Comentário de J.W Scott: 1 Timóteo 1:12-18

comentário bíblico
A experiência que Paulo tem da salvação (1Tm 1.12-17)




Prossegue o apóstolo indiretamente a encorajar Timóteo a uma apreciação elevada, todavia humilde, de sua vocação, e a devotar-se ininterruptamente a ela. Isto ele faz por meio de uma doxologia típica e parentética, a Cristo e a Deus, pela maravilhosa experiência que ele próprio tem da misericórdia divina, e por haver sido designado por Cristo para a mordomia desse evangelho (note-se também o vers. 11), a que ele primeiro devia sua salvação. Por experiência sabem os crentes que à confiança em Cristo e ao serem por Ele intimamente fortalecidos se segue, como complemento, serem eles alvo da confiança do Senhor que lhes dá para realizar um determinado ministério (12). A palavra ministério (gr. diakonia, sem o artigo definido) é potencialmente de sentido muito geral, embora Paulo muitas vezes empregue o termo (e "ministro", gr. diakonos) como nenhum escritor do segundo século o teria feito, para referir o seu ofício de apóstolo (cfr. Rm 11.13; 2Co 3.6; 2Co 5.18; 2Co 6.3). Insolente (13), gr. hybristes, descreve um praticador de ultrajes, pessoa dada a violências. Quando Paulo se mostrara outrora sem misericórdia, firme na convicção de saber o que era certo, foi tratado misericordiosamente, como pessoa cuja incredulidade ativa impedia-a de compreender a verdade. É assim a superabundante graça divina (cf. Rm 5.8,10,20), com que em Cristo Jesus somos tratados, a qual nos move a viver a vida de fé e amor característica do cristão (14), ao invés da vida pecaminosa, típica, da incredulidade e inimizade (tão violentamente demonstrada em Saulo, antes de se converter). E foi assim, por uma experiência profunda e pessoal do benefício do evangelho que Paulo aprendeu e exemplificou o caráter e a fidedignidade desse mesmo evangelho em que, por desígnio de Deus, ele rogava aos homens que cressem (como fiel) e recebessem (como digno) (15). Porque ele ainda (note-se o tempo presente do verbo, eu sou) se reconhecia como o principal dos pecadores (15). Sabia que o propósito da encarnação do Filho de Deus como Messias Jesus foi salvar pecadores como ele. Sabia que o propósito de Deus, em mostrar a tal principal pecador, como ele, tamanha misericórdia, de todo imerecida, foi fazer de sua vida uma amostra de quanto podia realizar a longanimidade de Cristo (Isto é, para com um opositor tão violento). Tal exibição de misericórdia encorajaria outros, de futuro, a depositar sua confiança no mesmo Salvador, e assim entrar no gozo da vida eterna. O vers. 17 inclui alguns atributos infinitos e absolutos de Deus, que são dignos de nota. Rei eterno. Ele é o soberano de tudo.

Um lembrete e uma advertência (1Tm 1.18-20)



Paulo apela às palavras inspiradas, que no princípio do ministério de Timóteo indicaram a obra e o combate espiritual a que ele fora chamado (cfr. 1Tm 4.14). Adverte-o então sobre a causa oculta do desastre espiritual a que alguns já haviam chegado. As profecias (18) podiam ter assinalado Timóteo como escolhido de Deus para um serviço especial. Cumpria-lhe, nelas firmado, encontrar inspiração ou fortalecimento para empreender boa campanha (gr. strateia) para Deus (18). Uma comparação dos vers. 18 e 19 com o vers. 5 sugere que Paulo está repetindo uma recomendação anteriormente feita a Timóteo acerca da importância da sinceridade moral. Porque alguns têm falhado exatamente nisto, afastando de si, deliberadamente, a boa consciência a que se deviam firmar, é que naufragaram quanto à fé cristã e se tornaram heréticos na doutrina. (Desejando-se mais pormenores a respeito de Himeneu (20), veja-se 2Tm 2.16-18). O erro deles é tão blasfemo que para o seu próprio bem tiveram de ser severamente disciplinados. Entreguei a Satanás (20); cfr. Jó 2.6; 1Co 5.5. Parece tratar-se de excomunhão. Colocando se tais pessoas fora da esfera do reino ou proteção de Cristo ficavam elas expostas ao domínio de Satanás e particularmente sujeitas ao poder que ele tem de infligir doenças físicas.