O Estilo Literário das Cartas do Novo Testamento
Dos 27 escritos do NT, 21 são cartas. A maioria delas contém dados sobre o remetente e os destinatários, como também saudações. São cartas a destinatários definidos ou são um estilo de cartas em que certos temas são tratados? Além das cartas pessoais, a antiguidade conhece esses estilos. Entre os vários estilos, além das cartas pessoais, vamos considerar a epístola e o mandato.
1.1 Carta pessoal
Segundo Roller, a carta pessoal média na antiguidade consistia de menos de uma página do Novo Testamento Grego. Um modelo dessas cartas encontramos em Atos 23.26-30.
Quando comparamos esses dados com as cartas do NT, percebemos que as cartas mais curtas (2 e 3 João) ultrapassam esse tamanho. Até a carta a Filemom é mais extensa, atingindo quase duas páginas. Todas as outras cartas do NT são incomparavelmente mais extensas. Se mesmo assim forem consideradas como cartas, certamente estão entre as obras mais extensas entre as cartas pessoais da antiguidade.
A questão, no entanto, continua sendo, se elas podem ser vistas de fato como cartas pessoais. Há outros dois tipos de formas literárias.
1.2 Epístola
Na antiguidade, tratados filosóficos eram colocados em forma de carta. Não são cartas de fato; na verdade a carta era uma arte literária. Exemplos para isso são as cartas de Sêneca ou de Cícero. Para essa forma literária foi se cristalizando o nome epístola. Ela deriva da palavra grega epistole, que significa carta. Como forma literária, no entanto, epístola não significa uma carta verdadeira, mas uma carta simulada.
No âmbito desse tipo de escritos antigos, há tratados que, na sua extensão, são semelhantes às cartas maiores de Paulo (Romanos, 1 e 2 Coríntios). E as cartas de Paulo são epístolas?
Na realidade não o são. Quem as lê no seu contexto, percebe que não são tratados em forma de carta. Há menções demais ao relacionamento pessoal entre o autor e os leitores. Esses escritos estão por demais interligados com a história de vida comum deles. As cartas de Paulo não são simuladas; elas são escritos reais de aconselhamento.
Aspectos que são evidentes nas cartas de Paulo, nas outras cartas do NT necessitam de explicação em cada detalhe. Poderíamos considerar um ou outro escrito (por ex. Hebreus ou 1 João) um tratado em forma de carta, para o chamarmos de epístola. Na discussão sobre cada carta voltaremos a esse assunto.
Há ainda outra forma literária a ser analisada.
1.3 Mandato
Assim eram denominados os escritos oficiais das autoridades de Jerusalém aos judeus da diáspora. Temos exemplos disso em 2Macabeus 1.10ss e Baruque 78-86. São escritos oficiais com o objetivo de esclarecer questões éticas e teológicas. Por meio deles as autoridades religiosas de Jerusalém comunicavam às sinagogas na diáspora orientações normativas.
É possível imaginar que para Paulo esses escritos foram usados como modelo quando ele elaborou os seus escritos às igrejas dos cristãos-gentios. W. G. Kümmel crê que esses escritos estavam a caminho de se tornarem textos de caráter oficial. Visto que as cartas de Paulo são semelhantes aos escritos das autoridades de Jerusalém na sua extensão, nos dados sobre os remetentes (título nos dados sobre remetentes e lista de vários remetentes) e no grande número de destinatários, é provável que as cartas de Paulo são cartas apostolares abertas. Isso é mais evidente em algumas cartas, como por exemplo em Gálatas, ou menos em outras, como na carta a Filemom, que é mais pessoal.
O autor utiliza nas cartas a forma do discurso evangelístico e parenético (de admoestação): pregação, admoestação, exposição didática, diálogo, testemunho profético, instrução ética e o hino. Em vários trechos ele se baseia em tradições primitivas já bem firmadas e conhecidas, como por exemplo em Romanos 1.3s e 1Coríntios 15.3-5, em que cita profissões de fé antigas, usando-as na sua argumentação. Também em Filipenses 2.6-11 e Colossenses 1.15-20 ele cita hinos da igreja primitiva, tirando deles conclusões para o ensino e a vida das igrejas.
