Comentário Bíblico Online: Judas 1:20-21

A seguir Judas recorreu a um apelo fervoroso, dizendo:

“Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa santíssima fé e orando com Espírito Santo, mantende-vos no amor de Deus, ao passo que aguardais a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, visando a vida eterna.” (Judas 20, 21)

I. “Amados” – Este termo ressalta a motivação pura e genuína que o discípulo tinha em mente ao escrever aos cristãos do primeiro século. Judas tinha profundo amor por seus irmãos espirituais, e não queria, de forma alguma, que algo lhes acontecesse em sentido espiritual.

II. “Edificando-vos” – Do grego epoikodomountes. Particípio presente ativo de epoikodomeõ, composto antigo que traz em si a metáfora de uma casa (Gr.: oikos), como nos escritos paulinos (1Co 3:9-17; Col 2:7; Efésios 2:20). Ocorre cerca de sete vezes nas escrituras Gregas Cristãs: Atos 20:32; 1Co. 3:10, 12, 14; Ef. 2:20; Col. 2:7; Judas 1:20.

Esta palavra grega faz alusão à construção “de uma casa ou templo. A composição verbal aponta para a estrutura que esta sendo erguida sobre um fundamento já pré-existente. O tempo presente ressalta o fato de que a construção forte e estável do caráter cristão é um processo contínuo.”[1] Durante um período de paz, as nações da Antiguidade aproveitavam este tempo a fim de “edificar” suas muralhas, e fortalecer suas defesas, a fim de, quando sofrerem ameaça de povos inimigos, pudessem assim resistir firmemente aos taques.

Uma vez que nós somos o templo de Deus, onde ele mesmo habita por Espírito Santo, nós precisamos sempre nos edificar, nos fortalecendo justamente onde parecemos ser mais vulneráveis, isso porque nós temos uma “pugna” não contra sangue, ou seja, uma guerra contra homens, mas sim contra “as forças espirituais iníquos” que tentam de todas as formas penetrar nas muralhas da nossa fé e integridade para nos fazer cair diante das tentações.

“A melhor coisa que os [cristãos] podem fazer para suportar a iniquidade é por desenvolver seu sistema imunológico espiritual.”[2]

III. “Na vossa Santíssima fé” – A expressão “santíssima fé” se referia, talvez, ao inteiro conjunto de ensinos cristãos, incluindo as boas novas da salvação. O fundamento de tal fé verdadeira é Cristo, e ela foi chamada de “santíssima” porque atentava para o Deus de santidade e baseava-se exclusivamente na sua santa Palavra. — Atos 20:32; 1 Coríntios 3:10-15.

Para que os cristãos ‘se edifiquem na sua santíssima fé’, ou para que a fortaleçam, precisam estudar diligentemente a Palavra de Deus, pessoal e congregacionalmente. Considerar com frequência as Escrituras com co-cristãos, bem como proclamar o evangelho a outros, aprofundará a impressão que a Bíblia causa em nosso coração. Nada disso, porém, pode ser conseguido sem oração fervorosa. O indivíduo ‘ora com Espírito Santo’ quando ora sob Sua influência e em harmonia com as coisas na Palavra de Deus. Ademais, as Escrituras, escritas sob inspiração do Espírito de YHWH, nos mostram como orar e o que pedir em oração. Por exemplo, podemos confiantemente orar para ficarmos cheios do Espírito Santo de Deus. Se ‘orarmos com Espírito Santo’, as nossas orações revelarão uma condição de coração correta, amada por Deus. Seremos assim protegidos contra as influências incorretas, incluindo os conceitos de quaisquer “homens ímpios” que talvez se introduzam sorrateiramente na congregação. — Lucas 11:13; Romanos 8:9, 26, 27.

IV. “Mantende-vos no amor de Deus” – Assim como era costume as pessoas correm para dentro das muralhas da cidade quando via o inimigo se aproximando, da mesma forma também, nós precisamos nos manter dentro do amor de Deus. O amor a Deus nos motivará a obedecê-lO, nos protegendo assim de qualquer influencia que possa corromper nossa fé e integridade ao Pai. Nada nos ajudará mais a travar a guerra cristã do que o seguinte: continuar a ser o alvo do amor de Deus. Afinal, o amor é a qualidade dominante do Criador. (1 João 4:8) Paulo escreveu aos cristãos em Roma: “Estou convencido de que nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem governos, nem coisas presentes, nem coisas por vir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criação será capaz de nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Romanos 8:38, 39) Então, como podemos permanecer neste amor? Note três medidas que podemos adotar, segundo Judas.

1. Primeiro, Judas nos manda continuar a edificar-nos na nossa “santíssima fé”. (Judas 20) Conforme vimos no artigo precedente, trata-se dum processo contínuo. Nós somos como edifícios que precisam ser cada vez mais reforçados para suportar o aumento das intempéries. (Note Mateus 7:24, 25.) Portanto, que nunca tenhamos excesso de confiança. Antes, verifiquemos como podemos edificar-nos sobre o alicerce de nossa fé, tornando-nos soldados mais fortes e mais fiéis de Cristo. Por exemplo, podemos considerar as peças da armadura espiritual descrita em Efésios 6:11-18.

Em que condições está a nossa própria armadura espiritual? É nosso “grande escudo da fé” tão forte como precisa ser? Olhando para trás, para os últimos anos, notamos algum sinal de afrouxamento, tal como diminuição na assistência às reuniões, perda de zelo pelo ministério ou menos entusiasmo pelo estudo pessoal? Sinais assim são sérios! Temos de agir agora para edificar-nos e reforçar-nos na verdade. — 1 Timóteo 4:15; 2 Timóteo 4:2; Hebreus 10:24, 25.

2. Uma segunda maneira de permanecer no amor de Deus é prosseguir ‘orando com Espírito Santo’. (Judas 20) Isto significa orar sob a influência do Espírito de Deus e em harmonia com Sua Palavra inspirada. A oração é um meio vital para pessoalmente nos achegarmos a Deus e expressarmos nossa devoção a Ele. Nunca devemos negligenciar este maravilhoso privilégio! E quando oramos, podemos pedir — de fato, continuar a pedir — Espírito Santo. (Lucas 11:13) Esta é a força maior que nos está disponível. Com essa ajuda, podemos sempre permanecer no amor de Deus e perseverar como soldados de Cristo.

3. Terceiro, Judas nos exorta a continuarmos a mostrar misericórdia. (Judas 22) Seu próprio exemplo neste respeito é notável. Afinal, era correto sentir-se perturbado com a corrupção, a imoralidade e a apostasia que se infiltravam na congregação cristã. Não obstante, ele não se tornou vítima de pânico, adotando o ponto de vista de que a época era de algum modo perigosa demais para mostrar uma qualidade “fraca” tal como a misericórdia. Não, ele exortou seus irmãos a continuarem a ter misericórdia sempre que possível, raciocinando bondosamente com os que tinham dúvidas e até mesmo ‘arrebatando do fogo’ os que quase cometiam um pecado grave. (Judas 23; Gálatas 6:1) Que bela exortação para os anciãos nestes tempos difíceis! Eles também se esforçam a mostrar misericórdia sempre que haja um motivo para isso, ao passo que são firmes quando necessário. Todos nós queremos igualmente mostrar misericórdia um para com o outro. Por exemplo, em vez de nutrir ressentimentos por coisas pequenas, podemos ser generosos com o nosso perdão. — Colossenses 3:13.



[1] Hiebert, “Na Exposition... 17-23” p. 360 cf. Phil. 2:12

[2] S. D. F. Salmond, “Jude,” in The Pulpit Commentary, p. 14