Significado da Palavra "Apócrifo".
Com o nome de “apócrifos” designamos, normalmente, os livros que a Vulgata Latina contém, mas que não estão incluídos no Velho Testamento Hebraico. A presença de tais livros na Vulgata, exceção feita a 2Ed, deve-se à tradução grega da Septuaginta, fonte da versão latina destes livros. Afirma-se, geralmente, que este fato demonstra que os judeus de Alexandria versados na língua grega lhes deram plena canonicidade, e que a Igreja primitiva adotou pura e simplesmente a Bíblia Grega. Nada de certo, porém. Os livros em questão são de origem palestiniana, escritos na maior parte em hebraico ou aramaico. Embora populares tanto na Palestina como na Dispersão, é provável que não estivessem no mesmo plano que os outros livros canônicos em todas as regiões. O termo “apócrifo” pode, então, significar “estranho” ou “de fora”. Mas não se trata dum significado rigoroso, pois a palavra grega apocryphos quer dizer “escondido” e aplicava-se aos livros que se ocultavam do público, para serem consultados apenas por uma classe privilegiada. Nada de ultrajante encerra o termo, já que os livros, pelo contrário, dispunham de um certo valor, nem por todos compreendido. Parece que assim se denominavam as obras dos videntes judeus do século II A. C. até ao século I da era cristã, e que, publicados com os nomes de heróis e profetas de Israel, se conservaram escondidos até àquela altura. Sendo assim, nem todo o público conhecia a existência de tais livros. Em 2Ed 14 conta-se como Esdras ditou a cinco escribas noventa e quatro livros, vinte e quatro dos quais eram os livros do Velho Testamento (os Profetas Menores formavam um só livro), e nos setenta restantes “encontravam-se a origem da compreensão, a fonte da sabedoria e a torrente da ciência” (2Ed 14.46-47). Do exposto se infere, que estes livros eram mais conceituados que o Velho Testamento, e que os apócrifos eram em muito maior número do que os que compreende a atual coleção. Tratava-se talvez de livros apocalípticos como o próprio livro 2Ed. Orígenes empregou o termo “apócrifo” para designar as obras apocalípticas, enquanto considerava a coleção de “apócrifos” como canônica. Seja como for, parece que os apócrifos, no sentido de livros estranhos, abrangiam em princípio todos os livros sagrados não incluídos no Cânon. Desses, uns eram mais populares que outros, e naturalmente os mais populares é que chegaram até nós através da Vulgata Latina. Mas os chamados “pseudepígrafos” (isto é, livros publicados com o nome dum autor antigo) foram considerados também de valor especial, e podemos incluí-los no mesmo grupo dos “apócrifos”.