cidade das disputas e do sofrimento. A parte central do evangelho mostra como Jesus prepara os discípulos para esse sofrimento. Os evangelhos sinópticos têm sido chamados de histórias de sofrimento com uma longa introdução. Isso certamente é verdade em relação a Lucas, principalmente se considerarmos a parte central. Por causa desse trecho, o evangelho tem uma divisão em três partes aproximadamente iguais.
Essa divisão em três partes também pode ser notada em outros trechos. Segundo a visão do autor, a história de Deus com a humanidade também é dividida em três grandes épocas: a época do AT, que também pode ser denominada a época da lei e dos profetas; a época do ministério de Jesus (Lc 16.16 cf Mc 11.12) e a terceira grande época, a época da igreja de Jesus, como a descreve Atos dos Apóstolos. O aparecimento de Jesus Cristo é, pois, o centro da história da salvação. É possível dar mais um passo: visto que o autor associa os acontecimentos da vida de Jesus com a história do mundo, a época do ministério de Jesus é, na visão dele, o centro da história do mundo.
Certamente esse autor não introduziu o pensamento de acordo com categorias de história da salvação. Ele achou essa linguagem nos profetas do AT, sobretudo também em Paulo que considerava Jesus o ponto central da história da humanidade, o momento em que houve a guinada total. Lucas retomou esse tema e colocou o seu relato sobre Jesus nesse contexto. H. Conzelmann crê que pode acrescentar mais um argumento a isso: Por causa da demora da volta de Jesus, teria sido necessário tratar a história da igreja da perspectiva de temas diferentes. Por isso a expectativa pela vinda próxima de Jesus teria sido abafada no evangelho de Lucas (Lc 19.11ss; 21.8; cf. Mc 13.6; 17.20s; Mt 25.14ss).3 E H. Conzelmann não está sozinho nessa posição, mas no grupo dos que defendem a escola histórico-comparativa. A. Schweizer foi o que mais difundiu a teoria do choque inicial (“Urschock”) por causa da demora da volta de Jesus.
No entanto, a expectativa pela volta de Jesus não é, de forma alguma, ignorada em Lucas (cf. Lc 3.9,17; 10.9,11; 18.7s; 21.32). Em comparação com os outros sinópticos, aqui o tempo presente é mais caracterizado como tempo de salvação, enquanto a história de Jesus vai ficando no passado e a volta de Jesus é colocada no futuro.