1.4 Conclusão sobre o estilo literário
Pelo menos nas cartas de Paulo temos argumentos suficientes para dizer que não são cartas pessoais, mas que, com a exceção de Filemom, se trata de cartas apostolares abertas. Isso possivelmente também se aplica a outras cartas do NT. É necessário, no entanto, verificar em cada caso se não podem ser consideradas expressão de arte literária, como o eram as antigas epístolas.
1.1 Carta pessoal
Segundo Roller, a carta pessoal média na antiguidade consistia de menos de uma página do Novo Testamento Grego. Um modelo dessas cartas encontramos em Atos 23.26-30.
Quando comparamos esses dados com as cartas do NT, percebemos que as cartas mais curtas (2 e 3 João) ultrapassam esse tamanho. Até a carta a Filemom é mais extensa, atingindo quase duas páginas. Todas as outras cartas do NT são incomparavelmente mais extensas. Se mesmo assim forem consideradas como cartas, certamente estão entre as obras mais extensas entre as cartas pessoais da antiguidade.
A questão, no entanto, continua sendo, se elas podem ser vistas de fato como cartas pessoais. Há outros dois tipos de formas literárias.
1.2 Epístola
Na antiguidade, tratados filosóficos eram colocados em forma de carta. Não são cartas de fato; na verdade a carta era uma arte literária. Exemplos para isso são as cartas de Sêneca ou de Cícero. Para essa forma literária foi se cristalizando o nome epístola. Ela deriva da palavra grega epistole, que significa carta. Como forma literária, no entanto, epístola não significa uma carta verdadeira, mas uma carta simulada.
No âmbito desse tipo de escritos antigos, há tratados que, na sua extensão, são semelhantes às cartas maiores de Paulo (Romanos, 1 e 2 Coríntios). E as cartas de Paulo são epístolas?
Na realidade não o são. Quem as lê no seu contexto, percebe que não são tratados em forma de carta. Há menções demais ao relacionamento pessoal entre o autor e os leitores. Esses escritos estão por demais interligados com a história de vida comum deles. As cartas de Paulo não são simuladas; elas são escritos reais de aconselhamento.
Aspectos que são evidentes nas cartas de Paulo, nas outras cartas do NT necessitam de explicação em cada detalhe. Poderíamos considerar um ou outro escrito (por ex. Hebreus ou 1 João) um tratado em forma de carta, para o chamarmos de epístola. Na discussão sobre cada carta voltaremos a esse assunto.
Há ainda outra forma literária a ser analisada.
1.3 Mandato
Assim eram denominados os escritos oficiais das autoridades de Jerusalém aos judeus da diáspora. Temos exemplos disso em 2Macabeus 1.10ss e Baruque 78-86. São escritos oficiais com o objetivo de esclarecer questões éticas e teológicas. Por meio deles as autoridades religiosas de Jerusalém comunicavam às sinagogas na diáspora orientações normativas.
É possível imaginar que para Paulo esses escritos foram usados como modelo quando ele elaborou os seus escritos às igrejas dos cristãos-gentios. W. G. Kümmel crê que esses escritos estavam a caminho de se tornarem textos de caráter oficial. Visto que as cartas de Paulo são semelhantes aos escritos das autoridades de Jerusalém na sua extensão, nos dados sobre os remetentes (título nos dados sobre remetentes e lista de vários remetentes) e no grande número de destinatários, é provável que as cartas de Paulo são cartas apostolares abertas. Isso é mais evidente em algumas cartas, como por exemplo em Gálatas, ou menos em outras, como na carta a Filemom, que é mais pessoal.
O autor utiliza nas cartas a forma do discurso evangelístico e parenético (de admoestação): pregação, admoestação, exposição didática, diálogo, testemunho profético, instrução ética e o hino. Em vários trechos ele se baseia em tradições primitivas já bem firmadas e conhecidas, como por exemplo em Romanos 1.3s e 1Coríntios 15.3-5, em que cita profissões de fé antigas, usando-as na sua argumentação. Também em Filipenses 2.6-11 e Colossenses 1.15-20 ele cita hinos da igreja primitiva, tirando deles conclusões para o ensino e a vida das igrejas.
1.4 Conclusão sobre o estilo literário
Pelo menos nas cartas de Paulo temos argumentos suficientes para dizer que não são cartas pessoais, mas que, com a exceção de Filemom, se trata de cartas apostolares abertas. Isso possivelmente também se aplica a outras cartas do NT. É necessário, no entanto, verificar em cada caso se não podem ser consideradas expressão de arte literária, como o eram as antigas epístolas.