Comentário de J.W Scott: 1 Timóteo 3:1-16

QUALIFICAÇÕES PARA O MINISTÉRIO CRISTÃO 1Tm 3.1-16




A função de supervisionar a igreja de Deus ou de cuidar dela (ver o vers. 5), é uma tarefa digna que deve ser realizada com esmero. Requer pessoa de caráter inculpável, puro, disciplinado e generoso, que dirija bem sua própria casa; e particularmente não neófita, mas alguém cuja boa conduta, já firmada, como cristão, tenha boa reputação, de sorte a não dar ocasião ao diabo de acusá-lo ou enredá-lo, seja por seu próprio orgulho, seja pelas censuras dos de fora da igreja. Semelhantemente, os que vão servir como diáconos devem primeiro ter sido aprovados por seu comportamento cristão coerente e consciencioso, particularmente em questões que envolvam autodisciplina e direção do próprio lar. Porque, de igual modo, este é um ministério que deve ser cumprido corretamente, e os que dele se desincumbem com dignidade asseguram por este modo sua posição de cristãos e aumentam grandemente a confiança franca com a qual podem recomendar a fé cristã.

O ofício de bispo (1Tm 3.1-7)

O primeiro cuidado de Paulo aqui é estimular uma consideração adequada à tarefa de supervisão ou episcopado (gr. episkope), e o reconhecimento correspondente de que os que vão desempenhá-la devem ser homens de conduta ilibada. Bispo (gr. episkopos) e "ancião" (gr. presbyteros) eram, nos tempos do Novo Testamento, termos sinônimos de um só ofício (ver Tt 1.5-7; At 20.17-28); o primeiro indica função ou dever; o segundo dignidade ou condição. Esposo de uma só mulher (2); esta frase interpreta-se de vários modos. A frase paralela de 1Tm 5.9, esposa de um só marido, sugere que o seu significado é "casado só uma vez". Quer dizer, sem dúvida, homem desimpedido (o que não era o caso de muitos convertidos à fé), livre de complicações sexuais. Paciente, não briguento (3); no grego significa "indulgente" ou ponderado, e "não contencioso". Se a pessoa fracassa em dirigir seus próprios filhos, mostra-se incapaz para supervisionar a igreja, e dirigir outros eficientemente. Ensoberbecido (6); o particípio grego significa "anuviado", e, assim, um estado de confusão de espírito, devido a presunção por se haver elevado de súbito ao ofício. Condenação do diabo (6), provavelmente é referência à condenação em que o diabo incorreu por seu orgulho insensato. Embora alguns, pelo fato de o termo grego diabolos ocorrer nestas epístolas no sentido de "caluniador" ou "acusador" (ver o vers. 11), interpretem-no nos vers. 6 e 7 com este significado. Então a frase no vers. 6 significaria "a condenação proferida contra ele pelo caluniador típico"; e os vers. 6 e 7, reforçariam no fim a primeira qualidade de um bispo, mencionada no vers. 2, isto é, "irrepreensível", gozando de boa reputação, e assim não sujeito a ataques fáceis por parte do "caluniador".



O ofício de diácono (1Tm 3.8-13)

Diáconos (8). O vocábulo grego tem o sentido muito geral de "ministro". Mas na comunidade cristã, obviamente, tornou-se termo especial designativo de uma classe de auxiliares subordinada aos bispos ou anciãos; cfr. Fp 1.1. Como são morais as qualificações enfatizadas em toda esta seção, e como tais são as que devem caracterizar todo bom crente, o mesmo que se requer dos bispos, requer-se dos diáconos. Se, no entanto, como parece provável, os diáconos faziam visitação domiciliar e cuidavam do dinheiro da igreja, há uma propriedade especial para as qualificações sublinhadas no vers. 8. De língua dobre, significa dizer coisas diferentes a diferentes pessoas, de acordo com a ocasião; ou o termo grego dilogos pode querer dizer apenas "dado a repetição", isto é, mexeriqueiro, leva-e-traz. Cobiçosos de sórdida ganância; o grego significa ávidos de lucros por meios indignos; cfr. Tt 1.7-11. Mistério (9) é algo oculto dos homens em geral, mas francamente revelado aos privilegiados, no caso vertente aqueles que têm fé (cfr. 1Tm 3.1). Tal fé e compreensão só podem ser mantidas salutarmente onde houver obediência ativa e conscienciosa; cfr. #1Tm 1.5-19; 2.15. A ninguém se deve permitir que sirva como diácono, se primeiro não tiver sido aprovado como digno à vista de todos.

No vers. 11, a palavra grega "mulheres" obreiras ou diaconisas (cfr. Rm 16.1). As quatro qualificações requeridas são rigorosamente paralelas às exigidas dos homens no vers. 8; no mau emprego da língua as mulheres são mais propensas à maledicência (gr. diaboloi). Um bom grau (13) tem sido interpretado como o primeiro degrau na escada da promoção; mas esta idéia não condiz com o contexto. Alguns consideram "honrosa posição e grande confiança", como referência à relação com Deus, tendo em mira, particularmente, o dia do juízo e das recompensas; cfr. #1Tm 6.19; 1Jo 2.28; 1Jo 3.21; 1Jo 4.17. Parece, entretanto, mais apropriado interpretar as palavras em relação ao homem, porque a principal ênfase de toda esta seção está na necessidade de ser alcançada e mantida uma reputação digna aos olhos dos homens por parte de todos quantos exercem função na igreja. Quanto ao uso da palavra intrepidez, cfr. #2Co 7.4.

O propósito destas instruções (1Tm 3.14-16)

Como se deve proceder (15). Paulo está interessado em orientar a conduta de todos os membros da igreja, não somente de Timóteo, e isto por causa do caráter do meio em que vivem. Ele visa a cada congregação local; não emprega artigos definidos. Cada congregação é uma genuína casa (isto é, "templo" ou "família") e igreja de Deus, não ocupada como os templos pagãos por ídolos inanimados, senão gozando a manifesta presença do Deus vivo (15). Aliás, sua existência como corporação, e suas reuniões públicas regulares, provêem para a verdade, em dada localidade, um testemunho visível, ou coluna, e baluarte duradouro-gr. hedrioma. O vers. 1 resume essa verdade dando-a como mistério revelado aos que têm o espírito de vera piedade ou devida reverência. A confissão cristã comum indica a grandeza desse mistério (o grego diz que é "confessadamente" grande). E segue-se uma citação dessa confissão, abruptamente introduzida no grego por um pronome relativo masculino, obviamente referindo-se a Cristo; porque esse "mistério" é uma Pessoa (cf. Cl 1.27). As frases rítmicas e antitéticas sugerem ser isso citação de um primitivo credo em forma de hino. A preexistência de Cristo está aí implícita, e afirmada Sua encarnação. Foi pelo que aconteceu no reino do Seu espírito que Sua verdadeira identidade foi vindicada (cfr. Rm 1.3). Esta manifestação de Deus na história revelou novas maravilhas até mesmo aos anjos (cfr. Ef 3.10; 1Pe 1.12), e proveu um evangelho para ser pregado a todas as nações. A recompensa que a Cristo cabe, em conseqüência, é uma multidão de crentes, reunidos de toda a terra, e Sua própria exaltação a um lugar permanente de glória no céu.