Os Profetas do Antigo Testamento
Os Profetas do Antigo
Testamento
Os livros dos profetas, formando quase um terço do Antigo Testamento, contêm a doutrina e, em certos casos, a história pessoal dos profetas que apareceram isolados, a intervalos ou contemporaneamente, desde o séc. VIII ao séc. IV A. C. Este período é notável pelo largo desenvolvimento do pensar humano, e pelo aparecimento de ilustres orientadores do espírito em todos os países do globo.
Quando Sofonias previa a desgraça que devia cair sobre Jerusalém, e Naum descrevia a ruína de Nínive, Zoroastro, segundo um cálculo provável, empenhava-se a fundo na reforma da antiga religião iraniana. Quando Jeremias e Ezequiel insistiam na pregação do culto interior e puro a Deus, na conduta sincera e na responsabilidade pessoal, Confúcio dava à religião da China uma forma definitiva, enquanto Sidarta na Índia lançava os fundamentos do Budismo.
Na era dos profetas que surgiram depois do exílio, encontrava-se em elaboração a antiga religião grega, enquanto os filósofos da Jônia concebiam novos e elevados conceitos do universo e os dramaturgos da Ática representavam os mistérios da vida humana, sem esquecerem o espírito de justiça a que devia subordinar-se.
Atravessava-se, então, um período de grandes acontecimentos políticos: Israel, deixava de existir; a Assíria perdia a sua independência; Babilônia era submetida pelos persas; Jerusalém, após ter sofrido uma destruição total, vivia um período de ressurgimento nacional. A Grécia, depois de se libertar galhardamente do inimigo invasor, via-se a braços com a praga das lutas internas. Roma, a expandir-se avassaladoramente. Enfim, uma época brilhante em todos os ramos da ciência, da política e da estratégia, sem que todavia nenhum sábio, nenhum político, nenhum herói tenham superado esses homens de poder e de visão, que foram os profetas de Israel e de Judá.
I. A VOCAÇÃO PROFÉTICA
Os pregadores do séc. VIII não foram os primeiros profetas, no sentido que normalmente lhe atribuímos. Vêm de longe, pois desde os tempos remotos de Abraão se vêm verificando esses testemunhos duma doutrina fixa, que, revelada gradualmente, se baseou, sobretudo, na pregação de Moisés. Os profetas, tal como este patriarca, foram "chamados" por Deus, que os encarregou duma missão altamente espiritual.
Os diferentes nomes que a Escritura atribui aos profetas dizem algo do caráter e da natureza da obra desses homens excepcionais. O que vinha a ser então o profeta? Primeiramente um "homem de Deus", quer dizer mais intimamente ligado a Deus do que os outros homens, e, portanto, mais reto e mais justo do que eles. Em segundo lugar o profeta é um "servo de Jeová", com uma missão especial a cumprir, a de entregar uma mensagem aos povos. Daí ser o profeta o "mensageiro de Jeová". As suas palavras tinham uma autoridade e uma força que só podiam advir de Deus. Finalmente o profeta é um "homem de Espírito", no dizer de Oseias (Os 9.7). Isto no que se refere ao poder e à autoridade do profeta. Mas, se atendermos ao fato de que era esse homem que explicava aos povos a mensagem divina, podemos ainda acrescentar aos epítetos do profeta o de "intérprete".
Mais três nomes vêm-nos indicar como o profeta recebia a sua mensagem, e a seguir como a tornava conhecida. Dois deles roeh e chozeh significam "vidente". O profeta vê o que não é dado ver aos restantes homens, mas não por mérito próprio devido a uma excepcional perspicácia, ou a um poder de penetração, que são apanágio de inteligências agudas e experientes. Também não se trata do emprego de meios semelhantes aos que se utilizavam na adivinhação ou no ocultismo. A "visão" do profeta resulta exclusivamente dum dom sobrenatural, independente da vontade do mesmo profeta, pois o objeto dessa visão é revelado por Deus. Não vá julgar-se, porém, que tal submissão a Deus pode implicar uma passividade absoluta. O uso das faculdades normais do profeta não fica em suspenso, como se pode deduzir da palavra "vidente", já que, quando mais não seja, a visão exige não pequeno esforço da parte do profeta, preparando-se para ela, as mais das vezes, com oração e com rogos (cf. Dn 9.3).
A terceira palavra em questão, mais freqüente e que se traduz por profeta, é nabi, e dá a entender que a pessoa assim designada é um verdadeiro intérprete. Ao contrário de Elias e Eliseu, os últimos profetas não operavam milagres. Confiavam inteiramente nas palavras escritas ou proferidas, e reforçadas de vez em quando por uma ação simbólica (cf. Jr 28.10). Embora unidos ao passado, interessavam-lhes, sobretudo, as circunstâncias do presente. Por isso, as suas obras refletem a vida política, econômica, social, moral e religiosa da época em que viveram. Assim se explicam algumas das descrições de reinados sucessivos dos livros dos Reis e das Crônicas.